quarta-feira, setembro 14, 2022

Raros e apressados haikus da baía.


 

 

A tempestade foi e veio.
A fúria do Atlântico ficou.




O barulho que faz a maré
Cala os ambientalistas.




O espelho é ingrato,
Depois dos cinquenta.




Estou a chegar ao ponto dramático
De apreciar mais a humanidade
Do que os humanos.




Quanto mais velho sinto o corpo
Mais juventude me traz
A solidão.




Adoptei um gato.
Vira-se uma página.




O Álvaro não sabe da felicidade que oferece.
Ainda assim retribui
Com acrobacias.




Quando adoptas um gato com dois meses
Até tu sentes a falta
Da mãe dele.




Estou com um abcesso.
Mais razões para beber whisky.



Sinto a falta de pessoas
Que passei a vida a evitar.



Já tenho saudades de ontem,
Quando tinha tempo
Para me aborrecer.

 


Não passa um minuto no meu relógio d'agora
Que não tenha nada para fazer.



Já não tenho vagar para haikus.
Fiz mal as contas à vida.

 

Se há coisa que não se deve escrever à pressa
É um haiku.



Não se nota que escrevo haikus apressados,
Porque os que foram escritos com calma
São beras na mesma.
 

 

Vou trabalhar a vida toda para que uma vez na vida
Possa só escrever versos.


Um senhor que tem todo o tempo do mundo
Decide entreter-se com Radiohead.
Morro de inveja.