sexta-feira, julho 02, 2021

Metade areia, metade areal e metade do mesmo material.

Como qualquer político Europeísta, Macron é muito responsável pelo lastimável estado a que chegou o seu lastimável país. Subscritor das políticas de emigração que transformaram a França num vasto conjunto de guetos, adepto incondicional do politicamente correcto, centrista indefectível e para-ideológico, guardião do establishment e dos grandes interesses económicos, paladino dos burocratas de Bruxelas, cavaleiro da Ordem Globalista e feroz inimigo de qualquer, mesmo que mínimo, sentido patriótico, o actual Presidente francês espelhava, até há um ano atrás, todos os males da sua classe profissional.

Não há porém força gravítica poderosa como a pressão eleitoral e, nos últimos tempos, receoso que os franceses odeiem mais o seu perfil elitista e enfatuado do que temem a energia populista de Marine Le Pen, o bom do Emmanuel tem virado substancialmente o bico ao proverbial prego. Principalmente, como já aqui referi, em relação à escola "woke", de que se tornou acérrimo crítico e que, provinda principalmente da cultura anglo-saxónica, é por isso um saco de boxe privilegiado para os franceses de todos os estratos sociais e uma excelente maneira de caçar votos à direita nacionalista, sem inquietar os poderes instituídos ou desagradar à esquerda bem pensante das academias e dos cafés parisienses.

Não me interpretem mal: tudo o que Macron diz sobre o movimento "woke" é correcto. E o Presidente francês, sobre esta matéria, está a milhas, em coragem e esclarecimento intelectual, do insuportável Boris Johnson, por exemplo. Mas desconfio bem que esta posição crítica não é sincera. Deriva antes e sobretudo de um posicionamento táctico, que é esperto e que resultará, provavelmente, numa reeleição. Mas não deixa de ser apenas e só um punhado de areia atirado para os olhos dos gauleses. E não resolve nenhum dos muitos e graves problemas com que se debate a França dos dias que correm.