domingo, março 05, 2006

Ontem descobri este senhor.

"Como compreender psicologicamente, socialmente, a capacidade dos seres humanos de interpretarem e serem sensíveis, por exemplo, a Bach ou Schubert, à noite, e de torturarem outros seres humanos na manhã seguinte?”

George Steiner, Errata.

quarta-feira, março 01, 2006

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"Há alguns dias levei um macho de Mantis Carolina a um amigo que possuía uma fêmea solitária como animal de estimação. Uma vez colocados no mesmo boião, o macho, alarmado, tentou escapar. Em poucos minutos a fêmea conseguiu imobilizá-lo. Ela começou por lhe arrancar o tarso anterior esquerdo e devorou a tíbia e o fémur. Em seguida arrancou-lhe o olho esquerdo. Neste momento, o macho pareceu aperceber-se da proximidade de um insecto do sexo oposto e iniciou uma série de vãs tentativas de acasalar. A fêmea, entretanto, comeu-lhe a pata anterior direita e em seguida decapitou-o completamente, devorando-lhe a cabeça e abrindo caminho para o interior do tórax. Apenas se deteve para repousar quando já havia comido todo o tórax do macho, à excepção de 3mm. Tudo se passou enquanto o macho tentava obter entrada nas válvulas, o que acabou por conseguir, uma vez que a fêmea voluntariamente a isso se dispôs, e o acasalamento consumou-se. Ela permaneceu sossegada durante 4 horas, enquanto os restos do macho, ocasionalmente, davam sinais de vida por meio de movimentos de um dos restantes tarsos. Na manhã seguinte, a fêmea tinha-se desembaraçado completamente do seu esposo e dele só sobraram as asas."

L. O. Howards - 1886
In "O Sorriso do Flamingo" - Stephen Jay Gould - 1985

terça-feira, fevereiro 28, 2006

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Logo à primeira audição de "First Impressions of Earth", a terceira pérola dos Strokes, percebe-se que as notícias da morte do rock, que tantos jornais venderam nos anos 90, eram bastante exageradas. Aquela que é hoje, na minha arrogante opinião, a melhor banda do universo, faz questão em demonstrar cientificamente, mais uma vez, que o género ainda vai parindo a modernidade e que está aqui para o que der e vier: com pontapés na boca e arrepios na espinha, com erecções e espasmos e ressacas de cavalo, com certeza no cagar e poesia da boa. "Sweetheart, my feelings are more important than yours / Oh, drop dead, I don't care, I won't worry / Let it go". Isto sim, é ser de boa companhia para uma guitarra eléctrica. O segredo dos Strokes é a inacreditável frontalidade conceptual com que abordam a Coisa. Uns riffs durinhos e redondos, o compasso rítmico de precisão escolástica (assim para o acelerado) e um sentido melódico que, mesmo quando implode a atitude punk-é-que-é-cool-vamos-lá-partir-a-loja, transforma a música num prazer imenso, onírico, penetrante. A banda está sempre com aquela pose porreira de não querer saber, esconde-se de glórias imagéticas e faustos cenográficos, rejeita o glamour MTV e chuta para a frente: "I've got nothing to say / I've got nothing to give / I've got no reason to live / But I will kill to survive / I've got nothing to hide". Boa onda. Muito boa onda. E está a rebentar aqui.
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quinta-feira, fevereiro 23, 2006

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Reencontros.

Uma noite difusa de 1989. Ritz Club. Três gajos de aspecto suspeito e barba por fazer embebedam-se na mesa do canto. E escrevinham à vez, no mesmo pedacinho martirizado de papel. E que raio escrevinham? Insultos, contos de ficção científica, crónicas de alcova, novelas da meia noite, pesadelos de Boris Vian, cadáveres esquisitos de toda a ordem, relatórios da sexta cerveja, anedotas do terror da vida. Dão os três, neste ofício de cinzas, pelo mesmo nome de José de Ícaro e vão acabar por se perder pelos interstícios da vida.
17 anos depois, o alado e trifásico personagem literário reencontra-se na blogosfera. O Pedro Barros, esotérico e inspirado, pan-demónio à solta sobre o aborrecimentro da vida, já não escrevinha insultos porque deu com o crânio no poste e depurou-se assim de vilanias. O Jorge Silva, que consegue fazer literatura com as contra-indicações de um antibiótico, queixa-se dos rins e venera o Zeca Afonso, num verdadeiro desenterro mitológico. E eu, Paulo Hasse Paixão, estou para aqui encostado à minha sombra, com saudades de quando éramos pequeninos e divinos, e procuravámos o sol com asas de cera.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

À escuta das Vozes da Poesia Europeia - IV

Celebrando a feliz edição da revista Colóquio Letras - que traz à estampa, em três cuidados volumes, as traduções que David Mourão-Ferreira fez da poesia europeia.

