O resultado do referendo de ontem não devia surpreender ninguém. O que surpreende é o facto de se ter colocado esta responsabilidade sobre os ombros de um eleitorado que não faz a mais pequena ideia de quais serão as consequências, para as ilhas britânicas, para a Europa e para o mundo, desta secessão. E não, não estou a ser snob. O operário de Birminghan sabe exactamente o mesmo sobre este assunto que o burocrata em Bruxelas ou o corretor da City londrina. As variáveis em jogo são de tal forma complexas que não há uma alma no universo capaz de determinar o aftermath deste triste episódio.
Suspeito que o Brexit vai prejudicar mais a Inglaterra (até porque coloca em risco, no imediato, a coesão e existência do Reino Unido), do que as nações continentais. Mas não deixa de constituir uma excelente espécie de despertador histriónico para os atrasados mentais que lideram a União Europeia. Alguma coisa tem de mudar. E, se calhar, é de menos Europa que precisamos, para continuarmos a ter uma União minimamente credível. Se calhar, é com menos leis, com menos burocracia, com menos tribunais, com menos apparatchics, com menos compromissos, com menos instituições, com menos mandatos, com menos fascismos e, claro, com menos nações, que será possível sobreviver a este aparente colapso.
A Europa não é una. É diversa, é conflituosa, é, muitas vezes, antípoda. Não vale a pena forçar a federação que não existe de todo no terreno geofísico, psíquico e cultural. Mas isso não quer dizer que a comunidade esteja condenada à extinção. Há muitas e gordas vantagens em estabelecermos uma espaço comum em matéria económica e civilizacional, a primeira das quais: 70 anos sem guerra.
Há muitas e gordas razões para permanecermos ligados a um projecto Europeu que garanta a paz e a prosperidade num continente historicamente massacrado por pequenos ódios. Talvez o caminho a seguir seja menos ambicioso. Mas será com certeza