Johnny Cash . Hurt
É a segunda vez que publico este clip aqui no Blogville, mas não encontro melhor substância medicinal para suportar a dor de mais um ano que passa, para enfrentar a dor de mais um ano que chega.
segunda-feira, dezembro 29, 2014
Mensagem de Ano Novo
Estou à espera de uma invasão de extra-terrestres desde que era criança. Peço desculpa pela imodéstia mas esta velha expectativa só prova que não era uma criança completamente estúpida porque, 40 anos depois, a única solução para termos um ano novo melhor do que o anterior continua a ser precisamente uma invasão de homenzinhos cinzentos com mau feitio e fuscas de potência mega atómica e cheios de fome de carne humana. Submetida a raça sapiens à lógica da sobrevivência, começaríamos decerto por servir aos ávidos conquistadores uma entrada substancial com os radicais islâmicos de todo o planeta. Assim, entre a entrada e o prato principal, sempre tinhamos a oportunidade de apreciar as virtudes inumeráveis de viver num planeta sem radicais islâmicos.
2015 também podia trazer silêncio. Aquele género de silêncio tumular, aquela espécie de silêncio que é o mais silencioso possível, sem surdinas nem fugas; um silêncio-vento-divino para calar os que estão presos e os que mandam prender e os que estão soltos e os que mandam neles. Um silêncio higiénico que emudeça os banqueiros e muito especialmente os banqueiros que faliram. Um silêncio que una, numa épica e endémica concórdia, sindicalistas e patrões, juízes e advogados, ministros e cronistas, deputados e jornalistas, médicos e pacientes, professores e alunos, heróis e vilões, vítimas e agressores, crentes e ateus, santos e filhos da puta, todos juntos numa oração sem decibéis, orgíaca elegia do ruído zero.
Alegra-me a possibilidade bem real de que no próximo ciclo à volta do sol aconteçam coisas menos boas a gente menos recomendável como o sr. Abu Bakr al-Baghdadi, o sr. Mullah Mohammed Omar, o Sr. Ali Khamenei, o sr. Kim Jong-un, o sr. Vladimir Putin, o sr. Michel Platini, e - este é de estimação - o sr. Julian Assange.
Para me dar alguma satisfação aos dias, conto também com uma previsão auspiciosa, que calculo com a exactidão de um astrólogo de corte: vem aí um ano infernal para Barak Obama.
E outrossim para José Sócrates.
Tenho fé que em 2015, alguém, num gabinete obscuro de Princeton, descubra uma solução minimamente decente, minimamente elegante, para o Problema da Costante Cosmológica, mas alerto: esta fé é tão religiosa como aquela do Deus católico. Na verdade, a minha metafísica de ateu desconfia bem que o Problema da Costante Cosmológica não tem solução (o que deveras me escangalha qualquer tipo de optimismo no futuro).
Claro, era excelente que o ano novo prometesse menos impostos e mais uma arca a rebentar de poemas do Pessoa (devo confessar que desejo isto mais que a paz no mundo e o fim da fome), e também seria superiormente agradável que o Benfica fosse campeão nacional, mas como estes desejos conseguem ser mais irrealistas que a fé católica ou o Modelo Standard da Física das Partículas, é melhor parar por aqui.
É que, muito sinceramente, não estou com paciência alguma para um ano de excessos.
2015 também podia trazer silêncio. Aquele género de silêncio tumular, aquela espécie de silêncio que é o mais silencioso possível, sem surdinas nem fugas; um silêncio-vento-divino para calar os que estão presos e os que mandam prender e os que estão soltos e os que mandam neles. Um silêncio higiénico que emudeça os banqueiros e muito especialmente os banqueiros que faliram. Um silêncio que una, numa épica e endémica concórdia, sindicalistas e patrões, juízes e advogados, ministros e cronistas, deputados e jornalistas, médicos e pacientes, professores e alunos, heróis e vilões, vítimas e agressores, crentes e ateus, santos e filhos da puta, todos juntos numa oração sem decibéis, orgíaca elegia do ruído zero.