JUVENAL E AS QUEIXAS DE ROMA.

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É realmente uma chatice, mas sabe-se muito pouco sobre a vida de Decimus Lunius Luvenalis, o mais indignado e moralista dos poetas satíricos da história do Império Romano. Nascido no primeiro e morrido no segundo século da era cristã, Juvenal deixa à posteridade um vasto discorrer de protestos, críticas, censuras, lamentos, vitupérios, acusações, conselhos, imperativos categóricos, grandes máximas de tom paternalista e algumas saídas de génio proverbial, entre as quais a célebre equação retórica "Quis custodiet ipsos custodes?" (Quem guarda os guardiões?), a propósito da inutilidade de usar eunucos para guardar as mulheres dos nobres. A expressão "panem et circenses" (pão e circo) - utilizada para definir os instintos primários da populaça - é também da sua pertinaz autoria.
Juvenal viveu numa Roma mal criada, indigesta, perigosa e barulhenta; uma Roma pobre e imunda e caótica, emaranhado de ruas estreitas, calçadas esburacadas, telhados periclitantes e engarrafamentos de carroças; a rebentar pelas costuras de bêbados e bandidos, de putas e soldados, de escravos insolentes e fidalgos avarentos e senadores corruptos e matronas promíscuas. De tudo isto, muito se queixa o autor, nas 16 sátiras que sobreviveram às eras. Davida Mourão Ferreira escolheu traduzir precisamente alguns fragmentos bem elucidativos do tom choroso embora constestatário, hipocondríaco mas sardónico, do grande poeta.
Façam o favor de ficar pois, com o livro de reclamações de Juvenal, uma eloquente vítima da barbárie romana.

“O que a pobreza tem afinal de mais duro:
dar a qualquer pessoa um aspecto ridículo.”

“Morre-se aqui de insónia. E fica-se doente
com as más digestões, que nos deixam o estômago
em acidez ardendo... Onde encontrar um sítio
propício para o sono? É que só os mais ricos
poderão afinal dormir nesta cidade.
E é isto que nos mata. E que dizer do aperto
p’los carros provocados em as ruas estreitas,
do rebanho ruidoso e que não mais avança,
capazes de acordar mesmo aqueles que sofrem
da doença do sono? Apenas quem é rico
é que pode sem custo, em liteira fechada,
aí ler, e escrever, e dormir à vontade,
chegar aonde quer antes de toda a gente...
Nós, que vamos a pé, temos que suportar
a torrente de quem caminha à nossa frente
e a torrente de quem nos empurra p’las costas:
aqui, um cotovelo; ali, uma fasquia;
este me dá c’um pau, aquele com um vaso;
e tenho as pernas já salpicadas de lama;
e ora esmagado o pé por uma sapatorra,
ora fendido o pé p’lo ferro de um soldado!

Agora considera outra ordem de p’rigos
aos quais principalmente a noite nos expõe:
se uma telha cair destes altos telhados,
em que estado nos deixa o crânio, em que estado!”

Sátiras 3


“Quando a casa é maior, Mais insolente o escravo.
Repara nesse, aí que a resmungar te impinge
um duríssimo pão, de miolo empastado,
que sabe já a mofo e a teus dentes resiste!
Do alvo como a neve, inda por cima fofo,
só o dono da casa é que pode ingeri-lo...
E não penses sequer que vais tomar-lhe o gosto.
Retira lá as mãos! Refreia o apetite.”

Sátiras 5


“Há que um risco sofrer por uma justa causa?
Geladas de pavor ficam logo as mulheres...
Só pra desonrar é que mostram audácia,
pois não há nada, então, que as faça estremecer.

Enjoam no alto mar, tudo lhes causa náusea,
se têm que embarcar por ordem dos maridos...
Co’os amantes, porém, fazem boa viagem,
e tudo lhes agrada a bordo dos navios...”

Sátiras 6

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

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Um mouro na cidade.

O Porto é uma cidade estranha. Viramos uma esquina e passamos da miséria urbana ao fausto burguês. Dobramos uma ruela - vindos da opressão caótica e suja e parda e sem horizonte - e abre-se um cenário irreal de metrópole rebelde, altiva e sensual. É o inverno cosmogónico que faz implodir a luz. É das trevas que provém o brilho intenso, a vaidade.

