Ainda assim, Reservoir, o primeiro dos três longos formatos que a banda editou entre 209 e 2014, é um disco fenomenal, exuberantemente orquestrado e produzido com uma maturidade impressionante, carregado de temas inspirados e grandiloquentes.
Enquanto a voz de Justin Finch vibra com lamentos e maldições, a sonoridade da banda eleva-nos com alegrias harmónicas e complexidades tonais, numa colorida cenografia acústica que cativa o ouvido e abençoa os sentidos. E assim, mesmo contemplando o suicídio, há sempre uma saída de emergência quando a música funciona como anti-depressivo:
Polifacetados e preparados para tudo, os Fanfarlo usam gaitas e harmónicas, clarinetes e saxofones, concertinas e violinos - são mais acústicos que eléctricos - mas sem perderem nada na grandiosidade do seu palco sonoro: são tão capazes de melodias depuradas para fecho de bar como de composições épicas que iniciem com bravura e poder um concerto de estádio:
Contrastando com a amplitude estrondosa do tema anterior, reparem bem nesta representação acústica, de simplicidade arrepiante, de "Drowning Men".
Porque são talentosos e aventureiros, porque são técnica e criativamente dotados, porque se nota perfeitamente que sabem tirar prazer daquilo que fazem, estes rapazes, de insignificante presença na consciência coletiva da música independente contemporânea, ocupam um espaço nobre na galeria áudio da minha vida. E se mais razões não houvesse, estes dois geniais e poderosíssimos temas com que fecho o post justificam completamente o meu juízo.