quarta-feira, agosto 23, 2023

A inteligência artificial a fazer das suas.

Hoje fui enganado com uma pinta desgraçada.

Vi no Twitter que o Jason Aldean, que já foi notícia aqui no blog por causa de um tema musical Country de conteúdo políticamente incorrecto, tinha lançado uma música anti-woke. Ouvi a música. E vou ser sincero: achei o máximo. O tema é este aqui (o clip é horrível mas já vou explicar porquê):

Quando procurei no Youtube por um clip oficial do tema, não encontrei nada senão coisas deste género amador e comecei a achar estranho que mesmo a página de Aldean no Youtube não apresentasse qualquer conteúdo relacionado. Fui ao Google investigar. 20 segundos depois já tinha percebido o mistério. Jason Aldeon não compôs nem interpretou "Go Woke, Go Broke". Quem o fez foi um algoritmo de inteligência artificial, que seguiu um briefing de uma conta humorística do TikTok: @JokesOnWokes.

Tudo isto é cómico e assustador ao mesmo tempo. Se os sistemas online de inteligência artificial já são capazes de fazer coisas destas e enganar meio mundo (não fui só eu que caí no embuste, a internet explodiu literalmente por causa da canção), estamos completamente à beira de uma primeira singularidade: aquela que vai arrumar rapidamente com milhares de profissões em todo o mundo. 

Há músicos que passam a vida toda a tentar compor um tema que se torne viral. O algoritmo utilizado pelo JokesOnjokes deve ter demorado para aí uns 30 segundos a fazê-lo. E não estamos a falar de uma tarefa maquinal, básica, objectiva, matemática. Estamos a falar de criatividade.

Um outro exemplo: o servidor de imagens fotográficas que uso para o ContraCultura começou recentemente a disponibilizar imagens geradas por sistemas de IA. Estas composições, tenho que admitir, são de superior qualidade e estou neste momento a usá-las com frequência (a partir da próxima semana vai-se notar mais, porque são conteúdos que já redigi mas ainda não publiquei). Por cada imagem gerada por IA, há um fotógrafo ou um ilustrador humano que perde dinheiro.

E não me digam que há concomitantemente outros humanos que arranjam novos empregos relacionados com a tecnologia e que ganham dinheiro com isso, na medida em que as imagens são geradas por directizes humanas e os algoritmos são criados e curados por alguém. Não, meus amigos. O tempo que leva um ilustrador ou um fotógrafo a criar, editar e publicar no servidor uma imagem profissional não tem nada a ver com os instantes que o algoritmo necessita. E o algoritmo não teve que fazer faculdade, nem teve que investir em equipamento. Um programador e um editor de imagem vão conseguir agora fazer o trabalho de 50 ilustradores e 150 fotógrafos, na maior das calmas.

Esta merda até arrepia.