sexta-feira, dezembro 05, 2025

O Capitão Gonzaga Comprou um Foguetão

O Capitão Gonzaga comprou um foguetão e zarpou, à procura de Deus.

O Capitão Gonzaga sabe o caminho. É sempre em frente até ao fim das estrelas.  

Quando já não houver mais estrelas, haverá Deus e o Capitão Gonzaga tem combustível para a Odisseia.

O foguetão do Capitão Gonzaga é motorizado pela convicção. Tem o depósito cheio e o gasóleo há-de render até que o vácuo seja realmente isso: um espaço sem nada, para além de Deus, que é tudo.

O Capitão Gonzaga acha que a viagem vai demorar algum tempo, mas não tanto como aquele que Ulisses demorou para chegar a casa. 

Ulisses não ia à procura de mais que paz e sossego e o amplexo de Penélope. Coisas longínquas, que demoram a alcançar. O Capitão Gonzaga vai à procura de Deus, que está muito mais perto.

O Capitão Gonzaga não acredita em Deus. Sabe que Ele existe. E esse simples facto, encurta imenso o caminho.

Antes de partir, perguntaram-lhe:

- Ò Gonzaga, mas que vais tu fazer quando encontrares o Criador?

O Capitão Gonzaga não respondeu. Não ia ser entendido porque a missão não tem agenda. Ir - é a missão. Encontrar - é a agenda. 

O Capitão Gonzaga matou muita gente, nas colónias de Marte. E mandou torturar inocentes, na cintura de Kepler. E participou no genocídio das minas de Mercúrio. E traiu os camaradas, por um posto na esfera de Dyson. Não é nenhum santo, Deus sabe.

O Capitão Gonzaga comprou um foguetão e zarpou, à procura de Deus, porque Deus sabe.