“A vitória de Portugal”, é assim que este arauto deliberou
escrevinhar sobre a selecção portuguesa de futebol. Sobre o Euro em curso e,
supostamente, sobre o fenómeno popular e mediático que tudo isto arrasta.
Assina Alberto Gonçalves e diz-se sociólogo. Acompanha-se, semana a semana, com
uma foto ao estilo marialva, de mãos nos bolsos.
Conhecia mangas de alpaca, filosofia de alcova, chistes de
pacotilha. Mas agora há um novo género a bombar: a sociologia de algibeira.
O sociólogo em causa tem notórios problemas de contas. E, o que
não é menos, de letras. O texto foi publicado a 21 de Junho, numa revista que
dá pelo nome de ‘Sábado’, mas vai para as bancas à quinta. Modernices…
Diz o senhor que consultou os dados das audiências televisivas e
que no desafio entre Portugal e a Holanda verificou que três milhões e
seiscentos mil viram o jogo. Conclusão do douto: “seis milhões e tal de
portugueses estão comigo”.
E estar com o senhor Alberto Gonçalves a como soa? “Contra Portugal,
“Portugal” perdeu de goleada. Vamos celebrar?”.
Bom, não passa de uma opinião. Se bem que, com isto preferir
“destacar os quase dois terços de cidadãos” que teriam manifestado o seu
“desprezo pelo patriotismo em chuteiras”, algo que o incha de orgulho, parece-me
deslocado.
As consultas de audiências televisivas em Portugal andam pela ruas
da amargura. O senhor sociólogo deveria sabê-lo. Ou é mal intencionado.
E depois, senhor, não se escreve desta forma carroceira: “Ainda
assim, no dia seguinte consultei os números das audiências: 3 milhões e 600 mil
viram a partida, valores capazes de elevar a partida [outra vez?] a programa mais
visto do ano e de deprimir o cidadão menos contaminado pela histeria
colectiva”.
E logo a seguir: “Desde logo, porque a histeria colectiva [mais
uma dobradinha?] é largamente imaginária”.
Presunção minha – não seria melhor que o senhor Alberto Gonçalves,
sociólogo de cadastro, mantivesse as mãos nos bolsos quando escreve sobre uma
profissão em que os pés – e a cabeça - dão melhor resultado?
Um último pedido ao director da Sábado, Miguel Pinheiro. Nesta
revista paga por mim a três euros por semana, quando é que me reembolsam destas
parvoadas?