O Capitão Gonzaga sabe o caminho. É sempre em frente até ao fim das estrelas.
Quando já não houver mais estrelas, haverá Deus e o Capitão Gonzaga tem combustível para a Odisseia.
O foguetão do Capitão Gonzaga é motorizado pela convicção. Tem o depósito cheio e o gasóleo há-de render até que o vácuo seja realmente isso: um espaço sem nada, para além de Deus, que é tudo.
O Capitão Gonzaga acha que a viagem vai demorar algum tempo, mas não tanto como aquele que Ulisses demorou para chegar a casa.
Ulisses não ia à procura de mais que paz e sossego e o amplexo de Penélope. Coisas longínquas, que demoram a alcançar. O Capitão Gonzaga vai à procura de Deus, que está muito mais perto.
O Capitão Gonzaga não acredita em Deus. Sabe que Ele existe. E esse simples facto, encurta imenso o caminho.
Antes de partir, perguntaram-lhe:
- Ò Gonzaga, mas que vais tu fazer quando encontrares o Criador?
O Capitão Gonzaga não respondeu. Não ia ser entendido porque a missão não tem agenda. Ir - é a missão. Encontrar - é a agenda.
O Capitão Gonzaga matou muita gente, nas colónias de Marte. E mandou torturar inocentes, na cintura de Kepler. E participou no genocídio das minas de Mercúrio. E traiu os camaradas, por um posto na esfera de Dyson. Não é nenhum santo, Deus sabe.
O Capitão Gonzaga comprou um foguetão e zarpou, à procura de Deus, porque Deus sabe.
