Caso de Estudo #05
Propaganda e censura de natureza totalitária: Imprensa e Redes Sociais.
A visão ocidental da democracia passa obrigatoriamente por integrar na sua mecânica interna um aparelho jornalístico independente, com valores deontológicos mais ou menos saudáveis. Digo mais ou menos porque parte da imprensa do século XX era bastante sensacionalista, o que não é assim tão saudável como isso, embora o sensacionalismo nunca tenha na verdade colocado em causa as estruturas civilizacionais e até porque, há que dizê-lo, na origem da imprensa não está a seriedade e a sobriedade, mas a viabilidade comercial. Entre a segunda metade do século XIX e o pós Segunda Guerra Mundial, a generalidade dos jornais privilegiava o impacto da parangona sobre a objectividade da reportagem.
Nas últimas décadas do Século XX criou-se porém a convicção generalizada que era possível ganhar dinheiro e fazer jornalismo sério, inquisitivo e regulador, que funcionasse mais ou menos como referência objectiva (ou pelo menos como relato verosimilhante) das realidades políticas, sociais e económicas das nações. Uma espécie de fiel da balança, que mantinha os poderes instituídos sobre bom escrutínio e os cidadãos defendidos no que diz respeito ao acesso a informação credível.
Desgraçadamente, a Internet, primeiro e o activismo político, depois, vieram destruir este belo conceito.
Colocando uma pressão imensa sobre a imprensa, tanto no aspecto financeiro como na sua capacidade de influenciar a opinião pública, a web (e as suas inéditas consequências ao nível da livre criação e circulação de conteúdos informacionais) deram génese a um fenómeno deveras surpreendente: em vez do jornalimso profissional ter apostado na integridade deontológica e no rigor técnico para contrariar e vencer o diletantismo opinante das redes sociais, foi precisamente o contrário que se passou. A imprensa cedeu à tentação do clickbait e iniciou um processo suicidário de descida aos infernos da desinformação, concorrendo em idiotia e delírio ficcional com as piores páginas de Facebook que podes encontrar nos primeiros dez minutos de navegação; cedendo também e ainda por cima aos poderes instituídos, tornando-se o arauto propagandista dos estados e dos grandes grupos de interesse, de forma a deles obter as receitas que anteriormente conseguia realizar de forma independente e que agora perdia para a web.
Para que a tempestade fosse perfeitinha, perfeitinha, um conjunto de fenómenos à escala global, como a a transferência de poderes, riquezas e centros de produção para fora do âmbito do Ocidente, as irresponsáveis políticas de imigração europeias e americanas, a radicalização ideológica das universidades, as restrições à liberdade de expressão cada vez mais intensas e efectivas nas sociedades ocidentais e um certo niilismo que se instalou nas suas elites, infectou terminalmente as escolas jornalísticas, que substituíram rapidamente o altar do facto pelo templo do activismo político. E do activismo político não em favor dos povos ou dos próprios consumidores do produto publicado, mas sim de um activismo político do género soviético, que defende exclusivamente, até à falência da moral e ao falecimento da razão, os interesses das super-estruturas oligárquicas.
Simetricamente, os poderosos e perigosamente escassos donos das redes sociais, uma vez confrontados com o potencial libertário dos fóruns que criaram e temendo-o deveras, reagiram, com determinação obsessiva e alérgico zelo, da pior forma possível: através da censura sobre a opinião desviada do cânone de Silicon Valley, da omissão de factos inconvenientes e da manipulação política dos algoritmos.
Sem referência de verdade nem instrumentos credíveis de esclarecimento sobre as dinâmicas presentes nos ecossistemas em que vivem mergulhados, submersos por uma contraditória, ruidosa e contraproducente sobredose de informação, impedidos de proferir opiniões incómodas e de aceder a todo o espectro de ideias do caldo cultural em que foram criados, os cidadão não podem produzir escolhas válidas, que criem prosperidade sem sacrifício da justiça e igualdade de oportunidades sem prejuízo da liberdade individual, nas suas sociedades. A democracia assim, não funciona, ou funciona de forma destrutiva.
