segunda-feira, novembro 30, 2015

Mais um contributo para a impossibilidade do alcoolismo em Fernando Pessoa.

"As coisas que inventam agora - que foi do vinho - é tudo mentira. Não foi nada disso. Ele teve uma coisa que se chama volvo, que é um nó no intestino. Se fosse hoje em dia, era operado e ficava óptimo." 

Manuela Nogueira - "Mimi" - sobrinha de Fernando Pessoa

Mais sobre este assunto, aqui.

domingo, novembro 29, 2015

Um poema de amor daqueles eternos.



Avé marias são beijos
Padre nossos são abraços
Rosários os meus desejos
A cruz é abrir-me os braços

De rezar beijos e abraços
E desejos estou cansado
Abre depressa os teus braços
Quero ser crucificado

Zeca Afonso . Crucificado

quarta-feira, novembro 25, 2015

A solução é abanar o esqueleto.



Say Hi . Take Ya' Dancin'

A Day At The Races #5







 photo interior-anima.gif
































European Le Mans Series . Circuito do Estoril . Outubro 2015

Rocketville #18 - Blue Origin's Shepard Space Vehicle



No dia 23 de novembro, a Blue Origin, uma pequena companhia aerospacial americana, entrou para a história ao fazer regressar à Terra, intacto, o foguetão reutilizável Shepard. Apesar de outras companhias terem já tentado recuperar os seus foguetões, esta é a primeira vez que tal sucede, desde que o homem lança naves para o espaço. A partir de agora será consideravelmente mais simples e muitíssimo mais barato viajar para fora da atmosfera terrestre.

terça-feira, novembro 24, 2015

Luto pela infelicidade dos portugueses.

Portugal tem, a partir de hoje e sabe-se lá por quanto tempo, Augusto Santos Silva como Ministro dos Negócios Estrangeiros. Sim, o caceteiro de Sócrates é agora o primeiro embaixador da República. Nem é preciso dizer mais nada.

segunda-feira, novembro 23, 2015

Subitamente deixado sem palavras.


Foto de Alex Bernasconi

Da Poesia Chinesa

Primavera em Wuling

Parou o vento. Até a poeira é perfumada.
Já é tarde. Não me apetece pentear-me.
As coisas estão aqui, mas ele, o homem, não - tudo acabou.
Ouvi dizer que no "Regato Duplo" é ainda Primavera.
Gostaria de ir até lá, andar numa barca leve.
Mas tenho receio que barca tão frágil
Não suporte o peso de tanto sofrimento.

Li Quingzhao (1081-1145)
Trad. Gil de Carvalho


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O Meu búfalo tem velhos cornos amarelelados,
o meu búfalo tem a cauda pelada.
Toco flauta, faço estalar o meu chicote,
levo o búfalo a pastar no campo.
Se está cansado, caminho devagar;
se está com fome, sabe que eu sei que está com fome.
Quando se levanta, canto uma ária;
quando se deita, durmo um pouco.
À noite durmo a seu lado, e ele aquece-me.
Sou um homem muito velho
que vive sem tormentos,
a não ser o medo de que o cobrador de impostos
me leve o meu velho búfalo e o venda.

Yu Qian (1398-1457)
Trad. António Ramos Rosa

Reparem bem neste sintetizador apocalíptico:



Ao segundo 43, há um vulcão de timbre analógico que explode numa espécie de armagedão melódico. Poderoso.

Say Hi . Volcanoes Erupt

sábado, novembro 21, 2015

Há gente para tudo.



Some people, some people will set the world on fire
just to feel alive.
Some people, some people might die.

Low & Behold

Marcelo Rebelo de Sousa: sente-se.

Sente-se.
Está sentado?
Encoste-se tranquilamente na cadeira.
Deve sentir-se bem instalado e descontraído.
Pode fumar.
É importante que me escute com muita atenção.
Ouve-me bem?
Tenho algo a dizer-lhe que vai interessá-lo.
Você é um idiota.

Está realmente a escutar-me?
Não há pois dúvida alguma de que me ouve com clareza e distinção?
Então repito: você é um idiota.

Um idiota.
I como Isabel;
D como Dinis;
outro I como Irene;
O como Orlando;
T como Teodoro;
A como Ana. Idiota.

Por favor não me interrompa.
Não deve interromper-me.
Você é um idiota.
Não diga nada.
Não venha com evasivas.
Você é um idiota.
Ponto final.

Aliás não sou o único a dizê-lo.
A senhora sua mãe já o diz há muito tempo.
Você é um idiota.
Pergunte pois aos seus parentes.
Se você não é um I.
Claro, a você não lho dirão
Porque você se tornaria vingativo como todos os idiotas.
Mas os que o rodeiam já há muitos dias e anos sabem que você é um idiota.
É típico que você o negue.
Isso mesmo: é típico que o I negue que o é.

Oh, como se torna difícil convencer um idiota de que é um I.
É francamente fatigante.
Como vê, preciso de dizer mais uma vez
Que você é um I.
E no entanto não é desinteressante para você saber o que você é
E no entanto é uma desvantagem para você não saber o que toda a gente sabe.
Ah sim, acha você que tem exatamente as mesmas ideias do seu parceiro.
Mas também ele é um idiota.
Faça favor, não se console a dizer
Que há outros I. 

Você é um I.
De resto isso não é grave.
É assim que você consegue chegar aos 80 anos.
Em matéria de negócios é mesmo uma vantagem.
E então na política!
Não há dinheiro que o pague.
Na qualidade de I você não precisa de se preocupar com mais nada.

E você é I.
Formidável, não acha?
Você ainda não está ao corrente?
Quem há-de então dizer-lhe?
O próprio Brecht acha que você é um I.
Por favor, Brecht, você que é um perito na matéria, dê a sua opinião.
Este homem é um I.
Nada mais.
Não basta tocar o disco uma só vez.

