Estou sempre a dizer mal do YouTube (no sentido do seu mandato censório), mas também é verdade que a maldita máquina tem coisas porreiras como o diabo: Pierre Hantai a tocar as Variações, por exemplo.
J. S. Bach . Pierra Hantai . Variações de Goldberg
segunda-feira, julho 30, 2018
domingo, julho 29, 2018
Afinal a frase do mês é esta:
"A nossa gloriosa nação está nas mãos de criaturas cuja competência não as prepara sequer para gerir um galinheiro, e cujo carácter aconselha a que não sejam deixadas a sós com as galinhas."
Alberto Gonçalves . Observador . As Vozes e os Donos
Alberto Gonçalves . Observador . As Vozes e os Donos
sábado, julho 28, 2018
Tour de Force.
A centésima quinta edição do Tour de France não tem fugido à regra sobre-humana: trata-se de uma competição dura como o diabo. Uma prova de resistência física e resiliência anímica que é pura e simplesmente brutal. E, parece-me a mim, que sigo atentamente esta prova há uns bons 25 a 30 anos, está a ficar cada vez mais brutal.
Este ano as coisas começaram a aquecer logo na primeira etapa, que apesar do seu perfil plano, apesar do seu carácter pacífico de introdução ao inferno, fez com que Chris Froome perdesse logo cerca de 50 segundos. Com o decorrer das semanas, e com excepção de Geraint Thomas, o mais que provável vencedor em Paris, no próximo domingo, todos os favoritos tiveram problemas mecânicos, quedas, distracções, noites mal passadas, problemas nutricionais, disfunções gástricas, abruptas falências de energia, precalços de vária ordem e dias maus que os levaram a perder segundos e minutos, quando não obrigaram ao abandono, como aconteceu com os infortunados Vicenzo Nibali e Richie Porte.
Quando chegaram as primeiras montanhas, a corrida já tinha sido de tal forma implacável que os sprinters entraram em debandada. Na verdade, este Tour vai chegar ao fim com um sprinter de elite apenas: Arnaud Démare (não considero Peter Sagan um sprinter puro). Foi muito difícil aguentar o ritmo a que seguiu geralmente o pelotão, mesmo em etapas menos agressivas. Aliás e paradoxalmente, este nem foi o traçado mais exigente, no sentido montanhoso da palavra, dos últimos anos, pelo contrário. O problema é que o ciclismo internacional mudou muito desde que Lance Armstrong conseguiu demonstrar com factos que um rolador típico, se perder um pouco de peso, pode perfeitamente ser um campeão nas estradas da Gália. E estes roladores, contrarelogistas de gema, andam depressa em todo o lado: no plano, no falso plano, no plano inclinado para cima, no plano inclinado para baixo e no plano cronometrado. O Tour ainda não acabou e amanhã há um contrarelógio determinante para a classificação final, mas estou razoavelmente seguro que Geraint Thomas, Tom Dumoulin, Primoz Roglic e Chris Froome serão, por esta ordem, os quatro primeiros. Quatro contrarelogistas que dominam a montanha. Nairo Quintana, o prototipo do trepador que aqui há uns 20 anos atrás seria o crónico vencedor do Tour, está neste momento em nono na classificação geral, a mais de dez minutos do líder. E num estado físico e psiquíco que dá pena.
Este pódio será também um dos mais surpreendentes da história centenária do Tour de France: ninguém pensava que, com Chris Froome como líder natural da Sky, fosse o seu compatriota Geraint Thomas a dominar a prova. Ninguém pensava que Tom Dumoulin sozinho (a SunWeb como equipa vale muito pouco ou quase nada) e depois do esforço épico que fez, também sozinho, no Giro de Itália, fosse capaz de mais uma epopeia de esforços (é actualmente o meu ciclista preferido). Ninguém esperava, por fim, que o fabuloso Primoz Roglic, que até 2012 foi atleta de saltos de esqui (campeão do mundo de juniores em 2011) e que só começou a ser levado a sério no pelotão a partir do Giro de 2016, desse a luta brava e rija que está a dar a toda a gente.
A etapa de hoje, a última de montanha em linha, somava uns belos 200 kms de tortura nos Pirenéus, contando com dois prémios de quarta categoria, um prémio de segunda categoria, outro de primeira categoria e dois de categoria especial, os simpáticos e acessíveis cumes de Tourmalet (2115 metros de altitude) e Aubisque (1719 metros de altitude). Os atletas que ainda tinham alguma coisa para ganhar atacaram-na com sangue nos dentes, fogo nos pulmões e pernas de aço. E foi um espectáculo. Um tour de force intenso e dramático, com toda a gente a atacar toda a gente, doses generosas de transcendência atlética e abundantes rodadas da mais pura determinação.
Se o sr. Christian Prudhomme, o infeliz director da prova, tivesse resistido à sua imaginação delirante e a alguma negligência natural, cedências que levaram a episódios tão tristes e ridículos que nem vale a pena relatá-los, este teria sido um dos Tours mais bonitos que já vi. Assim sendo, foi meramente magnífico.
E ainda há gente que gosta de futebol.
sexta-feira, julho 27, 2018
Um pequeno mar, uma grande descoberta.
Não é um dado surpreendente, porque existiam já fortes indícios da presença de massas aquíferas em Marte, mas agora já temos a certeza científica. Num artigo da Science deste mês, uma equipa de cientistas italianos liderada por Roberto Orosei, usando o radar MARSIS instalado na sonda orbital Mars Express, obteve dados inquestionáveis sobre a presença de um lago de água salgada, com cerca de 20 kms2, por baixo da superfície rochosa do planeta.
