A Google lançou recentemente o VEO 3, um sistema de inteligência artificial de criação de vídeo que põe os personagens a falar e que resolve - ou pelo menos disfarça - alguns problemas que estas tecnologias apresentavam, como a representação dos olhos e das mãos dos seres humanos.
Daqui para a proliferação de deepfakes que não tenham como ser distinguidos da realidade, é um saltinho muito curto. Se não vejamos esta produção dos The Dor Brothers que fez recurso ao upgrade da tecnológica americana:
E clarificando: eu não discuto que as tecnologias de inteligência artificial sejam úteis e possam até beneficiar a humanidade em múltiplos vectores, como a saúde, por exemplo. Mesmo nas artes, como é o caso dos The Dor Brothers, estes sistemas conseguem ser parceiros relativamente baratos e realmente eficazes na produção criativa, porque, obviamente, nem tudo aqui é feito pela IA. Há um conceito, um briefing ou guião e um trabalho de edição que derivam do agente Sapiens. Neste caso, a sátira, poderosa, é caracteristicamente humana.
O que me preocupa deveras é que estas tecnologias estão a ser desenvolvidas sem qualquer controlo ou regulamentação. Por exemplo, faz mais que sentido que qualquer produto gráfico ou videográfico que resulte da utilização da inteligência artificial seja obrigatoriamente acompanhado de uma legenda que indique a sua origem fictícia quando é publicado (os últimos segundos do clip dos Dor Brothers revelam até esse cuidado).
E o secretismo com que as tecnológicas trabalham nesta área parece-me também perigoso, porque se já temos ferramentas poderosas massificadas, imaginem o que os engenheiros de Silicon Valley e de Beijing guardam nos seus laboratórios... Ou que sistemas estão neste momento em operação e desenvolvimento no Pentágono.
Será que queremos que sejam algoritmos a comandar as acções de aparelhos militares gigantescos e apocalípticos como o norte-americano, o chinês ou o russo? De certeza?
A administração Trump tem teimado em não regulamentar o sector e na Europa a regulamentação que existe tem como objectivo principal o cercear da liberdade de expressão e não a protecção da humanidade contra as ameaças claras destas tecnologias.
Por outro lado, não me parece que seja controverso que os sistemas de IA vão rapidamente conduzir a humanidade à destituição, se a preocupação de proteger os empregos das pessoas e a sua funcionalidade ontológica não triunfar sobre a ganância, o transhumanismo e as volições totalitárias das elites.
O Contra está constantemente a denunciar os perigos, as ameaças, os desvios éticos e a esquizofrenia performativa da robótica e da inteligência artificial contemporâneas e ainda hoje saiu mais um artigo assustador sobre o assunto. É muito fácil perceber que as coisas podem correr mesmo mal, a muito curto prazo, se o faroeste distópico desta indústria não for minimamente controlado.