Há exactamente treze anos atrás, corre pacificamente o verão de 2008, o planeta gira como de costume, entre glórias e infâmias e ninguém suspeita que, a 5 de Agosto, vai acontecer isto:
A banda de Mikel Jollett edita o seu primeiro longa-duração, homónimo, e acontece de facto um evento tóxico, que se espalha pelo ar e que resulta numa catástrofe monumental: toda a gente fica de queixo caído.
A energia, a criatividade, a recusa em alinhar com estereótipos, a gritaria; a orquestração que cai lindamente no pano post-punk, as guitarras que fazem sexo livre com os violinos, a percussão apocalíptica; a produção rude, garagista; os versos niilistas, poderosos, que ecoam sobre a acústica do tempo e do espaço: se este disco não faz justiça a uma ideia purista do que deve ser o Rock 'n Roll, é porque o Rock 'n Roll não tem esperança de redenção.
Repleto de temas vibrantes, operáticos, incendiários, embrulhado numa ambição épica de incontida rebeldia e selvática eloquência, o disco com que os The Airborne Toxic Event decidiram iniciar a sua abençoada carreira de trovadores do inferno é um hino descontínuo e orgíaco rumo à consolação através do grito. Através do pulo. Através da exaustão dos sentidos e do colapso físico: ninguém aguenta esta pedalada durante muito tempo.
A banda há-de continuar a parir rochedos e a fomentar ataques cardíacos deste género durante os anos seguintes (aqui, um post sobre uma outra obra prima, "Dope Machines") e continua em actividade no presente do indicativo, claro. Mas este iniciático e electrificado pontapé na história da música popular é incontornável, ocupando um lugar adequadamente centenário no pódio difuso da Discoteca da Minha Vida.
The Airborne Toxic Event. Uma das razões pelas quais Deus montou tímpanos nas orelhas do Homem.