quinta-feira, setembro 19, 2024

De pagers, fariseus e equívocos.

Bem sei que este assunto é problemático mas está a afligir-me deveras a forma algo impensada - e em certos casos eufórica - como uma certa direita está a festejar a operação da Mossad, que fez explodir milhares de pagers que pertenceriam alegadamente a terroristas do Hezbollah.

Digo alegadamente porque a verdade é que não pertenciam apenas a terroristas, mas também a simpatizantes da causa palestiniana (um jornalista), a funcionários não militares do movimento (um embaixador), e a civis. E entre os civis foram atingidas, directa ou colateralmente, crianças.

Este vídeo, que já publiquei no Contra e que desaconselho a pessoas mais sensíveis, mostra como a explosão dos dispositivos pode ferir ou matar uma criança ou um adulto de forma inadvertida, mas nem por isso menos criminosa:

 


E basta pensar que se deram certamente casos em que os alvos do ataque estavam ao volante de automóveis ou motos para percebermos que os danos colaterais da operação podem até ser bem mais graves do que podemos projectar de forma imediatista.

A metodologia do ataque, muito característica da maneira de pensar sionista, é, se reflectirmos bem, muito parecida com qualquer acto terrorista. E eu tenho para mim como válida aquela máxima de Marco Aurélio: 

"A melhor maneira de te vingares de um inimigo é não seres como ele".

E nem vale a pena procurar no Novo Testamento um versículo adequado, pois não? Seja como for, como cristão, choca-me sempre que vejo outros cristãos a festejarem ou recomendarem a morte de alguém.

Outro aspecto que está claramente a passar ao lado da malta a que me refiro é o da perigosidade desta tecnologia. Dada a eficácia da operação - que é inegável - o que é que impede, daqui para a frente, a Mossad, ou a CIA, ou o FBI, ou os serviços secretos britânicos ou franceses ou ucranianos ou russos ou chineses, de começarem a matar pessoas que considerem indesejáveis através da detonação dos seus equipamentos digitais? Não será fácil atingir Donald Trump ou Elon Musk ou Tucker Carlson ou qualquer dissidente de alto perfil, desta forma? Tanto quanto será depois difícil descobrir quem foi o responsável?

E por último, um problema de clarividência que já tenho referido várias vezes: Há muita gente de direita - e de direita populista - que ainda não percebeu que o sionismo contemporâneo é um parceiro do globalismo. E há muitos cristãos que ainda não leram os evangelhos as vezes suficientes para perceberem que os fariseus são os seus primeiros inimigos. E o que é que é um sionista, se não um fariseu do Século XXI?

Glenn Greenwald defende neste clip o meu ponto de vista, melhor que posso ou sei.