Fará sempre parte do silêncio.
Gosto de Sesimbra
Como se tivesse nascido
Aqui.
Verão.
O Grilo fala mais alto
Que o Atlântico.
O meu estilo de vida
É não saber
A quantas ando.
Moscas:
O primeiro e o último obstáculo
Ao haiku.
Para onde vão
os versos que rasuro?
Nem a Lua consegue
Que a maré se agite.
Sento-me nesta varanda.
Os haikus surgem
Por geração espontânea.
A prova provada
De que não enriqueces a trabalhar
Sou eu.
Quando os computadores aprenderem a escrever versos,
É o programador que passa a poeta?
A Marinha guarda a baía.
Não se percebe bem
De que ameaças.
Em tempo de paz,
É turismo que a Marinha faz?
Por muito rico que sejas
Nunca terás um iate espectacular
Como um comandante de fragata.
As moscas foram esquecidas por Deus.
Nem ao Domingo
Descansam.
Os vizinhos chegam hoje.
Trazem crianças
E caos.
No cimo da falésia,
Um telemóvel
É ridículo.
Na baía a meia lua arde
Como na cidade não se incendeia
A lua cheia.
Todos os haikus que vou escrever na vida
Não matam a minha fome
De versos.
O Atlântico recebe o luar
Como um útero
Recebe o sémen.
Na distração de Cristo,
É a música que salva
A humanidade.
O moleskine rebenta de haikus.
Exagero.
Ganhará o universo virtude
se eu beber mais um scotch?
Há versos que são difíceis de parir.
Como ilíadas.
O besouro alimenta-se da buganvília
com serena voracidade.
Deus não preparou psicologicamente
os mamíferos urbanos
para o horror estético dos insectos.
Sem saber nada de mercados financeiros
a Lua fabrica toneladas de prata
sobre a superfície do mar.
Por muito que Cristo me obrigue à paz
Anda aqui uma mosca
Que tem que morrer.
Bitcoin.
Perdes dinheiro enquanto procederes
Como um especulador.
Inflacção.
Mas o preço da paisagem
Permanece o mesmo.
As pessoas suicidam-se
Mesmo quando continuam
Vivas.
Acho sinceramente que tenho jeito para escrever haikus.
Se excluir
a maior parte.
Há quem enriqueça psicólogos.
E depois há uns malucos que escrevem
versos breves.
O haiku sai extremamente
barato.
Deixei de ter amigos.
De resto, nada mudou.
Descobri tarde na vida
Que é mais importante estares bem contigo
Do que com os outros.
Era capaz de morrer por uma ideia de liberdade.
Mas Deus prefere que eu pereça
De uma trombose qualquer.
Não nasci para a glória.
Considerando as trincheiras
Não me posso queixar.
Manuscrevo haikus à escuras.
Fé no futuro.
Quantos haikus
Traz uma carga
da Parker?
Tudo o que amo
Vai morrer.
Felizmente, eu também.