terça-feira, janeiro 31, 2012
Kepler: um ano e meio de descobertas.
Estes são os sistemas solares com mais de um planeta em trânsito que foram descobertos até agora pelo observatório espacial Kepler, que constitui a primeira missão da NASA destinada a encontrar exo-planetas. As dimensões relativas das órbitas e dos planetas estão correctas.
sexta-feira, janeiro 27, 2012
Rocketville #2 - A visão de Hergé.
Editados em 1953 e 54, os dois volumes da Série Tintin consagrados à viagem à Lua são um clássico da BD. Considerando a época em que foi criado, o célebre foguetão foi muito bem concebido e revela a preocupação de Hergé em respeitar parâmetros tecnológicos credíveis.
O motor principal é aparentemente um propulsor termo-nuclear contínuo do estilo NERVA, abastecido com plutónio. O local de lançamento integra um reactor que produz o combustível. A nave desloca e aterra com um foguete químico auxiliar abastecido por ácido nítrico e anilina, de forma a impedir a contaminação do solo na Terra e na Lua. Todos os procedimentos de lançamento e acoplagem são tecnicamente correctos.
Em toda a aventura existe apenas um erro técnico: os astronautas deitam-se nos seus beliches de aceleração de barriga para baixo, posição que é a pior possível para o efeito. Este erro deveu-se muito provavelmente a um equívoco de interpretação do diagrama do foguetão lunar de Von Braun. Nesse diagrama, os membros da tripulação que controlam os monitores de navegação estão de facto deitados de barriga para baixo. Mas os astronautas que se encontram nas estações de aceleração estão deitados de barriga para cima.
HERGÉ ROCKET
1. Radio and radar aerial
2. Reserve tanks
3. Control cabin
4. Living quarters
5. Stores
6. Storage tanks, air, water, etc.
7. Auxiliary engine propellant tanks
8. Air lock and storage compartments
9. Vehicle and storage deck
10. Anti-radiation shield
11. Motors
12. Exhaust nozzle
13. Stabilizing fins
14. Landing-support fairing
15. Shock absorbers
2. AIR-LOCKS
16. Passenger air-lock
17. Protective-clothing room
18. Cargo-loading air-lock
19. Air-lock control room
3. CONTROL CABIN
20. Control desk
21. Air-refrigeration plant
22. Work table
23. Observation equipment
24. Laboratory
4. LIVING QUARTERS
25. Electric cooker
26. Refrigerator
27. Air purifier
28. Bunks
29. Lockers
Fontes: Atomic Rockets | Spaceship Handbook
quarta-feira, janeiro 25, 2012
Sangue no frigorífico.
Não há males que durem para sempre. É verdade. Por exemplo, parece que a produção televisiva e cinematográfica dos países escandinavos está a mudar. Para melhor. Em vez da lenta esquizofrenia inspirada pelos strindbergs e alimentada pelos bergmans deste mundo, que durou décadas e mais décadas de sonolência neo-realista (e cujo único resultado positivo foi o cinema de Lars Von Trier), o que nos chega agora do frio são obras que se fundamentam na qualidade técnica, na intensidade dramática, no ritmo da narrativa e na profundidade arquitectural dos personagens. No cinema e na televisão, bombam por estes dias produtos-primos de uma nova visão do audio-visual que vem do frio. E que congela em definitivo, se bem que tardiamente, a nefasta influência socialistóide dos eruditos de algibeira de uma Europa de outros tempos.
quarta-feira, janeiro 18, 2012
Obra prima da semana.
Isto aqui é tão pop que só dura uma semana. Mas, talvez por isso ou ainda porém, é belo, na sua muito própria superfície das coisas. Senão vejamos:
I can barely look at you, don't tell me who you lost it to
Didn't we say we had a deal, didn't I say how bad I'd feel?
Everyone needs a helping hand, who said I would not understand?
Someone up the social scale for when you're going off the rails have
Post break-up sex that helps you forget your ex
What did you expect from post break-up sex
Leave it 'till the guilt consumes, I found you in the nearest room
All our friends were unaware, most had just passed out downstairs
To think I'd hoped you'd be ok, no I can't think of what to say
Maybe I misunderstood but I can't believe you're feeling good from
Post break-up sex that helps you forget your ex
What did you expect from post break-up sex
When you love somebody but you find someone
And it all unravels and it comes undone
Post break-up sex that helps you forget your ex
What did you expect from post break-up sex
Post break-up sex that helps you forget your ex
What did you expect from post break-up sex
The Vaccines | Post Break-up Sex
sábado, janeiro 14, 2012
Rocketville #1 - A visão de Wernher Von Braun.
Esta é a nave que, em 1952, Von Braun projectou para levar o homem à Lua. Propulsionado por 30 reactores, o engenho é enorme (ligeiramente mais alto que a estátua da liberdade), comparado com o módulo lunar "Eagle" que levou Neil Armstrong e Buzz Aldrin até à superfície da Lua a 20 de Julho de 1969.
Esboço original de W. Von Braun
Os motores estão localizados nas duas esferas inferiores enquanto a esfera superior funciona como cápsula habitacional de cinco andares para a tripulação, com cockpit, laboratório, observatório e dormitório. Por baixo desta esfera, montados sobre uma plataforma giratória que permite a rotação de 360 graus da cápsula, estão os braços de acoplagem.
A Nave integra 18 tanques que armazenam 800 mil galões de Hidrazina - combustível que é ainda hoje usado como propulsor de satélites. Mais de metade destes tanques são ejectados depois do lançamento, efectuado numa estação orbital.
A navegação seria realizada através de giroscópios gigantes ("control moment gyros"), ao contrário do método utilizado posteriormente pela NASA ("reaction control thrusters").