Desta boa notícia tiram-se duas conclusões imediatas, sendo a primeira esta: a colonização de Marte torna-se bem mais viável se, perfurando apenas mil e quinhentos metros, encontrarmos água (que podemos dessalinizar e utilizar para hidratação, higiene e rega, bem como transformar em energia através da fusão do hidrogénio). Mas talvez mais importante é a segunda conclusão: se há água, haverá também, muito provavelmente, vida orgânica, mesmo que microbiótica. É claro que, para a água se conservar em estado líquido a temperaturas bem abaixo do zero centígrado, terá que ter componentes químicos que dificultam a mecânica biológica como a conhecemos na Terra. Mas nada nos garante que os organismos celulares de Marte obedeçam exactamente às leis que imperam no nosso planeta. Pelo contrário. E assim, está tudo em aberto. Até porque, se existir vida em Marte, que está aqui logo ao lado, torna-se evidente que se trata de um fenómeno muito mais prolixo e exuberante no cosmos do que pensamos.
Está para breve, talvez, o fim da solidão a que até agora nos condenaram os deuses.
quinta-feira, julho 26, 2018
Pela Estrada Fora #08
Trás-Os-Montes. Subo por uma estrada de terra que acaba em lado nenhum. No cimo do ermo, o silêncio.
quarta-feira, julho 25, 2018
Factos, factos e mais factos
para acabar de vez com o mito de que o Partido Democrata é o grande defensor dos "civil rights" nos Estados Unidos da América:
A Segunda Guerra Civil Americana, outra vez.
Voltando a este assunto, recorrente aqui no blog, eis um vídeo que tenta sintetizar - e simplificar - as ameaças que concorrem para a guerra civil que Dennis Prager afirma já ter começado.
Anti-Festivais #04
Estes nem precisam de legenda. São, literalmente, bestiais.
Glass Animals . Hazey
Glass Animals . Hazey
A verdadeira escala do Sistema Solar.
Há uma verdade inquestionável, dita logo no início deste pequeno documentário: é muito difícil desenhar ou construir um modelo à escala, minimamente rigoroso, do Sistema Solar, pela simples razão de que o espaço entre os corpos celestes é de tal forma imenso, que os planetas, para serem vistos e identificados têm sempre que ser representados fora de escala, muito maiores do que são na realidade em relação ao diâmetro das suas órbitas.
Confrontados com este difícil problema, Wylie Overstreet e Alex Gorosh foram para o deserto de Black Rock, no Nevada, onde há espaço suficiente para a representação rigorosa e proporcional do Sistema Solar. O resultado é ciência, pura e dura.
Confrontados com este difícil problema, Wylie Overstreet e Alex Gorosh foram para o deserto de Black Rock, no Nevada, onde há espaço suficiente para a representação rigorosa e proporcional do Sistema Solar. O resultado é ciência, pura e dura.
segunda-feira, julho 23, 2018
Jordan Peterson na PragerU
Em cinco minutos, quase tudo o que precisa ser dito sobre o deplorável estado ideológico das academias no Ocidente.
sábado, julho 21, 2018
Frase do mês:
"If religion is the opiate of the masses, communism is the methamphetamine of the masses."
Jordan Peterson
Jordan Peterson
O novo fascismo americano.
Um dos fenómenos mais aflitivos do Século XXI é o poder censório, o maniqueísmo fascistóide, dos gigantes de Silicon Valley. Sem saber ler nem escrever (quero eu dizer: sem preparação técnica nem legitimidade política), estes nerds ficaram de repente donos e senhores dos grandes motores da comunicação contemporânea e fazem o que muito bem entendem com as suas imensas máquinas de informação e conectividade.
O que se está a passar no Youtube, só para dar um exemplo de uma marca que é propriedade dessa máfia sinistra a que costumamos chamar Google, é absolutamente escandaloso. Por razões estritamente políticas, os rapazinhos eliminam vídeos a uma escala devastadora e terminam páginas por dá cá aquela palha, aniquilando qualquer vestígio de liberdade de opinião e impondo uma draconiana disciplina do politicamente correcto (que, nos tempos que correm, é o politicamente escabroso).
Filólogos são censurados (como Steven Pinker), Psicólogos são censurados (como Jordan Peterson), cientistas políticos são censurados (como Ben Shapiro), jornalistas são censurados (como Sean Hannity), humoristas são censurados (como Pat Condell), cineastas são censurados (como Basseley Nakoula); enfim, toda a gente que tenha qualquer coisa a dizer que não conste da norma esquerdista do eixo industrial São Francisco-Seatle, é banido, silenciado, feito desaparecer.
O caso paradigmático que trago ao blog como exemplo é a plataforma PragerU. Organização conservadora de carácter pedagócio a Prager University é um exemplo de decência de opinião e de liberdade de pensamento. Os vídeos têm um carácter pedagógico e são tudo menos incorrectos ou obscenos ou violentos ou pornográficos ou fraudulentos. Ainda assim, quem manda no YouTube decidiu eliminar cerca de 40 vídeos, sim - 40 vídeos, da página que a organização mantém neste servidor. Segundo os responsáveis do gigante americano, estes vídeos foram considerados impróprios para os jovens. Garanto-te, gentil leitor, que se visitares a página de que falo, vais perceber rapidamente que a única impropriedade aqui é a aterradora atitude dos censores. Mais nada, rigorosamente mais nada.
É claro que este zelo fascista seria apenas ridículo se existisse algo parecido com concorrência. Mas a Google, como qualquer organização totalitária, não gosta de concorrência e compra tudo o que tem significado, no seu espectro de mercado (o YouTube foi comprado em 2006 a Chad Hurley e Steve Chen, criadores do serviço, e até o servidor deste Blog foi adquirido pela Google, em 2003). O polvo está em toda a parte, silenciando toda a gente, controlando todas as opiniões, formando o pensamento de milhões e milhões de jovens com a cartilha chegavarista e as inacreditáveis políticas de identidade que estão hoje profundamente inculcadas numa boa parte da esquerda americana. É assustador. E extremamente perigoso.
quinta-feira, julho 19, 2018
Anti-Festivais #03
Ao contrário do que já aconteceu com esta banda, postada aqui no blog no momento em que um novo disco tinha acabado de sair da casca, este trabalho dos Mystery Jets é de 2010. Mas tem funcionado admiravelmente como um shot de serotonina sobre os meus dias de agora.