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O Porto é uma cidade estranha. Fechada dentro de si, mostra ao Douro apenas a roupa interior da Ribeira, as masmorras do carvão e os tentáculos das pontes breves. A baixa esconde-se por detrás de ruínas e decadências, de neblinas e cercos e muralhas tão antigas como o medo dos homens.

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O Porto é uma cidade estranha. As fachadas têm um peso específico para além das leis da física e amontoam-se entre um grafismo lúgubre e o chic burguês da virtude comercial. Há qualquer coisa aqui que não faz sentido, mas que me seduz. Há uma arquitectura que apodrece com magnificência. Há um respeitável modernismo entre o bolor das eras.

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O Porto é uma cidade estranha. As igrejas amarram-se ao chão como se estendessem raízes à procura de Deus no centro da terra. As torres quiméricas que apontam ao céu; rasgando, desafiadoras, o horizonte monolítico; são enrugadas e rendilhadas pela gravidade e o ar é de uma densidade alienígena: doem-me as costas da carga que trago por não ser daqui.

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O Porto é uma cidade estranha. Na Foz, a urbe confronta-se serenamente com a ferocidade do Atlântico, sacrificando às ondas a alegria do Sol. Em S. Bento, escoa-se a vida pelo fluxo ferroviário do mistério. No Paço Episcopal, passa-se droga e trocam-se anedotas. As formas e as funções incompletam-se e confundem-se na paisagem como uma aguarela que não foi acabada porque o génio morreu. E quem sou eu para perceber isto?

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quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Façam o favor de incendiar mais embaixadas.

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A "Declaração do Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros sobre a crise dos cartoons" é de uma vilania incalculável, mesmo para este abismo da moral que é o sr. prof. dr. Diogo Freitas do Amaral.
Falando em nome dos portugueses - o que me deixa enojado - o sr. prof. dr. "lamenta e discorda da publicação de desenhos e/ou caricaturas que ofendem as crenças ou a sensibilidade religiosa dos povos muçulmanos." Na Declaração, nem uma nota solidária para com os seus congéneres dinamarqueses em Teerão (por exemplo), nem um desviozinho para condenar a violência abstrusa, despropositada e bárbara com que os povos árabes estão a tratar a questão. Nem uma palavra em nome da civilização ocidental, que sacrificou gerações e gerações em guerras, revoluções, reformas e outros mil santos ofícios, para que agora qualquer cartoonista tenha a suprema liberdade de enfiar preservativos no nariz dos papas ou bombásticas chapeladas na cabeça dos profetas. Felizmente, algum destes génios se lembrará de certeza de caricaturar o Ministro dos Negócios Estrangeiros, que se está a pôr muito a jeito; e também para que esse prazer nos seja dado, outros mais milhões de almas pereceram em trincheiras e fogueiras, em levantamentos e convulsões, campos de concentração e salas de tortura; sempre em nome daquilo a que chamamos direitos humanos, liberdades fundamentais ou - muito simplesmente - Civilização. Diz ainda o sr. prof. dr. esta coisa fantástica de que "a liberdade sem limites não é liberdade, mas licenciosidade." O sr. prof. dr., pelos vistos, acha que é licencioso relacionar, para fins de sátira, a fé maometana com o terrorismo internacional. E acha assim porque:

a) Não percebe nada de história;
b) Não percebe nada de história das civilizações;
c) Não percebe nada de história das religiões;
c) nunca ouviu Bin Laden a falar de guerra santa;
d) ainda não conseguiu entender que os estados islâmicos não são laicos;
e) ainda acredita que a política nuclear iraniana se destina à produção de energia para consumo doméstico;
f) É um bruto e não tem sentido de humor.

Mais uma vez em bicos dos pés, mais uma vez infame e ridículo, mais uma vez desastradamente irresponsável, o sr. prof. dr. Diogo Freitas do Amaral perdeu uma enorme oportunidade de estar caladíssimo. E, mais uma vez, prestou um péssimo serviço ao País, à Europa e ao Ocidente.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Manias*

Tenho a mania de tirar macacos do nariz
e de ficar pelo discorrer da madrugada acordado;
é um hábito maluco que me faz feliz
e dorme bem de dia quem tem o sono pesado.

Tenho a mania maleita que sou de direita,
é o que me dizem os amigos de esquerda.
(De vez em quando também faço a desfeita
de mandar certos amigos à merda).

Tenho a mania disto de ser ateu,
é já bastante ter fé na religião da gramática
e servem bem ao céptico que sou eu
as leis sagradas da matemática.

Tenho a terrível mania de desesperar.
Chateia-me na vida o seu trajecto imperfeito
e de alguma maneira terei de exorcisar
a puta da maldição a que sou sujeito.

