domingo, junho 10, 2012

Camões à vela


POR MIKE BRAMBLE


Hoje é dia de Portugal. Do meu País. E que melhor do que levar os nossos sonhos para alto mar? Foi sempre o que gostámos de fazer. Com mestria e galhardice. Em Lisboa, acabou hoje a Volvo Ocean Race, antes conhecida como “Whitbread Round the World Race”.
É mais um caso tipificado da decadência nacional. Já não temos marinheiros? Conny van Rietschoten, ilustre ‘skipper’ holandês, já ganhou três vezes esta maravilhosa competição, duas vezes de enfiada. Isto lembra-me algo lá para o século XVI, noutras alterosas ondas…
Para quem não conhece, a regata parte habitualmente da Europa em Outubro, tem nove ou dez etapas, cruza o Globo. Percorre, em média, 72 mil quilómetros, prolongando-se por nove meses. Tal como um novo ser humano…
Para quem gosta de estatísticas e é dependente das audiências, acrescento que esta bela refrega em altos mares é seguida ao écrã por mais de dois mil milhões de seres humanos.
Tal como no futebol, cada um destes ‘botes’ tecnológicos, tem uma equipagem de 11 profissionais. Ganham bem, mas metem menos água que outras alegadas vedetas sobre a relva.
Rasgam o Cabo Horn (ou ‘Hornos’), o Pacífico, o Atlântico. Aguentam temperaturas dos 5º negativos aos 40º positivos (Celsius). Etapas há que demoram mais de 20 dias. E cada um deles só tem direito a uma muda de roupa por etapa. Não há comida fresca a bordo.
Tudo decidido ao pormenor. Por cada equipagem, há um construtor de velas com a agulha à espreita, dois marinheiros salitrados e avalizados por médicos, um engenheiro físico e, espantemo-nos, um responsável pela comunicação.
Luiz Vaz de Camões não teve direito a estas benesses. Mas tinha a Dinamene e uma bóia de salvação, em dez cantos. Continua a singrar nas ondas deste Mundo!