Von Braun concebeu este projecto (e mais outros 35) para um conjunto de artigos em que estava a trabalhar para a revista Collier's, entitulado "“Man Will Conquer Space Soon!”, onde previa para breve uma viagem tripulada até à Lua.
Ilustração de Fred Freeman
Deck 1: Control Deck. Workstations for Captain, Pilot, Flight Engineer, and Radio Operator. Telescope in the center is for taking navigational sightings through the iris-shuttered astrodome. Note ladderway on the right.
Deck 2: Navigation Deck. The large table is the chart recorder. An analog device indicates the spacecraft's current position, which can be compared to the planned position printed on the chart. On the right is the auxiliary astrodome and telescope/tracking camera. On the left is the shower, placed here due to lack of any other place to put it.
Deck 3: Crew Deck. The normal crew complement is 30, but the quarters has contour chairs for 60 in case another spacecraft in the expedition has a catastrophic failure. The spare chairs are folded up on the walls and stanchions. To the right is the ship's mess and kitchen.
Deck 4: Storage Deck. General storage. Also contains the main electrical distribution panel. The toilet is also located here (but isn't shown).
Deck 5: Consumables Deck. Oxygen, drinking water, grey water.
Deck 6: Main air lock.
Fontes: Atomic Rockets | Astronautix
sexta-feira, janeiro 13, 2012
Histórias da NFL.
Uma das dez mil razões que justificam a minha paixão pela NFL é que esta liga produz histórias incríveis ao mesmo ritmo que os quarterbacks lançam para touchdown.
A temporada 2011/2012 foi, no que concerne a esta prodigiosa capacidade de gerar rábulas, absolutamente fenomenal. Por agora deixo aqui uma, que é a mais eloquente, mas, calhando, outras se seguirão.
O ESTRANHO CASO DE TIM TEBOW, O ANTI-QUARTERBACK.
Numa liga que é cada vez mais a liga dos quarterbacks e cada vez menos a liga dos running backs (leia-se: passa-se mais a bola do que se corre com ela), o novo grande herói americano tinha todas as hipóteses de falhar a sua primeira época a titular. Tanto mais que não começou a titular. Os Denver Broncos iniciaram a época com Kyle Orton no lugar de maestro, mas com um registo de quatro derrotas para uma vitória apenas, mandaram Kyle Orton para a orquestra de Kansas City e deram a Tim uma oportunidade de mostrar o seu jogo. Ora, acontece que Tim Tebow não gosta nada de passar a bola. Prefere mil vezes correr com ela. E sempre que tem de passá-la, o gesto técnico não é assim muito bonito, é esforçado, é contra-natura e a bola sai-lhe das mãos com uma trajectória de parafuso assimétrico de tal forma errática que parece sempre chegar ao seu destino como por milagre. Mas se os wide receivers não vão nunca fazer grandes números numa equipa com Tim Tebow a quarterback, o mesmo se pode dizer dos running backs. É que o rapaz acredita em correr com a bola, desde que seja ele a fazê-lo. A título ilustrativo desta tendência para o protagonismo, a ESPN passa inúmeras vezes um segmento em que, entre duas jogadas, um Tebow muito zangado dirige-se ao banco e esclarece, aos berros, a sua equipa técnica de que só há ali um gajo que corre com a bola: ele.
É assim fácil perceber porque é que muita gente desconfiava que Timothy Richard Tebow não iria fazer muitos amigos na NFL. E que a maior parte dos críticos condenava o homem ao fracasso total. Ora o que aconteceu foi precisamente o contrário. Contra tudo e contra todos, invertendo o recorde negativo dos broncos de 1-4 para 8-5 nos seus primeiros 8 jogos na NFL e contribuindo decisivamente para o apuramento dos Denver Broncos para os play-offs, algo que já não acontecia há uns anos largos, o vencedor do Heisman Trophy de 2006 (que distingue anualmente o melhor jogador de futebol universitário) tornou-se rapidamente na maior atracção da NFL, fazendo subir as audiências a novos recordes e criando, em tempo real, a "Mile High Magic" (referência à altitude da cidade de Denver e à magia de Tebow).
Tim Tebow é um atleta extraordinário e nem seria de esperar outra coisa de um quarterback que não receia correr para cima de linebackers que pesam cento e cinquenta quilos. Mas acima de tudo, são as suas qualidades humanas que o elevam às alturas do mito vivo. Competitivo como ninguém e corajoso até à insanidade (no liceu, jogou 15 minutos com uma fractura na tíbia, tendo corrido nesse período 54 jardas para um touchdown), devoto acólito da igreja do seu pai e líder nato, o rapazinho parece ter um talento único para congregar as equipas em torno de um objectivo, que é vencer, mesmo que isso implique o sacrifício das estatísticas, das convenções tácticas e da simples beleza do jogo pelo ar.
Os Denver Broncos terminaram a época regular em apuros, perdendo os três últimos jogos, nos quais Tebow se mostrou absolutamente incapaz de lançar a bola ou construir o mais débil fio de jogo. No último jogo aconteceu uma outra história dentro desta história. Os Broncos recebiam os Chiefs (precisamente o franchise para onde tinha sido enviado Kyle Orton) e precisavam de ganhar para garantir a passagem aos playoffs sem ficar à espera que outras equipas "dessem um jeitinho". Porém, Kyle Orton jogava aqui a sua honra e, perante um adversário totalmente desinspirado, os Kansas Chiefs humilharam a cidade de Denver e deixaram nas mãos dos Oakland Raiders o sucesso ou insucesso da temporada de Tim Tebow. Foi precisamente nessa altura que os deuses decidiram intervir: Oakland perdeu o último jogo da época e abriu assim as portas a Denver, que, com um dúbio recorde de oito vitórias e oito derrotas conseguia ainda assim permanecer na prova.
