segunda-feira, julho 15, 2024

Pogačar, o ganhador inveterado.

As etapas 14 e 15 do Tour não deixaram grandes dúvidas: Tadej Pogačar é o mais forte ciclista em prova e, salvo invasão de alienígenas ou eclosão de guerra termonuclear, vai somar a sua terceira vitória na competição.

Na alta montanha, o esloveno imperou sobre o seu rival Jonas Vingegaard com classe, pernas de ferro e o espírito indomável que o caracteriza, somando agora mais de 3 minutos de vantagem sobre o dinamarquês.

Na etapa 14, atacou apenas nos quilómetros menos inclinados da última subida, que também eram os derradeiros, calculando, com alguma razoabilidade, que seria a solução mais segura, dado que Vingegaard é muito competente nas inclinações mais dramáticas. Contando com o apoio, mais à frente, do seu fiel companheiro de equipa Adam Yates, que se tinha entretanto adiantado ao pequeno grupo dos mais aptos ciclistas deste Tour, numa brilhante jogada táctica, Pogačar somou nesse dia 40 segundos à vantagem de minuto e meio que já trazia na classificação geral, sobre o seu rival da Jumbo Visma.



Porém, na infernal e desumana e impossível jornada de domingo, que tinha 'só' 4 subidas de primeira categoria e terminava numa escalada de categoria especial, perdeu as cautelas e atacou no apogeu da inclinação, a mais de cinco quilómetros do topo do Plateau de Beille, para destruir completamente o tempo recorde desta subida (que pertencia a Thibaut Pinot) e deixar Vingegaard, que apostava tudo nesta etapa, a mais de um minuto, somando agora três minutos de vantagem na classificação geral.

Só muito dificilmente, ou no país de Alice, é que o dinamarquês poderá roubar tanto tempo ao esloveno, no que resta correr deste Tour. 

O esforço hercúleo da Jumbo Visma, que tinha nitidamente esta etapa marcada para um ataque massivo e que deu tudo o que tinha e o que não tinha, durante cento e noventa quilómetros de sobe e desce ensandecedor,  para colocar o seu chefe de fila em posição de dar luta a Pogačar, é de louvar. Mas fracassou.


Enquanto isto, Renko Evenepoel teve duas lições de humildade durante o fim de semana (que muita falta lhe faziam), não lhe restando outra alternativa que conformar-se com o facto de ser o terceiro melhor atleta em prova, até porque Primoz Roglic abandonou a competição, depois de mais uma aparatosa e dolorosa queda.

João Almeida, perdeu algum tempo para Carlos Rodriguez no sábado, mas fazendo recurso à sua característica mania de correr de trás para a frente, voltou a ganhar vantagem ao espanhol no domingo, e continua num muito saboroso - e honroso - quarto lugar da tabela, sendo agora ameaçado mais directamente por outro hermano, Mikel Landa, para o qual perdeu preciosos minutos no conjunto das duas etapas e que se encontra a apenas 27 segundos do ciclista português, na partida para a última semana da competição.

Há porém que dizer que o João não tem sido assim um fantástico companheiro de equipa para Pogačar. Não é que o esloveno precise, a ajuda de Adam Yates tem chegado e sobrado para as encomendas, mas é nítida no ciclista das Caldas da Rainha uma atitude egotista, que pelo menos na minha avaliação, é muito pouco recomendável.

Uma das razões pelas quais sou um incondicional do ciclismo é que se trata de uma modalidade de sacrifício em prol dos objectivos das equipas. O João tem-se sacrificado bastante, sim, mas em prol dos seus próprios objectivos - e isso é feio.

O que não quer dizer, paradoxalmente, que não fique feliz por ele estar a ser muito bem sucedido no primeiro Tour da sua vida. Mas temo que esta atitude, mesmo que conduza ao quarto ou quinto lugar no fim da festa, o prejudique no seio da UAE, que, convém lembrar, tem muitos artistas por onde escolher e já a seguir vai eleger uma cabeça de cartaz para a Vuelta. Isto se o maluco do Pogačar não decidir que quer fazer história e ser o primeiro ciclista a ganhar as três maiores competições do circuito internacional na mesma época, claro está.

Seja como for, o esloveno está a fazer história. Na verdade, Pogačar faz história sempre que sobe para cima de uma bicicleta. Este ano já ganhou 17 etapas nas competições em que participou. Na Primavera, Ganhou o Giro, a Liège–Bastogne–Liège e a Strade Bianche. Soma neste momento o redondo número de 80 vitórias no circuito profissional. É um ganhador impenitente e inveterado. 

É, aos 25 anos de idade, um imortal da modalidade.