sexta-feira, março 27, 2020

Lockdown Rock.

Os Slow Readers Club estão, como toda a gente, enfiados em casa. Mas isso não quer dizer que deixem de nos presentear com excelentes clips do último albúm. Que grande ideia:



Slow Readers Club . Killing Me

quinta-feira, março 26, 2020

Desespero em tempos de cólera.





‘We have to take care of the cure - That will make the problem worse no matter what’
 Joe Biden sobre a melhor forma de combater o C-19. 24 de Março, 2020.

Depois de ter liquidado qualquer hipótese eleitoral a Bernie Sanders, o establishment democrata ficou com um um único sobrevivente para enfrentar Trump nas presidenciais de Novembro. O problema é que esse sobrevivente é Joe Biden, um sénior com 78 anos que está completamente senil (é dizer pouco) e que manifesta claramente a sua demência em cada um dos raros momentos em que seu staff o coloca perante a necessidade da oratória pública. Os exemplos de que Joe não tem condições intelectuais ou psicológicas para liderar a federação são mais que muitos (na ordem das centenas, mesmo) e estão resumidos aqui. O consequente desespero dos democratas com a débil condição do seu candidato é de tal forma intenso que o alinhadíssimo The Atlantic prontificou-se a publicar ontem esta peça propagandística hilariante: tudo o que se pede ao presuntivo nomeado democrata é que não morra. Tudo o que não seja morrer (demência, senilidade e desorientação geral) serve perfeitamente à América e aos americanos, pelos vistos.
Desejo-vos boa sorte, Estados Desunidos. Vão precisar dela.

quarta-feira, março 25, 2020

Vale tudo.

Os franceses confiscaram 130.000 máscaras que tinham como destino o Reino Unido. Os Checos ficaram com 100.000 que vinham da China para a Itália. Os alemães apropriaram-se de medicamentos que tinham sido adquiridos pelos suíços. Em Itália, o governador da Campânia ameaçou hoje os seus concidadãos com lança chamas enquanto os membros da União Europeia, bem como os senadores e os congressistas americanos, não se conseguem entender sobre as medidas a tomar para que as respectivas economias não caiam num buraco sem fundo.

Parece que o inesquecível Joker de Batman - The Dark Knight - tinha alguma razão:

"You see, their morals, their code, it's a bad joke, dropped at the first sign of trouble. They're only as good as the world allows them to be. I'll show you. When the chips are down, these civilized people, they'll eat each other. See, I'm not a monster. I'm just ahead of the curve."

E o Carl Benjamin, também (este, está quase sempre certo):


terça-feira, março 24, 2020

Correcção ao texto anterior.

O Reino Unido entrou hoje em lockdown, pelo que aquilo que afirmo sobre a resposta do governo deste país ao Covid-19 deixa de ser válido.
E, já agora, aproveito para relatar que as luminárias do Facebook chegaram à brilhante conclusão de que o meu post de 17 de Março afinal não devia ter sido censurado. E pedem desculpa e tudo. Espectáculo.
E já que estamos nisto de um post sem interesse nenhum, dá-me vontade de arriscar e fazer futurologia: daqui a uma ou duas semanas, desconfio que vamos começar a assistir a uma reacção generalizada por parte das sociedades civis contra a opção lockdown. E creio que alguns governos vão mudar de estratégia antes que a curva do contágio comece a descer.
Nos Estados Unidos, por exemplo, o Congresso não se entende sobre o apoio financeiro à economia, com os democratas a tentarem enxertar a lei com políticas de identidade e medidas radicais de protecção ambiental, pelo que Trump poderá não ter remédio a não ser o de deixar a economia funcionar.
Vamos esperar para ver.

segunda-feira, março 23, 2020

Entre o pânico e a razão: contributos para uma análise do risco no contexto do C-19.

Não quero de todo desvalorizar as consequências terríveis do Covid-19 e posso estar completamente errado - a seu tempo veremos isso - mas desde o princípio desta pandemia que tenho a opinião de que a maior parte dos países ocidentais - com a excepção da Inglaterra e da Rússia (se considerarmos a Rússia um país ocidental) está a gerir pessimamente esta praga chinesa.

Como já aqui escrevi, a estratégia que defendo seria a de fechar atempadamente as fronteiras e dirigir recursos logísticos, cuidados médicos e regimes de quarentena apenas aos grupos de risco, de forma a manter a economia a funcionar e a ganhar tempo para que as redes hospitalares não entrassem em colapso rapidamente, como está já a acontecer (e ainda não vimos o pior, claro).

