quinta-feira, março 30, 2017
Queridos convidados eléctricos.
Gosto muito desta banda, e não é de agora. Mas, estranhamente, é a primeira vez que aparecem no blog. Sejam, pois, muito bem vindos, meus queridos electricistas.
Electric Guest . Dear to me
Desenho da vida no lago
Texto publicado a 10/02/17 no Jornal Económico
Em boa hora decidiu a Quetzal, insígnia da Bertrand, reeditar em Portugal, no final de 2016, o belíssimo ‘Seda’, de Alessandro Baricco, estreado 20 anos antes e editado pela primeira em Portugal pela extinta Difel. Mario Vargas Llosa, prémio Nobel da Literatura em 2010, sintetiza este best seller assim: “É uma história misteriosa, lacónica, perfeita”. Em mais um exemplo do fascínio do Ocidente pelo Oriente, o autor de Turim traça-nos aqui a intrigante vida de Hervé Joncour, cujo pai lhe idealizava “um brilhante futuro no Exército”, mas que acabaria por ganhar a vida com um ofício insólito.
“Hervé viveu numa determinada região do sul de França, numa vila de nome Lavilledieu. Hélène era o nome da sua mulher”. Com as epidemias a grassar, viu-se obrigado a procurar os ovos dos bichos-da-seda, na Síria ou no Egito. Numa noite “sincopada por periódicos tragos de Pernod”, Balbadiou, seu amigo de idade incerta, amante de golfinhos, convence-o que, para sobreviver, “temos de conseguir chegar lá acima”. Ao Japão, “ao fim do mundo”.
A obra de Baricco retrata o fascínio pela viagem – na prática, quatro viagens ao longo da vidade Hervé Joncour entre o Sul de França e o Japão – do fascínio pelo outro, pelo contraste de culturas. E, por isso, se torna amigo do “mais inalcançável homem do Japão”, Hara Kei, “dono e senhor de tudo aquilo que o mundo conseguia levar para fora daquela ilha”. Hervé conta a sua vida a Hara Kei. O comércio dos bichos-da-seda entre os dois continentes está garantido. Mas não a paz de espírito do personagem principal deste livro porque se intromete na vida de Hervé uma jovem rapariga. Real, diáfana, mudou tudo. E Hervé volta cada vez mais depressa ao Japão, consumido pelo amor e pela paixão, mas regressa sempre a França e a Helène, senhora de pacientes esperas.
“Em Takaoka, Hervé Joncour embarcou num navio de contrabandistas holandeses que o levavam até Sabirk. Dali, percorreu a fronteira até ao lago Baical, atravessou quatro mil quilómetros de terra siberiana, transpôs os Urales, alcançou Kiev e percorreu de comboio toda a Europa de leste a oeste, até chegar, após três meses de viagem, a França. No primeiro domingo de abril - a tempo da grande missa - chegou às portas de Lavilledieu”. Foi sempre assim, menos na última viagem. Os bichos apodrecem no caminho e Hervé, vindo da guerra e da desilusão, perde a grande missa na terra-natal. O princípio do fim, enquanto o mundo acelera.
Um sobrescrito que Hervé recebe com carimbo da Flandres vai surpreender, mas, no final, ficam as imagens de uma luva e de um vestido laranja, e o afogar da solidão junto à campa de Hèléne, entretanto falecida. Ver a vida desenhada no lago e “morrer de saudade de uma coisa que nunca se irá viver”.
quarta-feira, março 29, 2017
segunda-feira, março 27, 2017
Os australianos é que sabem.
V8 Supercars. Uma das mais competitivas e espectaculares competições de turismos do mundo.
quinta-feira, março 23, 2017
O que diz a besta.