Mystery Jets . Serotonin
Mystery Jets . Serotonin
A República como uma conspiração de estúpidos.
Nas notícias de hoje, leio que o sr. Dr. Manuel Pinho, que foi a uma comissão de inquérito do parlamento para explicar o inexplicável, não explicou coisa nenhuma. Porque pode. Não explica e não lhe acontece nada. Antes de ter ido ao parlamento tinha passado descontraidamente pelo DCIAP onde também conseguiu, impunemente, ficar caladinho que nem um rato (se calhar até fez uns corninhos aos procuradores). As comissões de inquérito do Parlamento desta República são trágico-cómicas. E não servem rigorosamente para nada. Mas quando até o DCIAP é impotente para ao menos conseguir interrogar, com eficácia, um evidente suspeito de burla milionária e descarada, torna-se bem evidente o caos judiciário em que o País se encontra a naufragar.
Leio também, ignorando o mal-estar que se insinua pelos poros todos da sensibilidade, sobre os militares da GNR que se recusam a multar os cidadãos à fartazana (aqueles que multam só de vez em quando, quando a lei e o bom senso assim o exigem). Parece que esses honestos tropas que se mostram incapazes de colaborar massivamente para o bolo tributário do Ministério das Finanças, costumam ir ao castigo. De tal forma que andam revoltados com os castigos a que vão. A maior parte dos ladrões têm o pudor da subtileza e preferem o anonimato. O Estado Português não. Rouba com toda a ganância, com todo o estardalhaço possível, de tal forma que até castiga aqueles que se recusam a roubar. É espantoso: o regime objectiva de facto transformar as polícias em coercivos agentes do fisco, uma espécie de PIDE do tributo, e os portugueses não parecem assim tão incomodados com isso.
Leio ainda - e já a sentir dores de vária ordem em todo o organismo físico-psíquico - que há 23 ex-gestores do BPN a quem o Estado acabou de oferecer 23 magníficos automóveis topo de gama. Reconhecida pela competência rara destes 23 executivos que levaram brilhantemente o banco à falência, a República retribui com generosidade: alguns deles continuam a auferir salários que são superiores ao rendimento mensal que é pago a Marcelo Rebelo de Sousa, pelo facto maçador de ser o Chefe de Estado. Hã?
Por fim, num último e desesperado sacrifício das minhas forças, leio que o Ministério da Educação decidiu que Eça de Queiroz é uma seca para os putos. E que não vale mesmo a pena impingir Os Maias às pobres criaturas que frequentam os liceus públicos. É preferível que leiam outras coisas de superior interesse, como romances da Marvel, sinopses do PornHub e a lírica do jornal Record.
Devo confessar que estas quatro patológicas leituras provocaram-me uma carga eléctrica de arrepios na alma, dois relapsos cardíacos, 4 alergias de espírito e uma constipação agravada nos brônquios do intelecto. Os factos são completamente sintomáticos da estupidez que reina, alarve e predadora, por esta República fora. E a estupidez, meus amigos, é endémica. Eu, por exemplo, fiquei completamente estupidificado de ser português.
Leio também, ignorando o mal-estar que se insinua pelos poros todos da sensibilidade, sobre os militares da GNR que se recusam a multar os cidadãos à fartazana (aqueles que multam só de vez em quando, quando a lei e o bom senso assim o exigem). Parece que esses honestos tropas que se mostram incapazes de colaborar massivamente para o bolo tributário do Ministério das Finanças, costumam ir ao castigo. De tal forma que andam revoltados com os castigos a que vão. A maior parte dos ladrões têm o pudor da subtileza e preferem o anonimato. O Estado Português não. Rouba com toda a ganância, com todo o estardalhaço possível, de tal forma que até castiga aqueles que se recusam a roubar. É espantoso: o regime objectiva de facto transformar as polícias em coercivos agentes do fisco, uma espécie de PIDE do tributo, e os portugueses não parecem assim tão incomodados com isso.
Leio ainda - e já a sentir dores de vária ordem em todo o organismo físico-psíquico - que há 23 ex-gestores do BPN a quem o Estado acabou de oferecer 23 magníficos automóveis topo de gama. Reconhecida pela competência rara destes 23 executivos que levaram brilhantemente o banco à falência, a República retribui com generosidade: alguns deles continuam a auferir salários que são superiores ao rendimento mensal que é pago a Marcelo Rebelo de Sousa, pelo facto maçador de ser o Chefe de Estado. Hã?
Por fim, num último e desesperado sacrifício das minhas forças, leio que o Ministério da Educação decidiu que Eça de Queiroz é uma seca para os putos. E que não vale mesmo a pena impingir Os Maias às pobres criaturas que frequentam os liceus públicos. É preferível que leiam outras coisas de superior interesse, como romances da Marvel, sinopses do PornHub e a lírica do jornal Record.
Devo confessar que estas quatro patológicas leituras provocaram-me uma carga eléctrica de arrepios na alma, dois relapsos cardíacos, 4 alergias de espírito e uma constipação agravada nos brônquios do intelecto. Os factos são completamente sintomáticos da estupidez que reina, alarve e predadora, por esta República fora. E a estupidez, meus amigos, é endémica. Eu, por exemplo, fiquei completamente estupidificado de ser português.
domingo, julho 15, 2018
Trump em Buckingham ou a diferença entre História e Jornalismo.
Na Europa, só os presidentes americanos oriundos do Partido Democrata são recebidos sem protestos. Registando apenas o tempo da minha vida, Nixon, Ford, Reagan e os dois Bush sempre foram vistos no velho continente como representantes de Satanás. A seu favor, podemos dizer que Trump, que nem é bem um republicano, está a honrar os pergaminhos desses ilustres personagens da história contemporânea. A qualquer lado que vá na Europa, logo se levanta a turba indignada: de nazi a atrasado mental, não há epíteto que deixe de ser cuspido sobre o chão que o actual Presidente dos Estados Unidos da América tenha pisado ou vá a pisar.