Tenho esta mania perneta que sou dotado
para certas artes de onírico tema.
Na verdade sou muitíssimo desastrado
como bem se ilustra neste poema.

Enfim, confesso, a mania dos brinquedos.
Mas o mal de que mais tenho sofrido,
a fobia sobre todos os medos,
é, no fim das contas, ir a morrer falido.


* Ao desafio com o blogger Viriato.

domingo, janeiro 29, 2006

Koeman outra vez.

Para além da vergonha gorda de levar um banho de bola de uma equipa medíocre como é medíocre a equipa do Sporting (e a sério que digo isto com o devido respeito para com o meu clube rival), ficou a incompetência de Ronald Koeman demonstrada por mais uma cansativa vez. Direi até que os treinadores holandeses presentes na Liga são tão fraquinhos como o futebol da nação que os pariu. Ou, no mínimo, uns furos abaixo da realidade competitiva deste pequenóide país Portugal, onde até se joga mais ou menos à bola. O inqualificável Beto será bom jogador para o Ajax. Para o Benfica é apenasmente ofensivo. Resta-me a alegria triste de ter um blog com melhor memória do que alguma vez sonhei para mim. E, assim sendo, aqui fica o que já editei com referência ao atraso mental deste senhor treinador da equipa de futebol do meu querido Sport Lisboa e Benfica. No primeiro replay sobre o jogo em Alvalade (os erros foram os mesmos), no segundo sobre aquela estupidíssima noite em Old Trafford.

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sábado, janeiro 28, 2006

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Da Wikipédia, com amor:

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"Quer saber como eu componho? Posso dizer-lhe apenas isto: quando me sinto bem disposto, seja na carruagem quando viajo, seja de noite quando durmo, ocorrem-me idéias aos jorros, soberbamente. Como e donde, não sei. As que me agradam, guardo-as como se tivessem sido trazidas por outras pessoas, retenho-as bem na memória e, uma após a outra, delas tomo a parte necessária, para fazer um pastel segundo as regras do contraponto, da harmonia, dos instrumentos, etc. Então, em profundo sossêgo, sinto aquilo crescer, crescer para a claridade de tal forma que a obra mesmo extensa se completa na minha cabeça e posso abrangê-la de um só relance, como um belo retrato ou uma bela mulher... Quando chego neste ponto, nada mais esqueço, porque boa memória é o maior dom que Deus me deu."

Wolfgang Amadeus Mozart

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Caravaggio ou o drama humano.



Michelangelo Merisi, nascido no Ano do Nosso Senhor Jesus Cristo de 1571 em Caravaggio - código postal Bérgamo - é um daqueles super heróis que dão mesmo prazer a um qualquer tipo que tenha um qualquer blog.
Nem sei se tenho pinta para escrever sobre esta monstruosidade sapiens-sapiens, que por abstruso desígnio teve de conviver aos pontapés com os neandertais de um renascimento maduro e hostil para com tamanha valentia; vítima de ter nascido à morte de Leonardo e criança ainda no apogeu de Michelangelo Buonarroti (azar dos azares pelo qual trocou o seu nome de baptismo pela onomástica da pequena aldeia Lombarda que o pariu), Caravaggio é - certificadamente - um animal eleito pelos céus!


Eu explico: enquanto Roma - como qualquer outra cidade estado da península - fervia ainda em lume brando o espanto de ter Renascido esteticamente das cinzas de mil e quinhentos anos, já o Desmancha Prazeres contradizia e disputava. Cristo não viveu, nem morreu, por entre anjos e aristocratas, querubins e pontífices, demónios e magistrados, santos e príncipes. Toda a gente sabe disso porque está escrito no Novo Testamento que o Filho Primogénito do Senhor preferia - para o bem e para o mal - a companhia de putas e pescadores, bandidos e facínoras, feirantes e músicos de feira, soldados e verdugos, vagabundos e agiotas. E, o que é mais, tanto igual se pode dizer de profetas e iniciados do Antigo Testamento.



Ora se os dois almanaques de Deus são deveras explícitos, que raio, seremos de tal forma snobs e pudibundos, botas de elástico e armados em bons que nos recusamos a pintar a mitologia como ela foi de facto experimentada no campo? Herético é aquele que ignora a escumalha porque a escumalha é o fruto favorito e massificado do criador. Não se louva a deus com cosméticas de sacristia nem se serve Jesus se pintarmos os lábios do seu carrasco. E é com esta valentia, senhores, é com esta determinação, senhoras, que nasce o Naturalismo. Caravaggio excomunga a onírica renascentista e as suas referências mainstream da arte clássica para colocar as pessoas da rua na iconografia cristã. Mas - muito importante - vai mais além e preocupa-se esencialmente em capturar o sofrimento implícito nos episódios biblícos. A dor, a impotência, a humilhação, a escravidão, a brutalidade, a tortura, o intenso esgoto da vida humana.

