Ontem aconteceu um fenómeno poltergeist, no Giro d'Italia. No cimo do Roccaraso, Ruben Guerreiro ultrapassou Castroviejo para ser o segundo português de sempre a ganhar uma etapa no Giro, somando à vitória os pontos que são suficientes para passar a ser o novo proprietário da camisola Azzurri (líder da montanha). Para ajudar à festa, o espectacular João Almeida, que como já tinha avisado aqui, é um ciclista com grande futuro e que está a fazer um Giro absolutamente fenomenal (já lidera a prova desde a terceira etapa) resistiu a mais um jornada de alto nível de dificuldade, perdendo uns poucos segundos para alguns dos favoritos, mas garantindo a camisola Rosa (e a Bianca também, porque é o melhor classificado entre os sub 23) por mais uns dias, e ainda com uma vantagem mais ou menos confortável, de 30 segundos, sobre o segundo classificado, Wilco Kelderman, e de 1 minuto sobre Vincenzo Nibali, o favorito entre os favoritos. E se considerarmos que a etapa mais decisiva da próxima semana será provavelmente o contrarrelógio, que pode favorecer o ciclista português, é bem possível que João Almeida chegue às altitudes alpinas da terceira semana do Giro com uma vantagem um pouquinho mais expressiva. A ver vamos.
Seja como for, para quem gosta de ciclismo, o dia 11 de Outubro de 2020 vai ficar bem na gravado na memória como um dos episódios mais importantes da história do desporto nacional. E devo confessar que vivi momentos de intensa emoção e pura alegria. Primeiro com o Ruben, depois com o João. Numa etapa só. Que pinta.
Resta uma nota sobre a merda de jornalismo que temos: no site da Bola, não há um destaque para o que aconteceu ontem. No site do Record é para aí a sétima notícia. No Público, é a nona notícia na página de desporto, porque na homepage, nada. No Observador, a homepage destaca este dia inesquecível depois de cinco notícias sobre o miserável jogo de futebol entre Portugal e a França, que eu não vi mas tenho a certeza que foi miserável como são todos os jogos de futebol da selecção nacional desde que é comandada pelo homem-depressão, rei do empata, grão duque da mediocridade, carrasco de qualquer hipótese de espectáculo, mais conhecido por Fernando Santos.
No caso do Observador, sempre recordista da imbecilidade e da infâmia, o triunfo de Nadal no Roland Garros tem mais destaque do que aquele timidamente oferecido aos feitos dos dois portugueses.
Entre um mau jogo de futebol, que termina num empate sem golos, o rotineiro triunfo de um tenista espanhol (deve ser para aí a décima terceira vez que Nadal ganha este torneio) e a glória dos dois ciclistas portugueses, os jornais optam pelo absurdo.
Mas seria de esperar outra coisa?