Para esta multidão equivocada de enervados da vida, Trump é, como Reagan e Bush filho, um bruto, um ignorante e um neo-liberal sem escúpulos. Trump é, como Nixon e Bush pai, um fascista manhoso tanto como um perigoso belicista.
Na verdade, o magnata é, de facto, o pior de todos eles, sem comparação. Mas para a esquerda europeia cabem todos no mesmo saco do anti-americanismo mais básico - e néscio - que podemos imaginar. Ao aviltar Trump como aviltavam os outros (grandes) presidentes republicanos, o que esta gente está a fazer afinal é a sobrevalorizar o actual inquilino da Casa Branca.
É claro que Donald Trump se coloca muita a jeito da caricatura, conforme o desastrado encontro de ontem com a Rainha Elisabeth bem demonstra. Mas lembro-me perfeitamente do momento, também desastroso, em que os obamas foram recebidos pela venerável senhora. Nessa altura, Michelle Obama decidiu que era boa ideia abraçar a Rainha. Não é preciso ser um perito em protocolo para se saber que o contacto físico com a detentora da coroa inglesa é absolutamente interdito. Nada do que hoje fez Trump, apesar de toda a sua falta de jeito - e de educação, já agora - se compara à obscenidade desse abraço. Mas claro que a imprensa tratou esse episódio de maneira muito mais complacente do que está agora a tratar este. E não é por ignorância de nada. É pela politização de tudo. Se calhar, isto é normal: uma coisa é a História, que o tempo ajuda a tornar factual. Outra é o Jornalismo, que não deixará nunca de ser uma ficção comercialmente orientada (na sua melhor acepção) ou uma narrativa imediatista, para a volátil manipulação da opinião pública (no pior dos casos).
Como há uma década atrás aqui tentei explicar (ponto 3 do extenso post), o ódio que grande parte dos europeus nutrem pelos presidentes americanos de direita é difícil de explicar à luz da lógica e da história. Não querendo voltar ao assunto, deixo aqui, porém, um contributo estatístico que desmonta completamente a vertente belicista de que são muitas vezes acusados os presidentes republicanos. Ao contrário do que é popularmente aceite como verdadeiro, são geralmente os presidentes democratas que começam as guerras que os Estados Unidos travam pelo mundo, sendo frequentemente os presidentes republicanos que as terminam. Eis uma lista dos principais eventos bélicos em que os Estados Unidos se envolveram nos séculos XX e XXI (as datas referem-se à entrada dos EUA nos conflitos):
Ocupação da Nicarágua
Início - 1913 - Presidente em cargo - William Howard Taft (R)
Fim - 1933 - Presidente em cargo - Herbert Hoover (R)
Ocupação da Veracruz
1914 - Presidente em cargo - Woodrow Wilson (D)
Ocupação do Haiti
Início - 1915 - Presidente em cargo - Woodrow Wilson (D)
Fim - 1934 - Presidente em cargo - Franklin D. Roosevelt (D)
Ocupação da República Dominicana
Início - 1916 - Presidente em cargo - Woodrow Wilson (D)
Fim - 1924 - Presidente em cargo - Calvin Coolidge (R)
Primeira Guerra Mundial
Início - 1916 - Presidente em cargo - Woodrow Wilson (D)
Fim - 1924 - Presidente em cargo - Woodrow Wilson (R)
Segunda Guerra Mundial
Início - 1916 - Presidente em cargo - Franklin D. Roosevelt (D)
Fim - 1924 - Presidente em cargo - Harry S. Truman (D)
Guerra Fria
Início - 1945 - Presidente em cargo - Harry S. Truman (D)
Fim - 1989 - Presidente em cargo - Ronald Reagan (R)
Guerra da Coreia
Início - 1950 - Presidente em cargo - Harry S. Truman (D)
Fim - 1953 - Presidente em cargo - Dwight D. Eisenhower (R)
Invasão da Baía dos Porcos
1961 - Presidente em cargo - John F. Kennedy (D)
Guerra do Vietname
Início - 1963/65 - Presidente em cargo - John F. Kennedy (D) / Lyndon B. Johnson (D)
Fim - 1973 - Presidente em cargo - Richard Nixon (R)
Guerra do Cambodja
Início - 1967 - Presidente em cargo - Lyndon B. Johnson (D)
Fim - 1975 - Presidente em cargo - Gerald Ford (R)
Guerra do Cambodja
Início - 1967 - Presidente em cargo - Lyndon B. Johnson (D)
Fim - 1975 - Presidente em cargo - Gerald Ford (R)
Invasão do Panamá
Início - 1989 - Presidente em cargo - George H. W. Bush (R)
Fim - 1990 - Presidente em cargo - George H. W. Bush (R)
Invasão do Panamá
Início - 1989 - Presidente em cargo - George H. W. Bush (R)
Fim - 1990 - Presidente em cargo - George H. W. Bush (R)
Guerra do Golfo
Início - 1990 - Presidente em cargo - George H. W. Bush (R)
Fim - 1991 - Presidente em cargo - George H. W. Bush (R)
Guerra da Somália
Início - 1993 - Presidente em cargo - Bill Clinton (D)
Fim - 1995 - Presidente em cargo - Bill Clinton (D)
Guerra da Bósnia
Início - 1994 - Presidente em cargo - Bill Clinton (D)
Fim - 1995 - Presidente em cargo - Bill Clinton (D)
Guerra do Kosovo
Início - 1998 - Presidente em cargo - Bill Clinton (D)
Fim - 1998 - Presidente em cargo - Bill Clinton (D)
Guerra do Afeganistão
Início - 2001 - Presidente em cargo - George W. Bush (R)
O conflito ainda decorre.
