POR MÁRCIO ALVES CANDOSO
Parte da estratégia turca de cerco à Europa, aliás bem coordenada, mais dia menos dia, com a russa, passa por estrangular o abastecimento de combustíveis. Com agendas diferentes mas em alguns pontos coincidentes, turcos e russos criaram uma teia de gasodutos que deles dependem, e a que os poderes manhosos e covardes europeus tendem a resignar-se.
Os ucranianos foram os primeiros a sofrer com este tipo de prepotência. Depois de terem visto exauridas grande parte das suas reservas de gás - as maiores da União Soviética -, durante a longa noite comunista, viram o fornecimento que lhes chega através do gasoduto tutelado pela Gazprom cancelado em 2015.
A Polónia, a Hungria, a Grécia e até a Alemanha estão entre os próximos a tremer. Mas tudo ficará 'resolvido' quando o gasoduto ucraniano for destruído - já está previsto -, e o chamado 'Corrente Turca' entrar em funcionamento.
O Corrente Turca, com uma capacidade anual de 63 mil milhõs de metros cúbicos, foi anunciado em dezembro de 2014. A via de transporte de gás está prevista para ser executada pelo fundo do Mar Negro, da Rússia para a Turquia, e continuando a partir de um centro de distribuição na fronteira turco-grega, de onde o combustível poderia ser transferido para o sul da Europa, através da Grécia.
Alguns analistas não vêem como mero acaso o início da normalização de relações russo-turcas, iniciada em Junho passado. As dissenções em torno da Síria - Putin apoia Assad, Erdogan é contra - não falam tão alto como os negócios do gás. A destruição do gasoduto ucraniano deixará na mão destes oligarcas uma parte importante do abastecimento de gás à Europa.
É claro que em Paris, Londres ou Berlim já se poderia ter avançado imenso em, pelo menos, dois aspectos. Em primeiro lugar, agilizar todas as formas de diminuir a dependência de fontes externas de energia - ninguém bate a Europa ocidental em matéria de investigação nuclear, e os apoios ás energias alternativas já tiveram melhores dias. Em segundo, reforçar as relações com a Ucrânia e fazer frente a Moscovo e Ancara.
Com uma regularidade espantosa, a nomenclatura da União Europeia tem vindo a tomar partido pelo lado errado da História e da decência. Acho que se chama diplomacia...