sábado, dezembro 30, 2023

Haikus d'Inverno


 

Levo a cadela à praia, de madrugada.
Dois animais
felizes.


O cartão de cidadão diz que nasci em Lisboa.
Mas desconfio que fui gerado
em Sesimbra.


Mesmo quando aqui faz frio
o frio que aqui faz é bom
no corpo.

 

Os meus haikus
têm sílabas
a mais.

 

Corto nas palavras
até ficar perto
do silêncio.

 

O problema está
no DNA
tagarela.

 


 

No Inverno
o meu telescópio vê
melhor.

 

Vénus sorri para mim.
E eu correspondo
com um scotch.


No Inverno, a baía tarda em amanhecer,
mas não perdes por

esperar.


Se calhar até ofendo o Kobayashi
com os meus haikus.
Peço desculpa.

 


 

Estou de bem com a vida
e de mal com o mundo. E sim,
é possível.


É possível amar a humanidade
e gostar apenas de quatro ou cinco
pessoas.

 

Adormeço no balanço da maré.
Canção de ninar
cantada por Deus.


Oiço Air.
Veludo nos tímpanos
da alma.


 

Com a juventude que perdi
foi-me oferecida liberdade maior:
a de Cristo.


Sou livre, faço o que quero.
Não respondo a outro poder
que o dos evangelhos.


Só ambiciono escrever haikus
mais
breves.