Bertolt Brecht

segunda-feira, novembro 16, 2015

Pouco mais que vítimas.

Obama e Hollande demonstraram inequivocamente, hoje, nas suas declarações no G20 e ao senado francês, respectivamente, os líderes fracos e infames que são. A única diferença é que Hollande parecia de facto incomodado com os acontecimentos, enquanto Obama estava só incomodado por ter que parecer incomodado. Será difícil encontrar um presidente mais sobranceiro na história contemporânea dos Estados Unidos da América.

Entretanto, na missa, o bispo de Paris apela à capacidade de perdão e nos canais noticiosos do costume, afirmam-se e reafirmam-se os mesmos disparates que sempre se afirmam e reafirmam, incansavelmente, quando somos atacados pelos bárbaros. Os políticos falam de consensos e de estratégias. Os jornalistas evocam os valores da tolerância. E os parisienses que andam pelas ruas mostram-se cautelosos. Assustados. Dir-se-ia: derrotados pelo medo. Vão deixar uma flor num local da chacina, mas a dignidade da homenagem escangalha-se cruelmente numa onda de pânico instantâneo, cego, quando um atrasado mental qualquer decide lançar foguetes sobre a noite deprimida de Paris. Para todos os efeitos, ainda estão em estado de choque.

Quem desta gente sobreviveria ao blitz de Londres?


domingo, novembro 15, 2015

Assassinos e amadores.

Parece ser opinião unânime que os bandidos que perpetraram os atentados da noite de sexta-feira pertenciam a uma organização terrorista sofisticada. Que estavam bem preparados e organizados. Não concordo. Não percebo o que é que há de sofisticado num tipo que dispara uma kalashnikov em direcção a um restaurante cheio de gente. Há-de concerteza acertar em alguém. E fazê-lo à mesma hora que outro infeliz está a fazer a mesma coisa no quarteirão ao lado, também não me parece muito complicado. Basta que os dois tenham um relógio no pulso. Comprar umas quantas AK-47, a metrelhadora mais popular no mercado negro de armas, também não configura prática de génios. Basta conhecer ou pertencer ao sub-mundo do crime, coisa comum nos subúrbios islâmicos de Paris.

Hoje em dia, qualquer adolescente pode fazer uma bomba em casa. A internet explica. O explosivo utilizado nos atentados é usado industrialmente e pode ser obtido das mais diversas formas, inclusivamente legais. Não é preciso ser um grande mestre do crime ou um profissional do horror para cumprir este tipo de missões. Pelo contrário, tudo o que sabemos nesta altura aponta para um grau de amadorismo muito elevado. No Stade de France, os terroristas que se fizeram explodir não ceifaram com essas explosões mais vidas do que as deles próprios e a de um transeunte que circulava no exterior do recinto, falhando obviamente a missão de espoletar as bombas no interior do estádio e, de preferência, perto da bancada presidencial, onde se encontrava o Presidente Hollande.

Considerando que estavam mais de 1000 pessoas no Bataclan, os 89 mortos surpreendem: cada carregador de uma Ak-47 tem cerca de 30 balas. 3 homens que recarregaram as suas armas várias vezes e que permaneceram no local durante horas, não conseguiram liquidar nem dez por cento dos presentes. O simples facto de deixarem um rasto nítido para a investigação seguir - o aluguer de uma viatura por um dos envolvidos - tanto como o de trazerem consigo documentos de identificação, é sintomático do baixo nível de preparação dos autores deste acto de guerra aberta.

Mas, no fundo, é precisamente esse amadorismo que é simultaneamente assustador, imprevisível e eficaz. É precisamente por serem fáceis de executar e requererem muito pouco treino e muito pouco dinheiro que estas acções são possíveis e frequentes. E muito difíceis de prever ou evitar.

É cada vez mais comum dizer-se que, por vivermos uma era conturbada, vivemos tempos interessantes. Eu não os acho assim tão interessantes. São tristes. São humilhantes. São decadentes. Mas não são interessantes.

Uma nota sobre o descaramento: Parece piada, mas as campanhas publicitárias que estão a passar constantemente na transmissão da CNN, inteiramente dedicada à barbárie de Paris, são de dois estados muçulmanos: Emiratos Árabes Unidos e Bahrein. Qualquer director de marketing minimamente são, interromperia de pronto uma campanha como a que está a passar relativa à cidade de Abu Dabi, mas a sensação de impunidade desta gente, bem como a confiança de que o Ocidente nunca reagirá de forma cega contra os árabes ou os muçulmanos, desobriga à decência.

sábado, novembro 14, 2015

Pois é. É a guerra.


Doping institucional.

Toda a gente já o sabia e não é sequer um fenómeno recente. Foram necessárias décadas de descaramento e conivência e um relatório devastador para que a federação internacional de atletismo (IAAF) suspendesse a Rússia das competições oficiais. Tanto por parte do estado russo como das suas instituições de dirigismo desportivo, o doping não é, nunca foi nos últimos 70 anos, batota. Pelo contrário, foi sempre e apenas uma ferramenta prática e efectiva na bricolage das vitórias. E na propaganda que vem agarrada à glória desportiva.
O que eu acho é que a suspensão é um castigo muito ligeiro. Se o canadiano Ben Johnson, por exemplo, foi espoliado do seus títulos, porque raio é que não retiram agora as medalhas e os pódios aos atletas russos, que se dopam desde o paleolítico inferior?

Tanto medo da guerra.

