Ao trocar o facto pela opinião, a imprensa mainstream contemporânea está a impedir que uma larga fatia da população ocidental receba informação rigorosa sobre o assalto às riquezas e às liberdades que se intensifica a cada dia. As pessoas procedem como se os sucessivos atentados aos princípios mais básicos da dignidade e da prosperidade humanas, perpetrados por elites moralmente falidas e sequiosas de poder absoluto, fosse apenas mais um dia no grande escritório da democracia.
Não é.
Tenho plena consciência que há no Ocidente centenas de milhões de cidadãos que ainda não perceberam bem o cataclismo de que são contemporâneos, muito pela razão de que ninguém lhes está a fazer um desenho. Tempos houve em que esse desenho era produzido, com escrúpulo independente, pela imprensa. Agora, ironicamente, a imprensa produz apenas gatafunhos; filtros de falsidade e de opinião activista, para que os cidadãos tenham dificuldades máximas de discernimento. Para que seja impossível navegar racionalmente entre a realidade e a ficção, a verdade e a mentira, a informação e a propaganda. E as pessoas, cegas pelo néon ideológico, ensurdecidas pelo ruído mediático, teimam em seguir em frente, como se o caminho fosse bom e fosse seguro.
Não é.
E nada mudará depressa, se é que algo vai mudar devagarinho. O balanço ganho pela onda de destruição cultural e económica que varreu a Civilização Ocidental em coisa de duas décadas faz de qualquer tentativa dissidente um naufrágio à espera de acontecer. É difícil combater os estados e as suas forças de defesa e segurança, os grandes conglomerados económicos e as suas forças de defesa e segurança, as universidades e as escolas, a imprensa e o entretenimento; todos os agentes da revolução multidimensional juntos num uníssono feroz e fascista. Perante este movimento opressivo, as pessoas optam por ignorar a política e deixar que os poderes instituídos lhes retirem o peso da responsabilidade que transporta pela vida qualquer ser humano livre. As pessoas delegam nesses poderes oligárquicos as decisões de que deveriam ser fervorosas proprietárias, com a esperança de que seja essa a melhora maneira de evitar o rolo compressor.
Não é.
Há porém fogueiras de rebelião que se acendem, fogachos aqui e ali, últimos redutos de um sonho de liberdade e prosperidade. Glenn Greenwald, que até há muito pouco tempo era uma estrela do The Guardian, repórter fundamental no caso Snowden e avançado centro do jornalismo liberal de esquerda, e que hoje em dia é tratado por essa mesma falange como um verdadeiro demónio, decidiu aliar-se ao Rumble, um concorrente do Youtube que apostou na liberdade de expressão e que recusa censurar os criadores, para acender, ontem, o fogo da sua voz. E se pensam que a voz dele é irrelevante:
Não é.
Nem que seja para assistir a um diário e edificante exercício de coragem; nem que seja para não termos nenhuma dúvida de que Deus ofereceu ao Homem a sagrada capacidade do livre arbítrio, nem que seja para criar uma ideia mais aproximada da realidade, vale a pena subscrever o canal de Greenwald. E mesmo que se esteja em desacordo com ele. A ideia do Rumble é aliás e precisamente essa: um fórum público onde seja possível discordar das narrativas dominantes sem pagar o preço da dissidência. Frequentar o Rumble é assim, nos dias de mordaça apertada como os do tempo presente, um acto de cidadania e soberania individual sobre a colectivização da opinião pública.
Não é?