Por esta altura, já ninguém no seu perfeito juízo acreditava que Tim Tebow e companhia poderiam constituir uma séria ameaça aos Pittsburgh Steelers - eternos favoritos da NFL - que se deslocavam a Denver com a disposição de quem tem que cumprir um mero formalismo. Ora acontece que um ressuscitado Tebow lançou perto de 400 jardas e dois touchdowns de se lhe tirar o chapéu, correu para mais outro touchdown e eliminou os Steelers com uma limpeza arrepiante (e uma ajudinha grande da sua impecável linha defensiva). No vídeo em cima, está a primeira e única jogada do prolongamento (os Steelers são os Steelers e mesmo um Ben Rothliesberger lesionado obrigou os Broncos ao esforço extra), em que Tebow, num momento de suprema ironia, lança a bola para um incrível touchdown de 80 jardas, calando todas os críticos e assegurando em 8 segundos um lugar na posteridade.
Os Denver Broncos estão agora nas meias-finais da sua conferência, deslocando-se no próximo fim-de-semana a Boston, para enfrentar os mais que temíveis New England Patriots de Tom Brady, provavelmente um dos três melhores quarterbacks da história da NFL. Mas tudo é possível. O importante, segundo Tim Tebow, é acreditar. Acreditar em Deus, acreditar na vitória, acreditar na magia. E eu, que sou ateu por filosofia e que sou céptico por natureza, acredito nos Denver Broncos.
A temporada 2011/2012 foi, no que concerne a esta prodigiosa capacidade de gerar rábulas, absolutamente fenomenal. Por agora deixo aqui uma, que é a mais eloquente, mas, calhando, outras se seguirão.
O ESTRANHO CASO DE TIM TEBOW, O ANTI-QUARTERBACK.
Numa liga que é cada vez mais a liga dos quarterbacks e cada vez menos a liga dos running backs (leia-se: passa-se mais a bola do que se corre com ela), o novo grande herói americano tinha todas as hipóteses de falhar a sua primeira época a titular. Tanto mais que não começou a titular. Os Denver Broncos iniciaram a época com Kyle Orton no lugar de maestro, mas com um registo de quatro derrotas para uma vitória apenas, mandaram Kyle Orton para a orquestra de Kansas City e deram a Tim uma oportunidade de mostrar o seu jogo. Ora, acontece que Tim Tebow não gosta nada de passar a bola. Prefere mil vezes correr com ela. E sempre que tem de passá-la, o gesto técnico não é assim muito bonito, é esforçado, é contra-natura e a bola sai-lhe das mãos com uma trajectória de parafuso assimétrico de tal forma errática que parece sempre chegar ao seu destino como por milagre. Mas se os wide receivers não vão nunca fazer grandes números numa equipa com Tim Tebow a quarterback, o mesmo se pode dizer dos running backs. É que o rapaz acredita em correr com a bola, desde que seja ele a fazê-lo. A título ilustrativo desta tendência para o protagonismo, a ESPN passa inúmeras vezes um segmento em que, entre duas jogadas, um Tebow muito zangado dirige-se ao banco e esclarece, aos berros, a sua equipa técnica de que só há ali um gajo que corre com a bola: ele.
É assim fácil perceber porque é que muita gente desconfiava que Timothy Richard Tebow não iria fazer muitos amigos na NFL. E que a maior parte dos críticos condenava o homem ao fracasso total. Ora o que aconteceu foi precisamente o contrário. Contra tudo e contra todos, invertendo o recorde negativo dos broncos de 1-4 para 8-5 nos seus primeiros 8 jogos na NFL e contribuindo decisivamente para o apuramento dos Denver Broncos para os play-offs, algo que já não acontecia há uns anos largos, o vencedor do Heisman Trophy de 2006 (que distingue anualmente o melhor jogador de futebol universitário) tornou-se rapidamente na maior atracção da NFL, fazendo subir as audiências a novos recordes e criando, em tempo real, a "Mile High Magic" (referência à altitude da cidade de Denver e à magia de Tebow).
Tim Tebow é um atleta extraordinário e nem seria de esperar outra coisa de um quarterback que não receia correr para cima de linebackers que pesam cento e cinquenta quilos. Mas acima de tudo, são as suas qualidades humanas que o elevam às alturas do mito vivo. Competitivo como ninguém e corajoso até à insanidade (no liceu, jogou 15 minutos com uma fractura na tíbia, tendo corrido nesse período 54 jardas para um touchdown), devoto acólito da igreja do seu pai e líder nato, o rapazinho parece ter um talento único para congregar as equipas em torno de um objectivo, que é vencer, mesmo que isso implique o sacrifício das estatísticas, das convenções tácticas e da simples beleza do jogo pelo ar.
Os Denver Broncos terminaram a época regular em apuros, perdendo os três últimos jogos, nos quais Tebow se mostrou absolutamente incapaz de lançar a bola ou construir o mais débil fio de jogo. No último jogo aconteceu uma outra história dentro desta história. Os Broncos recebiam os Chiefs (precisamente o franchise para onde tinha sido enviado Kyle Orton) e precisavam de ganhar para garantir a passagem aos playoffs sem ficar à espera que outras equipas "dessem um jeitinho". Porém, Kyle Orton jogava aqui a sua honra e, perante um adversário totalmente desinspirado, os Kansas Chiefs humilharam a cidade de Denver e deixaram nas mãos dos Oakland Raiders o sucesso ou insucesso da temporada de Tim Tebow. Foi precisamente nessa altura que os deuses decidiram intervir: Oakland perdeu o último jogo da época e abriu assim as portas a Denver, que, com um dúbio recorde de oito vitórias e oito derrotas conseguia ainda assim permanecer na prova.