O que é que é preciso acontecer para percebermos, no Ocidente, que esta merda tem mesmo que acabar?
O que é que os islamitas têm que fazer para acabarmos de vez com esta raça? Quantos inocentes têm que morrer?
Até que ponto conseguimos viver com assassinos entre nós?
Até que ponto conseguimos ser livres quando abrigamos e cuidamos os carrascos da liberdade?
Até quando é razoável continuar a dormir, tranquilamente, pacificamente, com o inimigo?
Quantos cadáveres vão ser capa de jornal até que alguém decida que não vai haver mais nenhum cadáver para fazer parangonas?
Quantos slogans perversos vamos inventar até que a verdade crua, nua, ensanguentada e não publicista triunfe sobre a banalidade mediática, mediana e mentirosa do horror e da insanidade medieval?
Que explosões sobre a civilização terão que rebentar, até que o mais simples bom senso finalmente impere?
Quantas rajadas de infâmia têm que ser disparadas para percebermos o óbvio?
Para percebermos que estamos, há décadas, a ser atacados e a ser atacados segundo as regras da guerra aberta. Da guerra convencional.Pura e dura guerra. E que precisamos, no Ocidente e com urgência, de agir em conformidade?

E, enfim, como é que Obama, na sua conferência de imprensa sobres estes desgraçados acontecimentos, continua a evitar as palavras "terrorismo" e "islâmico"? Que espécie de gajo é este? Como é que tudo isto é possível?

Hã?


sexta-feira, novembro 13, 2015

It Means Nothing.



Quem não achar genial o refrão que se segue, fica a contas comigo:

It means nothing
It means nothing
It means nothing
It means nothing
It means nothing
If I haven't got you
If I haven't got you
If I haven't got you
If I haven't got you

Esta banda, Stereophonics, é talvez a mais prodigiosa coisa-fora-de-trend do século XXI. Soa a Bush. Soa a Alice In Chains. Soa a uma hipótese remota dos Guns and Roses correrem bem. Soa a qualquer ceninha dos anos 95, muito simplesmente porque eles transportam a identidade desse tempo para a não dimensão do Tempo. Esta música, que é sinfonia para os meus ouvidos, é de 2006. Entre 1995, 2006 e 2015 passou uma simples eternidade. Mas que bomba, minimal e repetitiva no fundo do meu tímpano avariado, lá isso bomba. Loucamente.

A Religião de Roer as Unhas.

Sou carregado de ódios. Até quem amo, odeio.
Detesto toda a gente e nomeio
arcanjos como testemunhas.

Vergo-me de raivas. Sou eu que sou feio
e, bezano d'alma, creio
na religião de roer as unhas.

Cedo aos desafectos. O meu império do meio
não é amigo do alheio
nem se apaixona por cunhas.

Detesto toda a gente que amo e odeio,
carrego ódios e nomeio
vilões como testemunhas.

A solução existe. A coragem não.

Isto não vai acontecer, porque Cavaco Silva é quem é. Mas há uma solução prática e objectiva e digna para a situação vergonhosa de agora. Se o Presidente da República se demitir, existe a obrigação constitucional da convocação de eleições. Presidenciais e legislativas. Era, na verdade, a única resposta decente que Cavaco podia dar à actual actividade golpista. Sabemos bem, porém, que o homem não tem espinha dorsal para tanto. E vai, assim, perder uma oportunidade única de redenção. E colaborar, impávido como sempre é impávido, com os golpistas.
É uma pena. Para ele (o que é o menos) e para o país (o que é o mais).

quinta-feira, novembro 12, 2015

A banalidade do mal, outra vez.



Uma das questões mais intrigantes - e interessantes - que podem ser colocadas sobre a natureza humana é esta: porque raio é que pessoas vulgares, funcionais, racionais, civilizadas, moralmente capazes de amarem a sua família e de serem solidárias com amigos ou estranhos, culturalmente aptas a apreciar os Concertos de Brandenburgo ou uma novela de Goethe, cumprem simultaneamente tarefas sinistras, como enfiar judeus em câmaras de gás, fuzilar milhares de civis ou matar à fome milhões de camponeses?

No âmbito da filosofia, Hannah Arendt é provavelmente a grande autoridade nesta matéria e já aqui no blog escrevi sobre ela, mas no que respeita à psicologia e à sociologia é Stanley Milgram o homem-mestre deste complicado assunto.

Em 1962, Milgram conduziu na Universidade de Yale aquela que é talvez a mais polémica experiência da história das ciência sociais. A experiência explica-se assim (texto adaptado da Wikipédia):

Os voluntários foram recrutados para uma experiência de laboratório de investigação de "aprendizagem". Os participantes foram 40 homens, com idades entre 20 e 50 anos, cujas profissões variavam entre não qualificadas e especialistas. Os sujeitos foram pagos pela sua participação (4,50 USD). 
No início da experiência, foram apresentados a outro participante, que na verdade era um actor, cúmplice do estudo, e convidados a tirar o palito maior para determinar o seu papel na experiência - "aluno" ou "professor" - embora o sorteio fosse um logro, já que  o cúmplice era sempre o "aluno". 
Havia também um assistente, vestido com uma bata cinzenta, interpretado por um discípulo de Milgram. Foram usadas duas salas do Laboratório de Interacção de Yale - uma para o "aluno"-actor (com uma cadeira elétrica) e outra para o "professor"-sujeito da experiência, com um gerador de choques elétricos. 
Depois que o "aluno" tivesse memorizado uma lista de pares de palavras que lhe foi dada para aprender, o "professor" iria testar a sua memória, dizendo por um microfone a primeira palavra e pedindo ao "aluno" para recordar a sua parceira (fazer o par) de uma lista de quatro possíveis escolhas.
O "professor" teria que administrar um choque elétrico de cada vez que o aluno cometesse um erro, aumentando a intensidade do choque progressivamente. Existiam 30 botões no gerador de choques eléctricos, que accionavam cargas entre 15 volts (ligeiro choque) e 450 volts (choque grave). Logo depois das primeiras perguntas, o "aluno" começava a dar respostas erradas. A dada altura, o "professor" ouvia a voz do "aluno" a gritar de dor e - mais à frente" - a pedir para ser solto da cadeira eléctrica e a apelar para o fim da experiência. Quando o "professor" se recusava a administrar um choque, era incentivado pelo assistente a continuar com o procedimento. Os estímulos eram os seguintes:

Estímulo 1: Por favor, continue.
Estímulo 2: A experiência requer que você continue.
Estímulo 3: É absolutamente essencial que você continue.
Estímulo 4: Você não tem outra escolha, a não ser continuar.

