segunda-feira, julho 04, 2016

Socorro, vêm aí as obras!






























POR MÁRCIO ALVES CANDOSO

Com nenhuma pompa e demasiada incircunstância, soou hoje um alerta civil grau cinco - agora é que as obras em Lisboa vão mesmo começar! A avaliar pelo pandemónio que já por aí vai, qualquer pacato cidadão deve começar a tremer.

Não estou a falar dos buracos de Pedrouços ou de outros arruamentos a precisar de arranjo. Isso é para meninos. O que Medina, Salgado & Empreiteiros Limitados preparam é a ruína do dia-a-dia dos lisboetas e de mais um milhão de pessoas que todos os dias se desloca à capital.

Mas o que me espanta mais - ou me indigna, porque eu espantado já raramente fico - é a unanimidade autárquica sobre a 'necessidade' das obras. Ouvi, com estes dois que a terra há-de comer, PCP, CDS e PSD criticar APENAS a oportunidade das obras. Porque é em cima das eleições, e eles acham que, se o Medina fizer as obras, isso é manobra eleitoral.

É todo um manual de estupidez, ganância e impreparação política que subjaz a estas declarações. Os 'opositores' não dizem que não fariam as obras. Mas criticam que sejam feitas com a intenção de o actual Executivo camarário ganhar as eleições. O que, a ocorrer, lhes dará mais quatro anos fora do tacho.

Não ponho as mãos no fogo pelo povão lisboeta. Se calhar o 'zé pagode' até gosta de ver a cidade esburacada e do mavioso som da picareta automática. Mas se houver muitos eleitores como alguns que eu conheço, é malta para fazer um manguito ao Medina e ao Salgado e mandá-los para umas férias com bilhete só de ida.

Porque as obras são incoerentes, desnecessárias e não resolvem nenhum dos problemas de mobilidade com que os utilizadores da capital do país se confrontam diariamente. Entupir ainda mais a 2ª Circular, tornar o acesso à Baixa e na via central Campo Pequeno-Marquês de Pombal quase impossível, dificultar a circulação automóvel sem - mais uma vez - criar alternativas, não é obra - é martírio!

E lá hão-de estar os lugares - acrescidos - de estacionamento pago e bem pago. A ameaça recai sobre , por exemplo, a Av. da Igreja, Santos-o-Velho, Carnide, Mercado de Benfica e Socorro. É isso mesmo, 'socorro' é do que a gente precisa!

Mas não se ralem. Vão ser criadas mais ciclovias. Não sei se a cabeça do Medina já reparou que existem em Lisboa mais colinas que na Holanda inteira. Não há problema, deve haver um 'voucher'muncipal para ir tudo treinar para o Holmes Place ou para o Club Seven. Estacionam no parque do Ritz.

A população da capital está envelhecida? Não faz mal, o exercício faz bem á saúde. E aliás, vão ser criadas mais uns milhares de habitações para jovens, com rendas reduzidas, para povoar o centro da cidade... Não? Ah, já me esquecia, esse projecto de requalificação foi parar às calendas!

Com mais passeios, mais esplanadas, sem lugar para pôr os carros e com um Metropolitano que continua a ser uma minúscula vergonha para uma cidade capital de um País da Europa - mas que já traz as mulheres-a-dias da Reboleira, porque os escritórios têm de estar limpos às sete e meia - creio bem saber para quem são estas obras necessárias - para o bolso dos patos-bravos que financiam os partidos - hoje um, amanhã outros - e para turistas.

Lisboa não será o maior bordel da Europa. Mas vai tornar-se, seguramente no maior hostel. Entretanto, o lisboeta é uma espécie em extinção.