quinta-feira, fevereiro 21, 2019

A Física no seu labirinto.

A Física contemporânea, principalmente na sua vertente teórica, dá vontade de rir.  Ou, dependendo do humor de cada um num dado momento, dá vontade de chorar.

Através de um recente artigo Phys.Org, ficamos a saber que desconhecemos o paradeiro de um terço da matéria cósmica. Não, não é a Matéria Escura, de que desconhecemos tudo (menos o peso) e que constitui 23% do Universo. E não, não é a Energia Negra, de que desconhecemos tudo (menos o peso)  e que constitui 73% do Universo.
Portanto: dos 4% restantes de matéria que de facto conhecemos, desconhecemos o paradeiro de um terço dela. Bestial. A grande característica da Física é a ignorância sobre a natureza, a mecânica e a localização da matéria, domínios que perfazem precisamente o seu principal objecto de estudo.

Neste artigo, publica-se o trabalho de uma equipa liderada por Orsolya Kovacs, que procura desesperadamente encontrar a morada desse terço da matéria desaparecido, com a ajuda das belas imagens captadas pelo Observatório de Raios X Chandra, que é propriedade da NASA. As conclusões são, porém e como sempre, bastante ambíguas.

Mas há mais: para além de não percebermos grande coisa sobre a matéria no seu estado presente, parece que afinal somos ignorantes também sobre a sua origem. Nos últimos dez anos temos assistido a um processo de discussão intensa, que tem sido bastante abafado, sobre a validade de uma teoria que é vendida às massas como uma verdade sagrada: a Teoria do Big Bang (e também do seu inevitável complemento, que é a Teoria da Inflação). Tudo indica que esta clássica e nem por isso imaginativa ideia de uma explosão - ou implosão - iniciática tem problemas conceptuais e metodológicos graves, o primeiro dos quais é fundamental, porque tem a ver com a detecção da radiação de micro-ondas, que é só a mais importante demonstração da validade da Teoria.
O Professor Pierre-Marie Robitaille, um nerd a sério que parece saído de um show dos marretas (mas que sabe do assunto como o diabo), faz a crítica dessa "prova", colocando até em dúvida a validade científica da famosa imagem da Radiação Cósmica de Fundo, neste pedagógico vídeo aqui:



Mas a discussão sobre a virtude do Big Bang (expressão inventada por Fred Hoyle, que por acaso nem concordava nada com a Teoria, em 1949) ultrapassa velozmente as questões da detecção da radiação cósmica apresentadas por Sargsya. Quem estiver interessado em comprovar o que escrevo, pode visitar alguns artigos interessantes sobre o tema aqui, aqui e aqui. As omissões e contradições - teóricas e matemáticas - relacionadas com o momento imediatamente anterior à implosão do ponto infinitesimal onde se concentrava toda a matéria cósmica, bem como a uniformidade térmica e a densidade estável do Universo actual são alguns dos factores que contribuem decisivamente para as enxaquecas dos teóricos ortodoxos.

Na verdade, só encontramos consolação na Física do século XXI se acreditarmos, da forma mais ortodoxa possível, na maior parte dos dogmas científicos dos três séculos anteriores. Mas se, por um momento, rejeitarmos a ciência como um sistema de crença num universo materialista, mensurável e potencialmente cognoscível, começamos a perceber a verdadeira dimensão da tragédia humana: vivemos numa realidade cuja natureza transcende largamente a nossa capacidade de entendimento.