Resultados: 65% (dois terços) dos participantes (ou seja, "professores") continuou até o mais alto nível de 450 volts. Todos os participantes continuaram até 300 volts.

Perante os resultados absolutamente deprimentes, ficou claro que existe no ser humano uma tendência assustadora para a obediência irracional e para agir em conformidade com o papel social. Os sujeitos sofriam com cada choque que infligiam ao "aluno", protestavam com o assistente, mordiam-se todos, riam de nervosismo e desespero, suavam as estopinhas todas, mas continuavam a inflingir o suplício do qual tinham sido incumbidos. Todos eles chegaram ao nível de descarga de 300 volts. E a larga maioria completou a experiência, que só terminava na descarga de 450 volts (!).
Esta capacidade de torturar consistentemente um estranho apenas porque um assistente de laboratório insiste, calmamente e sem qualquer ameaça, que a experiência deve continuar, é arrepiante; explica muito sobre os instintos básicos que nos governam o comportamento individual e psico-social e fundamenta a tese da banalidade do mal: uma pessoa dita normal pode de facto cometer crimes hediondos, dado um contexto social específico.
Talvez por isso, a experiência de Milgram foi alvo de acesas críticas e a sua carreira académica foi severamente prejudicada. As pessoas não gostam de ser confrontadas com os seus demónios. Mas deviam sê-lo mais vezes. Se não estivermos conscientes de quem somos, e do mal que vive dentro de nós, dificilmente o poderemos aplacar. 
Isto tudo vem a propósito de "Experimenter", o competentíssimo, criativo e enxuto filme de Michael Almereyda, muito bem interpretado por Peter Sarsgaard e Winona Ryder, que recomendo vivamente a quem gosta de cinema, e principalmente àqueles que se interessam por ciências sociais.

terça-feira, novembro 10, 2015

Jornal de Letras | Abril/Dezembro 2015 | #1

Liberalismo, Socialismo, Rebublicanismo - Antologia de Pensamento Político Português - Joel Serrão 
Livros Horizonte - 1979

Na ressaca da turbulência revolucionária, Joel Serrão selecciona um vasto conjunto de textos de intervenção política escritos entre 1820 e 1920 por homens como Alexandre Herculano, Ramalho Ortigão, Antero de Quintal, Teófilo braga, Eça de Queiroz ou Raúl Brandão.

A obra é bastante interessante principalmente porque a prosa é quase sempre magnífica e muitíssimo mais virulenta do que nos parece decente hoje em dia. O problema é que Joel Serrão não colige uma antologia do pensamento político português, como o subtítulo da obra sugere. A selecção é ideologicamente formatada, de tal forma que os textos apresentados são todos de carácter revolucionário, ou - no mínimo - progresssista. Mesmo em relação aos autores mais conservadores integrados nesta antologia, como Alexandre Herculano ou D. Pedro V, os textos escolhidos reflectem momentos do seu pensamento mais à esquerda e não o modelo ideológico e filosófico em que na verdade se enquadram.


Se este livro tivesse como subtítulo "Antologia do pensamento da esquerda em Portugal", seria uma obra mais honesta. Assim sendo, é uma manobra. Uma manobra com piada, mas uma manobra.



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Enciclopédia da Estória Universal - Mar - Afonso Cruz 
Alfaguara - 2014

Encosto o ouvido ao mar para ouvir o barulho dos búzios.

De Afonso Cruz e desta Estória Universal, já disse muito do que tinha a dizer aqui. Mas esta obra fascicular é de tal forma bela e prolixa que me obriga a complementar o discurso com mais adjectivos e apologias. Mar é, por si só, um triunfo. Para além das entradas labirínticas e espirituosas do costume, Afonso Cruz integra neste fascículo um conto absolutamente poderoso - que vale por muitos romances - assente num monólogo de uma rapariga mórmon, espartilhado em 67 curtos e intensos capítulos. 

Este autor impressiona-me deveras.



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O Eclipse da Razão - Max Horkheimer 
Antígona - 2015
Crónica publicada a 04/05/15
Influenciado inicialmente pelo pensamento de Schopenhauer e incondicional admirador do trabalho de Karl Marx, Max Horkheimer (1895-1973) levantou nos anos 30 – na companhia de outras grandes figuras da filosofia do seu tempo, como T. W. Adorno, Erich Fromm, Leo Lowenthal e Walter Benjamin – um importante legado do pensamento filosófico do Século XX, que hoje conhecemos por Escola de Frankfurt e que, rejeitando o pensamento liberal e pragmático de algumas escolas ocidentais, bem como a instrumentalização do pensamento marxista levada a cabo pelos sovietes, propunha o estabelecimento de um novo paradigma para a filosofia social baseado na teoria crítica.
Sustentando a sua lógica desconstrutiva na sociologia anti-positivista, na psicanálise e no existencialismo, os teóricos de Frankfurt propunham uma abordagem que partia do método marxista para uma aventura interdisciplinar que procurava contrariar a razão instrumental através do uso da razão crítica.

