Inventado em 1965, por Mick Jagger e Keith Richards o tema "(I Can't Get No) Satisfaction" nunca mais deixou de incendiar os apetites adolescentes das várias gerações que entretanto foram paridas.
É um super clássico do Rock'n Roll e com toda a justiça, porque tem os ingredientes todos: rebeldia sem causa, sexo, poesia e uns riffs de cair para o lado.
Uns bons 20 anos depois da sua composição, um grupelho de extravagantes robots popularmente conhecidos por D.E.V.O. ("Q: Are we not men? A: We are D.E.V.O.") decidiu revisitar o grande êxito dos Rolling Stones, eliminando quase por completo o trabalho de Richards e sobrepondo-lhe uma linha de percussão minimal e repetitiva que é de génio a valer. A coisa também se torna interessante porque o andróide vocalista parece ter sido ligado à corrente eléctrica.
É com os D.E.V.O., e com o imortal assunto da insatisfação humana, que me despeço até para o ano. Shake a leg!
segunda-feira, dezembro 29, 2008
sábado, dezembro 27, 2008
Uma ponte sobre a discórdia.
Este é um dos mais belos romances que li na vida e li-o este ano. A personagem central é uma ponte. Uma ponte fronteira e uma ponte união, uma ponte que separa impérios e que congrega religiões. Uma ponte sobre o rio e sobre o tempo e sobre o ódios dos homens. Um ponte que encerra fantasmas e grita por vinganças. Uma ponte que chora e que se desmorona. Uma ponte que é um alvo e uma conquista, que traz o aviso de perigos e a promessa de reforços. Agora otomana e depois austro-húngara, um dia bósnia e sérvia na manhã seguinte, fiel pelos séculos e herege de repente, sacrossanta e comunista, é uma ponte que faz trânsito para a redenção ou que conduz ao inferno, que salva e condena mas, sobretudo, é uma ponte que existe. Que é concreta. Que não é uma metáfora.
Quando terminei a leitura desta obra-prima do Nóbel Ivo Andric, pensava que o raio da ponte era uma metáfora e fiquei-me com essa. Dei provas, por isso, de ignorância e preguiça mental. O meu amigo Nuno Silva, que teve a inspiração de me oferecer o livro, foi pelo contrário mais inteligente e mais curioso e descobriu que a ponte existia mesmo, como sempre tinha desconfiado.
Mandada levantar no Século XVI pelo vizir Mehmed Pasha Sokolović, foi desenhada por Mimar Koca Sinan, um dos mais célebres arquitectos do Império Otomano e é um clássico da sua época, atravessando com rara elegância as águas temperamentais do Rio Drina. Os seus 11 harmoniosos arcos servem ainda hoje a cidade de Višegrad, no Leste da Bósnia e Herzegovina.
A Ponte Mehmed Pasha Sokolović sobreviveu a quatrocentos invernos e resistiu à queda de dois impérios só para ter que suportar o insuportável século XX: sofreu na sua pele de pedra os ferimentos das duas grandes guerras e foi palco para chacinas no conflito dos Balcãs. A Ponte está ali, ainda. Testemunha de crimes e cúmplice de revoluções. Está viva, mostra as suas cicatrizes mas eleva-se inteira, artéria maior no coração de um continente exausto.
terça-feira, dezembro 23, 2008
Algumas lúcidas palavras do falecido senhor George Carlin
Sempre tive grandes divergências com o universo ideológico de George Carlin, mas estou 100% de acordo com o seguinte:
REMIXVILLE | Track#4
Ainda na companhia dos Radiohead, deixo-vos como presente de Natal uma versão-latina-américa de High and Dry, interpretada por uns senhores chamados El Lele De Los Van Van e retirada do muito agradável álbum "Rythms Del Mundo", projecto que apresenta surpreendentes revisões latinas de alguns dos mais brilhantes êxitos da história pop/rock recente. Uma verdadeira pérola, até na tradução para o castelhano. Feliz Navidad!
domingo, dezembro 21, 2008
sexta-feira, dezembro 19, 2008
Sapateado ou o mundo ao contrário.
Há algo de irreal nisto: o parlamento iraquiano existe porque os americanos chegaram lá e impuseram um. Neste parlamento, hoje, quase aconteceu porrada porque foi sujeita ao debate uma moção que condenava o sapato voador à heresia e o seu esquizofrénico dono à prisão. O partidinho Xiita que está ali porque os americanos decidiram deixá-lo estar, escandalizou-se todo. E desbroncou a insigne assembleia com impropérios e ameaças de Alá da mais variada nomenclatura.
