terça-feira, setembro 16, 2014
Do alto da falésia.
O sol faz-me prazer no corpo.
Gosto de sentir a pele a tostar:
há aqui uma transferência de plasmas
- entre mim e o sol -
que é uma espécie de sexo;
que é fecunda e generosa.
Enquanto consumo a tua energia, estrela,
dou-te de volta uma utopia cosmogónica;
retribuo com fé na grande ordem do universo,
respondo com as fúrias da felicidade e as raivas da paz;
sou enfim significante para mim como para o abismo,
sábio finalmente, perante o mistério.
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Hoje afoguei milhares de formigas, com uma mangueirada.
Peço desculpa aos deus das formigas.
Estou arrependido.
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Uma tarde de sol, depois da manhã opaca.
Uma varanda com o Atlântico em frente.
Um Gordons tónico. Ou dois.
Um maço de cigarros.
Um livro de história e outro de poemas.
Um bloco de notas.
A Parker roliça que me acompanha sempre.
E à noite vou ao Canhão à procura de um dos magníficos pregados que aquela traineira ali
traz agora à doca.
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A mais justa filosofia de vida é a de esperar que ela passe.
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A noite pacífica fechou o horizonte, mas do outro lado da baía há relâmpagos que desafiam a treva.
O troar quase não me chega, porque o sussuro da maré é ensurdecedor. (E porque estou a ouvir Manchester Orchestra).
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Antínoo, estátua de ti mesmo, quantas muralhas ergueu Adriano para te defender?
De que império impossível vieste, com que barro improvável foi gerada
a tua beleza de negativo de deus,
serigráfica silhueta com testículos perfeitos e mamilos de criança.
Antínoo, maldição estética num tratado de anatomia, fidelíssimo soldado da batalha do fim,
ideal romano de morrer cedo para viver eterno,
supremo sacríficio em nome da vaidade dos deuses;
Antínoo. Foi para ti, já morto, que o imperador construiu o futuro.
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Já só escrevo para entreter os dedos.