Por esta altura, já ninguém no seu perfeito juízo acreditava que Tim Tebow e companhia poderiam constituir uma séria ameaça aos Pittsburgh Steelers - eternos favoritos da NFL - que se deslocavam a Denver com a disposição de quem tem que cumprir um mero formalismo. Ora acontece que um ressuscitado Tebow lançou perto de 400 jardas e dois touchdowns de se lhe tirar o chapéu, correu para mais outro touchdown e eliminou os Steelers com uma limpeza arrepiante (e uma ajudinha grande da sua impecável linha defensiva). No vídeo em cima, está a primeira e única jogada do prolongamento (os Steelers são os Steelers e mesmo um Ben Rothliesberger lesionado obrigou os Broncos ao esforço extra), em que Tebow, num momento de suprema ironia, lança a bola para um incrível touchdown de 80 jardas, calando todas os críticos e assegurando em 8 segundos um lugar na posteridade.
Os Denver Broncos estão agora nas meias-finais da sua conferência, deslocando-se no próximo fim-de-semana a Boston, para enfrentar os mais que temíveis New England Patriots de Tom Brady, provavelmente um dos três melhores quarterbacks da história da NFL. Mas tudo é possível. O importante, segundo Tim Tebow, é acreditar. Acreditar em Deus, acreditar na vitória, acreditar na magia. E eu, que sou ateu por filosofia e que sou céptico por natureza, acredito nos Denver Broncos.
quinta-feira, janeiro 12, 2012
Obra prima do momento: o movimento orquestral de Manchester - Atlanta - Acto II
Manchester Orchestra - Pensacola - Red Bull Live Sessions
segunda-feira, janeiro 09, 2012
Mathew White e a estatística de tudo.
"Matar uma pessoa é o máximo que se pode fazer-lhe."
Matthew White. Este homem é qualquer coisa. Estatístico e bibliotecário, decidiu inventar uma nova maneira de interpretar a história, oferecendo uma visão brilhante do percurso humano que é suportada apenas pelos factos. Este magnífico livrinho aqui, por exemplo, dedica-se à grave tarefa de contar cadáveres. É de gargalhada, porque Matthew White mantém o seu fino sentido de humor na trincheira das piores chacinas, mas é sobretudo esclarecedor porque os números não são equívocos, mesmo quando derivam de simples estimativas.
Ao contrário do que supomos, as guerras entre estados têm matado menos gente do que as que são travadas por hordas tribais, falanges nacionalistas, milícias de mercenários, bandos de bandidos, colunas de bárbaros, legiões de escravos, esquadrões revolucionários ou exércitos confederados. Ao contrário do que supomos, o caos é pior que a tirania: os maiores genocídios da história tendem a resultar mais da quebra de autoridade do que do exercício de autoridade. Ao contrário do que supomos, o mundo político foi e é extremamente desorganizado. As estruturas de poder tendem a ser informais e temporárias. Muitos dos protagonistas deste livro, homens como Estaline, Cromwell, Tamerlão, César ou Aníbal, exerceram a autoridade suprema sem deterem um cargo formal no governo. A maior parte das guerras não se iniciam de forma clara, com declaração e mobilização (ou o inverso) e não terminam com rendições e tratados. Os soldados e as nações mudam, sem qualquer problema, de lado a meio das guerras. Por vezes, até a meio das batalhas. Ao contrário do que supomos, a guerra mata mais civis do que militares e o soldado tem, geralmente, a profissão mais segura que se pode ter em tempos de guerra. Ao contrário do que supomos, a grande parte dos maiores criminosos da história morrem pacificamente, de velhice. Ao contrário do que supomos, a violência genocida é o maior motor da história e podemos afirmar calmamente, perante a mais erudita assembleia de sábios, que a mais importante figura do Século XX foi um assassino de massas, mesmo quando assassinou apenas uma pessoa (é o caso de Gavrilo Princip, que, ao enviar para o inferno o Arquiduque Franz Ferdinand, coloca em movimento uma cadeia de acontecimentos que vai gerar cerca de 80 milhões de mortos).
O Grande Livro das Coisas Horríveis é uma pérola e uma poderosa arma intelectual que podemos usar para descontruir por completo o humanismo pegajoso e ingénuo que reina sobre o pensamento e o discurso sócio-político contemporâneo. E também para reforçar uma evidência que já está demonstrada desde a antiguidade clássica (Anaximandro): a destruição é "justa" e necessária, porque está intimamente relacionada com a criação. É necessário que caiam impérios para existirem impérios, e assim sucessivamente até ao fim da literatura, quero dizer, da humanidade.
Mas, muito para além da atrocitologia (a ciência histórica das atrocidades humanas), Matthew White leva o processo estatístico aos 360 graus do horizonte histórico: no seu magnífico portal Historical Atlas of the Twentieth Century o homem reduz - ou amplia - tudo aos números. E estes falam com eloquência sobre o passado e sobre o futuro. Afinal, se a História existe, é para que se aprenda com ela.
Matthew White. Este homem é qualquer coisa. Estatístico e bibliotecário, decidiu inventar uma nova maneira de interpretar a história, oferecendo uma visão brilhante do percurso humano que é suportada apenas pelos factos. Este magnífico livrinho aqui, por exemplo, dedica-se à grave tarefa de contar cadáveres. É de gargalhada, porque Matthew White mantém o seu fino sentido de humor na trincheira das piores chacinas, mas é sobretudo esclarecedor porque os números não são equívocos, mesmo quando derivam de simples estimativas.
