Por princípio de responsabilidade sobre o que digo e escrevo (e digo e escrevo bastante, como sabem), acho que devo deixar aqui registo de um comentário que fiz na página do grupo criado no Facebook pelo Professor Jorge Buescu, dedicado à análise dos números do Covid-19 em Portugal, que é séria e rigorosa e que é produto honorável da generosidade de um mestre da matemática e da divulgação científica, mas onde todos parecem ter a mesma opinião e eu sou alérgico às situações em que as pessoas têm todas a mesma opinião. O comentário reza assim:
Não pretendo de todo armar espúria polémica nesta exemplar e civilizadíssima página de Facebook, mas é claro que é natural (e saudável) que as pessoas procurem neste momento um regresso à sua vida normal. E é também líquido que o número de infectados vai aumentar. E, se calhar, que a curva da mortalidade volte um pouco a registos anteriores. Mas o que fazer? Vamos continuar confinados até que não exista um mundo para o qual regressar? Vamos abdicar, por causa do medo e em nome da vida vazia de tudo menos de medo, ao direito à plenitude da existência? A vida é um risco. E o elogio da vida pela vida não faz sentido nenhum. Quem é que quer viver sem um abraço de um amigo? Ou sem poder beijar um neto? Ou sem poder confortar um filho? Ou acompanhar os pais, na sua velhice, que é sempre solitária? Ou sem o sabor de uma imperial numa esplanada junto ao mar? Ou sem a realização fundamental que o trabalho nos traz (de que é viva prova o labor do Professor, que nem todos podem neste momento exercer)? Sem a liberdade de movimentos e de iniciativa e de opinião, sem o aleatório e indomável arbítrio que é próprio da condição humana, o que é que nos resta? Um jugo inútil que é a ausência de significado.
Vá lá. Vamos ser sensatos e responsáveis e cuidadosos, sim. Mas vamos ser livres para perseguir o nosso destino, também.
Vá lá. Vamos ser sensatos e responsáveis e cuidadosos, sim. Mas vamos ser livres para perseguir o nosso destino, também.
Obrigado e desculpem qualquer coisa.