Pensadas para conviver com as grandes amplitudes térmicas da Península Coreana, as hanok, casas tradicionais cujo conceito de engenharia e arquitectura remonta ao início da dinastia de Joseon (Sec. XIV), são uma pérola da cultura oriental.
Belas, minimais, confortáveis, luminosas, duradouras, arejadas e aquecidas naturalmente, são edificadas com materiais porosos como o barro, o papel e a madeira, que contribuem para que as hanok sejam uma espécie de organismo vivo, que respira, reage ao calor e ao frio, abre e fecha a sua bioesfera, num interminável ciclo de inteligente coordenação com as diferentes exigências sazonais em comodidade e praticabilidade modular.
Como incondicional fã das séries históricas coreanas, muitas vezes me perguntei se a opção de dormir e comer no chão, hábito partilhado por reis e plebeus, seria assim tão sensato como isso. Depois de ver o documentário que publico em baixo, percebe-se perfeitamente a razão do preceito cultural: o chão das hanok não é como o chão das casas tradicionais do Ocidente. É um colchão, é um aquecedor, é uma terapia.
Para além da sábia arquitecura interior, as hanok são construídas para capitalizarem a beleza bucólica dos espaços exteriores, estabelecendo uma relação cenográfica que, sem prejuízo da fronteira entre o público e o privado, liberta a área habitacional para um plano não confinado e interactuante com a coreografia irrepetível de cada dia.
À medida que vou ficando íntimo da cultura coreana, mais encantado fico com a sua prolixa riqueza. Mais seduzido fico com as suas veneráveis tradições. Mais impressionado fico com a sabedoria destas gentes. Mais humilde permaneço nas minhas limitações de símio urbano, ocidental e pós-moderno.