Ao contrário do que supomos, as guerras entre estados têm matado menos gente do que as que são travadas por hordas tribais, falanges nacionalistas, milícias de mercenários, bandos de bandidos, colunas de bárbaros, legiões de escravos, esquadrões revolucionários ou exércitos confederados. Ao contrário do que supomos, o caos é pior que a tirania: os maiores genocídios da história tendem a resultar mais da quebra de autoridade do que do exercício de autoridade. Ao contrário do que supomos, o mundo político foi e é extremamente desorganizado. As estruturas de poder tendem a ser informais e temporárias. Muitos dos protagonistas deste livro, homens como Estaline, Cromwell, Tamerlão, César ou Aníbal, exerceram a autoridade suprema sem deterem um cargo formal no governo. A maior parte das guerras não se iniciam de forma clara, com declaração e mobilização (ou o inverso) e não terminam com rendições e tratados. Os soldados e as nações mudam, sem qualquer problema, de lado a meio das guerras. Por vezes, até a meio das batalhas. Ao contrário do que supomos, a guerra mata mais civis do que militares e o soldado tem, geralmente, a profissão mais segura que se pode ter em tempos de guerra. Ao contrário do que supomos, a grande parte dos maiores criminosos da história morrem pacificamente, de velhice. Ao contrário do que supomos, a violência genocida é o maior motor da história e podemos afirmar calmamente, perante a mais erudita assembleia de sábios, que a mais importante figura do Século XX foi um assassino de massas, mesmo quando assassinou apenas uma pessoa (é o caso de Gavrilo Princip, que, ao enviar para o inferno o Arquiduque Franz Ferdinand, coloca em movimento uma cadeia de acontecimentos que vai gerar cerca de 80 milhões de mortos).
O Grande Livro das Coisas Horríveis é uma pérola e uma poderosa arma intelectual que podemos usar para descontruir por completo o humanismo pegajoso e ingénuo que reina sobre o pensamento e o discurso sócio-político contemporâneo. E também para reforçar uma evidência que já está demonstrada desde a antiguidade clássica (Anaximandro): a destruição é "justa" e necessária, porque está intimamente relacionada com a criação. É necessário que caiam impérios para existirem impérios, e assim sucessivamente até ao fim da literatura, quero dizer, da humanidade.
Mas, muito para além da atrocitologia (a ciência histórica das atrocidades humanas), Matthew White leva o processo estatístico aos 360 graus do horizonte histórico: no seu magnífico portal Historical Atlas of the Twentieth Century o homem reduz - ou amplia - tudo aos números. E estes falam com eloquência sobre o passado e sobre o futuro. Afinal, se a História existe, é para que se aprenda com ela.
domingo, janeiro 08, 2012
Francis Albert Sinatra
I've Got You Under My Skin | Frank Sinatra | Live at Madison Square Garden | 1974
POR ARTUR PAIXÃO
Meu grande amigo ignorado no teu espaço e no meu tempo, pelo menos desde a minha juventude que ditou uma admiração que permanece, inquebrável, e empatia para todo o sempre. Será um tanto meloso mas não retiro uma vírgula.
Enquanto arrumo estas linhas, tenho em fundo essa voz, confundida no imenso caleidoscópio da elegância com que sempre te exibiste nos palcos do mundo, demasiado pequeno para ti, bem sei, excepto no Porto, onde tiveste de sofrer as agruras da fria nortada daquelas paragens que te lixou o brilho e uns dos teus 20/30 capachinhos, diria de muito bom gosto e indispensáveis para atapetar a mais notável das calvas de pelo menos 50/60 anos de inigualável actividade, por entre uma chusma de medíocres danados por te chegar aos calcanhares. Com algumas excepções que acompanhaste sem vedetismos ou arrogâncias, que dispensavas generosamente. Aliás, era suficiente a tua presença. Única.
Nos meus 80 anos vida, calcula que mantenho religiosamente arrumados pelo menos 60 dos teus - parece que se diz - “long-plays”; eu que tenho grande dificuldade em distinguir o inglês do javanês; aqueles em vinil que podiam servir de tampa a uma terrina de amassada de torresmos, e agora que te revivo diariamente tenho para aí uma sacada duns bons 50 quilos de cassetes e CD´S que não faço ideia de como compartimentar em termos de respeito dado que não disponho de espaço no cubículo em que me arrumo com um quarto, exígua cozinha para trabalhar uma fritura de migas e uma pia medieval para os despejos que adivinhas, por outro lado não é concebível arrecadar parte do teu imenso espólio sob o miserável catre onde alinho, pela noite, os ossos enquanto te oiço até cerrar as pestanas e sendo tão leves, à parte a tua voz, é sempre um testemunho pelo tanto de belo que nos deixaste. Neste exacto momento ouço o dueto com o também inesquecível amigo, o Sammy Davis. Era assim um bocado para o torradinho e vítima dum ligeiro estrabismo que, por sinal, lhe ia muito bem.
Tiveste momentos inesquecíveis com amigalhaços da maior de que não esqueço, por exemplo, o dueto com a tua filha. Uma efeméride que te honrou e constitui uma afirmação de amor filial que te enriqueceu, dado que nesta questão de amores nunca foste constante, pelo menos aos duros que nunca chegaram ao fundo da tua sensibilidade ou jamais te conheceram de facto, personagem à deriva de permanentes solicitações com que foste confrontado sem defesa possível, especialmente após as noitadas de outra galáxia em que te entregaste, antes e depois à embriaguês da Ava Gardner e depois mais esta e aquela e mais outras, não importa se antes ou depois duma copaneira de marca.
Estou certo que agiste sempre a contento com ou sem capachinho. Com ou sem acessórios não se fez o homem que foste. Essa é também a opinião da minha sogra, uma senhora de critica severa muito respeitável.
Diz-se que desfrutaste dum bom empurrão da rapaziada da Máfia e de outros grupelhos de muito má reputação. Mas não importa se os usaste ou foste usado, é perfeitamente irrelevante. Porque no fim, o que fica é a Voz, a história, o grande senhor.
