A minha querida amiga Carla de Elsinore tem, já vai para uns meses, como subtítulo do seu muitíssimo competente blog, a seguinte afirmação: "The world says no to Bush".
Parece-me - e já lho disse - um pouco triste introduzir tão ilustre blog com uma afirmação destas. Afinal, trata-se de um manifesto contra alguém que nem merece o manifesto. E, por outro lado, é sempre um bocadinho ousado falar pelo mundo todo. A Carla assume que todos estamos de acordo sobre este assunto (inclusivamente os republicanos de New Hampshire, os boers da Cidade do Cabo,os australianos de Adelaide, os bandidos das Pampas ou o diabo que os carregue), o que não é pretensão pouca. Mas o que me incomoda mais nisto, é que a minha querida amiga não abre o blog dela manifestando o seu repúdio por terroristas, ditadores, senhores da guerra ou facínoras civilizacionais, e há por aí tantos que - reconheço - é difícil escolher um para parangona de blog. Apesar de todos os horrores últimos, a preocupação fundamental da Carla está concentrada num tipo que os americanos escolheram (e desgraçadamente vão voltar a escolher) para chefe de tribo. E, mal ou bem, os americanos lá vão tendo a sua democraciazinha, que até deixou um rasto de liberdade pela opressora e opressiva história universal da infâmia que é a rábula dos homens e das mulheres que têm vindo, século após século, a infestar o mundo. Ora, quem elegeu Bin Laden? Os talibans? Fidel Castro? Kim Jong-il? Arafat? Al Zawari, e já agora, Saddam Hussein? De que tradição de decência, dignidade e humanismo (terrível palavra) resultam estes personagens ausentes do ódio da Carla? Quem é que elegeu estes tipos todos contra os quais a prezada blogger nunca deixou vestígio de revolta e que acham, por exemplo, que as mulheres devem ser tratadas abaixo de um cão com cólera? Sim, quem deu legitimidade a esta gente de que não fala a rebeldia do Welcome to Elsinore e que persegue as pessoas porque pertencem a um determinado sexo, porque nasceram numa determinada casta, porque não acreditam num determinado deus, porque não seguem uma determinada visão da história, porque não pactuam com uma determinada fé política? Porque será, minha querida amiga, que teimas em identificar os teus inimigos no âmbito da tua civilização? Da tua civilização que te reconhece a dignidade de seres mulher, de teres opinião, de dares subtítulos idiotas aos blogs que crias em liberdade? Neste sentido, não achas que seria mais sensato defenderes o teu lado do mundo? Nem que fosse por seres mulher. Nem que fosse por seres jornalista. Nem que fosse por respeito que deves à tua própria inteligência. Desafio-te assim, a colocares como subtítulo do teu blog, o título deste meu post. Ou então, caramba, assume a burka de uma vez por todas! E se não souberes para que lado fica Meca, telefona.