segunda-feira, setembro 21, 2015

Trump e a impossibilidade.

Convenhamos: ninguém quer Donald Trump como triunfador nas primárias republicanas.
E muito menos como candidato independente nas presidenciais. Aliás, o pesadelo de todos os maus sonhos seria acabar com o homem como presidente destes já muito deprimidos Estados Unidos.

Ainda assim, importa registar uns quantos fenómenos poltergeist, que me parecem relevantes:

- Trump admite que a América já perdeu o seu estatuto de máxima potência imperial. E promete recuperá-la. É, aliás, esta a mensagem central. É o slogan da campanha. Mas não é verdade. Os EUA continuam, nos índices que realmente contam para o totobola imperial, a constituir a primeira nação do mundo. Mas ainda assim, parece que há muitos americanos que acreditam na falácia. Ou acreditam que, através do seu autor, podem prevenir a queda do império, essa sim, objectivamente previsível.

- Trump está a pagar a sua própria campanha. Isso permite-lhe uma margem de manobra enorme, em relação à concorrência. Há aqui uma liberdade de agenda que é nova e é estranha à democracia americana. O homem pode dizer mais disparates do que é costume entre os candidatos, mesmo os mais imbecis. Mas também pode meter fundo os punhos na ferida em carne viva da América decadente e descendente de Barak Obama. E, assim, captar a frustração e a imaginação de milhões de americanos. A celebridade de reality show pode ascender a populista de águas profundas. A isto chamam os anglo-saxónicos, uncharted territory.

- Trump é o candidato de direita com melhor imprensa desde Reagan. Não que isso fosse preciso. A sua conta no twiter, só por si, vale por não sei quantas primeiras páginas de jornais e muitos milhões de dólares em anúncios televisivos. Além disso, trata-se de um personagem hollywodesco e até a imprensa de esquerda americana é seduzida pelo espectáculo. Trump diz e faz coisas que resultam em generosas audiências. É impossível evitar a sua panache de artista pop, mesmo que se trate de um tipo medíocre tanto intelectual como ideologicamente.

- Na direita republicana mais esclarecida chamam-lhe Donald Mcdonald. E creio que até o Tea Party está preocupado com este palhaço da grande hamburgaria que é a América contemporânea. Mas, em última análise, no cenário mais arrepiante, irá o congresso eleitoral republicano eleger este eterno despenteado mental como candidato às presidenciais? Duvido muito.

O meu candidato é, claro, Jeb Bush. Mas olhando para as sondagens, parece que vou ter um desgosto.