A minha opinião deriva também de uma circunstância escandalosa: sabemos muito pouco, mas mesmo muito pouco sobre este vírus. Por exemplo:
- Não sabemos com precisão o seu índice de vítimas mortais. Oscila, mais coisa menos coisa, entre 6% e 0,2%, dependendo dos continentes, dos países, do nível de cuidados médicos instalados, do números de testes feitos e etc. A Organização Mundial de Saúde coloca a média mundial em 3,4%, mas esta percentagem está a sofrer objecções e alterações constantemente.
- Não dominamos de todo a mecânica e o pontencial endémico do vírus. Sabemos que tem um índice de transmissibilidade enorme (essa é se calhar a mais assustadora característica desta doença), mas não temos certezas nenhumas sobre os meios que usa, as resistências que apresenta, as fragilidades que esconde. Não sabemos sequer se a sua agressividade, tanto no contágio como nos sintomas, varia com a temperatura (!).
- Não sabemos porque é que há pessoas imunes ao C-19 ou porque é que a severidade dos sintomas, mesmo nas faixas etárias mais baixas, apresenta graus tão distintos.
- Ainda não sabemos quem foi o paciente zero e ainda não sabemos qual foi a origem do vírus e as causas da sua mutação genética.
- Não sabemos como tratar com eficácia os sintomas da patologia, nem que procedimentos clínicos adoptar para salvar vidas.

A ignorância em que estamos embrulhados deve-se em grande parte ao facto do Covid-19 ter surgido na China, um país governado por comunistas e, como todos os países governados por comunistas, secretivo, manhoso e irresponsável (na acepção humanitária da palavra). O Partido Comunista Chinês, ainda para mais, é certamente aquele que, na história horrorosa dos regimes comunistas, maior indiferença mostrou e mostra pelo valor individual da vida humana, embora a importância esmagadora que é atribuída ao colectivo não resulte, neste caso, apenas do pensamento ideológico, mas também da cultura e da realidade demográfica do Império do Meio. É no entanto factual que o regime chinês procurou esconder a ameaça global, para não perder a face. A linha temporal do fenómeno Covid-19 testemunha bem o lamentável comportamento das autoridades de Wuhan, primeiro, e depois de todo o aparelho sino-comunista.

Porém, não podemos em perfeita justiça atribuir culpas exclusivas à draconiana e incompetente burocracia chinesa por tudo o que não sabemos sobre o Covid-19, quatro meses depois da sua emergência. Há de facto aqui um problema gravíssimo na capacidade de resposta das instituições científicas no Ocidente, que não me surpreende nada e que só confirma o que tenho escrito em quantidades industriais neste blog sobre o estado miserável a que chegaram a maior parte das disciplinas exactas no século XXI.

Perante este quadro de desconhecimento do vírus, aconselhar-se-ia alguma cautela nas decisões políticas tomadas para combater o contágio. Aconselhados pelo puro e simples medo da turba, a maior parte dos governos optaram, com diferentes graus de rigidez, é certo, por fazer parar os seus países nas várias dimensões da realidade social. Esta paralisação multidimensional, desacompanhada de dados científicos credíveis e que nem sequer tem um fim programado, é devastadora em termos económicos, mas também em termos psicológicos e civilizacionais e os seus efeitos estão ainda para serem calculados com um mínimo de exactidão (se tal cálculo é possível).

Toda esta conversa vem a propósito de um artigo sobre a realidade britânica publicado ontem na Medium* e que disseca os dados disponibilizados pelo Office For National Statistics. Neste artigo, demonstram-se com alguma simplicidade dois factos: o primeiro é que o risco de mortalidade provocada pelo Covid-19 dificilmente vai transcender, em Inglaterra, o risco de mortalidade anual por outras causas clínicas, e a curva parece replicar completamente o desenho das mortes por outras doenças. O que vai acontecer é que esse risco incidirá sobre a população durante 3 ou 4 meses e não em 12 (e é por isso que se dá o constrangimento das redes de cuidados médicos). Daqui deriva o segundo facto: uma boa parte das fatalidades registadas no âmbito do C-19 aconteceriam na mesma, através de complicações provocadas pela gripe convencional e por outras patologias que ameaçam o sistema imunitário de pessoas com quadros clínicos complicados e idade avançada. Muitos dos doentes que morrem agora, e digo isto com o devido respeito pelo sofrimento e aflição das famílias atingidas pela pandemia, morreriam mais há frente no tempo, mas ainda no contexto estatístico do ano corrente. Os números são o que são e não mentem.

