Uma das opiniões críticas que mais somo no contexto do ContraCultura, para além de me acusarem de pessimismo, como se a culpa dos factos que reporto todos os dias fosse minha (argumento que na verdade é risível e que já dissequei a propósito do mesmo tipo de análise sobre o Blogville aqui), é a de que o website é de tal forma generalista que não pode ser competente.
Esta consideração é sólida. Ninguém na verdade pode editar sozinho um website sobre ciências, artes, filosofia, história, entretenimento, desporto e actualidade política sem meter os pés pelas mãos.
Acontece que meter os pés pelas mãos faz parte. Principalmente quando há poucos que metam apenas um dedo dos pés ou um dedo das mãos em risco, no contrabando das suas convicções.
Não me entendam mal: não sou nenhum herói por fazer públicas as minhas convicções. Aqui entre nós, não tenho nada a perder. Não tenho patrões, não tenho filhos, não tenho premências de orçamento e ainda por cima consegui chegar a um ponto da vida em que disponho de tempo para trabalhar na função das contas e para trabalhar desinteressadamente na função da vocação. Tenho o mérito de ter conseguido viver sem patrões e de chegar a um ponto da existência operacional sem premências orçamentais. Tenho o desmérito de não ter tido filhos.
Por isso mesmo, devo tentar, na contingência da minha condição, defender os valores da civilização em que fui criado e que bombou nos últimos quatro ou cinco séculos e que agora está a ser aniquilada. Isso é equivalente a salvaguardar a minha identidade. A pessoa que sou. A língua que falo. A pátria que me pariu. A educação que me foi dada. Os livros que li. As mulheres que possuí. Os amigos que tive. A família de que sou fruto. O trajecto existencial que cumpri, bem ou mal, até aqui chegado.
Regressando: é claro que vou patinar com a quantidade de assuntos díspares sobre os quais tenho a ousadia de escrever. Mas, mais importante para mim, é travar aquela que considero a batalha definitiva: a da cultura. Porque as opiniões políticas das pessoas não nascem do nada. A política é a espuma, a consequência, o subproduto de causas primordiais que residem no que já há muitas décadas está a correr mal na esfera ocidental.
Quando escrevo sobre Epicteto, ou quando escrevo sobre Platão, ou quando escrevo sobre Marco Aurélio ou sobre Velázquez ou sobre Bach ou sobre Nietzsche ou sobre Heisenberg ou sobre Kubrick, estou a escrever sobre aquilo que fundamenta, em última análise, as opiniões que temos todos sobre isto ou sobre aquilo.
E é essa senda que realmente me conduz: saber como é que chegámos aqui, ao menos que zero. Saber como é que, de um apogeu, fizemos a queda. Se isso interessa aos outros ou se os outros acham excessiva a minha ambição de leigo, muito sinceramente, é irrelevante. Em certo sentido, sou um estoico. O foco está naquilo que posso dominar. Aquilo que não posso, olvido.
E é assim.