domingo, outubro 03, 2021

Mentir (com os dentes todos) em Ciência. A Fusão Nuclear como caso de estudo.

Uma das mais flagrantes petas da Ciência contemporânea é perpetrada a propósito da Fusão Nuclear. E, mais uma vez, a descarada mentira não tem origem na imprensa (apesar da sua conivência entusiasta e ignorante). São mesmo os cientistas que estão a mentir. Há décadas que mentem. Até porque se não mentissem, as suas carreiras estariam arruinadas.

Para abordar convenientemente este tema, há no entanto que começar por esclarecer a diferença entre Fusão Nuclear e Fissão Nuclear, que cria alguma confusão entre os públicos leigos.

Fissão Nuclear é o processo de geração de energia a partir da divisão de um átomo pesado em dois átomos mais leves (geralmente utilizando urânio). Esta tecnologia é, desde a segunda metade do século XX, completamente dominada pela indústria humana, que a adaptou para uso militar e civil (bombas atómicas, centrais nucleares, sistemas propulsores para foguetões, sistemas de geração de energia para submarinos e porta-aviões, etc., etc.). A fissão do núcleo do átomo liberta um milhão de vezes mais energia que qualquer reacção química, apresenta como subproduto uma quantidade significativa de partículas radioactivas e não ocorre na natureza (ou ocorrerá muito raramente). É um artifício da inventiva humana que decorre dos cálculos matemáticos de gente tão ilustre como Albert Einstein e Max Planck.

Fusão Nuclear é o processo praticamente inverso ao da fissão e consiste na geração de energia a partir da consolidação de dois átomos leves num átomo mais pesado (geralmente utilizando hidrogénio). Esta é uma tecnologia em fase experimental. A fusão nuclear liberta três a quatro vezes mais energia que a fissão nuclear, não produz partículas radioactivas e ocorre na natureza (é o mecanismo básico de criação de energia nas estrelas).

Acontece que este processo, se bem que promissor teoricamente, implica a criação de um ambiente de alta densidade e altas temperaturas e um input energético extremamente alto, de forma a que os protões superem a sua repulsão electrostática e colidam.

E é aqui que tudo se complica. Os projectos experimentais dedicados à Fusão Nuclear apresentam historicamente resultados negativos, consumindo mais energia do que aquela que é produzida. E as excepções a esta regra, mais recentes, apresentam resultados positivos que são operacionalmente negligenciáveis.

Acontece porém que as notícias que saem a público sobre este assunto, tanto como as propostas de financiamento apresentadas a investidores públicos e privados, prometem resultados delirantes, que não concordam com a realidade presente nem com as expectativas futuras. E isto é feito com recurso à mais básica manipulação dos dados que se possa imaginar e, por isso, muito fácil de desconstruir.

Imaginemos um dado projecto experimental de Fusão Nuclear. Este projecto, para conseguir fundir dois átomos num só, implica um dispêndio total de energia X (em que X é igual a 100MW). Mas deste total despendido só uma fracção de X, que dominamos para este caso como Y (em que Y é equivalente a 80MW), chega ao plasma onde a fusão é gerada. Vamos também admitir que em resultado da fusão, obtemos um valor energético de Z, (em que Z corresponde a 81MW).

Ora, o que os cientistas que lideram este hipotético projecto vão anunciar à imprensa e aos investidores não é o diferencial entre X e Z, que será negativo em 19MW. O que vão publicar e divulgar é o diferencial entre Y e Z, que será positivo em 1MW.

Ou seja, o projecto gastou de facto 100MW para criar 81MW. Mas é vendido como tendo gasto 80MW para criar 81MW.

O que é inacreditável aqui é que esta batota flagrante, que qualquer criança consegue desvendar através de um cálculo aritmético de segunda classe, funciona lindamente, e há várias décadas. Apesar dos resultados entre X e Z continuarem a ser desoladores, os avultados recursos financeiros continuam a fluir, a boa imprensa persiste e as carreiras académicas mantêm-se a bom nível de fama e proveito.

Mais grave ainda: enquanto este lamentável e equivocado status quo permanecer, não se resolvem as questões fundamentais do processo, a saber:
1 - Como limitar, reduzir ou anular o desperdício de energia que encontramos entre X e Y;
2 - Como optimizar o diferencial ente X e Z;
3 - Como definir o grau de eficiência de todo o processo, estabelecendo ou recusando a sua viabilidade técnica;
4 - Como adaptar o processo à utilização industrial.


A sempre corajosa e desassombrada Sabine Hossenfelder articula o assunto com a competência que eu não tenho, arriscando muito da sua carreira pelo simples facto de falar verdade.



E é como sempre digo: se a Ciência chega a este obsceno e manhoso ponto de falsidade, como é que querem as "autoridades" que a malta obedeça aos mandatos científicos?

Só com muita fé. Porque pela razão (e pela moral, já agora), não chegam lá.