Vale a pena ler o artigo, mas só este quadro aqui dá bastante que pensar:


Acresce que a estratégia seguida pelo governo inglês, menos restritiva, mais cirúrgica e tendencialmente protectora dos motores económicos internos, está, pelo menos até ao momento em que escrevo estas linhas, a correr bem: o país é apenas o décimo no mundo e sexto na Europa com maior  crescimento de infectados.

O futuro fará justiça sobre a validade das diferentes estratégias e da minha humilde opinião sobre o fenómeno. Mas que corremos o severo e ridículo risco de chegar ao verão com a economia global no ponto zero e evidências estatísticas de que foi o pânico e não a razão que triunfou sobre as decisões tomadas, isso corremos.

Até porque parecemos esquecer, neste momento, que as crises económicas também implicam mortandade, por directa ou indirectamente provocarem guerras, crimes, suicídios, abuso de estupefacientes, subnutrição e doenças.

A ver vamos.

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*Agradeço ao José Abel Aguiar a gentileza de ter partilhado comigo o artigo da Medium.

domingo, março 22, 2020

Pedalada para dar e vender.

Estes amigos aqui, que são de agora mas que estão algures no espaço tempo que existe entre os Interpol e os Editors, debitam energia em quantidade industrial e o riff deste tema manda uma ventania danada. Impressionante.



The Slow Readers Club . All I Hear

sexta-feira, março 20, 2020

Concerto a uma voz.

Ac coisas que este senhor Michael Winslow consegue fazer com as cordas vocais são absolutamente espantosas. Neste caso, a coisa conseguida é a electricidade toda do velho e glorioso tema dos Led Zeppelin, "Whole Lotta Love", até porque a acompanhar o movimento operático só está um músico folk, Odd Nordstoga, com a sua boa viola acústica. Dois geniais minutinhos de barulho lindo.

quarta-feira, março 18, 2020

Tirania Facebook.

Acabei de ser censurado pelo Facebook, por um post completamente inócuo sobre o facto das cadeias de televisão desportivas não terem neste momento eventos para transmitir. O post é este.




































Recebi uma nota muito lacónica a acusarem-me de estar a enganar as pessoas para ganhar likes! Vocês nem imaginam a minha preocupação diária com likes, caros mangas de alpaca com vontade supressora. É uma loucura de lados para os quais durmo melhor. Há porém cenas que me tiram o sono, sim. Uma delas é a censura omnipresente nas plataformas digitais todas - e não só. Que vontade de vomitar.

É claro que o post tem um momento de especulação parva, mas penso que todo o sapiens percebe que o jogo de sueca em Papua Nova Guiné é um, mesmo que débil, exercício de humor. E nada no texto é dirigido contra a estação ESPN, já que aquilo que se caricaturiza é o estado histérico a que a situação mundial chegou. Mas é preciso explicar isto? 

Outra coisa que enerva quando te censuram é que nem sequer te dão direito ao contraditório. Estás cancelado e pronto. Aparece um botãozinho para carregar no caso de discordares e é assim. Acresce que a insinuação de prática desonesta é um insulto que é difícil de engolir. Muito difícil, mesmo.

Eu sei bem que o Facebook é uma máquina de suprimir opinião divergente a nível mundial, e que mais tarde ou mais cedo isto ia acontecer (estou até farto de publicar posts aqui no blog sobre o assunto), mas ainda assim, caramba, que a coisa deixa um gajo irritado, lá isso deixa.

terça-feira, março 17, 2020

Fazer de conta também bomba.

The New Division. Fingem que são Joy Division no século XXI. Fingem que são New Order para sempre. E eu não tenho nada contra isso. Pelo contrário: muito grato lhes fico.



The New Division . Fascination

Da quarentena à recessão.

Hoje fiz uma coisa que não faço há décadas: assisti aos primeiros segundos de uma conferência de imprensa de um ministro da República Portuguesa (foi por acaso). Quando sintonizei a coisa (ao calhas) a senhora Ministra da Saúde apresentava as condolências do seu governo à família da primeira vítima mortal do Covid-19 em Portugal. A voluntariosa e ingénua demonstração de pesar, fez-me pensar. Será que a senhora ministra vai apresentar condolências a todas as famílias dos falecidos, quando no fim do mês de março já somar 160 a 460 defuntos?* E quando contabilizar milhares de mortos, o que é mais que certo, vai estar ali com aquele ar sereno de quem está a controlar a situação completamente?