Alegra-me a possibilidade bem real de que no próximo ciclo à volta do sol aconteçam coisas menos boas a gente menos recomendável como o sr. Abu Bakr al-Baghdadi, o sr. Mullah Mohammed Omar, o Sr. Ali Khamenei, o sr. Kim Jong-un, o sr. Vladimir Putin, o sr. Michel Platini, e - este é de estimação - o sr. Julian Assange.
Para me dar alguma satisfação aos dias, conto também com uma previsão auspiciosa, que calculo com a exactidão de um astrólogo de corte: vem aí um ano infernal para Barak Obama.
E outrossim para José Sócrates.
Tenho fé que em 2015, alguém, num gabinete obscuro de Princeton, descubra uma solução minimamente decente, minimamente elegante, para o Problema da Costante Cosmológica, mas alerto: esta fé é tão religiosa como aquela do Deus católico. Na verdade, a minha metafísica de ateu desconfia bem que o Problema da Costante Cosmológica não tem solução (o que deveras me escangalha qualquer tipo de optimismo no futuro).
Claro, era excelente que o ano novo prometesse menos impostos e mais uma arca a rebentar de poemas do Pessoa (devo confessar que desejo isto mais que a paz no mundo e o fim da fome), e também seria superiormente agradável que o Benfica fosse campeão nacional, mas como estes desejos conseguem ser mais irrealistas que a fé católica ou o Modelo Standard da Física das Partículas, é melhor parar por aqui.
É que, muito sinceramente, não estou com paciência alguma para um ano de excessos.
domingo, dezembro 28, 2014
terça-feira, dezembro 23, 2014
Uma crónica para a história.
Paulo de Almeida Sande, um dos mais notáveis cronistas do Observador (o que não é dizer pouco, já que os artigos de opinião deste jornal são, de longe, o seu argumento forte), publicou hoje um texto inspirado, que me emocionou profundamente. Quem ainda tem algum amor por este país Portugal deve ler isto.
O postal de Natal do astronauta Alexander Gerst.
Este vídeo condensa, numa sequência em time lapse de seis minutos, as 12.500 imagens fotográficas que Alexander Gerst pacientemente recolheu durante a sua estadia de seis meses na Estação Espacial Internacional.
O resultado é absolutamente magnífico. E, de certa forma, natalício.
segunda-feira, dezembro 22, 2014
Play around Australia.
Os meus amigos Susana Palma e JP Santos passaram um mês do outro lado do mundo. E este é o produto em vídeo, super-giro, que resultou da odisseia. Cinco estrelas.
sábado, dezembro 20, 2014
sexta-feira, dezembro 19, 2014
Poema do Natal no Estado Islâmico
Muahmmad, o tira-cabeças, sua as estopinhas.
O sol inclina-se já sobre o horizonte calado do deserto
mas ainda há muito que fazer.
Muhammad, o tira-cabeças, prefere enterrar crianças vivas,
mas hoje o Califa - Alá o proteja - decidiu dar novo préstimo
às suas reconhecidas qualidades.
Este biscate é mais cansativo e desagradável
que os trabalhos do costume. Muhammad prefere, de longe,
degolar jornalistas ocidentais.
Muhammad, o tira-cabeças, prefere mil vezes arrumar curdos
na vala comum (até porque isso dá direito, geralmente, a uma voltinha daquelas
com uma infiel bem escolhida).
Abu Bakr, o impiedoso - Alá abençoe o Califa - deu-lhe a ordem
e a Muhammad só resta cumprir, mas ainda assim,
preferia torturar dez xiitas.
Daqui a nada cai a noite e depois vai ser complicado
acertar com os pregos.
Muhammad, o tira-cabeças, já tem as mãos feridas, pelo repetir do martelo.
