O Congresso americano manda prender inimigos políticos, agora. Substituiu-se aos tribunais: é juiz, júri e carrasco, com desplante totalitário e a ajuda do State Department. Tal e qual como se faz numa ditadura asiática ou sul americana. Tal e qual.
Mais: o aparelho judicial e o FBI parecem agora totalmente controlados por democratas (e alguns republicanos que deviam na verdade estar registados como democratas), que não têm qualquer problema em usar estas instituições para perseguir os seus adversários e absolver os seus camaradas. A dualidade de critérios é tão assustadora como é draconiana a vontade de exercer repressão política.
Neste contexto, considerar que os Estados Unidos da América da actualidade cumprem os requisitos de uma democracia ou de um estado de direito é viver alienado dos factos.
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E a propósito de alienação: de tanto falsificar a realidade, os meios de comunicação social, as indústrias de entretenimento e as redes sociais conseguiram transportar os ingleses para um universo paralelo. Como já aconteceu com a percepção das baixas resultantes do Covid-19, altamente inflaccionadas na consciência dos cidadãos, a ideia que têm da composição demográfica e social do seu país está completamente adulterada.
Minorias de zero ponto qualquer coisa por cento passam, na versão
distorcida dos britânicos, a ter significado demográfico, enquanto a população de origem africana é multiplicada por 7 e a muçulmana é multiplicada por 4. Confundido a verdade com a publicidade, o cinema e as notícias que consomem, os britânicos pensam que vivem num país com muito menos população branca do que aquela que factualmente se regista.
Além disso, calculam que 15% dos seus compatriotas são homossexuais, dez
vezes mais do que realmente foi recenseado, e que 5% são transexuais, quando o percentual correcto é de 0,3%.
Redondamente enganados sobre a substância humana do seu próprio país,
como podem os ingleses eleger políticos competentes?
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Um dos mais deprimentes resultados desta distorção dos factos - e da consequente dificuldade em tomar boas decisões políticas - é Boris Johnson, que ainda hoje sobreviveu a uma moção de desconfiança originária no seu próprio partido e que três anos depois de ter sido eleito com histórica maioria é hoje um dos homens mais odiados no seu país à deriva.
Qualquer súbdito de Sua Majestade que tenha um mínimo de lucidez não tem neste momento em quem votar. O sistema que foi instalado sobre a velha monarquia consuetudinária não lhe proporciona sequer um só candidato que defenda os seus interesses e a sua cidadania.
Sobre o estado da ala esquerda já disse o que tinha a dizer aqui, e a bancada conservadora de Westminster está tão longe do seu eleitorado como os republicanos no Capitólio estão distantes daqueles que representam. Eis o regresso da velha "taxação sem representação" que ironicamente (a história é sempre mordaz) está na origem da revolução americana.
Neste contexto, considerar que o Reino Unido da actualidade cumpre os
requisitos de uma democracia ou de um estado de direito é viver alienado
dos factos.
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O drama sócio-político a que assistimos por estes dias é o do fim do dever de representação e do direito a ser representado. Os regimes ocidentais já não servem os interesses e os direitos dos cidadãos. Pelo contrário, as suas transcendentais agendas vão precisamente contra os interesses e os direitos dos cidadãos. Mas como o sistema partidário não integra facções alheias ao cumprimento dessas agendas, o processo eleitoral não dará voz ao protesto dos eleitores, tornado assim imutáveis as estruturas de poder e as suas (más) práticas executivas.
Pelos vistos é muito fácil fazer batota para acabar com a democracia.
Este fenómeno de não representação acontece há muitos anos na Europa, é verdade, e isso tem sido expresso na problemática figura da abstenção, que é sempre alta no Ocidente e que sempre foi ignorada. Mas nos últimos anos percebemos que o movimento de levar as massas à sua irrelevância está a ser intencionalmente conduzido pelas altas eferas do poder político e económico e rigorosamente orquestrado pelos media, de forma a fechar as elites num intocável e inquestionável círculo de poder.
Neste contexto, considerar que o Ocidente da actualidade cumpre os requisitos da democracia ou do estado de direito é viver alienado dos factos.