Não sei se já vimos e vivemos o pior de 2020, sinceramente.
No contexto de barricada material, ideológica e psicológica que hoje é imanente nos Estados Unidos, há uma probabilidade séria das eleições presidenciais de Novembro terminarem num processo de secessão.
E se a soma da epidemia com o desassossego social já configurava uma espécie de tempestade perfeita, imaginem as consequências - locais e globais; económicas e sócio-políticas - de uma segunda guerra civil americana.
Exemplo
das posições loucamente extremadas de que falo é esta frase de Andrew Cuomo, o governador do estado de Nova Iorque: "Trump had better have an army to protect him if he comes to NYC".
Convenhamos: isto não é
normal. E se nas ruas das principais cidades americanas a turba insulta,
incendeia, pilha, violenta e mata de forma impune (não sei se estas
notícias chegam aos media portugueses porque não os consumo, mas
desconfio que não), o discurso dos líderes políticos da federação não
parece estar a um nível muito diferente. E este é só um exemplo de hoje.
Há milhares nas últimas semanas.
O
Washington Post dos tempos que correm é demente, propagandístico e
desaconselhável à brava. Mas ainda assim, eu e os marxistas da
respectiva redacção conseguimos estar de acordo por um momento, como o
relógio parado consegue estar certo duas vezes por dia: as eleições presidenciais que se avizinham dificilmente terão um desfecho conclusivo e pacífico.
Tanto mais que este ano a "noite eleitoral" vai durar duas semanas ou coisa que o valha, por
causa do voto por via postal. E duas semanas é tempo suficiente para
incendiar o resto da América que ainda não ardeu.
Não
quero parecer fatalista, mas não me lembro de viver tempos tão voláteis
e perigosos desde a Guerra Fria. Talvez até mais voláteis, talvez até
mais perigosos.