sábado, janeiro 05, 2019

Pela Estrada Fora #15

A Minha Batalha
Uma breve apologia da combustão interna. E dos Concertos de Brandenburgo.


Tudo o que queria fazer, no caminho de regresso do Canhão da Nazaré, era tirar um excelente boneco do meu carrinho lindo com o Mosteiro da Batalha no fundo. A inocência, caída subitamente no poço da realidade, tem cruéis resultados no ânimo da alma e a simples intenção de estacionar o automóvel nas imediações do Mosteiro é um projecto destinado à falência onírica: a vila de Batalha tem, neste contexto, os mesmos problemas da cidade de Nova Iorque, sendo certo que se compreendem melhor as dificuldades de parquear na península de Manhattan do que no coração do Oeste Português.

Odiar os automóveis de combustão interna, restringindo seu trânsito, taxando de forma obscena a sua função, aniquilando ou tentando aniquilar o prazer da condução enquanto se rouba boa parte ao comércio dos combustíveis, é a nova norma. A minha Batalha é que a nova norma não passe a normal.

O automóvel de combustão interna é uma das grandes glórias tecnológicas da história da humanidade. Está para a indústria como os Concertos de Brandenburgo estão para a música. As duas  obras servem esplendidamente para nos transportar do ponto A ao ponto B. Num caso os pontos são geográficos, noutro são estéticos, mas o assunto é o mesmo: liberdade. 



Não deixo de ficar impressionado com a paisagem arqueológica. E nunca, por nunca, cesso o espanto de ser nacional de um país que se consolidou através desta gloriosa Batalha, travada com valentia e argúcia estratégica no remoto ano de 1385. E nunca, por nunca, cesso de venerar esse D. Nuno imortal. Mas quando finalmente encontrei um lugar para estacionar, tudo o que consegui foi isto:

É claro que fiquei a quilómetros do que sonhava (o mosteiro está lá ao fundo, do lado esquerdo). Mas um gajo que gosta de automóveis está condenado às milhas. Se calhar é justo. Se calhar não. Não sei se já pensaste nisto, gentil leitor, cordial leitora, mas quando os motores de combustão interna forem levados à extinção industrial, o que é que fica para taxar? O que é que fica para odiar?

É que agora estão só a lixar a minha mania. A ganhar a minha Batalha. A vencer sobre a minha fantasia. Mas com o mesmo intento fascista, cuidarão de destruir a tua, já de seguida.