quinta-feira, maio 31, 2018
quarta-feira, maio 30, 2018
O Problema das Borboletas*
Eu sei que as borboletas têm um problema grave.
Não estão psicologicamente preparadas para a ventania
de um Agosto frio como o raio.
Tentam esvoaçar, com a elegância que a natureza lhes concedeu
e tudo o que fazem é derrapar e toda a gente sabe que,
quando não consegues ir em frente, estás a perder tempo.
quando não consegues ir em frente, estás a perder tempo.
A borboleta não sabe o que fazer com as asas nem com o verão
nem com a vida, que é de mau tamanho.
nem com a vida, que é de mau tamanho.
Eu sei que as borboletas têm um problema grave.
Não percebem que viver um dia apenas,
mesmo que um dia de agosto frio e ventoso,
mesmo que um dia de agosto frio e ventoso,
vale exactamente a mesma coisa que
120 épocas balneares escaldantes, sem sombra de ventanias.
As borboletas, pensando bem,
Não sabem a sorte que têm.
Quando os dias de tormenta as desequilibram,
no seu efémero momento da glória possível,
no seu efémero momento da glória possível,
tudo o que acontece é nada.
As borboletas são sem consequência.
E à vida sem consequência há quem chame: felicidade.*Poema inspirado numa célebre frase do Senhor Rui Canas.
Quando te apaixonas por um caso clínico
e não podes fazer nada contra isso:
Kasabian . You're In Love With a Psycho
Kasabian . You're In Love With a Psycho
Cidadão Sebastião #01
- Boa tarde.
- Boa tarde, cidadão.
- Um bilhete para Ponta Delgada, por favor.
- Desculpe cidadão, mas a companhia não oferece
transporte para Ponta Delgada.
- Não? Mas ali no monitor das partidas indicam
que sai uma composição às 10h30, para Ponta Delgada.
- Lamento, cidadão, mas permanece o facto de
que não lhe posso vender um bilhete de comboio para Ponta Delgada. Será preciso
articular sobre essa impossibilidade?
- Será. Será preciso, na medida em que a
indicação é bem clara. Composição 12-43, Com partida às 10h30 de Santa
Apolónia, e escala na Ilha do Pessegueiro. Está ali escrito, vê-se daqui.
- Cidadão, aqui no guichet vendemos bilhetes de
viagens ferroviárias supra-sónicas para todas as capitais de distrito de
Portugal continental e para a maior parte das grandes capitais europeias. Recentemente
a companhia inaugurou a linha Lisboa-Funchal, é certo. Mas não temos qualquer
ligação a Ponta Delgada, por todos os deuses da galáxia! Sobre o que mostra o
placard das partidas nada lhe posso dizer. Terá que se dirigir ao Gabinete de
informação electrónica da Companhia.
- Muito bem. Assim farei. E onde fica esse
gabinete?
- Na Gare Ferroviária de Ponta Delgada.
Slot como paixão de vida.
Esteve a bombar entre 2016 e 2018. Agora acabou-se.
Quando voltar a ter saudades invento outra maneira de ter espaço, de ter vagar, de ter prazer com a minha, muita minha pista de carrinhos ScalexTric.
Arrepiante.
Este é um dos robots da BostonDynamics. Chama-se Atlas. E o que me arrepia não é propriamente o balanço, o pulo, a cambalhota. O que me arrepia é que Atlas parece perceber que no balanço, que no pulo, que na cambalhota, há um elemento de erro, há a probabilidade da queda, há a possibilidade do ridículo. Atlas parece hesitar, parece procurar pontos de equilíbrio que não estão no programa. Parece, em certos gestos, um mau ginasta. Parece, em certos movimentos, que tem consciência do risco.
E é isso que me arrepia.
Depois do silêncio,
a primeira música tinha que ser esta.
The Wombats. I Don't Know Why I Like You But I Do.
The Wombats. I Don't Know Why I Like You But I Do.
Carta enviada ao Observador.
Viva, bom dia.
Conforme
documento em baixo, acabo de subscrever a assinatura Premium do
Observador. Faço-o por me identificar com o programa editorial da
publicação, muito mais do que pela qualidade técnica do jornalismo
propriamente dito. E estando em desacordo com a filosofia de gestão que
preside ao produto "premium", peço a vossa paciência para explicar esta
discórdia.
Os
jornais querem ganhar dinheiro, como qualquer outro negócio, e eu
respeito completamente esta premissa, que, além de tudo, é óbvia.