Declarou-se agora que encarnaste um filmezeco pornográfico num desses pasquins ordinários, segundo eco duma biografia não autorizada, de há uma catrefa de anos, em que desempenhavas um viril “O homem da Máscara Negra” por uma miserável retribuição de 70 e poucos dólares numa situação pouco credível de penúria. Esquece. Lembras-te da tua inolvidável interpretação no “Até à Eternidade”? foi mais do que a tua inteira remissão.
Lembro-me que quando da minha juventude também participei numa cena não muito edificante com uma senhora de muito traquejo com uma rabadilha como que movida a pilhas extras fortes que me preparou, com carinhoso profissionalismo, um montão de indecências que não me fazem corar um bocadinho e, antes me marcou para cometimentos que me deram carta de alforria e fez subir a fasquia da minha reputação um bom par de patamares. Tudo a troco de cem paus o minuto.
Estou agora a ouvir-te no “L.A. Is My Lady” em fundo. Segue-se a espantosa mistura com o bom do Jobim sobre a garota de Ipanema, recordas? que bateu no fundo à dureza do calceteiro e do mais empedernido estivador. Fica para a eternidade, garanto-te com a chancela da minha sogra e até do ordinário do meu senhorio.
Também memorável aquela desgarrada com o Tony Bennett.
Apreciei a tua recusa de te fazeres ouvir com aquele palonço do Elton Jones. Subiste muito na minha consideração pela tua indisponibilidade para emparelhares com esse fedelho contra-natura, mesmo tendo sido assegurado que não estaria a menos de 20 metros de distância da tua insigne figura, por providência cautelar. De facto, seria desastroso embarcares na abertura do espectáculo com a balada da bela e do monstro como essa figurinha ridícula sugerira.
Não há espaço para uma referência mais ampla da colossal discografia. Mas não queria deixar uma homenagem sentida àquele miúdo, um tal Robbie Wiliams, pronto para uma porta escancarada para o sucesso, que no circunspecto Albert Hall de Londres, no decurso dum inesquecível serão, apoiado pela magnífica Orquestra Sinfónica de Londres, a certo tempo, iniciou ele próprio o teu espantoso My Way - diz-se aqui, “À Minha Maneira”, rodeado dum friso de garotas do tipo “agarrem-me, por favor segurem-me”, e interrompeu-se de súbito para te projectar num ecrã gigante para terminares a canção por entre um silêncio mágico, comovido, para depois rebentar numa imparável explosão incontida de emoção. Inesquecível! Mora naquele rapaz um respeito muito grande e um seguidor absolutamente fiel.
Devo dizer-te, que nessa mesma linha e saudade, por alguns restos de noite já com uns abafados no saco a caminho de penantes, cantarolo-te, tentando comedidamente gingar à tua maneira inigualável, o que acaba em sérias dificuldades para acertar com a chave da porta e um significativo olhar de reprovação da consorte. Incompreensões, 'tás a ver?
Não é por acaso que alguns estarolas aqui do Bairro me chamavam o Sinatra de faz de conta, agora já não, que perdi o pio.
Os fados não permitiram que ao menos por um fugidio momento nos cruzássemos para te homenagear ao menos com uma taça de Esporão de reserva, um espanto do nosso Alentejo, estendendo-se por uma planície de sonho, de paz e muita bolota, qualquer coisa como um Paraíso meio adormecido que os teus concidadãos de Nova Iorque, cegos de tanto néon, nunca entenderiam mesmo antes de se encharcarem com as suas discretas botijas de Whisky de bolso. Aliás nem saías daqui por uma boa temporada, se te fosse dado degustar um leitão assado na Bairrada, apoiado num espumante de tarar num pequeno lugarejo do nosso jardim à beira mar plantado.
Estou próximo de ti porque por enquanto deves permanecer no Purgatório, na expectativa do julgamento final e aí não se dobram facilmente às brejeirices que te preenchem o canastro. Quando chegar o momento, com essa admirável dicção diz apenas, com humildade - Sou a voz. Não é justo julgar um artista da tua dimensão com o mesmo critério que usarão comigo, um simples funileiro reformado. E proclamar alto e bom som que estou e estarei sempre contigo. Se houver por aí malta do género Count Baisie vamos armar uma festa de estalo contigo.
Por último queria registar um apontamento que me escapou no “Até À Eternidade”, com um desenho sóbrio, brilhante, totalmente em contraponto com a esfuziante coreografia de, por exemplo, “Um dia em Nova Yorque” em que comparticipas com o Geny Kelly, dançando tanto quanto essa também inesquecível figura. Com todo esse talento, encarnavas o que quisesses. Até o Robin dos Bosques, excepto um regresso ao Porto.
Por fim, meu amigo Francis: quando eu também chegar por aí sussurra-me ao ouvido, se não for possível juntar essa flagelada multidão - diz-se por aqui que por aí são pouco dados a permitir o espírito associativo - “Nova Iorque, Nova Iorque”.
Entretanto fico-me, por agora, a reviver-te com o admirável Jobim e a espantosa Garota de Ipanema.
Garota de Ipanema | Frank Sinatra e António Carlos Jobim | 1967
POR ARTUR PAIXÃO
Meu grande amigo ignorado no teu espaço e no meu tempo, pelo menos desde a minha juventude que ditou uma admiração que permanece, inquebrável, e empatia para todo o sempre. Será um tanto meloso mas não retiro uma vírgula.
Enquanto arrumo estas linhas, tenho em fundo essa voz, confundida no imenso caleidoscópio da elegância com que sempre te exibiste nos palcos do mundo, demasiado pequeno para ti, bem sei, excepto no Porto, onde tiveste de sofrer as agruras da fria nortada daquelas paragens que te lixou o brilho e uns dos teus 20/30 capachinhos, diria de muito bom gosto e indispensáveis para atapetar a mais notável das calvas de pelo menos 50/60 anos de inigualável actividade, por entre uma chusma de medíocres danados por te chegar aos calcanhares. Com algumas excepções que acompanhaste sem vedetismos ou arrogâncias, que dispensavas generosamente. Aliás, era suficiente a tua presença. Única.