Ele mesmo sabia daquilo que estava a pintar: Inimigo dos clássicos, mas personagem de tragédia, homem de porradas e duelos, de confrontações e bengaladas, Caravaggio envolve-se durante a sua curta vidinha num turbilhão de violência e ódio e perseguição e desventura. Preso frequentemente por pancadarias em bordeis - que deixavam vítimas muitas - e por desafouros à arte sacra - que perturbavam a glória dos tempos - este verdadeiro forcado da existência nunca se cansou de segurar a vida pela pega mais afiada.



É claro que quem vive no gume acaba por se cortar e em 1606 Caravaggio - num gesto socialmente desastrado - assassina um nobre por causa de um jogo de pallacorda. Uma coisa era matar um gajo qualquer numa tasca imunda. Outra era espancar um aristocrata até ao fim num elegante court de ténis. Expulso de Roma e proscrito em grande parte da cartografia, os quatro anos que lhe faltam cumprir são dignos de Homero: de fuga em escapadela, de perdão em traição, de desilusão em desespero, Caravaggio vai correndo a Itália em direcção à morte.


Ainda pinta à brava, mas sobretudo foge. E quando finalmente é perdoado e convidado a deixar o exílio, dá-se um daqueles equívocos de Odisseia que deitam tudo a perder, para que ganhe apenas o diabo um companheiro mais: por uma questão de saias ou por outra de vinganças, comparece lamentavelmente tarde demais ao barco da libertação; de tal forma que chegam a Roma somente os seus haveres (que serão confiscados) e as notícias, nada exageradas, de que o peregrino cineasta do grande plano, o druída entre magos do enquadramento fechado e gráfico, o sumo patriarca da luz e das sombras (aqui já há Rembrandt), o primeiro ministro de todos os realismos, Michelangelo Merisi, conhecido por amigos e inimigos pelo nome da aldeia em que nasceu, morre, com 39 venerandos anos, numa praia deserta em Porto Ercole - Código Postal Grosseto - no Ano da Graça do Nosso Senhor de 1610.


segunda-feira, janeiro 23, 2006

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Acabou-se!

Depois de uma eternidade de lugares comuns, calou-se enfim a fanfarra esdruxúla das presidenciais. Espanta-me o facto de ainda haver gente para comícios. De ainda se levantarem bandeiras (oficiais) e de se ouvirem mesmo assim clamores de uma massa idólatra de baixo culto, que geme, mandatada pelos brasileiros da produção, aliterações de manada, cuja inspiração remonta ao paleolítico inferior da Terceira República.

Cavaco Silva aprendeu a lição de Sócrates: quanto menos se disser, melhor. Afinal, o que se pode dizer de verdadeiro é tão deprimente que se perde sempre uma lindíssima oportunidade para estar calado. O mudismo ideológico e a invalidez personalística dos líderes é fatal para a democracia, porém - dado o contexto histórico - a estratégia é de uma eficácia devastadora. Acho que o homem merecia o emprego, mas lamento dizer que votei sem esperança.
Manuel Alegre desceu pelas escadas da Assembleia da República mascarado de cidadão e dois em cada dez cidadãos não perceberam o carnaval. O incorrigível primeiro ministro (sob o alto patrocínio das estações de televisão) cortou-lhe a palavra. E o que é que se perdeu com isso? nadinha, zero. O senhor também não tinha nada de especial para dizer e, convenhamos, ainda não lhe tinha sido aplicado o justo punitivo.
Mário Soares perdeu duas coisas, hoje: a eleição e a glória.
Jerónimo de Sousa é um político brilhante e merece, folha por folha, os louros de mais uma vitória moral do Partido Comunista Português. Infelizmente para ele e felizmente para o País, o partido continua sem uma saída ideológica para a contemporaneidade. O homem é excelente, mas os argumentos são do século XIX. Assim, não dá para mais que isto.
Francisco Louçã já está a sofrer as dores da vida: o partido vale agora mais do que ele e o facto do Bloco ficar com um líder fragilizado é algo que me deixa bastante feliz, confesso.