Mas não é só a ministra - um ser demissionário em potência e a muito breve prazo - que vai ver a sua figura de estilo transformada pela brutalidade dos factos. Por exemplo: será o entusiástico apoio aos profissionais da saúde, que, pontual, desperta com aplausos o silêncio deste temeroso recolhimento, pelas dez da noite, exactamente o mesmo entusiasmado tributo quando os médicos começarem a decidir quem vive e quem morre em função das camas e dos ventiladores disponíveis?
 
E os burocratas de Bruxelas, serão assim tão prestimosos com subsídios se isto durar, digamos, 3 meses?
 
E os portugueses, serão assim tão obedientes no seu acolhimento das ordens superiores, no seu recolhimento tele-trabalhoso, na sua pronta prestação eremita, quando entretanto foram despedidos dos seus empregos, quando entretanto virem os seus pequenos negócios caírem na falência; quando entretanto perceberem que a estratégia para combater o Covid-19 é um disparate medonho e os efeitos da recessão económica que virá depois forem bem mais assustadores - e se calhar - bem mais fatalistas do que a imaginação dos políticos e dos directores dos jornais e dos gestores das grandes empresas consegue projectar?
 
Sei que o pior está para vir. E desconfio que o pior que está para vir não tem nada a ver com o vírus chinês. Deriva antes de uma doença antiga, também endémica mas sobretudo crónica no Sapiens: a mais espúria estupidez.


* Projecção do Professor Jorge Buescu, num artigo de fundo para o Observador.

segunda-feira, março 16, 2020

O medo vende. Até um certo ponto.

Como profissional de comunicação tenho a obrigação de saber que o medo vende à brava. Mas desconfio que os jornais vão continuar a perder a pouca audiência que têm se persistirem nesta esquizofrenia do Covid-19, porque há limites para o alarmismo, mesmo que os tentemos esticar ao máximo e as pessoas vão acabar por se aborrecer de serem constantemente conduzidas ao pânico. Isto já para não falar na idiotia total: é de grande utilidade ficarmos a saber que a primeira vítima mortal do Covid-19 em Portugal foi um senhor amigo de Jorge Jesus ou que o actor Idris Elba testou positivo, por exemplo.

Por uma vez na vida, os meios de comunicação social podiam tentar ser imaginativos. Já que as pessoas vão inevitavelmente ter mais tempo do que costumam (nem que seja pelas horas que poupam em deslocações para o trabalho e para as escolas e nos afazeres diários que perderam o seu sentido), talvez fosse boa ideia criar conteúdos alternativos, que captassem a atenção e a sensibilidade dos leitores. Abrir suplementos relacionados com a história, as artes e as ciências; criar conteúdos sobre hobbies e outros nichos de interesse; publicar ficção folhetinesca como muito bem se fazia no fim do século XIX e princípio do Século XX em Portugal; implementar uma filosofia editorial que abrisse espaço mediático para personagens e fenómenos fora do mainstream; enfim, aproveitar esta janela de oportunidade para reinventar a imprensa, mesmo com os jornalistas a trabalhar em casa (ou precisamente por causa disso).

Mas não. Está tudo a carregar exclusivamente na mesma e deprimente tecla do susto. Como sempre. Que tristeza.


domingo, março 15, 2020

Uma cambada de coninhas.


Com o devido respeito pelas pessoas que vão de facto sofrer horrível e directamente os efeitos da epidemia Covid-19, devo dizer o seguinte:

Vivemos num mundo liderado por coninhas. Um outro tipo de pessoas-líderes que não fossem coninhas assim, pensavam duas vezes no que estão a fazer. Como são coninhas mesmo, coninhas do pior que há, só pensam no medo.

Os coninhas que só pensam no medo preocupam-se loucamente com a quantidade de votos que perdem por serem valentes e nem conseguem dormir dada a expectativa de serem vandalizados nas redes sociais ou de serem malditos nas colunas dos jornalecos que andam para aí a ser publicados e que, apesar da falência factual das respectivas audiências, metem imenso medo aos coninhas.

E o medo é um horroroso conselheiro.

