Recentemente escrevi aqui sobre um dos muitos dilemas contemporâneos da Astrofísica: se acreditas nas virtudes da Matéria Negra (mesmo que não saibas o que ela é) como teoria explicativa de fenómenos galácticos que observas e que não entendes, há sempre uma boa parte desses fenómenos que permanecem insondáveis. Se acreditas na Gravidade Modificada, ficas também com uma fatia da fenomenologia celeste por explicar. Acontece acrescidamente que nenhuma destas duas teorias consegue explicar o comportamento da galáxia AGC 114905, que pelos vistos prescinde completamente de Matéria Negra e cujo comportamento não é previsto pela Teoria da Gravidade Modificada.
Traduzindo este gráfico para que o leigo possa entendê-lo: a linha verde prevê o comportamento da galáxia de acordo com a Teoria da Gravidade Modificada, a linha magenta prevê o comportamento da galáxia de acordo com a Teoria da Matéria Negra e os círculos a vermelho mostram a realidade comportamental da galáxia observada. O "comportamento" refere-se aqui a velocidade (eixo vertical) e dimensão do raio (eixo horizontal).
Nos dias que correm, a astronomia encontra singularidades e excepções às regras da Física de cada vez que aponta lentes e filtros e algoritmos para o cosmos. Por alguma razão deve ser. Anton Petrov, que, coitado, muito a contragosto vai deixando registo quotidiano deste descalabro teórico, desenvolve e articula as conclusões do paper que expõe a inconveniente excentricidade desta galáxia rebelde.