Tudo isto junto é, apesar do barulho, de muito pouca substância. E,sinceramente, uma semaninha bem medida chegava e sobrava para a cacafonia ritual.

terça-feira, janeiro 17, 2006

À escuta das Vozes da Poesia Europeia - III

Celebrando a feliz edição da revista Colóquio Letras - que traz à estampa, em três cuidados volumes, as traduções que David Mourão-Ferreira fez da poesia europeia.

HORÁCIO E A VITAMINA DO DIA.
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Ilustre poeta clássico, Quinto Horácio Flaco (65 A.C - 8 A.C.) é célebre pelo que deu à lírica, tanto em versos como em conselhos. Uns e outros produto pródigo de um talento imenso e de uma existência atribulada. Na convulsão política e militar que decorre do assassinato de Júlio César, Horácio decide desgraçadamente alistar-se nas fileiras de Brutos, uma tropa de improvisos, condenada pela providência a ser esmagada por Augusto, que se apressa a deportar o infeliz. Perdoado pelo estado mas castigado pelos deuses, regressa a Roma para encontrar o pai morto e a propriedade confiscada. Reduzido à miséria conhece Virgílio e depois - algo mais importante - ganha a amizade de Mecenas, generoso aristocrata que financiará as suas notáveis Odes, Sátiras e Epístolas.
Talvez por tudo isto - ou nem por isso - David Mourão Ferreira escolhe a magnífica e imortal Ode a Leucónoe, um elogio da existência como uma experiência intensa e despreocupada do momento presente. Por razões que podemos adivinhar facilmente, Horácio apela à sua ninfa para que se deixe arrebatar pela vertigem de um imediatismo hedonista. O futuro aos deuses pertence e nem vale a pena frequentar oráculos: se o que temos é o aqui e o agora, o melhor é aproveitar. Não sei se Horácio inventou este irresponsavelmente lindo paradigma (a Epicuro devem estar reservardos os direitos de autor), mas pelo menos tem o mérito de ser o primeiro a lançá-lo para a combustão da poesia. Eis, pois, nas suas próprias e eternas palavras, um conselho que, afinal, já todos seguimos um dia.

CARPE DIEM
Ode a Leucónoe

Não procures, Leucónoe - Ímpio será sabê-lo -,
que fim a nós os dois os deuses destinaram;
Não consultes sequer os números babilónicos:
melhor é aceitar! E venha o que vier!
Quer Júpiter te dê inda muitos Invernos,
quer seja o derradeiro este que ora desfaz
nos rochedos hostis ondas do mar Tirreno,
vive com sensatez destilando o teu vinho
e, como a vida é breve, encurta a longa espr’ança.
De inveja o tempo voa enquanto nós falamos:
trata pois de colher o dia, o dia de hoje,
Que nunca o de amanhã merece confiança.

sexta-feira, janeiro 13, 2006

O umbigo dos deuses.

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O Centro da Via-láctea, a 26.000 anos luz da terra. Imagem capturada pelo telescópio espacial de infra-vermelhos Spitzer. As áreas a vermelho vivo estão associadas a estrelas muito jovens e quentes, que se desenvolvem em berçários estelares. Aparentemente, o vórtice da nossa galáxia é muito concorrido: esta imagem abrange um horizonte cósmico de apenas 900 anos luz.

sexta-feira, dezembro 30, 2005

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Insónia na Amazónia.

No dicionário de rimas
do Senhor Visconde de Castelões
(Editorial Domingos Barreira),
as palavras passam a palavrões
e reduzem o Português a poeira.

Insónia, por fatalidade,
rima com Paflagónia,
com adansónia,
com escalónia.
E com santimónia, é verdade.

Esta minha vontade de não dormir
por força terá que admitir
a troca de favores com bolónia,
com sidónia
e com plutónia;
palavras sábias, sem dúvida nenhuma,
para todos e cada uma;
excepto para o infeliz desgraçado
que permanece acordado.

Excepto para o versador de fim-de-semana
de pesada pestana que:
não tem sono nem harmónia;
não gosta de banhar a lírica em água de colónia;
não sabe onde é que fica a Esclavónia;
não acerta na estirpe do vírús da monocotiledónea
e acha excessivamente excessivo levar o verso até Semprónia.

Não encontrei a cachimónia
mas tenho a certeza que o mestre da rima
sabendo dela, a colocaria logo por cima
de cassidónia.

Porque, sim, temos a estética
da ordem alfabética!

Ora, o Senhor Visconde de Castelões, que é um artista,
podia era ir à fava, com o seu dicionário surrealista!

terça-feira, dezembro 13, 2005

À escuta das Vozes da Poesia Europeia - II

Celebrando a feliz edição da revista Colóquio Letras - que traz à estampa, em três cuidados volumes, as traduções que David Mourão-Ferreira fez da poesia europeia.