Há algo de irreal nisto: o presidente eleito de um país livre, de um país que anda há um século a desenrascar o restante mundo livre, é alvo de uma sandália alada e bárbara e a malta acha piada à sandália e ao infeliz que a descalçou. Se outro infeliz qualquer, numa conferência de imprensa em Moscovo, Caracas, Havana, Pyongyang, Pequim, Teerão ou Islamabad, tivesse semelhantes tomates, estes seriam rapidamente guilhotinados para satisfação dos bárbaros e dos civilizados, numa alegre e nojenta unanimidade.
Há algo de irreal nisto. Nisto de sermos irresponsavelmente civilizados. É verdade que a bota que trago calçada faria melhor figura se quase atingisse, neste preciso momento, o trombil manhoso de Osama Bin Laden ou de um outro qualquer filho da puta de análogo genoma. Não porque, como W, tivesse o alvo a esperta destreza para se esquivar ao disparo, mas por minha desastrada pontaria. Não porque fosse pobre de justiça a bota certeira na boca do pirata, mas porque me ensinaram o pudor.
Maomé inspirou este projéctil fedorento. Cristo, por exemplo, preferiria colocar-se a meio da trajectória.
Há algo de irreal nisto: o presidente eleito de um país livre, de um país que anda há um século a desenrascar o restante mundo livre, é alvo de uma sandália alada e bárbara e a malta acha piada à sandália e ao infeliz que a descalçou. Se outro infeliz qualquer, numa conferência de imprensa em Moscovo, Caracas, Havana, Pyongyang, Pequim, Teerão ou Islamabad, tivesse semelhantes tomates, estes seriam rapidamente guilhotinados para satisfação dos bárbaros e dos civilizados, numa alegre e nojenta unanimidade.
Há algo de irreal nisto. Nisto de sermos irresponsavelmente civilizados. É verdade que a bota que trago calçada faria melhor figura se quase atingisse, neste preciso momento, o trombil manhoso de Osama Bin Laden ou de um outro qualquer filho da puta de análogo genoma. Não porque, como W, tivesse o alvo a esperta destreza para se esquivar ao disparo, mas por minha desastrada pontaria. Não porque fosse pobre de justiça a bota certeira na boca do pirata, mas porque me ensinaram o pudor.
Maomé inspirou este projéctil fedorento. Cristo, por exemplo, preferiria colocar-se a meio da trajectória.
quinta-feira, dezembro 18, 2008
REMIXVILLE | Track#2/3 - Adenda
Com a contribuição do meu amigalhaço Carlos Rafael, segue a versão de Creep, segundo Brandi.
quarta-feira, dezembro 17, 2008
REMIXVILLE | Track#2/3
Esta versão maravilha do célebre tema dos Radiohead, encontra-se dentro de um não menos celestial disquinho chamado "Anyone Can Play Radiohed" e mata-me deveras. Aleister Einstein impõe com brilhantismo um ambiente sofisticado a um original que sempre foi bastante cru, num trabalho interessante até sob o ponto de vista da sonoplastia. Ora oiçam:
Entretanto lembrei-me que tinha para aqui uma espécie de EP dos Radiohead ("My Iron Lung" de 1994) em que a banda decide oferecer à gentil plateia um versão acústica de Creep. Ainda mais crua e talvez com o melhor registo vocal da vida artística de Thom Yorke, o que não é dizer pouco. Senhoras e senhores, segue-se um arrepio na espinha.
Entretanto lembrei-me que tinha para aqui uma espécie de EP dos Radiohead ("My Iron Lung" de 1994) em que a banda decide oferecer à gentil plateia um versão acústica de Creep. Ainda mais crua e talvez com o melhor registo vocal da vida artística de Thom Yorke, o que não é dizer pouco. Senhoras e senhores, segue-se um arrepio na espinha.
terça-feira, dezembro 16, 2008
segunda-feira, dezembro 15, 2008
REMIXVILLE | Track#1
Já aqui escrevi sobre a minha Teoria do 1. Queria demonstrar na altura - como agora - que a perfeição artística não tem plural. Em certo sentido - o estético - podemos dizer que o produto do génio humano é de natureza igualitária. E que o caminho para este específico nirvana é o da repetição. O conceito de repetição como caminho para a perfeição agrada-me. Sou por isso um maluco das versões, dos covers e dos remixes todos: na literatura, nas artes plásticas, no cinema, no teatro e, claro, na música. Nesta longa série de covers que começo hoje a postar, está implícita uma epopeia da diversidade - é certo - mas sempre sobre um mesmo tema. Está em jogo a devida reverência perante o que é absolutamente glorioso. E a tentativa de subir a fasquia.