Nos meus 80 anos vida, calcula que mantenho religiosamente arrumados pelo menos 60 dos teus - parece que se diz - “long-plays”; eu que tenho grande dificuldade em distinguir o inglês do javanês; aqueles em vinil que podiam servir de tampa a uma terrina de amassada de torresmos, e agora que te revivo diariamente tenho para aí uma sacada duns bons 50 quilos de cassetes e CD´S que não faço ideia de como compartimentar em termos de respeito dado que não disponho de espaço no cubículo em que me arrumo com um quarto, exígua cozinha para trabalhar uma fritura de migas e uma pia medieval para os despejos que adivinhas, por outro lado não é concebível arrecadar parte do teu imenso espólio sob o miserável catre onde alinho, pela noite, os ossos enquanto te oiço até cerrar as pestanas e sendo tão leves, à parte a tua voz, é sempre um testemunho pelo tanto de belo que nos deixaste. Neste exacto momento ouço o dueto com o também inesquecível amigo, o Sammy Davis. Era assim um bocado para o torradinho e vítima dum ligeiro estrabismo que, por sinal, lhe ia muito bem.
Tiveste momentos inesquecíveis com amigalhaços da maior de que não esqueço, por exemplo, o dueto com a tua filha. Uma efeméride que te honrou e constitui uma afirmação de amor filial que te enriqueceu, dado que nesta questão de amores nunca foste constante, pelo menos aos duros que nunca chegaram ao fundo da tua sensibilidade ou jamais te conheceram de facto, personagem à deriva de permanentes solicitações com que foste confrontado sem defesa possível, especialmente após as noitadas de outra galáxia em que te entregaste, antes e depois à embriaguês da Ava Gardner e depois mais esta e aquela e mais outras, não importa se antes ou depois duma copaneira de marca.
Estou certo que agiste sempre a contento com ou sem capachinho. Com ou sem acessórios não se fez o homem que foste. Essa é também a opinião da minha sogra, uma senhora de critica severa muito respeitável.
Diz-se que desfrutaste dum bom empurrão da rapaziada da Máfia e de outros grupelhos de muito má reputação. Mas não importa se os usaste ou foste usado, é perfeitamente irrelevante. Porque no fim, o que fica é a Voz, a história, o grande senhor.
Declarou-se agora que encarnaste um filmezeco pornográfico num desses pasquins ordinários, segundo eco duma biografia não autorizada, de há uma catrefa de anos, em que desempenhavas um viril “O homem da Máscara Negra” por uma miserável retribuição de 70 e poucos dólares numa situação pouco credível de penúria. Esquece. Lembras-te da tua inolvidável interpretação no “Até à Eternidade”? foi mais do que a tua inteira remissão.
Lembro-me que quando da minha juventude também participei numa cena não muito edificante com uma senhora de muito traquejo com uma rabadilha como que movida a pilhas extras fortes que me preparou, com carinhoso profissionalismo, um montão de indecências que não me fazem corar um bocadinho e, antes me marcou para cometimentos que me deram carta de alforria e fez subir a fasquia da minha reputação um bom par de patamares. Tudo a troco de cem paus o minuto.
Estou agora a ouvir-te no “L.A. Is My Lady” em fundo. Segue-se a espantosa mistura com o bom do Jobim sobre a garota de Ipanema, recordas? que bateu no fundo à dureza do calceteiro e do mais empedernido estivador. Fica para a eternidade, garanto-te com a chancela da minha sogra e até do ordinário do meu senhorio.
Também memorável aquela desgarrada com o Tony Bennett.
Apreciei a tua recusa de te fazeres ouvir com aquele palonço do Elton Jones. Subiste muito na minha consideração pela tua indisponibilidade para emparelhares com esse fedelho contra-natura, mesmo tendo sido assegurado que não estaria a menos de 20 metros de distância da tua insigne figura, por providência cautelar. De facto, seria desastroso embarcares na abertura do espectáculo com a balada da bela e do monstro como essa figurinha ridícula sugerira.
Não há espaço para uma referência mais ampla da colossal discografia. Mas não queria deixar uma homenagem sentida àquele miúdo, um tal Robbie Wiliams, pronto para uma porta escancarada para o sucesso, que no circunspecto Albert Hall de Londres, no decurso dum inesquecível serão, apoiado pela magnífica Orquestra Sinfónica de Londres, a certo tempo, iniciou ele próprio o teu espantoso My Way - diz-se aqui, “À Minha Maneira”, rodeado dum friso de garotas do tipo “agarrem-me, por favor segurem-me”, e interrompeu-se de súbito para te projectar num ecrã gigante para terminares a canção por entre um silêncio mágico, comovido, para depois rebentar numa imparável explosão incontida de emoção. Inesquecível! Mora naquele rapaz um respeito muito grande e um seguidor absolutamente fiel.
Devo dizer-te, que nessa mesma linha e saudade, por alguns restos de noite já com uns abafados no saco a caminho de penantes, cantarolo-te, tentando comedidamente gingar à tua maneira inigualável, o que acaba em sérias dificuldades para acertar com a chave da porta e um significativo olhar de reprovação da consorte. Incompreensões, 'tás a ver?
Não é por acaso que alguns estarolas aqui do Bairro me chamavam o Sinatra de faz de conta, agora já não, que perdi o pio.
