domingo, março 15, 2020

Uma cambada de coninhas.


Com o devido respeito pelas pessoas que vão de facto sofrer horrível e directamente os efeitos da epidemia Covid-19, devo dizer o seguinte:

Vivemos num mundo liderado por coninhas. Um outro tipo de pessoas-líderes que não fossem coninhas assim, pensavam duas vezes no que estão a fazer. Como são coninhas mesmo, coninhas do pior que há, só pensam no medo.

Os coninhas que só pensam no medo preocupam-se loucamente com a quantidade de votos que perdem por serem valentes e nem conseguem dormir dada a expectativa de serem vandalizados nas redes sociais ou de serem malditos nas colunas dos jornalecos que andam para aí a ser publicados e que, apesar da falência factual das respectivas audiências, metem imenso medo aos coninhas.

E o medo é um horroroso conselheiro.

No mês de Janeiro deste fenómeno só existia uma estratégia sã que as nações ocidentais tinham para seguir, no contexto do Covid-19, e que divido em três pontos fundamentais.

O primeiro é puramente político: responsabilizar a China, de forma a que a China se visse obrigada a ser globalmente responsável e, assim, contribuinte desinteressada da rede logística global de que é, na breve história do século XXI, a primeira beneficiária. Mas como estamos a falar de coninhas ocidentais, isso está completamente fora do espectro ontológico e a China neste momento está até - super e suprema ironia - a gozar o prato de ser uma ditadura e de - por esse glorioso facto - ser capaz de circunscrever e eliminar de forma bastante mais célere e prosaica as mesmas circunstâncias epidémicas que as frágeis e juridicamente complexas democracias têm épicas dificuldades em resolver.

O segundo ponto fundamental é de ordem pragmática: havia que fechar fronteiras ao turismo e à migração não prioritária. As fronteiras permaneceriam abertas ao movimento logístico de grande impacto económico e não mais que isso. Mas como vivemos na União-Europeia-de-Portas-Abertas  em que fechar fronteiras é uma política nazi, vá de deixá-las abertas. Até ver.
(Actualização: o Costa fechou agora ao turismo a fronteira com Espanha. Devia tê-lo feito há um ou dois meses atrás).

O terceiro, e mais que óbvio princípio lógico seria o de investir na protecção do grupo de risco: pessoas imuno-deficientes e/ou pessoas com mais de 65 anos. Esta seria a medida com melhores resultados estatísticos, no que tem a ver com a mortalidade do vírus, mas a cambada de coninhas que nos governa não é só deficitária de coragem. Também é deficitária de lucidez e de inteligência e é por isso que estamos neste momento a uma quântica distância do colapso das instituições fundadoras e fundamentais da sociedade só por causa de uma merda de uma doença que mata uma pessoa em cem.

Vão morrer, nos próximos meses, mais pessoas em acidentes rodoviários. Fechamos as estradas? Já morreram mais pessoas este Inverno da gripe comum. Fechámos para o Inverno? Morrem, todos os dias de cada mês e em todas as estações do ano, imensas pessoas nos hospitais portugueses por infecções que lá apanham. Fechamos os hospitais?

Por amor de Deus, não sejam tão coninhas. E, já agora, pensem em que género de economia, em que espécie de mundo vão aterrar já a seguir, no Verão, quando o vírus sair do ciclo diário dos jornais e escapar à indignação parva das redes sociais e o que houver para mostrar de todo este inferninho de agora for desempregos e falências e o reforço de uma estado falido mas subsídiário e o exponencial declínio desta Civilização pela qual os vossos avós, que não eram coninhas nenhuns, se sacrificaram em números - esses sim - abismais, para a deixar de tal forma perfeitinha que pudesse agora ser completamente aniquilada pela infame ausência daquilo que mais falta faz ao Homem Civilizado: um par de tomates.