Publicado em 1947 – a partir de um conjunto de palestras dadas em 1944 na Universidade de Columbia  -, “O Eclipse da Razão” (Antígona, 2015) é fruto, também, de um natural pessimismo decorrente dos horrores da II Guerra Mundial, da prevalência de estados totalitários na Europa continental e do capitalismo anglo-saxónico, de que o autor era feroz antagonista. Este infeliz conjunto de circunstâncias dever-se-ia, para os filósofos de Frankfurt, à crise da razão, que teria sido sujeita, desde o seu estado virtuoso na antiguidade clássica, a sucessivos graus de subjectivação e formalização.

Logo no arranque do primeiro capítulo, Max Horkheimer define e separa a razão objectiva, que diz respeito ao interesse social e que advém de Platão, à razão subjectiva, que se refere ao interesse individual e que, tendo raízes na escolástica aristotélica, ganhou um novo impulso com os valores e as conquistas do iluminismo e do progresso técnico.

Neste aspecto a obra torna-se extremamente interessante, já que o pensamento do autor é deveras original e bastante lúcido. Para dar um breve exemplo das conclusões verdadeiramente alternativas de Horkheimer, a vertente laica do iluminismo é abordada nestes termos: «Os filósofos do iluminismo atacaram a religião em nome da razão mas no fim de contas o que mataram não foi a igreja mas a metafísica e o próprio conceito objectivo de razão.»

De facto, acreditando no filósofo alemão, a economia intelectual decorrente do iluminismo e do empirismo, que leva à categorização e abstração do indivíduo (fenómenos a que ainda hoje assistimos pela rotulagem imediatista a que os oráculos do programas noticiosos submetem os sujeitos das reportagens – fulano tal é “vítima”; beltrano é “agressor”; cicrano é “desempregado”, etc.), essa economia intelectual é um facilitismo intolerável, que desvaloriza a razão em função das pseudo-virtudes da experiência e do senso comum, ao qual o autor declara guerra. Contrariando teóricos como Heidegger, Gadamer e Chesterton no que respeita à valorização do senso comum e o empirismo britânico de John Locke, Francis Bacon e David Hume, Horkheimer desconstrói e dessacraliza, nas densas e veementes páginas deste livro, muitos dos princípios mais caros à civilização ocidental.


As democracias da sua época, por exemplo, por se encontrarem dependentes dos chamados interesses do povo, dos populismos incontornáveis dos seus líderes políticos e do mandato opressor dos interesses económicos, não oferecem na verdade qualquer garantia contra a tirania. A maioria democrática não é racional, muito simplesmente porque há uma diferença imensa entre o que as pessoas querem e o que é melhor para elas.

Sintomático manifesto da decadência da razão é o facto de a arte se ter transformado, para Max Horkheimer, numa mercadoria cultural. Até a Eroica de Beethoven é consumida pelas massas como «sinfonia de museu» ou, diríamos nós nos dias de hoje, produto de stream, desprovida já do seu fundamental contexto político e social.

A capacidade da Ciência para gerar verdades filosóficas – que, para o Director do famoso Institut für Sozialforschung, são as únicas possíveis – também é posta em causa. A verdade científica, laboratorial e empírica está para além ou muito aquém dos absolutos do pensamento racional e, ao contrário do que nos querem fazer querer os tecnocratas, a ciência não é apenas destrutiva quando é desvirtuada. A deontologia positivista não consegue suster a destruição da razão objectiva: «um corpo oficial de cientistas de acordo com a teoria positivista, é mais independente da razão que o colégio de cardeais, uma vez que o último tem, pelo menos, de se referir ao evangelho».


Claro que o Tomismo – a corrente filosófica que, desde S. Tomás de Aquino, procura conciliar o cristianismo com a tradição aristotélica – também não escapa à lâmina devastadora de Horkheimer. Mas o que surpreende é o ímpeto da crítica que o autor dedica aos intelectuais. Estes devem a sua existência e o seu ócio ao sistema de dominação de que tentam emancipar-se e, talvez por sentimentos de culpa que daí decorrem, acabam por glorificar a classe trabalhadora. O argumentário freudiano, que está muito presente no DNA da Escola de Frankfurt, é transversal sobre toda a obra. Esta tendência para a psicanálise social leva a conclusões que já não serão tão originais para o leitor contemporâneo: a educação burguesa, a indústria e a igreja escravizam, oprimem e traumatizam o indivíduo. E assim, o histerismo colectivo nacionalista e mimético surge como escape dessas tensões acumuladas. Por outro lado, o conflito latente entre o homem e a natureza não se resolve com o iluminismo e o progresso técnico, pelo contrário, nem com o regresso ao primitivismo de Rousseau, que é ingénuo. A solução para estes conflitos – entre o homem e a civilização e entre a civilização e o ambiente – só se podem resolver através do pensamento independente e da razão objectiva.


E cumprindo os 360 graus da sua crítica, Max Horkheimer não se mostra nada tolerante com a praxis marxista do regime soviético. O comunismo, tanto como o capitalismo, conspira para a morte do eu porque o trabalhador passa de objecto do capital a objecto do trabalho. A sua liberdade e a capacidade que tem para exercer a individualidade, o pensamento independente, é, nos dois casos, muito reduzida. Mas porque  «o individuo completamente desenvolvido é o consumar de uma sociedade completamente desenvolvida» é imperativo regressar ao paradigma platónico da razão que serve eticamente o bem comum, a única capaz de devolver ao homem a sua verdade essencial. Até porque, apesar de tudo, «as pessoas são geralmente melhores do que pensam, ou dizem ou falam.»


