quarta-feira, maio 25, 2022

Haikus do Alto da Falésia (cont.)

Sentado sobre a baía
Como Ptolomeu em Alexandria.



Um pardal tagarela, tagarela.
A Primavera à conversa.



Tenho saudades do tempo
Em que não era vivo.



Tenho saudades do tempo
Em que os poetas
Morriam de fome.



O primeiro e o último problema da existência
É o tempo.



Vivi a mais banal das vidas,
Vestido de pirata.


A arte do haiku
Não está nos versos,
Mas no que é versado.



Ao largo, nada.
Um haiku que se escreve
Sozinho.



Parece impossível mas as flores
estão a sorrir.



Procuro desde sempre uma verdade
De que morrerei ignorante.



Sou uma máquina de debitar
Haikus de má indústria.


Não preciso de um doutoramento em astrofísica
Para perceber que o Sol
Reina.



Apesar de tudo,
Ainda há turistas.
Deus lhes abençoe a inocência.


Este moleskine é muito pequeno
Para a minha vontade de versos.



Entre todos os estados da bioquímica,
Triunfa a solidão.


Deus tem sido misericordioso comigo.
Até quando?