Guerra do Iraque
Início - 2003 - Presidente em cargo - George W. Bush (R)
Fim - 2011 - Presidente em cargo - Barack Obama (D)
Intervenção na Líbia
2011 - Presidente em cargo - Barack Obama (D)
Intervenção na Síria
Início - 2014 - Presidente em cargo - Barack Obama (D)
O conflito ainda decorre.
Os presidentes republicanos começaram 6 conflitos e terminaram 12.
Os presidentes democratas iniciaram 16 conflitos e terminaram 9.
Estes últimos são responsáveis pelo início das guerras mais mortíferas: A Primeira e a Segunda guerras mundiais, a Guerra da Coreia e a Guerra do Vietname.
É importante referir que quem decidiu largar as 2 bombas atómicas no Japão foi um presidente democrata - Truman - e que foi também Truman (muito ajudado pela prévia inocência de Roosevelt, outro democrata) que permitiu o cenário de pós-guerra que levou à Guerra Fria, terminada, quarenta e tal anos depois, com uma vitória, pacífica e brilhante, de um presidente Republicano - Reagan.
Um última nota: o momento em que a raça humana esteve mais perto da extinção, desde que o Sapiens é Sapiens, foi no mandato de J. F. Kennedy, um presidente democrata, durante a célebre crise dos Mísseis de Cuba (episódio que, felizmente, não consta da lista de conflitos).
sábado, julho 14, 2018
Anti-Festivais #02
Ten Fé. Não sei de onde vêm nem para onde vão. Não sei onde diabo foram arranjar este nome nem desencantar o talento imenso. Só sei isto: este disquinho "Hit the Light", lançado em 2017, é uma obra de veludo; um suave, mas intenso, manifesto pop.
Ten Fé . Turn
Ten Fé . Turn
O estranho caso do clube que não sabe dar valor ao que tem de melhor.
O Real Madrid é um clube estranho. Tão estranho que deixou o seu melhor jogador de sempre ir embora como se nada fosse. Tão estranho que acaba de oferecer à Juventus, um rival directo, uma máquina de fazer golos e outra de fazer dinheiro, numa só e baratinha embalagem. A venda de Cristiano Ronaldo por 100 milhões de euros dá vontade de rir. Só ontem, em camisolas da Velha Senhora com o número sete, a Juve facturou 57 milhões. Em 24 horas, o retorno ao investimento superou os 50%. São números à CR7.
Quando for grande, o Florentino Perez deve querer ser uma espécie de Bruno de Carvalho.
Quando for grande, o Florentino Perez deve querer ser uma espécie de Bruno de Carvalho.
terça-feira, julho 10, 2018
Pela Estrada Fora #07
Outra vez na Arrábida. O dia de primavera não trouxe turistas e assim, faço algum uso dos 230 cavalos.
Cidadão Sebastião #03
- Viva, bom dia.
- Muito bom dia, em que posso ser de serviço?
- Recebi uma multa de 150 imperadores de ouro, por ter passado na Hiper-Via Marte-Saturno sem ter pago a portagem.
- Ah, muito bem, acontece. Como deseja proceder ao pagamento?
- O caso é que não desejo proceder a pagamento algum.
- Como lhe aprouver, cidadão, mas devo alertá-lo para as coimas acrescidas e a subida da taxa de juro, caso não respeite o prazo de pagamento estabelecido.
- Oiça, trata-se com certeza de um equívoco. Eu nunca transitei nesta via.
- Talvez o cidadão não o tenha feito, de facto. A ocorrência deu-se com a viatura intra-estelar ligeira de passageiros de matrícula 45-OS-32. Talvez a sua esposa tenha usado a viatura nesse dia?
- Meu amigo, eu sou viúvo. Não tenho filhos. Vivo sozinho e não possuo qualquer viatura intra-estelar. Desloco-me de bicicleta.
- Certo, certo, e pode por favor indicar-me a matrícula da sua bicicleta?
- Com certeza. É 45-0Z-32. Mas não vejo como...
- É muito simples cidadão. O instrumento de leitura óptica da portagem instalada na Hipervia Marte-Saturno registou equivocamente um S no lugar do correcto Z. Como disse que desejava liquidar a notificação?
- Vamos lá ver se nos entendemos: eu não transitei na hipervia em questão nem de viatura intra-estelar nem de bicicleta, da qual sou, aliás, o único proprietário e utilizador. E, assim, não vejo porque devo pagar qualquer multa.
- Cidadão, estou apenas a tentar ajudar. Os factos permanecem: o cidadão foi notificado. É necessário liquidar a coima. As regras são para cumprir. A companhia é muito rigorosa na igualdade do cidadão perante a lei. E vice versa. Penso que, se o cidadão admitir que se fazia transportar de bicicleta, poderemos reduzir em cerca de 30% o valor da coima, ao abrigo da Acta Para os Cidadãos Ciclo-Turistas em Trânsito no Sistema Solar. Embora isto nos levante um outro problema.
- Que é...
- O cidadão que viaja de bicicleta na Hipervia Marte-Saturno deve transitar pelo ciclo-eixo dedicado. Ora, parece-me que a notificação diz respeito a uma portagem de veículos intra-estelares ligeiros. Esta situação é passível de uma coima que pode atingir os 32.000 imperadores de prata.
- Deuses de toda a galáxia, mas se eu nunca transitei nessa maldita hipervia!
- Não estou a colocar em dúvida a palavra do cidadão, que é seguramente honorável. Porém o facto permanece. Aceitamos cheques, mas há custos de inquérito de provisão que acrescem...
- Se não há remédio, pago. Mas vou recorrer.
- Concerteza cidadão, é um direito devidamente consagrado pela Carta dos Direitos do Utilizador das Hipervias Celestes, mas devo alertá-lo que o Tribunal da Circulação Cósmica está neste momento paralisado devido ao excesso de processos com origem no colapso do Nó de Plutão.
- Muito bom dia, em que posso ser de serviço?
- Recebi uma multa de 150 imperadores de ouro, por ter passado na Hiper-Via Marte-Saturno sem ter pago a portagem.