Este aparente optimismo não pode porém iludir o leitor. No momento da história em que o utilitarismo resultou numa substituição do filósofo pelo engenheiro e em que o poder industrial está a liquidar o indivíduo, há que assumir que a filosofia não é útil nem tem que o ser. Há que afirmar a filosofia como um  «esforço consciente para combinar todo o nosso conhecimento e compreensão numa estrutura linguística na qual as coisas são chamadas pelos seus nomes justos.» A adequação da coisa ao nome como verdade filosófica, que indicia uma aproximação à primeira fase do pensamento de Ludwig Wittgenstein, habilita o pensamento a superar os efeitos desmoralizadores e amputadores da razão formalizada. E, em certo sentido, dá a Max Horkheimer um aliado poderoso e improvável, do outro lado do hemisfério: quando certa vez um discípulo perguntou a Confúcio qual seria a sua primeira medida se lhe fosse dado o poder absoluto de todos os reinos da China, o mestre respondeu-lhe: “Fácil. Começava por mudar os nomes.”



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Fernando Pessoa - Eu Sou Uma Antologia - 136 Autores Fictícios - Jerónimo Pizarro e Patricio Ferrari
Tinta da China - 2013


Eu sou uma anthologia.
Screvo tam diversamente
Que, pouca ou muita a valia
Dos poemas, ninguém diria
Que o poeta é um sòmente.

Quem pretende conhecer profundamente a obra e a vida de Fernando Pessoa, deve ter este livro como referência. É mais útil para cumprir esse objectivo que a biografia do Cavalcanti, por exemplo.


A partir de um trabalho de natureza enciclopédica levado a cabo por Jerónimo Pizarro e Patricio Ferrari, dois eruditos na polifigura pessoana (hoje em dia há mais especialistas em Pessoa que espécies de cogumelos venenosos), este documento vale bem o seu preço FNAC. Cuidadosamente facsimilizado e muito bem trabalhado no que respeita aos conteúdos bibliográficos, gráficos e semânticos, o trabalho lança uma perspectiva abrangente e detalhada da antologia que Fernando Pessoa foi.

Entre os 136 autores, temos poetas, romancistas, ensaístas, historiadores, economistas, críticos, tradutores, editores, publicistas, gestores, profetas, videntes, astrólogos, ocultistas, decifradores de charadas e construtores de charadas. Temos homens e mulheres e crianças. Temos textos em português, inglês, francês e italiano. Temos escritos que são já conhecidos de toda a gente, escritos que poucos conhecem e escritos inéditos. Enfim, temos Fernando Pessoa, na sua incrível complitude.


Das centenas de jóias mais ou menos inéditas que constam da obra, destaco apenas esta pérola, de um autor pessoano pouco conhecido, Frederick Wyatt:


SONG


Sun to-day and storm to-morrow.

Never can we know
When is joy or when is sorrow,
hapiness or Woe...
The clock strikes. To-day is gone.
Man, proud man, oh think Thereon!

From delight we pass to sadness

From smile to tears,
And the boldness of our gladness
Dies among our fears.
The clock strikes. An hour is past.
Think, oh think, how all doth waste!"

Um livro cuja leitura me deu um enorme prazer. Aliás, o simples facto de o ter na estante dá-me um enorme prazer.



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Manual de Instruções para Desaparecer - José Anjos 
Abysmo - 2015


Crónica publicada a 27/07/15

Hás-de morrer a tentar provar
a toda a gente
que és imortal.

“Manual de Instruções Para Desaparecer” (Abysmo, 2015) é o primeiro livro de poemas de José Anjos, mas, pelo que é possível saber numa modesta pesquisa através da web, não faz justo retrato à sua poesia. Autor já premiado na 3ª edição do Poetry Slam Sul, a filosofia lírica de José dos Anjos parece ter dado uma cambalhota, a julgar pelo que escrevia em 2012 e por aquilo que escreve agora para esta edição.

A obra recolhe 34 poemas que são fiéis a uma evidente invocação de Mário Cesariny e de três ismos fundamentais: o modernismo, o futurismo e o surrealismo. Toda a obra é uma espécie de cadáver esquisito escrito a uma mão e o leitor vai, inevitavelmente, enrodilhar-se em muito maus lençóis se espera encontrar nestas páginas um vestígio de inteligibilidade.

Em caso de perda
basta ligar as baratas
para acender paredes.

Neste sentido, a pergunta que é preciso fazer a José Anjos é esta: o que é que a poesia, esta poesia, quer dizer? Ou antes, precisa a poesia de significado?
Há muita gente, ilustre gente, que dirá: não. A poesia, como a arte, precisa de um ideal estético, de identidade estilística, de virtuosismo lexical, mas não de narrativa. Precisa de ritmo e de estrutura, mas não de um sentido. Precisa de uma causa, mas não precisa de uma consequência. Precisa da sintaxe, mas não da semântica. De Almada Negreiros a Ezra Pound, de Keroac a Cesariny de Vasconcelos, de Breton a O’neil, encontramos frequentemente na história da literatura aqueles que sempre se orgulharam do poema pelo poema. E que sempre se estiveram a borrifar para as coisas prosaicas e aborrecidas a que geralmente chamamos substância.

Quando Almada Negreiros escreveu o célebre “Os Ingleses Fumam Cachimbo”, estaria preocupado com o significado do seu poema? Claro que não. Almada estaria talvez preocupado com uma certa forma de construção e desconstrução lírica, com uma certa modernidade estilística, com uma certa atitude de ruptura conceptual, mas não com o que aquilo queria dizer, porque na verdade se trata de um poema que não quer dizer nada de especial. E ninguém vai agora afirmar que o Almada não sabia o que estava a fazer, não é?

