Portugal teve cinco governos desde 2015, três nos últimos seis anos. Na última década, os sucessivos executivos recrutaram mais 100.000 funcionários públicos. E pagamos agora mais impostos do que pagávamos durante a tão contestada legislatura de Pedro Passos Coelho.
Depois de uma revolução que pretendia acabar com o estado corporativo, o país nunca o foi tanto, ao ponto da banca poder ditar as taxas de remuneração dos títulos de tesouro do estado.
Apesar da carga fiscal que nos condena ao orgulho da pobreza, tão elogiado por Salazar, o nível performativo dos serviços públicos está agora abaixo do que conseguia apresentar em 1995. O maior hospital deste país tem uma unidade de urgências em cuja sala de espera não cabem 20 pessoas.
Entretanto, o país está a ser colonizado por asiáticos (que são "necessários" para o inexistente "crescimento económico"' já que o estado contrata a a maior fatia da mão de obra nativa), espoliado por gestores de investimentos de Londres e Nova Iorque, e fascizado por burocratas de Bruxelas, que legislam sobre o calibre do Queijo da Serra sem saber apontar Seia no mapa.
A classe política portuguesa tem a categoria ética e intelectual de uma organização de criminosos de colarinho branco, embora muitos deles não saibam sequer usar um fato. Mais: parecem desconhecer por completo a Constituição da República que sustenta a sua actividade bandida.
Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo, esqueceu-se que os portugueses não votam num governo, mas em partidos que, em função dos resultados eleitorais, têm ou não condições para apresentar uma proposta de governabilidade ao chefe de estado, o sr. Sousa ele mesmo, que tem depois o privilégio de avaliar se essa proposta tem condições sustentáveis de sobrevivência.
O que o sr. Sousa devia ter feito, há dois meses atrás, era um telefonema ao sr. Montenegro, informando-o que não tinha condições éticas para continuar, e que esperava a sua carta de demissão para ontem. E procurar no PSD uma nova solução de governo ou de liderança de governo, porque o mandato eleitoral que legitima a legislatura resulta da Assembleia da República, e nada mudou nesse equilíbrio de forças que permitiu à AD chegar ao poder executivo.
É muito simples na verdade, mas sempre que precisamos que Marcelo tome uma decisão acertada, é certo que ele tomará a decisão parva.
Tanto mais que as legislativas de Maio próximo não vão, de todo, alterar significativamente o quadro político actual. Mesmo que o PS ganhe, não terá, em princípio, condições aritméticas para governar com a esquerda. E a não ser que - hipótese deveras remota - o PSD aceite um acordo, formal ou informal, com o Chega, a única alternativa é a do Bloco Central. Acontece que essa alternativa é também possível agora.
É por estas e por outras que tanto aqui no blog como no Contra, se escreve tão pouco sobre a actualidade política portuguesa. Esta república, para além de irrelevante, está defunta. E é apenas escatológico tentar fazer viver os mortos-vivos.