Acho, por exemplo, muito louvável para a comunidade académica que os Sex Pistols se tenham decidido, numa noite de abuso do cavalo, a apresentar ao mundo a sua versão da versão que Frank Sinatra teve, a dado momento, da sua vida. A interpretação é satírica mas, para mim, não é a sátira que vale. É o objecto que revive nela. Ele próprio um repetidor de outros enormes génios, ele mesmo génio por si mesmo, Sinatra vai assinar a fechadura desta rúbrica, daqui a uns meses valentes (segundo espero). E se as pistolinhas do sexo valeram por alguma coisa, na sua infame existência, foi só por causa desta boa ideia que tiveram: I did it, in a punk way.
Acho, por exemplo, muito louvável para a comunidade académica que os Sex Pistols se tenham decidido, numa noite de abuso do cavalo, a apresentar ao mundo a sua versão da versão que Frank Sinatra teve, a dado momento, da sua vida. A interpretação é satírica mas, para mim, não é a sátira que vale. É o objecto que revive nela. Ele próprio um repetidor de outros enormes génios, ele mesmo génio por si mesmo, Sinatra vai assinar a fechadura desta rúbrica, daqui a uns meses valentes (segundo espero). E se as pistolinhas do sexo valeram por alguma coisa, na sua infame existência, foi só por causa desta boa ideia que tiveram: I did it, in a punk way.
sexta-feira, dezembro 12, 2008
Tribunal de Pequena Instância Criminal de Lisboa
Ando sempre com um poema na cabeça.
É antes das palavras que o verso começa
fetal e ancião cá dentro da cachimónia.
Geralmente é qualquer coisa do Álvaro de Campos
com a caligrafia do Rimbaud, e é sem parcimónia
que roubo ao Whitmann o papel de carta.
Ao Almada vou buscar a fúria farta
e as rimas já foram todas alinhadas pelo Ary.
Acho que eles não se importam, nem levam a peito
e a mim dá-me imenso jeito.
Ando sempre com um poema na cabeça.
Um plágio fugaz que agarro antes que pereça
nos intestinos da história.
Pode ser uma Ode Olímpica sacada ao Píndaro,
uma cantiga piratada ao Dinis de boa memória,
uma elegia de Calímico, que é minha por osmose,
ou do Ovídio uma ou outra metamorfose.
Tudo o que será escrito já foi escrito um dia
e ladrão que rouba a ladrão está perdoado.
A poesia não é o pecado.
Ando sempre com um poema na cabeça.
Não sou bem o autor mas antes que desapareça
despejo-o no blog e assino por cima.
Que diria o Cesário se navegasse até aqui
só para descobrir uns versos com o seu enzima?
Mas, como toda a literatura é imitação
desde que Homero inventou a redacção,
acho que nem Borges me condenaria a rapina.
Este escrito por exemplo, não é meu:
o Cesariny concerteza que já o escreveu.
Ando sempre, sempre com um poema na tola.
Como um mendigo que rouba para não ter que pedir esmola
faço o corso sem musas na proa.
E geralmente é qualquer coisa do Pessoa.
É antes das palavras que o verso começa
fetal e ancião cá dentro da cachimónia.
Geralmente é qualquer coisa do Álvaro de Campos
com a caligrafia do Rimbaud, e é sem parcimónia
que roubo ao Whitmann o papel de carta.
Ao Almada vou buscar a fúria farta
e as rimas já foram todas alinhadas pelo Ary.
Acho que eles não se importam, nem levam a peito
e a mim dá-me imenso jeito.
Ando sempre com um poema na cabeça.
Um plágio fugaz que agarro antes que pereça
nos intestinos da história.
Pode ser uma Ode Olímpica sacada ao Píndaro,
uma cantiga piratada ao Dinis de boa memória,
uma elegia de Calímico, que é minha por osmose,
ou do Ovídio uma ou outra metamorfose.
Tudo o que será escrito já foi escrito um dia
e ladrão que rouba a ladrão está perdoado.
A poesia não é o pecado.
Ando sempre com um poema na cabeça.
Não sou bem o autor mas antes que desapareça
despejo-o no blog e assino por cima.
Que diria o Cesário se navegasse até aqui
só para descobrir uns versos com o seu enzima?
Mas, como toda a literatura é imitação
desde que Homero inventou a redacção,
acho que nem Borges me condenaria a rapina.
Este escrito por exemplo, não é meu:
o Cesariny concerteza que já o escreveu.
Ando sempre, sempre com um poema na tola.
Como um mendigo que rouba para não ter que pedir esmola
faço o corso sem musas na proa.
E geralmente é qualquer coisa do Pessoa.
quarta-feira, dezembro 10, 2008
segunda-feira, dezembro 01, 2008
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