Nos últimos 6 a 4 anos, as big tech têm desenvolvido, protegidas pelo esquema monopolista dos seus negócios e pela cumplicidade das super-estruturas políticas, financeiras e mediáticas das nações ocidentais, um programa de censura e cancelamento sobre qualquer opinião divergente que tornou irrelevantes os pesadelos de Orwell. E não se trata apenas de liquidar a liberdade de expressão: corporações como a Shopify ou a Paypal ou a Patreon objectivam em última análise a falência técnica daqueles que renegam as verdades oficiais, impossibilitando o exercício da sua actividade económica.
Talvez o caso mais sinistro deste movimento totalitário perpetrado pelas elites de Silicon Valley sobre o livre arbítrio e o exercício de cidadania das massas é o que aconteceu nos últimos dias com a plataforma Parler. Mas vamos por partes.
Como tinha previsto no post sobre os eventos de dia 6, a reacção de natureza totalitária da esquerda radical e dos poderes estabelecidos da sociedade americana não se fez esperar. Numa atitude completamente inédita, o Twitter fechou a conta daquele que ainda é legalmente o Presidente dos Estados Unidos, retirando-lhe o seu último reduto mediático, horas depois do motim do Capitólio. O Facebook fez o mesmo. Não contentes com este escandaloso e perverso exercício de poder absolutista, as corporações de Silicon Valley passaram os últimos dias a fechar contas nas suas plataformas. Do Youtube ao Instagram, centenas de milhar de criadores dissidentes de todo o mundo foram cancelados e despojados não só do seu direito à opinião, não só do seu direito ao contraditório, não só das suas audiências, mas também e na verdade das suas fontes de receita.
Pressionados pelo zelo censório das grandes corporações, criadores e públicos têm procurado conduzir conteúdos e atenções para plataformas alternativas, como o Rumble e o Bitchute (alternativas ao Youtube), o Minds e o Locals (alternativas ao Facebook e ao Blogger) e, muito principalmente, o Parler (alternativa ao Twitter), que ainda ontem e como reacção ao fecho da conta de Donald Trump, constava como aplicação mais descarregada na App Store da Apple.
Acto contínuo, e porque o bom fascista não suporta que a dissidência tenha qualquer hipótese de sobreviver, A Apple e a Google apressaram-se a banir das suas lojas electrónicas a aplicação renegada.
Ainda ontem, Dan Bongino, o pundit ex-CIA que é um dos sócios fundadores do Parler, protestava justamente sobre o que se estava a passar e lançava o aviso: aqueles que acham que é boa ideia censurar os que expressam uma opinião discordante da sua, vão acabar também por ser censurados. É uma questão de tempo, na medida em que todos os processos totalitários não funcionam com base em princípios, mas em lógicas do poder pelo poder.
Existia ainda e porém a hipótese de os utilizadores acederem
directamente ao site do Parler, sem necessidade de instalação da
app. Mas até isso é inconcebível para os oligarcas deste admirável mundo novo e a Amazon, que albergava o Parler nos seus servidores, afirmou hoje que a partir da meia noite vai desactivar o serviço, eliminando, para todos os efeitos, a presença online desta aplicação.
Convém dizer que o Parler é de facto um espaço de diálogo que permite
grande liberdade de opinião, sendo que a moderação não é feita pelos
quadros da empresa mas por júris constituídos por utilizadores
certificados e seleccionados por algoritmo. Por isso mesmo, e porque a liberdade tem sempre um preço, é natural que passem, aqui e ali, mensagens mais extremadas. E dado que o Twitter é hoje
um câmara de eco das vozes de esquerda, o Parler congregou as
sensibilidades da direita, num processo de polarização da opinião que é
de trincheira, mas que tem como principais responsáveis, claro está, os
censores que iniciaram a divisão. Tanto mais que o Twitter, como qualquer utilizador minimamente lúcido percebe, também permite extremismos de toda a ordem (hoje no trending desta plataforma podíamos ler #Hang Mike Pence), desde que sejam de esquerda ou que alinhem com a narrativa oficial.
Não é preciso ser um génio para perceber que retirar qualquer hipótese de expressão a milhões de pessoas só pode gerar revolta e ressentimento e um aumento exponencial dos extremismos e, assim, abrir caminho para mais episódios de violência, que poderão muito bem escalar para um levantamento civil de consequências difíceis de prever.
No entretanto, e enquanto milhões de pessoas por todo o mundo sofrem as mais nefastas consequências económicas, sociais e psicológicas decorrentes dos confinamentos que imperam à escala global, enquanto a América se posiciona periclitantemente a um passo da guerra civil, os barões da alta finança rejubilam e Wall Street regista níveis nunca vistos de repelente euforia:
Este espantoso gráfico é a prova provada de que o bem comum já não é uma preocupação das elites. A tomada de poder absoluto, doa a quem doer e mascarada com valores humanistas e socialistas e ecológicos é a prioridade e está a correr esplendidamente. Bem-vindos ao triunfo total das elites sobre as massas. Agora numa versão marxista, mas ao contrário.