A propósito da barbaridade que sucedeu ontem, o senhor Sadiq Khan, infeliz e criminoso Mayor de Londres, afirmou que o terror islâmico, de que ele é com certeza primeiro apologista, faz parte da vida nas grandes cidades. As declarações desta verdadeira besta negra, e outras do género proferidas por personagens do género, pretendem convencer-nos que o quotidiano marcado pelo horror é normal. E, por ser normal, será justificado e, na verdade, merecido. Sadiq Khan (e a sua incrível pesporrência de islamita impenitente) é a arrepiante demonstração de que a Europa já não é dos europeus. É do inimigo.
quinta-feira, março 16, 2017
terça-feira, março 14, 2017
Porque é que já não escrevo poemas.
Já não escrevo poemas porque
estou no barbeiro e no programa da tarde que ocupa a televisão do barbeiro
está um entertainer a dizer que o papa francisco e o barak obama
são muito boas pessoas.
Já não escrevo poemas porque
a veia não aguenta a estupidez de toda a gente, a ignorância maluca e aos pulos
por dentro das pessoas todas. Mesmo as boas pessoas.
Já não escrevo poemas porque
o entertainer do programa da tarde do canal público não sabe
(e é natural que não saiba, caso contrário não estaria a poluir o éter
do canal público àquela singela hora da tarde)
que as pessoas serem boas ou más
é completamente irrelevante para a história universal das pessoas.
E é por isso que já não escrevo poemas.
Já não escrevo poemas porque
as pessoas serem fundamentalmente estúpidas
é que é relevante para a história universal das pessoas.
Já não escrevo poemas porque
tenho mais que fazer e porque
não consigo transformá-los em balas.
Se sucedesse o inverso, seria uma verdadeira fábrica de poemas.
Era poemas-bala para dar e vender.
Já não escrevo poemas porque
o facebook pacificou as sensibilidades e os espíritos
com a boa e velha técnica da lobotomia, agora tecnologicamente avançada
com o acréscimo da indignação.
Já não escrevo poemas porque
os meus poemas iam certamente indignar este mundo e o outro e eu
não tenho tempo para me chatear tantas vezes assim.
Já não escrevo poemas porque
o instagram vale mais que mil versos
e o twitter não aceita para além de uns poucos caracteres.
Já não escrevo poemas porque
as faculdades proíbem as pessoas de dizerem o que pensam
e porque
os meus poemas podem ser processados e os advogados são caros
e porque
não foi a escrever poemas que eu cheguei a este lugar
e porque
é demasiado tarde para me arrepender do triste lugar onde cheguei
e porque
ninguém me prometeu nada na infância.
Já não escrevo poemas porque
os meus poemas não salvam os cristãos do médio oriente
(se os exércitos cristãos não salvam os cristãos do médio oriente
como é que os meus versos iam fazer qualquer diferença?).
Já não escrevo poemas porque
os meus poemas não salvam o Ocidente desta morte lenta e horrorosa.
Já não escrevo poemas porque
Platão, Cristo e Kant perderam a imortalidade.
Já não escrevo poemas porque
um gajo tão reles como o Trump consegue estar carregado de razão.
Já não escrevo poemas porque
Jorge Luis Borges.
Já não escrevo poemas porque
Fernando Pessoa.
Já não escrevo poemas porque
Luís Vaz de Camões
Já não escrevo poemas porque
o Ricardo Araújo Pereira é de esquerda.
Já não escrevo poemas porque
estou velho.
Já não escrevo poemas porque.
estou no barbeiro e no programa da tarde que ocupa a televisão do barbeiro
está um entertainer a dizer que o papa francisco e o barak obama
são muito boas pessoas.
Já não escrevo poemas porque
a veia não aguenta a estupidez de toda a gente, a ignorância maluca e aos pulos
por dentro das pessoas todas. Mesmo as boas pessoas.
Já não escrevo poemas porque
o entertainer do programa da tarde do canal público não sabe
(e é natural que não saiba, caso contrário não estaria a poluir o éter
do canal público àquela singela hora da tarde)
que as pessoas serem boas ou más
é completamente irrelevante para a história universal das pessoas.
E é por isso que já não escrevo poemas.
Já não escrevo poemas porque
as pessoas serem fundamentalmente estúpidas
é que é relevante para a história universal das pessoas.