No mês de Janeiro deste fenómeno só existia uma estratégia sã que as nações ocidentais tinham para seguir, no contexto do Covid-19, e que divido em três pontos fundamentais.

O primeiro é puramente político: responsabilizar a China, de forma a que a China se visse obrigada a ser globalmente responsável e, assim, contribuinte desinteressada da rede logística global de que é, na breve história do século XXI, a primeira beneficiária. Mas como estamos a falar de coninhas ocidentais, isso está completamente fora do espectro ontológico e a China neste momento está até - super e suprema ironia - a gozar o prato de ser uma ditadura e de - por esse glorioso facto - ser capaz de circunscrever e eliminar de forma bastante mais célere e prosaica as mesmas circunstâncias epidémicas que as frágeis e juridicamente complexas democracias têm épicas dificuldades em resolver.

O segundo ponto fundamental é de ordem pragmática: havia que fechar fronteiras ao turismo e à migração não prioritária. As fronteiras permaneceriam abertas ao movimento logístico de grande impacto económico e não mais que isso. Mas como vivemos na União-Europeia-de-Portas-Abertas  em que fechar fronteiras é uma política nazi, vá de deixá-las abertas. Até ver.
(Actualização: o Costa fechou agora ao turismo a fronteira com Espanha. Devia tê-lo feito há um ou dois meses atrás).

O terceiro, e mais que óbvio princípio lógico seria o de investir na protecção do grupo de risco: pessoas imuno-deficientes e/ou pessoas com mais de 65 anos. Esta seria a medida com melhores resultados estatísticos, no que tem a ver com a mortalidade do vírus, mas a cambada de coninhas que nos governa não é só deficitária de coragem. Também é deficitária de lucidez e de inteligência e é por isso que estamos neste momento a uma quântica distância do colapso das instituições fundadoras e fundamentais da sociedade só por causa de uma merda de uma doença que mata uma pessoa em cem.

Vão morrer, nos próximos meses, mais pessoas em acidentes rodoviários. Fechamos as estradas? Já morreram mais pessoas este Inverno da gripe comum. Fechámos para o Inverno? Morrem, todos os dias de cada mês e em todas as estações do ano, imensas pessoas nos hospitais portugueses por infecções que lá apanham. Fechamos os hospitais?

Por amor de Deus, não sejam tão coninhas. E, já agora, pensem em que género de economia, em que espécie de mundo vão aterrar já a seguir, no Verão, quando o vírus sair do ciclo diário dos jornais e escapar à indignação parva das redes sociais e o que houver para mostrar de todo este inferninho de agora for desempregos e falências e o reforço de uma estado falido mas subsídiário e o exponencial declínio desta Civilização pela qual os vossos avós, que não eram coninhas nenhuns, se sacrificaram em números - esses sim - abismais, para a deixar de tal forma perfeitinha que pudesse agora ser completamente aniquilada pela infame ausência daquilo que mais falta faz ao Homem Civilizado: um par de tomates.

sexta-feira, março 13, 2020

Um planeta com muitos mundos ou o maior equívoco da globalização.


Residents in Wuhan say pork portions from government stores were tipped from a dirty rubbish truck onto the street before being distributed for human consumption. Photo: Weibo

Um dos mais fraudulentos mitos da globalização é o que instalou a ideia de que, porque vivem no mesmo planeta, as pessoas vivem no mesmo mundo. Não vivem. Eu, por exemplo, vivo num mundo completamente diferente do chinês que, num dos mais relevantes órgãos de propaganda do seu partido, deixou a ameaça de cortar o abastecimento de medicamentos aos Estados Unidos, de tal forma que os americanos fiquem submersos num oceano de Covid 19.
E também não vivo no mesmo ecossistema dos congressistas e dos senadores americanos que permitiram, nos últimos 20 anos, que os seus constituintes ficassem dependentes dos medicamentos fabricados num país inimigo.
Mas se calhar o melhor exemplo de que num só planeta cabem vários e distintos mundos, volta a ser chinês: um diligente funcionário de Wuhan decidiu distribuir rações de carne de porco à população num camião do lixo.
E está tudo dito.

quarta-feira, março 11, 2020

Better Man.

Todos tentamos ser melhores bichos, mesmo quando não sabemos o que é melhor num bicho.



Courteeners . Better Man

segunda-feira, março 09, 2020

O derradeiro cavaleiro do apocalipse.