- Ah, muito bem, acontece. Como deseja proceder ao pagamento?
- O caso é que não desejo proceder a pagamento algum.
- Como lhe aprouver, cidadão, mas devo alertá-lo para as coimas acrescidas e a subida da taxa de juro, caso não respeite o prazo de pagamento estabelecido.
- Oiça, trata-se com certeza de um equívoco. Eu nunca transitei nesta via.
- Talvez o cidadão não o tenha feito, de facto. A ocorrência deu-se com a viatura intra-estelar ligeira de passageiros de matrícula 45-OS-32. Talvez a sua esposa tenha usado a viatura nesse dia?
- Meu amigo, eu sou viúvo. Não tenho filhos. Vivo sozinho e não possuo qualquer viatura intra-estelar. Desloco-me de bicicleta.
- Certo, certo, e pode por favor indicar-me a matrícula da sua bicicleta?
- Com certeza. É 45-0Z-32. Mas não vejo como...
- É muito simples cidadão. O instrumento de leitura óptica da portagem instalada na Hipervia Marte-Saturno registou equivocamente um S no lugar do correcto Z. Como disse que desejava liquidar a notificação?
- Vamos lá ver se nos entendemos: eu não transitei na hipervia em questão nem de viatura intra-estelar nem de bicicleta, da qual sou, aliás, o único proprietário e utilizador. E, assim, não vejo porque devo pagar qualquer multa.
- Cidadão, estou apenas a tentar ajudar. Os factos permanecem: o cidadão foi notificado. É necessário liquidar a coima. As regras são para cumprir. A companhia é muito rigorosa na igualdade do cidadão perante a lei. E vice versa. Penso que, se o cidadão admitir que se fazia transportar de bicicleta, poderemos reduzir em cerca de 30% o valor da coima, ao abrigo da Acta Para os Cidadãos Ciclo-Turistas em Trânsito no Sistema Solar. Embora isto nos levante um outro problema.
- Que é...
- O cidadão que viaja de bicicleta na Hipervia Marte-Saturno deve transitar pelo ciclo-eixo dedicado. Ora, parece-me que a notificação diz respeito a uma portagem de veículos intra-estelares ligeiros. Esta situação é passível de uma coima que pode atingir os 32.000 imperadores de prata.
- Deuses de toda a galáxia, mas se eu nunca transitei nessa maldita hipervia!
- Não estou a colocar em dúvida a palavra do cidadão, que é seguramente honorável. Porém o facto permanece. Aceitamos cheques, mas há custos de inquérito de provisão que acrescem...
- Se não há remédio, pago. Mas vou recorrer.
- Concerteza cidadão, é um direito devidamente consagrado pela Carta dos Direitos do Utilizador das Hipervias Celestes, mas devo alertá-lo que o Tribunal da Circulação Cósmica está neste momento paralisado devido ao excesso de processos com origem no colapso do Nó de Plutão.
segunda-feira, julho 09, 2018
Concordo.
Este toon aqui, de Asjad Nasir, é genial porque sim e porque de facto o Mundial da Rússia não tem nem teve equipas corajosas e inspiradoras como esta equipa de infantes. Anda para aí muita gente muito contente porque este Mundial teve muitos golos. E é verdade que, mais que serem muitos, há um punhado ou dois de grandes golaços. Mas os jogos, bom deus, os jogos são um aborrecimento interminável. O futebol é hoje um desporto caricato, e não tenho esperança nenhuma que recupere da caricatura. Ao contrário, estou bastante esperançado que toda a gente saia viva daquela pavorosa e interminável caverna da Tailândia.
Anti-Festivais #01
Os cartazes dos festivais de Verão são a cada ano mais pobres e, qualquer dia, geminam com o Festival da Canção. Para compensar a atonia proponho uma banda prodigiosa que só ainda não foi postada porque eu tive de facto muito tempo sem editar este blog. Se isto não dá vontade de ser feliz numa noite de Julho, não sei que outro prozac vos poderei então recomendar.
The Jungle Giants . Used To Be In Love
The Jungle Giants . Used To Be In Love
domingo, julho 08, 2018
Um programa de fitness para os neurónios.
"The post modernist don't get to just come along and adopt Marxism as a matter of sleight of hand, just because their Marxist theory didn't work out and they figured out a rationalization they dont' get to get away with that because it's too dangerous to the rest of us. It isn't necessary for us who are trying with the small part of our hearts that might be oriented towards the good to allow people who are manipulating us with historical ignorance and philosophical sleight of hand to render us a god damn guilty verdict about what our ancestors may or may not have done so we allow our shame and our guilt to be used as tools to manipulate us into accepting a future that we do not want to have.
And that's that."
Jordan B. Peterson . Conclusão da palestra Identity Politics and the Marxist Lie of White Privilege - University of British Columbia Free Speech Club
Nas últimas duas horas estive a ouvir esta conferência de Jordan B. Peterson, que recomendo vivamente. É claro que não vou convencer ninguém a investir essa quantidade de tempo nesta palestra absolutamente brilhante, e por isso programei o vídeo para começar a meio, num momento ímpar em que as palavras deste eminente pensador contemporâneo ganham luz de primeira grandeza e um poder impressionante (deixem-se ficar nem que seja por quinze minutos).
Jordan B. Peterson reduz, nesta intervenção, o marxismo e o consequente pós-modernismo a categorias erráticas - e criminosas - do pensamento humano, com brava erudição e eloquência.
O marxismo foi tentado, nos últimos cem anos, em países tão diferentes, em culturas tão diversas, como a Rússia e a China, O Cambodja e a Venezuela, a Roménia e o Irão. Em todos os casos gerou sistemas totalitários desumanos, estados falhados em termos económicos e civilizacionais e, na sua maior parte, em genocídios recordistas. Ainda assim, a esquerda não soube reconhecer o seu dramático erro filosófico e procurou construir uma espécie de redenção através do pós-modernismo, uma forma de relativização moral que deu continuidade ao pensamento de Marx e de Lenine.
