"Chimpanzees and humans are closer cousins of each other than chimpanzees are to gorillas."
Richard Dawkins | Something from Nothing
As recentes declarações de Stephen Hawking sobre a inexistência de Deus como uma afirmação da ciência sobre a fé são absolutamente rídiculas, porque estão carregadas - elas próprias - de um carácter profundamente religioso. Na medida em que a Física parece cada vez menos capaz de apresentar um modelo coerente que substitua os aparelhos mitológicos milenarmente instalados, é preciso ser bastante crédulo para ir na conversa do célebre professor de Cambridge.
Esta diatribe é, no entanto e apenas, a crista da onda de um
movimento de fundo, constituído por físicos high-profile como Lawrence
Krauss, Neil deGrasse Tyson e Alan Guth, entre muitos outros. É curioso verificar que os mesmos cientistas que defendem um universo acidental, um "almoço grátis" de resultado zero e génese extemporânea, no contexto transcendente de um multiverso esquizofrénico e desordenado, em que tudo é possível e em que nada é certo, não deixam porém de se mostrar cada vez mais radicais e arrogantes nas suas convicções sobre a metafísica.
Apesar de anunciarem com alarde a sua estupefacção perante a impenetrabilidade da natureza e a sua caótica manifestação, apesar de chegarem à conclusão triste que as suas conclusões tristes os podem lançar a todos no desemprego, apesar da grande incerteza, apesar da permanência do Mistério, estão cada vez mais convictos de que Deus não existe. E a ironia aqui é que estes físicos, já todos veteranos, só têm na verdade esta certeza. Se lhes perguntares, gentil leitor, pela composição material de 96% do universo, eles não te vão oferecer mais que hipóteses vagas e, muito provavelmente, míopes. Se quiseres saber se o universo terá um fim, eles não serão capazes de uma resposta. Se estiveres confuso com as implicações filosóficas da Teoria das Cordas, eles não vão resolver o teu problema. Se lhes falares dos paradoxos inerentes à concepção do espaço-tempo einsteiniano, eles vão calar o incómodo. Se os interrogares sobre a existência ou inexistência de buracos negros, eles vão discordar. Se estiveres intrigado com o comportamento "poltergeist" dos bosões no Condensado de Bose-Einstein, eles vão-te ensinar apenas a resignação. Enfim, se esperares que te iluminem sobre a razão de seres vivo, sobre a razão do cosmos ser como é ou da partícula ser uma partícula e uma onda ao mesmo tempo, caro leitor, podes esperar sentado. Mas se, num momento irreflectido, cometeres o erro trágico de os inquirires sobre a natureza da fé, bom Jesus, prepara-te: têm verdades absolutas para dar e vender.
Estes senhores, cujos ensinamentos persigo e que respeito muitíssimo, deviam porém saber que não cabe ao cientista a morte de Deus. Esse assassinato só é permitido a três tipos de infelizes: aos artistas, aos filósofos e, idealmente, aos teólogos (embora dentro deste grupo só possamos contar com a facção suicidária).
Aos cientistas compete, ao invés, explicar humildemente aos pobres de espírito que o cosmos é extremamente ávaro com as verdades absolutas. Que devemos moderar as nossas convicções sobre isto ou aquilo e que, na maior parte dos casos, é aconselhável guardar para nós os nossos preconceitos. Até porque, se todos os universos são afinal possíveis, haverá pelo menos um com Deus lá dentro, certo?
A citação com que abro o texto é de um biólogo notável que também faz parte desta ilustre congregação de ateus, embora sirva perfeitamente o meu argumento: a biologia do chimpanzé é mais parecida com a nossa do que com a de um gorila. O Homo Sapiens tem 60.000 anos. É um primata novo e insignificante. Pensar que este bicho rudimentar que aqui está há tão pouco tempo pode entender um universo com 13,7 mil milhões de anos e 170 mil milhões de galáxias é de uma pretensão assustadora. E é esse susto que deve educar sempre a opinião de um cientista.