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CATULO, IPSITILA, LÉSBIA E O MARIDO DELA.

Gaio Valério Catulo (84 A.C.- 55 A.C.) foi um dos mais influentes poetas romanos do seu tempo e por muitas e saborosas razões. Vanguardista doido, teve a coragem de mandar às urtigas o cânone homérico, trazendo para a poética as coisas mais pequenas e saborosas da vida quotidiana. Nada de telenovelas divinas ou da improvável glória dos guerreiros facínoras, maiores que a própria vida: a verdade é não haver heróis que se aguentem à bronca do dia-a-dia, nem força na multidão que transcenda o egotismo, e a poesia precisa é da humanidade corriqueira, do individualismo e da pilhéria, da contestação e do escândalo. Em vez do sal épico, a pimenta erótica. Por oposição ao formalismo estético, a diatribe lírica.
David Mourão Ferreira escolhe 3 obras deliciosas que reflectem bem o espírito desta romanesca figura, imparável beijoqueiro e valente fornicador. Lésbia, personagem que inspirou frequentemente o líbido e a veia do poeta, será muito provavelmente a mulher de um infame contemporâneo (Cláudio Pulcher), embora o seu nome decorra da alusão à poetisa Sappho de Lesbos (séc. VII A.C.). Sobre Ipsitila, não encontrei referências, mas perante a natureza do Convite, é ajuízado deixar que a memória da musa permaneça no anonimato. Eis portanto Catulo, o menino terrível da Grande Alcova do Império Romano.


CONVITE A IPSITILA

Como eu queria, ò doce Ipsitila,
que me fazes arder, delícia amada,
fazer contigo a sesta neste dia!
Se te apetece o mesmo, se te agrada,
a porta deixa então só encostada...
E não saias de casa. E me convida...
Prometo que serás bem fornicada
ao todo nove vezes de seguida!


A LÉSBIA

Vivamos, Lésbia, amando,
e que não nos perturbe
o cansado murmúrio
de quem envelheceu.
Podem morrer, nascer
seguidamente os sóis:
a nós porém, assim
que a breve luz nos foge,
logo nos é forçoso
dormir a inteira noite.
Beija-me cem, mil vezes,
inda mais cem, mais mil,
agora mil, e cem...
Depois, quando fizermos
tantos milhares que nem
os possamos contar,
baralhemos a conta,
para evitar que alguém,
sabendo o número exacto,
nos venha a invejar.


AO MARIDO DE LÉSBIA

Se Lésbia me difama em frente do marido,
eis logo o imbecil no auge da alegria!
Pois não entendes, burro? O silêncio, o olvido
seriam bem melhor... E se ela me injuria
é não só por se recordar ainda
mas porque no seu peito a chama não se extingue!

sábado, dezembro 03, 2005

I was a punk before you were a punk.

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"You want some action? I'll put your ass in traction baby,
I was a punk before you were,
I was a punk before you."

Spooner/Evans/Waybill - 1977

É apenas justo que eu diga assim: a front cover que vêem na imagem apresenta aquele que é, na minha envergonhada/orgulhosa opinião, o melhor disco de rock de todos os tempos. The Tubes é uma banda que nunca consegui deixar de ouvir e este foi o segundo álbum que comprei na minha vida e esta gravação ao vivo, para além de ser precursora dos grandes e multimediáticos concertos como os conhecemos hoje, é uma verdadeira ópera. Passou no Dramático de Cascais, com a pompa e a circunstância e a logística louca que os Tubes colocavam em palco. Não sei como é que foi possível não encontrar na net uma foto que seja da magnificência cénica dos concertos desta banda que - em 1978 - arrasava a cultura musical do mundo. Mas lembro-me das parangonas dos jornais ingleses perguntarem ao burguês se achava que a sua filha devia ver este concerto. Mas lembro-me do Fee Waybil com rolos de papel higiénico nas virilhas antes de saber quem eram esses tais de Sex Pistols. Mas lembro-me muitíssimo bem de ser punk antes que os Clash dessem um peido que fosse. Aliás, os Beatles existiram só para que os Tubes pudessem interpretar a canção "I Saw Her Standing There". Estou a falar de uma banda que não ficou para a história senão para a minha história. E estou, por isso, muito contente comigo e muito contente com eles.

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Caso passes por aqui um dia.

Faz hoje setenta anos que morreste
e - como já era tua previsão -
é quando faz anos a tua morte que se lembram de ti.