Isto embora, na verdade, o pressuposto pós-moderno de que a realidade tem infinitas interpretações do real, logo infinitas plataformas éticas e morais - seja um erro flagrante, na medida em que as interpretações que nos interessam são apenas as viáveis (no sentido da função social, da função económica, da função moral - a curto, médio e longo prazo) e estas não só são finitas como, na verdade, são escassas.
Acresce que a vertente igualitária resultante do relativismo do pensamento pós-moderno, baseia-se num falso exercício de taxonomia. As pessoas diferem mais do que apenas pelas categorias básicas de raça, sexo ou estatuto sócio-económico. As pessoas diferem nas suas capacidades intelectuais, no seu temperamento, na sua fisionomia, na sua cultura, na sua visão da família, da vida, da amizade, do trabalho, da religião, da política. E não podemos equalizar todas essas diferenças, pois não? Será desejável que todas as pessoas sejam igualmente atraentes? Igualmente inteligentes? Igualmente temperadas? Igualmente enculturadas?
As diferenças entre os indivíduos não são equalizáveis, a não ser sob jugos regimentais que são esmagadores da condição e da liberdade humana.
Por trás destes falsos recursos filosóficos, a esquerda ocidental tem construído o mito do Privilégio do Homem Branco, opressor de mulheres, classes, raças, etnias, minorias, etc, etc.. Uma tese histórica e cientificamente falaciosa, mas dominante nas academias, que procura manipular a opinião pública e orientá-la no sentido do absurdo. Este Homem Branco não é uma entidade histórica coerente, sequer. Por exemplo: o Homem Branco Opressor é Trump, mas não pode ser Lenine. Será Hitler, mas não Guevara. O Homem Branco será o judeu de Israel mas não o judeu de Auschwitz. Não há, obviamente, um só Homem Branco Opressor no Partido Comunista Chinês. E para surpresa de todos, Kennedy não é um Homem Branco. Não como Margaret Tatcher.
Este último devaneio, claro, é da minha autoria. Mas a vantagem grande de ouvir Jordan B. Peterson é que as suas palavras germinam fecundas no intelecto dos audientes. São provocantes e lúcidas: fazem comichão nos neurónios. E é dessa comichão, a que também se pode chamar liberdade, que estamos todos, aqui deste lado ocidental do mundo, a precisar com urgência.
sábado, julho 07, 2018
Macacos da Idade da Pedra.
Um grupo de investigadores descobriu que uma população de macacos-prego-de-cara-branca do Panamá entrou na Idade da Pedra. Os animais começaram a usar ferramentas de pedra para conseguir partir nozes e marisco, tornando-se o quarto tipo de primatas a fazê-lo, depois de nós, humanos. O Paper está aqui. O vídeo está entre o belo e o arrepiante:
segunda-feira, julho 02, 2018
Lunáticos e poderosos.
Amigos deste blog desde 2015, os excelentes e operáticos The Slow Readers Club voltam a atacar. E trazem vinganças sobre o silêncio:
The Slow Readers Club . Lunatic
The Slow Readers Club . Lunatic
Wine & Flavours, no próximo fim de semana, em Setúbal.
Concept & Design: Partícula . Web Development: David Cardoso
A morte da Europa e, com ela, a do Ocidente.
Excerto da recensão crítica que Bryan Stewart escreveu sobre o livro “The Strange Death of Europe: Immigration, Identity, Islam,” no The Economist:
To put it briefly, Europe faces two existential challenges. I use the term “existential” advisedly, not in the sense that Europe will somehow cease to exist but that it’s identity and ideology is being gravely, and perhaps irretrievably, disfigured. The first of these “concatenations,” to use Murray’s arresting term, is the mass movement of peoples into Europe, ensuring that “what had been Europe – the home of the European peoples – gradually became a home for the entire world.”
In itself, this condition would not be so treacherous but for the second condition, Europe’s thorough loss of faith in its “beliefs, traditions and legitimacy.” Gone are the days when the leading powers of Europe committed themselves to the restoration of grandeur at home or a mission civilisatrice abroad. The distinguishing feature of modern Europe is its persistent ennui, shown in the inability or unwillingness “to reproduce itself, fight for itself or even take its own side in an argument.” What’s more, Europeans seem less stirred to face these unpleasant facts than they are fearful of interpreting them too precisely.
É isto. Nem mais nem menos.
To put it briefly, Europe faces two existential challenges. I use the term “existential” advisedly, not in the sense that Europe will somehow cease to exist but that it’s identity and ideology is being gravely, and perhaps irretrievably, disfigured. The first of these “concatenations,” to use Murray’s arresting term, is the mass movement of peoples into Europe, ensuring that “what had been Europe – the home of the European peoples – gradually became a home for the entire world.”
In itself, this condition would not be so treacherous but for the second condition, Europe’s thorough loss of faith in its “beliefs, traditions and legitimacy.” Gone are the days when the leading powers of Europe committed themselves to the restoration of grandeur at home or a mission civilisatrice abroad. The distinguishing feature of modern Europe is its persistent ennui, shown in the inability or unwillingness “to reproduce itself, fight for itself or even take its own side in an argument.” What’s more, Europeans seem less stirred to face these unpleasant facts than they are fearful of interpreting them too precisely.
É isto. Nem mais nem menos.
Decididamente, Portugal não é como os Estados Unidos.
Talvez batendo um recorde histórico de má educação, de má diplomacia e de absoluta arrogância, Marcelo Rebelo de Sousa informou Donald Trump que Cristiano Ronaldo nunca poderá ser presidente da República porque Portugal não é uma pocilga populista como os Estados Unidos da América.