Já não escrevo poemas porque
tenho mais que fazer e porque
não consigo transformá-los em balas.
Se sucedesse o inverso, seria uma verdadeira fábrica de poemas.
Era poemas-bala para dar e vender.
Já não escrevo poemas porque
o facebook pacificou as sensibilidades e os espíritos
com a boa e velha técnica da lobotomia, agora tecnologicamente avançada
com o acréscimo da indignação.
Já não escrevo poemas porque
os meus poemas iam certamente indignar este mundo e o outro e eu
não tenho tempo para me chatear tantas vezes assim.
Já não escrevo poemas porque
o instagram vale mais que mil versos
e o twitter não aceita para além de uns poucos caracteres.
Já não escrevo poemas porque
as faculdades proíbem as pessoas de dizerem o que pensam
e porque
os meus poemas podem ser processados e os advogados são caros
e porque
não foi a escrever poemas que eu cheguei a este lugar
e porque
é demasiado tarde para me arrepender do triste lugar onde cheguei
e porque
ninguém me prometeu nada na infância.
Já não escrevo poemas porque
os meus poemas não salvam os cristãos do médio oriente
(se os exércitos cristãos não salvam os cristãos do médio oriente
como é que os meus versos iam fazer qualquer diferença?).
Já não escrevo poemas porque
os meus poemas não salvam o Ocidente desta morte lenta e horrorosa.
Já não escrevo poemas porque
Platão, Cristo e Kant perderam a imortalidade.
Já não escrevo poemas porque
um gajo tão reles como o Trump consegue estar carregado de razão.
Já não escrevo poemas porque
Jorge Luis Borges.
Já não escrevo poemas porque
Fernando Pessoa.
Já não escrevo poemas porque
Luís Vaz de Camões
Já não escrevo poemas porque
o Ricardo Araújo Pereira é de esquerda.
Já não escrevo poemas porque
estou velho.
Já não escrevo poemas porque.
Cada vez gosto mais do jornalismo do Correio da Manhã.
Este vídeo aqui é para servir de documentário.
domingo, março 12, 2017
terça-feira, março 07, 2017
O detetive impassível, a femme fatale e a estatueta de ouro de Carlos V
Por Nuno Miguel Silva
Texto publicado a 20/01/17 no Jornal Económico
1523. A Ordem dos Hospitalários de São João Jerusalém, uma organização que foi contribuinte líquida para as Cruzadas, é expulsa da ilha de Rodes pelo sultão otomano Solimão, o Magnífico. A Ordem muda-se com armas e bagagens para a ilha de Creta, onde permanece sete anos.
Em 1530, convencem o imperador Carlos V, líder do Sacro Império Romano-Germânico, a ceder-lhes as ilhas de Malta, Gozo e Trípoli. O imperador aceita com uma condição: todos os anos, a Ordem teria de lhe pagar o tributo de um falcão, fazendo sentir-lhes que Malta fazia parte de Espanha.
Com recursos vastos decorrentes dos saques sistemáticos a que se dedicava, a Ordem aceita o trato. E como prova da sua gratidão a Carlos V, em vez de lhe entregar um simples falcão, em versão natural, oferece ao imperador um maciço falcão de ouro, com 30 centímetros de altura, incrustado com as mais preciosas pedras.
Quatrocentos anos e inúmeras peripécias depois, ninguém sabe onde pára o valioso
falcão. Ninguém, não é bem o caso, como poderão descobrir depois de lerem a trama arquitetada por Dashiel Hammett no delicioso “O Falcão de Malta”, também conhe- cido por “A Relíquia Macabra”.
No desenrolar do enredo, surge-nos um dos detetives com a história mais fulminante da ficção policial (Miles Archer), uma verdadeira femme fatale (Miss Wonderly, aliás, Miss O’Shaughnessy) e um detetive impassível (Sam Spade).
