quarta-feira, fevereiro 16, 2022

O meu pé pesado #21: na Finlândia, o Dirt Rally 2.0 transforma-se num simulador de vôo (parte 1).

Já contei aqui esta história, mas como a acho deliciosa, repito: Walter Rohl, a lenda do Gupo B e um dos melhores pilotos de ralis de todos os tempos, perdeu certa vez um título mundial por se recusar a conduzir os 600 cavalos do Audi A Quattro pelas florestais dos Mil Lagos, justificando-se com o contrato que tinha assinado com a marca alemã, que não previa a pilotagem aeronáutica.

Este episódio define o rali da Finlândia. Nas montanha russa das florestais onde o WRC corre na vida real, passas imenso tempo no ar e geralmente a velocidades de avioneta. Enquanto descolar é relativamente pacífico, a aterragem torna-se deveras complicada para os rins, para as suspensões e para os chassis, inviabilizando frequentemente a vã ambição de disciplinar o comportamento do automóvel.

Sendo acidentada por natureza, a serpentina nem por isso é sinuosa e apresenta uma das mais regulares e compactas pistas de terra do mundial de ralis, o que faz dos Mil Lagos uma prova ultra rápida e por isso um belo ensaio sobre a coragem dos pilotos profissionais.



As duas etapas que perfazem a prova no Dirt Rally 2.0 são baseadas num única etapa da vida real, a célebre e alucinante Ouninpohja do WRC.



Nesta série de posts tenho corrido sempre em condições óptimas: piso seco e dia solarengo ou nublado sem significativas taxas de humidade. Desta vez e daqui para a frente vou alterar um pouco a orgânica da coisa, misturando condições ideais com circunstâncias climatéricas e de luminosidade menos favoráveis. Aqui na Finlândia cumpro duas provas diurnas com piso seco e duas provas com a pista molhada (encharcada até) e no lusco fusco nórdico. Alerto porém que as classificações nestas etapas em condições mais difíceis têm menos participantes, pelo que os tempos que vou marcar vão traduzir necessariamente classificações mais próximas da elite mundial.



A primeira metade de Ouninpohja, que constitui o primeiro troço do Dirt Rally 2.0, tem 15 quilómetros de extensão e é marcado por um longo segmento repleto de saltos enormes, mas que tem que ser feito prego a fundo. De qualquer forma, quem tem uma mínima pretensão a ser rápido na Finlândia tem que fazer muitos dos quilómetros destes troços com o pé pregado no metal. É aliás precisamente esse o segredo para um bom resultado nos Mil Lagos: manter os carburadores bem abertos durante o máximo tempo possível.



E deve ter sido precisamente por ter tirado o pé de acelerador quando o devia ter mantido pisado, que não faço melhor que esta classificação modesta:

No sentido inverso, com o piso molhado e a visibilidade reduzida, as coisas complicam-se seriamente. O Fiesta está sempre a querer sair da estrada e a rapidez tem que ser frequentemente sacrificada em nome do bom senso.



Talvez por ter sido mais consistente do que atrevido, mais fluido do que agressivo, num contexto que não perdoa excessos de confiança, consigo uma classificação honrosa, dentro dos 100 primeiros, que tem que ser lida porém no contexto de um número menor de participantes registados nesta prova (é natural que a malta evite os desafios mais difíceis).

Estou porém determinado a fazer melhor média de classificações na segunda parte desta aventura finlandesa. Mais salto, menos salto.