Os jornalistas ocidentais borram-se todos na altura do fim,
e choram como as crianças na vala não choram,
mas o que Muhammad não daria agora por esse cheiro a medo.
Enquanto, a esforço, prega mais um porco herético à cruz,
Muhammad, o tira-cabeças, pergunta-se:
mas onde foi o califa - Alá o salve de todo o mal - desencantar a madeira necessária
para pendurar tanto cristão?
---
Crucificações no Estado Islâmico
Eugène Delacroix, The Death of Sardanapalus, 1844, oil on canvas, 73,7 x 82,4 cm, The Philadelphia Museum of Art.
quarta-feira, dezembro 17, 2014
Mais importante que fuzilar crianças.
É com imensa tristeza e alguma indignação que constato que o Observador considera que as seguintes notícias são bem mais relevantes que o infame atentado em Peshawar:
(sic)
EUA abrem embaixada em Cuba.
Queda do Rublo leva a corrida às lojas.
Ricardo Salgado pior executivo de 2014.
Costa corrige declaração sobre Bloco Central.
Homicida manda a juízes postais das Caraíbas.
Os filmes da Disney matam. E não é pouco.
Fisco faz mega operação de controlo de inventários.
Kant ou Marx? Primeiras edições vão a leilão.
D'oh! Os Simpsnos fazem 25 anos.
O Terceiro "O Hobbit" ou o regresso à Terra Média.
Um Pai Natal assaltou um banco. E escapou.
Papel de Natal. Animação portuguesa e ecológica.
Segue-se a caixa "vaidades", que é de uma relevância jornalística extrema e só depois, quase no fim da página, é que lá se fala do crime hediondo, perpetrado na madrugada de hoje.
Este é o mundo manhoso a que me condenaram os deuses. Mas até quando, Pai Natal?
(sic)
EUA abrem embaixada em Cuba.
Queda do Rublo leva a corrida às lojas.
Ricardo Salgado pior executivo de 2014.
Costa corrige declaração sobre Bloco Central.
Homicida manda a juízes postais das Caraíbas.
Os filmes da Disney matam. E não é pouco.
Fisco faz mega operação de controlo de inventários.
Kant ou Marx? Primeiras edições vão a leilão.
D'oh! Os Simpsnos fazem 25 anos.
O Terceiro "O Hobbit" ou o regresso à Terra Média.
Um Pai Natal assaltou um banco. E escapou.
Papel de Natal. Animação portuguesa e ecológica.
Segue-se a caixa "vaidades", que é de uma relevância jornalística extrema e só depois, quase no fim da página, é que lá se fala do crime hediondo, perpetrado na madrugada de hoje.
Este é o mundo manhoso a que me condenaram os deuses. Mas até quando, Pai Natal?
O mal pelo mal.
Um só infeliz, em Sidney, e uns quantos bandidos em Peshawar, protagonizaram nas últimas horas o roteiro de sange dos jornais de todo o mundo. Sendo o sequestro de café um acto tresloucado sem grande significado para além da morte de dois reféns e da incrível displicência com que as autoridades australianas lidaram com Man Haron Monis (um fanático insandecido com um longo historial de fúrias e demências); a incrível barbaridade cometida hoje pelos Talibans no Paquistão é, porém, bem elucidativa sobre a natureza dos movimentos extremistas islâmicos que assolam o mundo, com crescente ambição, brutalidade e niilismo, desde o último quartel do Século XX.
Os simpáticos jihadistas entraram por uma escola a dentro e desataram simplesmente a fuzilar todos os alunos que encontraram. Resultado: 140 mortos, a maior parte adolescentes e crianças.
"'God is great,'" the Taliban militants shouted as they roared through the hallways of a school in Peshawar, Pakistan.
Then, 14-year-old student Ahmed Faraz recalled, one of them took a harsher tone.