Esta é, claro, uma batota grande e descarada. Até porque não pode caber ao estado, ou aos conglomerados económicos, o controlo da informação que circula nas sociedades (esse é o modelo dos fascismo corporativo ou do comunismo soviético). Como não cabe ao jogador de Poker trazer reis escondidos nas mangas.
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Caso de Estudo #06
Doutrinar em vez de educar: O reset niilista nas escolas e nas universidades.
Não há maneira de uma democracia mostrar solidez e contribuir para o bem estar material e imaterial dos cidadãos se não tiver uma sistema de ensino qualificado. Um sistema de ensino que tenha como preocupação fundamental a formação técnica das populações. Digo formação e não educação porque é importante discernir três conceitos fundamentais: a formação é do âmbito das escolas, a educação é do âmbito das famílias e a doutrinação é do âmbito das igrejas ou dos partidos políticos.
Escolas e universidades não têm que ser máquinas de condicionamento ético ou de propaganda ideológica. Escolas e universidades devem disponibilizar conhecimento sobre o leque histórico das opções morais ao dispor do indivíduo e sobre todo o espectro da filosofia política, de forma a que seja o formando e não o formador a escolher que ensinamentos são válidos para si. Só assim poderá cumprir o seu destino em liberdade.
Acontece que a partir dos anos 60 do Século XX, por uma miríade de razões que seria extenuante enumerar, mas que na origem estão relacionadas com um caso freudiano de marxismo mal resolvido, as universidades primeiro e depois, progressivamente, a totalidade das estruturas pedagógicas, assumiram como papel fundamental a doutrinação ideológica e o condicionamento ético. Este fenómeno não só levou a um uníssono intelectual das elites, que é extremamente perigoso e tendencialmente condutor a oligarquias de base totalitária, como à insidiosa corrupção moral de crianças e adolescentes a que assistimos hoje em dia.
O que se passa actualmente nas universidades anglo-saxónicas é paradigmático: os alunos endividam-se para a vida toda não em favor de um currículo formador que lhes possibilite a realização do seu potencial e a prosperidade material (até de forma a que o investimento na formação seja rentável), mas sim em nome de um programa político que os ensina a odiar o seu próprio país, a reduzir drasticamente o nível de exigência que têm consigo próprios enquanto aumentam desmesuradamente a exigência que mantêm com o meio envolvente, no contexto de uma crítica da ocidentalidade que é historicamente falsa e moralmente falaciosa. Que consegue apenas despejar na sociedade indivíduos revoltados, radicalizados, disfuncionais e por isso condenados a dificuldades financeiras que em grande parte dos casos os conduz à dependência dos respectivos sistemas de segurança social.
Mais a mais, também por razões múltiplas de que destaco a desagregação dos núcleos familiares clássicos e a opção de milhões de mulheres pela carreira profissional em detrimento da maternidade, os pais desistiram de educar os filhos e entregaram essa primeira e primária tarefa às escolas. O que na maior parte dos casos é o mesmo que dizer: entregaram essa primeira e primária tarefa ao Estado.
Não há maneira das pessoas perceberem isto mas entregar a educação (não esquecer que não estou aqui a falar de formação) dos seus filhos ao Estado é uma enorme irresponsabilidade. Eu diria até que é uma manifestação de desamor.
O Estado, como entidade formadora, é regra geral medíocre (há excepções). Mas como educador, é um desastre (sem excepções). É um desastre porque não foi criado com essa missão. É um desastre porque não pode ser responsabilizado pelos seus erros monumentais, dada a volatilidade dos agentes políticos e dos legisladores que é própria da democracia. É um desastre porque promoverá sempre as suas ambições materiais e os seus tiques colectivistas sobre os interesses morais e individuais dos cidadãos. É um desastre porque será sempre incapaz de transmitir os valores e os princípios que só a família está qualificada para oferecer.
Como pode o Estado ensinar a ternura, a cortesia, o respeito pelos mais velhos, a generosidade, a responsabilidade, o voluntarismo ou a ética profissional? Não pode. São valores que lhe são alheios.
E assim sendo, vivemos, neste lado do mundo, com famílias que não educam e escolas que preferem doutrinar a formar. Assim, não dá. Assim, é como jogar Monopólio com letras de Scrabble.
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