Os fados não permitiram que ao menos por um fugidio momento nos cruzássemos para te homenagear ao menos com uma taça de Esporão de reserva, um espanto do nosso Alentejo, estendendo-se por uma planície de sonho, de paz e muita bolota, qualquer coisa como um Paraíso meio adormecido que os teus concidadãos de Nova Iorque, cegos de tanto néon, nunca entenderiam mesmo antes de se encharcarem com as suas discretas botijas de Whisky de bolso. Aliás nem saías daqui por uma boa temporada, se te fosse dado degustar um leitão assado na Bairrada, apoiado num espumante de tarar num pequeno lugarejo do nosso jardim à beira mar plantado.
Estou próximo de ti porque por enquanto deves permanecer no Purgatório, na expectativa do julgamento final e aí não se dobram facilmente às brejeirices que te preenchem o canastro. Quando chegar o momento, com essa admirável dicção diz apenas, com humildade - Sou a voz. Não é justo julgar um artista da tua dimensão com o mesmo critério que usarão comigo, um simples funileiro reformado. E proclamar alto e bom som que estou e estarei sempre contigo. Se houver por aí malta do género Count Baisie vamos armar uma festa de estalo contigo.
Por último queria registar um apontamento que me escapou no “Até À Eternidade”, com um desenho sóbrio, brilhante, totalmente em contraponto com a esfuziante coreografia de, por exemplo, “Um dia em Nova Yorque” em que comparticipas com o Geny Kelly, dançando tanto quanto essa também inesquecível figura. Com todo esse talento, encarnavas o que quisesses. Até o Robin dos Bosques, excepto um regresso ao Porto.
Por fim, meu amigo Francis: quando eu também chegar por aí sussurra-me ao ouvido, se não for possível juntar essa flagelada multidão - diz-se por aqui que por aí são pouco dados a permitir o espírito associativo - “Nova Iorque, Nova Iorque”.
Entretanto fico-me, por agora, a reviver-te com o admirável Jobim e a espantosa Garota de Ipanema.
Garota de Ipanema | Frank Sinatra e António Carlos Jobim | 1967
quinta-feira, janeiro 05, 2012
The Tale of the Tomato Garden.
An old Italian lived alone in New Jersey. He wanted to plant his annual tomato garden, but it was very difficult work, as the ground was so hard. His only son, Vincent, who used to help him, was in prison. The old man wrote a letter to his son and described his predicament:
Dear Vincent,
I am feeling pretty sad, because it looks like I won't be able to plant my tomato garden this year. I'm just getting too old to be digging up a garden plot. I know if you were here my troubles would be over. I know you would be happy to dig the plot for me, like in the old days.
Love, Papa
A few days later he received a letter from his son.
Dear Pop,
Don't dig up that garden. That's where the bodies are buried.
Love, Vinnie
At 4 a.m. the next morning, FBI agents and local police arrived and dug up the entire area without finding any bodies. They apologized to the old man and left. That same day the old man received another letter from his son.
Dear Pop,
Go ahead and plant the tomatoes now. That's the best I could do under the circumstances.
Love you, Vinnie
Dear Vincent,
I am feeling pretty sad, because it looks like I won't be able to plant my tomato garden this year. I'm just getting too old to be digging up a garden plot. I know if you were here my troubles would be over. I know you would be happy to dig the plot for me, like in the old days.
Love, Papa
A few days later he received a letter from his son.
Dear Pop,
Don't dig up that garden. That's where the bodies are buried.
Love, Vinnie
At 4 a.m. the next morning, FBI agents and local police arrived and dug up the entire area without finding any bodies. They apologized to the old man and left. That same day the old man received another letter from his son.
Dear Pop,
Go ahead and plant the tomatoes now. That's the best I could do under the circumstances.
Love you, Vinnie
100 dólares, para começar bem o ano.
Several Woman's magazines
Stacked up on top of a picture of me
When I tried to call
No one answered
It's not even that I'm all angry
Just kind of confused why you do this thing
You said, there's an understanding
I offer you a small dog in the kitchen
I just wanted you to feel at home
And that's why I'm fine
I am fine, I am fine, I am fine
I just need 100 dollars
And I am fine, I am fine, I am completely fine
I just need 100 dollars
From you
And you and you
And you and you
Andy Hull (Manchester Orchestra) | 100 Dollars
Ano Z.
Pieter Bruegel o velho | O Triunfo da Morte (detalhe) | 1562
Dois mil e doze, trazes azares de dois mil e treze, trazes incêndios em jardins zoológicos, trazes jazigos e jazes na urna do medo, promessa aziaga; dois mil e doze do fim-do-mundo no zurzir dos profetas, ano zagalote; zerzelim venenoso; dois mil e doze, dúzia de ovos a mais - podres; dois mil e doze, ano dos Zoilos de Bocage, dos invejosos de Zeus, dos que gritam Zapata! Dois mil e doze, inferno zen, greve de zelo no cosmos, posfácio-epitáfio de Zenão, última letra zê do alfabeto-zodíaco, último número-zé-ninguém do infinito abaixo de zero; dois mil e doze dos Zoavos, que é porrada-que-ferve: zás, trás, pás! Dois mil e doze zeribando, és vingança de Zaratrusta na comédia do fim.
Dois mil e doze, trazes azares de dois mil e treze, trazes incêndios em jardins zoológicos, trazes jazigos e jazes na urna do medo, promessa aziaga; dois mil e doze do fim-do-mundo no zurzir dos profetas, ano zagalote; zerzelim venenoso; dois mil e doze, dúzia de ovos a mais - podres; dois mil e doze, ano dos Zoilos de Bocage, dos invejosos de Zeus, dos que gritam Zapata! Dois mil e doze, inferno zen, greve de zelo no cosmos, posfácio-epitáfio de Zenão, última letra zê do alfabeto-zodíaco, último número-zé-ninguém do infinito abaixo de zero; dois mil e doze dos Zoavos, que é porrada-que-ferve: zás, trás, pás! Dois mil e doze zeribando, és vingança de Zaratrusta na comédia do fim.
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