" 'A lot of the children are under the benches,' " a Pakistani Taliban said, according to Ahmed. " 'Kill them.' "
Não há razão que justifique isto, a não ser a razão do mal pelo mal. E do seu poder inesgotável. E estes desgraçados exercem esse poder orgíaco porque podem. Porque nós deixamos.
Até quando, Pai Natal?
Os simpáticos jihadistas entraram por uma escola a dentro e desataram simplesmente a fuzilar todos os alunos que encontraram. Resultado: 140 mortos, a maior parte adolescentes e crianças.
"'God is great,'" the Taliban militants shouted as they roared through the hallways of a school in Peshawar, Pakistan.
Then, 14-year-old student Ahmed Faraz recalled, one of them took a harsher tone.
" 'A lot of the children are under the benches,' " a Pakistani Taliban said, according to Ahmed. " 'Kill them.' "
Início da reportagem de Sophia Salfi, CNN
Até quando, Pai Natal?
terça-feira, dezembro 16, 2014
Poema da companhia bandeira.
Se fosse eu a mandar, ah que volúpia,
vendia a TAP já
ao primeiro sucateiro que me aparecesse com uma nota de 50 euros.
E a única contrapartida do minimal caderno de encargos
era que o sucateiro transformasse já
a TAP em sucata.
E, claro, que despedisse aquela gente toda, especialmente os pilotos
(esses seriam despedidos já),
mas sem deixar, no fim, uma alminha com um emprego que fosse.
Mas sem deixar, no fim, alguém que pudesse fazer mais
uma puta de uma
greve.
vendia a TAP já
ao primeiro sucateiro que me aparecesse com uma nota de 50 euros.
E a única contrapartida do minimal caderno de encargos
era que o sucateiro transformasse já
a TAP em sucata.
E, claro, que despedisse aquela gente toda, especialmente os pilotos
(esses seriam despedidos já),
mas sem deixar, no fim, uma alminha com um emprego que fosse.
Mas sem deixar, no fim, alguém que pudesse fazer mais
uma puta de uma
greve.
segunda-feira, dezembro 08, 2014
Ver o que se quer ver em vez de ver o que lá está.
Para além da qualidade cinemática propriamente dita, o que me deslumbra neste filme que Danny Cooke realizou para a CBS e que rapidamente se disseminou nas redes sociais é o triunfo da natureza sobre as estruturas da civilização. Apesar do verde exuberante, o que lemos nas notícias e nos comentários relacionados com o filme demonstra a cegueira da maioria das pessoas em relação ao que é representado: fala-se de cinzentos, de apocalipses, de radiação, de morte, mas o que se vê não é isso. O que se vê é a natureza vigorosa e dominadora, que toma conta das avenidas, que invade os apartamentos, que esconde a decadência do horizonte urbano.
Os efeitos da radioactividade nos ecossistemas são motivo para acessas polémicas na comunidade científica há já muitos anos, e não quero neste momento entrar por aí, mas o que podemos constatar nestas belíssimas imagens da cidade fantasma de Pripyat é que, pelo menos no que diz respeito à flora, o meio ambiente manifesta-se bastante indiferente ao desastre de Chernobil. Como invariavelmente se constata, a natureza é muito mais resistente do que parece. E as estruturas da realização humana são sempre mais frágeis do que julgamos.
segunda-feira, dezembro 01, 2014
Um futuro exuberante.
Esta deve ser a mais bela curta de ficção científica que já vi na vida. Um filme de Erik Wernquist, narrado por Carl Sagan, para ver em full screen e HD, por favor.
Afeganistão: um testemunho crucial.
Lara Logan, a célebre correspondente de guerra da CBS que passou largos anos no Afeganistão, diz aqui, numa versão consensada do seu depoimento de 2012 em Chicago, muito do que é preciso ser dito sobre a infâmia da retirada das forças militares ocidentais deste palco estratégico para o combate ao terrorismo islâmico. Um testemunho eloquente e conclusivo sobre o carácter (ou a ausência dele) da presente - e moribunda - administração americana.
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