Levo a cadela à praia, de madrugada.
Dois animais
felizes.
O cartão de cidadão diz que nasci em Lisboa.
Mas desconfio que fui gerado
em Sesimbra.
Mesmo quando aqui faz frio
o frio que aqui faz é bom
no corpo.
Os meus haikus
têm sílabas
a mais.
Corto nas palavras
até ficar perto
do silêncio.
O problema está
no DNA
tagarela.
No Inverno
o meu telescópio vê
melhor.
Vénus sorri para mim.
E eu correspondo
com um scotch.
No Inverno, a baía tarda em amanhecer,
mas não perdes por
esperar.
Se calhar até ofendo o Kobayashi
com os meus haikus.
Peço desculpa.
Estou de bem com a vida
e de mal com o mundo. E sim,
é possível.
É possível amar a humanidade
e gostar apenas de quatro ou cinco
pessoas.
Adormeço no balanço da maré.
Canção de ninar
cantada por Deus.
Oiço Air.
Veludo nos tímpanos
da alma.
Com a juventude que perdi
foi-me oferecida liberdade maior:
a de Cristo.
Sou livre, faço o que quero.
Não respondo a outro poder
que o dos evangelhos.
Só ambiciono escrever haikus
mais
breves.