sexta-feira, setembro 25, 2015

Da morte certa.

A instituição fantasmática que tem CNE por acrónimo, resolveu hoje dizer aos portugueses que um slogan eleitoral pode dizer isto:

Morte aos traidores! Queremos o escudo!

Tanto uma como outra das orações são, objectivamente, criminosas; mas esta instituição de entidades alienadas debruçou-se apenas sobre a validade legal da primeira. E a conclusão a que chegou o colégio de imbecis que não existem por serem uns fantasmas sem ópera, segundo a TSF, é esta:

A Comissão Nacional de Eleições só pode analisar os tempos de antena (pagos pelo Estado), mas como o PCTP/MRPP já suspendeu do seu material de campanha eleitoral a frase, não se justifica uma notificação ao partido para retirar essa expressão.
A CNE "não encontrou matéria" que possa constituir "qualquer tipo de crime", pelo que não vai remeter a questão para o Tribunal Constitucional.

Acreditando no que conta o Diário de Notícias, O PCTP/MRPP já terá de facto retirado o slogan da campanha. Muito, porque, naquela gente pouca que habita o partido de Garcia dos Santos, houve uma mandatária-luminária que se recusou a subscrever a condenação à morte, embora concorde que os condenados em causa sejam seres humanos de uma espécie muito inferior:

"Sou a favor da vida por muito rasteira que ela seja, como no caso dos governantes e empresários capitalistas a que o slogan se remete."

A estas fiéis palavras, respondeu o partido com simétrica prosábia:

"Satisfazendo as objeções da nossa distinta mandatária nacional para a Juventude, Virgínia Valente, o comité permanente do comité central (...) ordenou a eliminação da palavra de ordem Morte aos Traidores de toda a sua propaganda eleitoral. (...) Claro que esta decisão não terá o mérito de salvar os traidores do opróbrio e da morte certa que os espera."

Na perspectiva da CNE (pelos vistos partilhada pela Procuradoria Geral da República), esta desinteria verbal não lesa os princípios da Constituição da República nem da Lei Eleitoral nem do Estado de Direito. Garcia Pereira é inimputável. Um marxista histriónico que promete a morte como mensagem eleitoral não é passível de acção jurídica por parte da República Portuguesa.

Assim sendo, tenho que fazer esta pergunta: que diria a CNE se um partido do extremo ideológico oposto inventasse um slogan do mesmo género patético, anacrónico e sanguinolento? Mais do mesmo mas ao contrário:

Morte aos trabalhadores. Queremos robots!

O país todo cairia num escândalo sem precedentes e alguém ia acabar com os costados na prisão. Isso é certo. Mas porquê? Qual é realmente a diferença? Os traidores são seres humanos e os trabalhadores também. Querer o escudo em vez do euro ou desejar robots em vez de trabalhadores são manifestações do mesmo escalão de pensamento mágico.

A diferença, claro, está no gritante desiquilíbrio ideológico das instituições e dos media em Portugal. A Terceira República nunca se elevará aos seus máximos ideiais precisamente porque é uma república de esquerda. Há uns que são mais livres do que outros.