O
Observador ocupa um espaço único e corajoso no panorama mediático
português. Muito pela razão prosaica de que não tem concorrência. Não há
outros jornais de centro-direita, exceptuando talvez a newsletter
semanal do arquitecto (que ninguém leva a sério) e o correio tabloide
(que se devia levar mais a sério). Seja como for, em boa verdade, estas
publicações não
concorrem directamente com o vosso público alvo.
É
verdade que o corpo da redacção e consequente conteúdo das notícias do
Observador me parecem
muitas vezes pouco alinhados com a filosofia editorial, mas bem sei que é
difícil encontrar jornalistas de direita (ou de centro) que fujam ao
mainstream da
esquerda. Se isto é verdade nos Estados Unidos da América, terá que ser
científico em Portugal. As colunas de opinião, no entanto, compensam
imenso essa
(triste) deriva.
Neste
contexto, percebo que o Observador queira subir a fasquia do negócio. O
que me parece incompreensível, num jornal liberal (leia-se liberal no
sentido europeu do termo) é que pretenda facturar primeiro e justificar o
lucro depois. Quero eu dizer: os meus amigos estão a pedir dinheiro aos
leitores para que estes usufruam exactamente do mesmo produto que já tinham
de borla (a "borla" era até um orgulho editorial do Observador).
Tenho
a certeza que o Dr. António Carrapatoso, pessoa que não conheço
pessoalmente mas que muito admiro, me dará razão, quando digo que esta
não será a maneira mais adequada de capitalizar um produto com potencial. O
lucro pressupõe um investimento. É assim nos negócios, como afinal, na
vida.
Permitam-me
que vos recomende a prática inversa: subam, por favor, o nível do
jornalismo corrente, que é, todos os dias, praticado na redacção do
Observador. Partilhem essa qualidade durante dois ou três meses. E
depois, sim, peçam aos vossos leitores para pagar algo que entretanto se
percebeu como um investimento. Como uma mais valia. "Estamos a fazer
melhor jornalismo. Investimos nesse jornalismo de qualidade. Agora,
caros leitores, é altura de contribuírem para a continuidade desse
esforço."
Isto faz sentido. E é justo.
Quando assinei o The Economist, estive dois meses à experiência. Gostei da experiência. Assinei. Isto faz sentido. E é justo.
Aceitem os meus mais cordiais - e leais - cumprimentos;
Atentamente;
Sobre a Eutanásia.
Não vou discorrer sobre a ética da morte ou da vida.
Tenho no entanto que dizer, neste regresso ao blog, depois de um ano do mais infame silêncio, que não cabe aos representantes desta legislatura formarem corpo de lei sobre esta matéria. Não foi para decidirem como é que as pessoas morrem que esta tropa de imbecis foi eleita.
Aliás, pensando bem, não foi para decidirem como é que os portugueses vivem, no sentido ontológico de existência, que esta tropa de imbecis foi eleita.
Esta tropa de imbecis pode decidir sobre coisas acessórias. Esta tropa de imbecis pode exceder-se até sobre matérias como a quantidade da sal que os padeiros colocam no pão (o que já é vilania ilegítima que baste).
Esta tropa de imbecis pode roubar os contribuintes até que chegue o dia da revolução.
Pode corromper e corromper-se até ao limite do sangue.
Mas não pode, de todo, substituir-se a deus. Não pode de todo reorganizar o caos que se intromete, soberanamente, entre a felicidade e o sofrimento. Entre a morte e a vida.
Tenho no entanto que dizer, neste regresso ao blog, depois de um ano do mais infame silêncio, que não cabe aos representantes desta legislatura formarem corpo de lei sobre esta matéria. Não foi para decidirem como é que as pessoas morrem que esta tropa de imbecis foi eleita.
Aliás, pensando bem, não foi para decidirem como é que os portugueses vivem, no sentido ontológico de existência, que esta tropa de imbecis foi eleita.
Esta tropa de imbecis pode decidir sobre coisas acessórias. Esta tropa de imbecis pode exceder-se até sobre matérias como a quantidade da sal que os padeiros colocam no pão (o que já é vilania ilegítima que baste).
Esta tropa de imbecis pode roubar os contribuintes até que chegue o dia da revolução.
Pode corromper e corromper-se até ao limite do sangue.
Mas não pode, de todo, substituir-se a deus. Não pode de todo reorganizar o caos que se intromete, soberanamente, entre a felicidade e o sofrimento. Entre a morte e a vida.
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