“Donald Trump não tem carácter. Ele não quer saber da comunidade latina... Ainda no outro dia, um orador no seu comício chamou a Porto Rico uma ilha flutuante de lixo”, disse Biden antes de proferir a frase que está a provocar uma tempestade política e mediática:
“O único lixo que vejo a flutuar são os seus apoiantes”.
Há que dizer que as declarações do tal orador que se referiu a Porto Rico como uma ilha flutuante de lixo foram feitas num contexto humorístico, por um comediante. E assim foram entendidas pelos porto-riquenhos, já que sondagens posteriores revelam que Trump continua a liderar as intenções de voto naquela ilha, como liderava antes.
Mas este é apenas um detalhe. O que interessa sublinhar é que nas últimas semanas de campanha, os democratas intensificaram o discurso de ódio em relação a Trump e aos seus eleitores de uma forma absolutamente insustentável. O candidato republicano é Hitler e metade da população americana é nazi. Um como os outros, não prestam, são lixo, criaturas deploráveis, racistas e ignorantes, que impedem a Federação de atingir a utopia liberal-leninista que Washington desenhou para eles.
Ora, independentemente da cor política de cada um, qualquer pessoa minimamente sensata perceberá que uma nação onde impere o Estado de Direito e o aparelho normativo e eleitoral da democracia liberal clássica não pode ser governada por uma classe política que despreza metade da sua população. O ódio que as elites dos poderes instituídos na América nutrem pelas massas nativas é insustentável e anuncia o colapso da federação.
Como já afirmei, não creio que os conservadores americanos estejam dispostos a recorrer à violência para desinstalar esta gente que abertamente os despreza dos seus poderosos assentos, pelo que o 'colapso' de que falo será meramente regimental. Os Estados Unidos da América vão acabar por se tornar numa ditadura feroz, mascarada de democracia.
E o processo será muito mais simples e fácil de executar do que se pensa: Basta que o colégio eleitoral seja anulado e que as fronteiras permaneçam abertas por mais um ou dois mandatos presidenciais. A partir daí, a ala populista do conservadorismo americano nunca mais chegará ao poder. E sem a ala populista, o Partido Republicano não é mais que um mecanismo de legitimação - ou expiação - do Partido Democrata.
Suprimido o necessário equilíbrio do colégio eleitoral, que dá aos estados menos populosos algum significado eleitoral, e num país entretanto injectado com dezenas de milhões de imigrantes ilegais, os EUA vão passar de República Federal a República Popular, mandatada pelos grandes e distópicos centros urbanos, visceralmente liberais porque habitados apenas por minorias étnicas, pobres e alienadas, e a oligarquia dos milionários, igualmente alienados, que na verdade constituem os dois grupos demográficos fundamentais dos Democratas (onde residem os votos, onde reside o dinheiro, respectivamente).
É claro que o problema do ódio dos líderes em relação aos liderados não é de agora e não se plasma apenas na América. Na Alemanha, em França e no Reino Unido, por exemplo, acontece exactamente o mesmo fenómeno. A diferença é que na Europa continental o problema regimental já foi resolvido há muito tempo. Os cidadãos europeus são de facto governados por um órgão não eleito, a Comissão Europeia, pelo que o simulacro de democracia está plenamente instalado e a bombar a todo o gás. E no Reino Unido, a ausência de uma constituição formal e a aliança entre as oligarquias progressistas e conservadoras, que possibilitou e a emergência de um unipartido, cristalizada com Boris Johnson, resolveu também o problema do escrutínio democrático.
As elites do Ocidente têm desta forma a rédea solta para expressar o seu desdém pelas massas. E, como as declarações obscenas de Biden sugerem, não vão ter qualquer problema em expressá-lo da forma mais tirânica e draconiana que lhes for possível. Campos de extermínio incluídos.