Por causa de uma porcaria de um vírus que nos países do Ocidente tem a mesma perigosidade da gripe - e da histeria ridícula de políticos, jornalistas e capitalistazinhos cobardes que vendem as acções ao primeiro espirro - há uma forte possibilidade que milhões de pessoas caiam no desemprego e que centenas de milhar de pequenas e médias empresas sejam levadas à falência.
A estupidez do Sapiens é ilimitada (infelizmente não podemos dizer o mesmo da sua inteligência), bem sei. Mas seria de esperar que as elites se comportassem de forma mais responsável. Porque o que é verdadeiramente assustador no Covid-19 é a capacidade que este vírus demonstra em expor a inacreditável fragilidade da civilização instalada. Imaginem só o que seria do mundo se em vez de um índice de mortalidade de 1,7%, o vírus matasse, digamos, 8 pessoas em cem? Morriam essas 8 pessoas da gripe chinesa e depois morriam as restantes 92 de fome, de outras doenças e da violência generalizada que provavelmente substituiria as instituições colapsadas. Portanto: esqueçam a guerra nuclear, a colisão meteórica ou a erupção vulcânica. O verdadeiro cavaleiro do apocalipse é microbiano.

sábado, março 07, 2020

Ska nevasse fazia ska ski.

Candide Thovex faz ski por todo o lado, num espectacular clip da Audi.


Da espada de Dâmocles ao pesadelo de César.

Carl Benjamin, a.k.a. Sargon of Akkad, é um notável youtuber e pundit britânico que tem feito a sua carreira pelas vertentes do comentário político e da intervenção cidadã, mas como o Youtube retira a possibilidade de financiamento a certos canais que não concordam com a verdade oficial e absoluta das big tech e porque Benjamin é um tipo que tem interesses e inteligência e cultura que transcendem as vilanias da ciência do governo dos homens, decidiu - e bem - criar um canal completamente diferente - The Symposium - com conteúdos transversais sobre a cultura ocidental, porventura mais focados na história e nas histórias da antiguidade clássica.

Estes vídeos, que são melhor consumidos como pod-casts e que podem completamente ser ouvidos enquanto fazemos outra cena qualquer, como trabalhar ou correr ou pedalar ou postar selfies no Instagram ou criar um grupo de amigos no What's App ou lá o que as pessoas fazem na vida quando estão acordadas, são um exemplo virtuoso do que pode ser um programa pedagógico de larga audiência e a prova de que, apesar do Youtube (leia-se: apesar da Google), a plataforma do monitor vermelho continua a bombar alternativas, enquanto o mainstream mediático se fecha cada vez mais numa horrorosa, desertificada e aborrecida concórdia de elites.

Um esclarecido retrato dos Suevos, talvez a mais selvática cultura bárbara que a civilização romana teve que enfrentar, ilustra a elevação e a amigabilidade do discurso. E deixa os censores do Youtube (leia-se: os censores da Google) com um problema grande: que motivo pode haver para que este vídeo não inclua publicidade, de forma a que tanto o servidor da plataforma como o criador do conteúdo ganhem a sua justa recompensa material?



A censura é sempre contraproducente e o Youtube perde milhões e milhões de dólares todos os dias, quando retira a possibilidade de rendimento aos seus criadores. Por causa da ideologia, triunfa a falência. Não deve ser grande coisa, então, essa ideologia.

sexta-feira, março 06, 2020

Courteeners para sempre.

Um conselho de amigo para quem gosta de pop/rock contemporâneo: oiçam a última opus dos Courteeners - "More. Again. Forever.". Trata-se de um disco inspirado, em boa hora parido por uma banda praticamente desconhecida em Portugal, mas que bomba que se farta há uns bons 15 anos ou assim. Desde a remota altura de "Not Nineteen Forever" que o que espero de facto destes rapazes é Mais, é Outra Vez e é Para Sempre. É que eles conseguem, sem excepção, ser extremamente simpáticos com o ouvido enquanto recusam ceder a facilitismos de rápido acesso às tabelas de vendas e aos prémios do gosto duvidoso. Seis estrelas em cinco possíveis.



Courteeners . Hanging Off Your Cloud

segunda-feira, março 02, 2020

Prazer acústico.

Os The Slow Readers Club, que são convidados deste blog desde 2015, decidiram editar uma breve e desligada da corrente eléctrica revisitação de alguns dos seus temas e a obra é uma maravilha sensorial. Escolhi este musiquinha: três minutos e quinze segundos de puro prazer acústico.



The Slow Readers Club . Supernatural