No monólogo de ontem, Tucker Carlson propõe uma nova divisão da sociedade americana: aqueles que se preocupam com os preços dos combustíveis e com a inflação e aqueles que não se preocupam nada com isso.
Os que não se preocupam nada com isso são advogados, especuladores da Wallstreet, produtores da Netflix, congressistas, activistas, lobistas, ambientalistas, jornalistas, académicos de "Gender Studies", burocratas de Washington, gurus de Silicon Valley; todos eles na verdade desnecessários ao bom funcionamento do tecido sócio-económico, todos eles acumulando a grande fatia da riqueza gerada na América. Estes acham até que a gasolina devia ser ilegal (porque se deslocam em dispendiosos Teslas eléctricos). Estes acham até que a polícia devia ser abolida (porque conseguem suportar sem qualquer esforço orçamental batalhões de seguranças privados). Estes acham até que a civilização devia cair já, para salvarmos o planeta (enquanto viajam de jacto privado e constroem luxuosos bunkers subterrâneos, devidamente equipados para o apocalipse).
Os outros, os que sofrem com as consequências da inflacção e que fazem contas ao estreito orçamento mensal de cada vez que abastecem o automóvel são os que produzem bens tangíveis, os que geram valor, os que têm profissões reais e competências técnicas específicas sem as quais a sociedade não pode funcionar. Acontece que estes retiram uma percentagem muitíssimo reduzida da riqueza que criam. Acontece que estes são quotidianamente espoliados, humilhados, mandatados, desempregados, empobrecidos, submetidos, censurados e, acima de tudo, desprezados pela outra metade.
A utopia não quer saber deles. Não é realizada para eles. É feita contra eles.