domingo, janeiro 10, 2021

Fascismo total.

Nos últimos 6 a 4 anos, as big tech têm desenvolvido, protegidas pelo esquema monopolista dos seus negócios e pela cumplicidade das super-estruturas políticas, financeiras e mediáticas das nações ocidentais, um programa de censura e cancelamento sobre qualquer opinião divergente que tornou irrelevantes os pesadelos de Orwell. E não se trata apenas de liquidar a liberdade de expressão: corporações como a Shopify ou a Paypal ou a Patreon objectivam em última análise a falência técnica daqueles que renegam as verdades oficiais, impossibilitando o exercício da sua actividade económica.

Talvez o caso mais sinistro deste movimento totalitário perpetrado pelas elites de Silicon Valley sobre o livre arbítrio e o exercício de cidadania das massas é o que aconteceu nos últimos dias com a plataforma Parler. Mas vamos por partes.

Como tinha previsto no post sobre os eventos de dia 6, a reacção de natureza totalitária da esquerda radical e dos poderes estabelecidos da sociedade americana não se fez esperar. Numa atitude completamente inédita, o Twitter fechou a conta daquele que ainda é legalmente o Presidente dos Estados Unidos, retirando-lhe o seu último reduto mediático, horas depois do motim do Capitólio. O Facebook fez o mesmo. Não contentes com este escandaloso e perverso exercício de poder absolutista, as corporações de Silicon Valley passaram os últimos dias a fechar contas nas suas plataformas. Do Youtube ao Instagram, centenas de milhar de criadores dissidentes de todo o mundo foram cancelados e despojados não só do seu direito à opinião, não só do seu direito ao contraditório, não só das suas audiências, mas também e na verdade das suas fontes de receita.

Pressionados pelo zelo censório das grandes corporações, criadores e públicos têm procurado conduzir conteúdos e atenções para plataformas alternativas, como o Rumble e o Bitchute (alternativas ao Youtube), o Minds e o Locals (alternativas ao Facebook e ao Blogger) e, muito principalmente, o Parler (alternativa ao Twitter), que ainda ontem e como reacção ao fecho da conta de Donald Trump, constava como aplicação mais descarregada na App Store da Apple. 

Acto contínuo, e porque o bom fascista não suporta que a dissidência tenha qualquer hipótese de sobreviver, A Apple e a Google apressaram-se a banir das suas lojas electrónicas a aplicação renegada.

Ainda ontem, Dan Bongino, o pundit ex-CIA que é um dos sócios fundadores do Parler, protestava justamente sobre o que se estava a passar e lançava o aviso: aqueles que acham que é boa ideia censurar os que expressam uma opinião discordante da sua, vão acabar também por ser censurados. É uma questão de tempo, na medida em que todos os processos totalitários não funcionam com base em princípios, mas em lógicas do poder pelo poder.

Existia ainda e porém a hipótese de os utilizadores acederem directamente ao site do Parler, sem necessidade de instalação da app. Mas até isso é inconcebível para os oligarcas deste admirável mundo novo e a Amazon, que albergava o Parler nos seus servidores, afirmou hoje que a partir da meia noite vai desactivar o serviço, eliminando, para todos os efeitos, a presença online desta aplicação.

Convém dizer que o Parler é de facto um espaço de diálogo que permite grande liberdade de opinião, sendo que a moderação não é feita pelos quadros da empresa mas por júris constituídos por utilizadores certificados e seleccionados por algoritmo. Por isso mesmo, e porque a liberdade tem sempre um preço, é natural que passem, aqui e ali, mensagens mais extremadas. E dado que o Twitter é hoje um câmara de eco das vozes de esquerda, o Parler congregou as sensibilidades da direita, num processo de polarização da opinião que é de trincheira, mas que tem como principais responsáveis, claro está, os censores que iniciaram a divisão. Tanto mais que o Twitter, como qualquer utilizador minimamente lúcido percebe, também permite extremismos de toda a ordem (hoje no trending desta plataforma podíamos ler #Hang Mike Pence), desde que sejam de esquerda ou que alinhem com a narrativa oficial.

Não é preciso ser um génio para perceber que retirar qualquer hipótese de expressão a milhões de pessoas só pode gerar revolta e ressentimento e um aumento exponencial dos extremismos e, assim, abrir caminho para mais episódios de violência, que poderão muito bem escalar para um levantamento civil de consequências difíceis de prever.

Civil War graph.png

No entretanto, e enquanto milhões de pessoas por todo o mundo sofrem as mais nefastas consequências económicas, sociais e psicológicas decorrentes dos confinamentos que imperam à escala global, enquanto a América se posiciona periclitantemente a um passo da guerra civil, os barões da alta finança rejubilam e Wall Street regista níveis nunca vistos de repelente euforia: 

https://cms.zerohedge.com/s3/files/inline-images/euphoria%20model_0.jpg?itok=1bb2TUZE

Este espantoso gráfico é a prova provada de que o bem comum já não é uma preocupação das elites. A tomada de poder absoluto, doa a quem doer e mascarada com valores humanistas e socialistas e ecológicos é a prioridade e está a correr esplendidamente. Bem-vindos ao triunfo total das elites sobre as massas. Agora numa versão marxista, mas ao contrário.