O problema porém, é de ordem diacrónica. Se é certo que os grandes mestres do modernismo europeu tinham razões de sobra para mandar à fava os velhos cânones do romantismo e do realismo, não se percebe o que é que esta poesia que soa bem, que é cuidada, que é até, a espaços, inspirada, que é tecnicamente válida e que é criativa em doses extra largas, tem para oferecer na sua relação com o leitor de hoje e com o mundo de agora. Quando o poeta escreve

Para encontrar o ponto de partida:
fazer um círculo à volta do meio em toda a amplitude semântica de um gemido palíndromo 
e desenhar uma ponte entre cada lado, com os dedos pintados ao espelho;
depois, partir do canto direito da batalha com tudo nos bolsos

escreve isto porquê? Escreve isto a que propósito? E escreve isto contra quem? A poesia, para ser niilista a este ponto, tem que ter uma batalha pela frente, tem que ter uma missão que transcenda e justifique o seu carácter surrealizador. Mas qual é a missão de José dos Anjos? Vamos, por um disparatado minuto, supor que há um inocente no mundo que compra este livro para saber como é que uma pessoa faz para desaparecer. O infeliz não vai conseguir realmente perceber a mecânica do processo e isso é garantido. É claro que ninguém com um centilitro de bom senso no saco do cérebro vai ler este livro com essa intenção, mas nesse caso, qual é a intenção com que se lê este livro? Podemos talvez especular que esta poesia é um manifesto contra uma qualquer outra forma de fazer poesia. Mas esse manifesto, convenhamos, já foi feito, e bem feito, há um século atrás. 

Podemos por ventura imaginar que esta poesia visa ferir movimentos artísticos contemporâneos que produzem outro tipo de poesia. Mas quais são esses movimentos? Existirão, pergunto, movimentos artísticos contemporâneos? Não será até essa coisa do movimento artístico algo do passado, que não tem correspondência na forma caleidoscópica, esquizofrénica, individualista e libertária de pensar e fazer a arte no século XXI?

É verdade que há coisas que se percebem, para além do jogo das palavras. Manual de Instruções para Desaparecer é uma obra sobre a morte, ou melhor, é uma obra que está farta da vida. Isso entende-se bem em estrofes deste género lapidar:

“Por vezes achava que se me concentrasse o suficiente 
era capaz de me matar com um só pensamento.”

É verdade que os futuristas, com Marinetti à cabeça do pelotão dos grandes malucos, iam de certeza abraçar José dos Anjos com firmeza e alegria incontível, se vissem a espectacular “Máquina lírio em perspectiva explodida“, invenção gráfica que introduz a obra e que, já legendada, faz as despedidas. Mas esta máquina, com os seus carburadores imagéticos, enaltecedores de particularidade e núcleos disfóricos, apresenta os mesmos problemas de engenharia que são evidentes em grande parte da fábrica de debitar ininteligibilidades que é este Manual: não produz aquilo a que se possa chamar uma mensagem.

É verdade também que a história da literatura está repleta de conteúdos incompreensíveis. E muitas vezes geniais nessa ausência de senso. Mas um parágrafo de Joyce que seja incompreensível não é incompreensível desta maneira:

as instruções para vir à tona
essas
ias recolhendo para uso próprio e talvez lá pela esquina dos cinquenta tivesses
algo a dizer sobre o tecto de água onde chegam 
bancadas de pulmões frescos como peixes
mortos à superfície

Há sem dúvida cuidados estéticos e editoriais que o leitor sensível apreciará, neste Manual de Instruções. Há sem dúvida uma beleza terrível nas deambulações obscuras e enigmáticas de José dos Anjos. Há sem dúvida talento a rodos e a capacidade mágica de dar vida a palavras que não estão nada à espera de se cruzar numa determinada estrofe. Há sem dúvida uma voz lírica que grita, mas que grita em checoslovaco, baixinho e debaixo de água. Como gritava Mário Cesariny há umas décadas, como gritava André Breton há um século.
Aproveitando, abusivamente, a epígrafe deste texto, um dos mais belos momentos de todo o livro, José dos Anjos há-de morrer a tentar provar a toda a gente que é moderno. O problema é que esta poesia é antiga.

Uma república de bandidos.

"Estou a marimbar-me para o banco alemão que emprestou dinheiro a Portugal nas condições em que emprestou. Estou a marimbar-me que nos chamem irresponsáveis. Temos uma bomba atómica que podemos usar na cara dos alemães e dos franceses. Essa bomba atómica é simplesmente não pagamos. Ou os senhores se põem finos ou não pagamos. E se não pagarmos e se lhes dissermos, as pernas dos banqueiros alemães até tremem.”

Estas criminosas e infames palavras sairam da suja boca do sr. Pedro Nuno Santos, vice-presidente da bancada parlamentar do PS e homem forte de Costa nas não menos infames e criminosas negociações com o BE e o PCP.
Esta é a nova elite da política em Portugal. A partir daqui, temos o que merecemos. E todos merecemos o Pedro Nuno Santos. Aqueles que votaram nele e aqueles que não votaram mas que estão a permitir, com passividade, conivência ou cumplicidade que gente assim chegue ao poder.
uma coisa é certa: este é o pesadelo mais absoluto que se pode sonhar.

sexta-feira, novembro 06, 2015

Quem sabe nunca esquece.



Noel Gallagher . Ballad Of The Mighty I

Miguel Tiago, deputado e besta estalinista.


Isto aqui, caro leitor, é um post de um deputado da República. Miguel Tiago, do PCP.
E depois digam que eu exagero no meu pessimismo. Depois digam que sou alarmista. É a esta raça de bestas que o infeliz António Costa vai dar, directa ou indirectamente, poderes executivos.
Isto embora, por acaso, aceite de bom grado a ameaça à minha integridade física. Nada neste momento me dava mais prazer do que partir a cara a este imbecil. Nada mesmo.

Quando o Sporting perde assim, a quem pertence a derrota?