Marcelo Rebelo de Sousa, que ainda ontem pulava e cantava alegremente num palco do Rock In Rio; Marcelo Rebelo de Sousa, o rei da selfie, a atracção turística de S. Bento, o comentador oficial dos jogos da Selecção; Marcelo Rebelo de Sousa, o bombeiro, o entertainer, o homem ubíquo que está em toda a parte e em todos os momentos; o Presidente dos afectos e das multidões, dos beijinhos e dos abraços; Marcelo Rebelo de Sousa, o social democrata que patrocina e sustenta alianças de regime de extrema esquerda; Marcelo Rebelo de Sousa que chegou a Presidente da República depois de décadas a chafurdar na infâmia do comentário cínico e para-ideológico num programa de televisão; o mais populista de todos os chefes de estado das três repúblicas que desgraçadamente se sucederam às desgraçadas dinastias monárquicas; este Marcelo Rebelo de Sousa recusa a hipótese de um jogador da bola ascender ao poder político porque Portugal é um sítio respeitável, habitado por um povo esclarecido que elege apenas grandes e sérios estadistas para os altos cargos da Nação, personagens impolutos como José Sócrates, Manuel Pinho, Duarte Lima, Miguel Relvas, Avelino Ferreira Torres, Valentim Loureiro, Isaltino Morais, Armando Vara, Filipe Meneses ou Dias Loureiro; gente de máxima competência técnica e política como Pedro Santana Lopes, António Guterres, Fernando Nogueira, Maria de Lurdes Pintassilgo, Fernando Gomes, Constança Urbano de Sousa ou Brandão Rodrigues; pessoas de bem e que convivem bem com um regime democrático ocidental como António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa (detenho-me neste excelente triunvirato para não cair na tentação da enumeração exaustiva).
Marcelo Rebelo de Sousa tem razão, mas ao contrário: Portugal de facto não é como os Estados Unidos da América. Portugal é um país completamente insignificante, uma república completamente falhada (por três vezes falhada), dirigida por uma oligarquia medíocre e corrupta, com uma economia formal e informalmente nacionalizada, frágil e dependente do crédito internacional. Os Estados Unidos da América são a maior potência mundial, talvez o maior dos impérios da história da humanidade (se bem que se trate de um império de influência - não territorial), a mais poderosa máquina económica de sempre e - sobretudo - a mais bem sucedida democracia desde que Sólon reformou o sistema político de Atenas. Comparar a democracia americana com a portuguesa terá sempre que ser, para nós portugueses, um exercício extremo de humildade radical, para não dizer outra coisa.
Marcelo Rebelo de Sousa, o presidentezinho hiper-populista de um país obscuro e marginal (de um país reconhecido mundialmente por um rapaz que tem algum jeito para dar pontapés numa bola), que ainda assim estava todo contente por ser recebido na Casa Branca, que ainda assim não escondia a sua vontade indomável de aproveitar convenientemente os 15 minutos de fama que a administração Trump, sabe-se lá porque raio de boa vontade, lhe decidiu conceder, devia ter ficado calado. E calado da forma mais silenciosa que é possível a um ser humano.
Marcelo Rebelo de Sousa, que ainda ontem pulava e cantava alegremente num palco do Rock In Rio; Marcelo Rebelo de Sousa, o rei da selfie, a atracção turística de S. Bento, o comentador oficial dos jogos da Selecção; Marcelo Rebelo de Sousa, o bombeiro, o entertainer, o homem ubíquo que está em toda a parte e em todos os momentos; o Presidente dos afectos e das multidões, dos beijinhos e dos abraços; Marcelo Rebelo de Sousa, o social democrata que patrocina e sustenta alianças de regime de extrema esquerda; Marcelo Rebelo de Sousa que chegou a Presidente da República depois de décadas a chafurdar na infâmia do comentário cínico e para-ideológico num programa de televisão; o mais populista de todos os chefes de estado das três repúblicas que desgraçadamente se sucederam às desgraçadas dinastias monárquicas; este Marcelo Rebelo de Sousa recusa a hipótese de um jogador da bola ascender ao poder político porque Portugal é um sítio respeitável, habitado por um povo esclarecido que elege apenas grandes e sérios estadistas para os altos cargos da Nação, personagens impolutos como José Sócrates, Manuel Pinho, Duarte Lima, Miguel Relvas, Avelino Ferreira Torres, Valentim Loureiro, Isaltino Morais, Armando Vara, Filipe Meneses ou Dias Loureiro; gente de máxima competência técnica e política como Pedro Santana Lopes, António Guterres, Fernando Nogueira, Maria de Lurdes Pintassilgo, Fernando Gomes, Constança Urbano de Sousa ou Brandão Rodrigues; pessoas de bem e que convivem bem com um regime democrático ocidental como António Costa, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa (detenho-me neste excelente triunvirato para não cair na tentação da enumeração exaustiva).
Marcelo Rebelo de Sousa tem razão, mas ao contrário: Portugal de facto não é como os Estados Unidos da América. Portugal é um país completamente insignificante, uma república completamente falhada (por três vezes falhada), dirigida por uma oligarquia medíocre e corrupta, com uma economia formal e informalmente nacionalizada, frágil e dependente do crédito internacional. Os Estados Unidos da América são a maior potência mundial, talvez o maior dos impérios da história da humanidade (se bem que se trate de um império de influência - não territorial), a mais poderosa máquina económica de sempre e - sobretudo - a mais bem sucedida democracia desde que Sólon reformou o sistema político de Atenas. Comparar a democracia americana com a portuguesa terá sempre que ser, para nós portugueses, um exercício extremo de humildade radical, para não dizer outra coisa.
Marcelo Rebelo de Sousa, o presidentezinho hiper-populista de um país obscuro e marginal (de um país reconhecido mundialmente por um rapaz que tem algum jeito para dar pontapés numa bola), que ainda assim estava todo contente por ser recebido na Casa Branca, que ainda assim não escondia a sua vontade indomável de aproveitar convenientemente os 15 minutos de fama que a administração Trump, sabe-se lá porque raio de boa vontade, lhe decidiu conceder, devia ter ficado calado. E calado da forma mais silenciosa que é possível a um ser humano.
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