Na procura da centenária estatueta andam ainda criminosos de diversos recortes. E não podia faltar um célebre par de polícias (o bom e o mau) que tentam investigar os assassinatos que vão pingando no decorrer da genial ação engendrada por Hammett, tendo São Francisco por pano de fundo.
O suspense vai subindo à medida que estas e outras personagens se vão cruzando, sendo surpreendente o desenlace, como convém. Sam Spade foi poupado, na trama, para nosso deleite em outras aventuras.
“O Falcão de Malta” regressou recentemente às livrarias portuguesas pelas mãos da Livros do Brasil, uma chancela que agora pertence à Porto Editora, numa coleção que replica a famosa Coleção Vampiro, que encantou leitores desde o final dos anos 40 do século passado até 2010.
Esta referência da literatura policial universal foi publicada pela primeira vez em 1930 e logo no ano seguinte foi passada ao cinema, mas só 10 anos mais tarde gerou outra obra-prima na tela: Sam Spade terá para sempre a pose e a voz de Humphrey Bogart, a femme fatale foi encarnada por Maryh Astor, Peter Lorre fez a sua estreia, assim como o realizador, um tal de John Houston. É considerado um dos melhores filmes de sempre.
Texto publicado a 20/01/17 no Jornal Económico
1523. A Ordem dos Hospitalários de São João Jerusalém, uma organização que foi contribuinte líquida para as Cruzadas, é expulsa da ilha de Rodes pelo sultão otomano Solimão, o Magnífico. A Ordem muda-se com armas e bagagens para a ilha de Creta, onde permanece sete anos.
Em 1530, convencem o imperador Carlos V, líder do Sacro Império Romano-Germânico, a ceder-lhes as ilhas de Malta, Gozo e Trípoli. O imperador aceita com uma condição: todos os anos, a Ordem teria de lhe pagar o tributo de um falcão, fazendo sentir-lhes que Malta fazia parte de Espanha.
Com recursos vastos decorrentes dos saques sistemáticos a que se dedicava, a Ordem aceita o trato. E como prova da sua gratidão a Carlos V, em vez de lhe entregar um simples falcão, em versão natural, oferece ao imperador um maciço falcão de ouro, com 30 centímetros de altura, incrustado com as mais preciosas pedras.
Quatrocentos anos e inúmeras peripécias depois, ninguém sabe onde pára o valioso
falcão. Ninguém, não é bem o caso, como poderão descobrir depois de lerem a trama arquitetada por Dashiel Hammett no delicioso “O Falcão de Malta”, também conhe- cido por “A Relíquia Macabra”.
No desenrolar do enredo, surge-nos um dos detetives com a história mais fulminante da ficção policial (Miles Archer), uma verdadeira femme fatale (Miss Wonderly, aliás, Miss O’Shaughnessy) e um detetive impassível (Sam Spade).
Na procura da centenária estatueta andam ainda criminosos de diversos recortes. E não podia faltar um célebre par de polícias (o bom e o mau) que tentam investigar os assassinatos que vão pingando no decorrer da genial ação engendrada por Hammett, tendo São Francisco por pano de fundo.
O suspense vai subindo à medida que estas e outras personagens se vão cruzando, sendo surpreendente o desenlace, como convém. Sam Spade foi poupado, na trama, para nosso deleite em outras aventuras.
“O Falcão de Malta” regressou recentemente às livrarias portuguesas pelas mãos da Livros do Brasil, uma chancela que agora pertence à Porto Editora, numa coleção que replica a famosa Coleção Vampiro, que encantou leitores desde o final dos anos 40 do século passado até 2010.
Esta referência da literatura policial universal foi publicada pela primeira vez em 1930 e logo no ano seguinte foi passada ao cinema, mas só 10 anos mais tarde gerou outra obra-prima na tela: Sam Spade terá para sempre a pose e a voz de Humphrey Bogart, a femme fatale foi encarnada por Maryh Astor, Peter Lorre fez a sua estreia, assim como o realizador, um tal de John Houston. É considerado um dos melhores filmes de sempre.
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