Podem perguntar a toda a gente que me conhece. A todos os meus amigos. Nunca fui à bola com esta espécie de neandertal que é o Jorge Jesus. No fim da época passada, achei que devia ficar no Benfica, porque tinha apresentado resultados medianos que nenhum treinador tinha apresentado nas últimas décadas. Mas muito porque nenhum treinador tinha ficado no Benfica durante tanto tempo. Mas muito porque nenhum treinador decente depois de José Mourinho tinha ocupado o cargo.

O resultado de hoje, contra uma equipa incógnita e amadora, diz tudo o que é preciso dizer para se ser um crítico de Jorge Jesus. Em certas dimensões da sua profissão é genial. Noutras é um pobre diabo. Um diabo multimilionário, claro, sendo que não é a conta bancária que define o pobre de espírito.

Podem perguntar a toda a gente que me conhece. A todos os meus amigos. Nunca fui anti-sportinguista. Sempre achei que o Sporting Clube de Portugal era um clube respeitável e, o que é mais, era um clube que fazia sentido para quem é benfiquista, porque um grande clube precisa sempre da sua nemesis e o Sporting foi, até ao fim dos anos setenta, um grande e nobre rival.

O Sporting sempre fez parte do meu benfiquismo. E, até há pouco tempo atrás, sempre foi o meu segundo clube.

É com pesar, acreditem, que afirmo: esse dialéctico estado de espírito, essa simpatia cordial de bom desportista (que até vem do sporting inglês), acabou. E acabou o mais completamente possível.

Este blog não é digno do filho da puta que é o actual presidente do clube de Alvalade, pelo que não vou mais além do merecido insulto.

Jesus, que na verdade não passa de um imbecil com mérito desportivo, também não merece um parágrafo da minha prosa (mesmo quando foi treinador do Benfica não recebeu aqui muito mais que frases soltas).

Sobra, claro, o outro imbecil. O imbecil que é presidente do meu clube. E sobre esse é que os benfiquistas devem escrever parágrafos. Muitos parágrafos. Mais parágrafos do que ele próprio consiga ler (admitindo que se trata de um ser alfabetizado).

Filipe Vieira é uma nulidade. Na guerra como na paz, é uma nulidade. E se podemos até, em última análise e num esforço sobre-humano de condescendência, compreender que fosse anulado por Pinto da Costa, o mestre da infâmia, é difícil perceber como é que uma besta que passou de hooligan a presidente do clube rival consegue dominar completamente a agenda da política desportiva, por causa de uma merda de uns jantares numa cervejaria de merda. E, claro, por causa de ganhar três a zero na Luz.

O Benfica não precisa de jogadores à Benfica (já os tem). Não precisa de treinadores à Benfica (o Jesus era um e depois viu-se o que era o Jesus). Não precisa de rapazes porreiros como o actual treinador que é um rapaz porreiro e educado e benfiquista dos sete costados até ir para outro clube qualquer ser desse clube qualquer dos sete costados. O Benfica precisa de uma liderança profissional e competente. É simples.

A derrota de hoje - humilhante e desnecessária - da equipa de Jorge Jesus é também e paradoxalmente uma derrota de Filipe Vieira. O presidente que levou um treinador mediano ao estatuto divino apenas porque apostou nele de tal forma que dele se tornou refém, como se aposta toda uma fortuna num cavalo de corridas, fica sempre ligado a essa aposta, para o bem e para o mal. E é preciso esclarecer a cabecinha tonta do actual presidente do Sport Lisboa e Benfica: qualquer cavalo de corridas é mais nobre, é mais digno, é mais profissional do que Jorge Jesus alguma vez poderá imaginar.

E o Benfica não é um clube de apostas.

quinta-feira, novembro 05, 2015

Da poesia chinesa.

Exército em Retirada

Um vento glacial sopra em Tien Shan.
Soam as flautas. A escalada continua.
Entre os rochedos trezentos mil soldados
Voltam-se de repente para olhar a lua.

Li He (797-817)
Trad. Jorge Sousa Braga


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A Bela de Yu

Flores da Primavera, lua de Outono, acabam quando?
Do passado - quanto sei eu?
No pequeno pavilhão, noite ainda, mais uma vez soprou o vento leste!
Não tenho coragem para olhar para trás, para o meu país ao luar.
Balcões esculpidos, escadas em mármore devem permanecer!
Somente os rostos, radiantes, mudam.
Pergunto: quanto sofrimento podes suportar?
Tanto quanto as águas da Primavera de um rio que corre para leste.

Li Yu (937-978)
Trad. Alexandre Li Ching


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Canto do Sucesso Próximo

Retirado a oeste, no entardecer dos anos,
vivo feliz, apagando as pégadas da cidade e da corte.
Entre montanhas imponentes,
um lago verde para eu pescar.
Vendo o peixe, compro vinho,
ébrio de corpo, sóbrio de espírito,
ao som da flauta,
afasto toda a inquietude.
Vivo por detrás das nuvens,
só as gaivotas do rio me conhecem.

Lu You (1125-1210)
Trad. António Graça de Abreu

A Day At The Races #4



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European Le Mans Series . Circuito do Estoril . Outubro 2015

domingo, novembro 01, 2015

Os Salteadores do Túmulo Atari.



Esta é a história da Atari, uma das mais gloriosas empresas circenses do universo. É a história da sua ascensão, apogeu e queda abrupta por causa de um jogo muito mau, feito a partir de um filme muito bom. Dirigido por Zack Penn, um dos mais destacados guionistas de ficção científica de Hollywood,  este é o documentário que vai à procura de respostas para um dos mais intrigantes mitos urbanos da indústria de entretenimento digital: o túmulo perdido de E.T.
Muito bom, mesmo.