Faz hoje setenta anos que morreste
e não deve ter sido lá muito agradável
ir a enterrar com tantos gajos na mesma urna

(O Álvaro, tu dizes que não, mas devia ser gordo,
o Ricardo por certo que não tomava banho,
o Bernardo tinha mau dormir e o Alberto,

Que passou a vida doente dos olhos,
não estava ainda preparado psicologicamente
para aquilo). A propósito,

Em que hospital internaste o Alexander Search?
Faz hoje setenta anos que morreste
e eu acho até que te enterraram vivo.

Porque - mesmo com a televisão a dizer
que faz hoje setenta anos que morreste,
não me cheira.

Tu enganaste-os bem, Fernandinho meu querido,
que ainda andas por aí aos pulos por dentro,
à procura do mistério. Que ainda

Brincas com a metafísica e inventas horóscopos
para deus. Que ainda trocas correspondência
com aquele inglês tresloucado e vigarista

(Nunca foste grande coisa a escolher os amigos),
que ainda andas por aí a fingir que és tu
e mascarado de ti, para que ninguém te reconheça.

Tu levaste-os foi com a conversa pagã do Caeeiro
e os ateísmos naturalistas do Reis, (tiveste olho!)
pois juro-te que foi contigo que em Portugal

Se desacreditou a imortalidade.
Só para que agora possas andar em Lisboa
à tua vontade, para cá e para lá.

Porque se faz hoje setenta anos que morreste,
eu sei que só de virgindade contas tu
mais de um século, meu grande maricas.

(Que diabo, Fernando, faz hoje
117 anos que nasceste,
e ainda não foste um animal, pá.)

Sim, Romeu de papel de carta,
que trocaste a eterna Ofélia pelo trans-sexual
do Álvaro de Campos! Um engenheiro!

Mais a mais com essa tua veia,
e as confissões queriduchas que lhe escrevias,
encantadoras para ti, mas que pensaria realmente

ela, Ofélia, Atena de olhos garços,
que provavelmente ia buscar a Ulisses
o que não tirava do teu corpo imaterial?

Faz hoje 70 anos que foste a enterrar, isso sim.
No velório a malta de que falavas estava lá,
inconsolável e contando anedotas.

O funeral foi lacónico e havia crianças
a chorar por birra. Não pelo tio Fernando,
mas pela ausência do cavalinho de pau.

E quando todos se retiraram, já predispostos
a celebrar-te duas vezes por ano:
à data do teu nascimento e à data da tua morte,

Continuaste estranhamente espertíssimo
e bem acompanhado; sacudiste a poeira do cadáver
que afinal sempre tinhas sido e foste à tua vida,

Malandro. Afinal, não podias entregar a alma
assim de borla. Não sem que primeiro fizesses
o devido comércio com o diabo, coisa proveitosa

Para toda a gente de bom senso e especialmente
proveitosa seria para ti se a vendesses
em troca de mais uma mascarilha

ou de qualquer outro adereço de prestidigitador.
Faz hoje setenta anos que morreste?
Nem pensar, por esta altura deves estar

Enfiado num quarto qualquer do chiado
encharcado em absinto e a pregar aos rebanhos,
e a escrever odes industriais e a fumar

Cigarros americanos. Sim a esta hora, deves
estar a fabricar mais não sei quantas maneiras
de ser imortal, que é isso que tu fazes melhor

E que é isso que tu não explicas a ninguém;
também não és parvo nem romancista russo.
Faz hoje setenta anos que morreste, uma ova!

Está-se mesmo a ver: logo tu, que em vida
te comprazias a enganar toda a gente,
ias agora ser um morto de verdade...

Mas nem por isso julgues, mestre querido,
que te quero mal. Só pela graça de te parir
valeu a pena fazer Portugal.

sábado, novembro 19, 2005

À escuta das Vozes da Poesia Europeia - I

Celebrando a feliz edição da revista Colóquio Letras - que traz à estampa, em três cuidados volumes, as traduções que David Mourão-Ferreira fez da poesia europeia - publico aqui alguns excertos da obra que me agradam de sobremaneira, às quais adiciono umas quantas notas biográficas e bibliográficas.

ARISTÓFANES E OS PRAZERES DA PAZ.
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Considerado o mais brilhante autor de comédias da literatura grega, Aristófanes (sec IV A.C.) era um erudito conservador, apesar do uso de uma linguagem muitas vezes obscena e escatológica, que transformou o teatro grego num palco de intervenção política e social. Feroz adversário da Democracia de Sócrates e Eurípedes, acaba no entanto por ser vítima da censura imposta pelo despotismo aristocrático, consequente ao desfecho desfavorável para Atenas da Guerra do Peloponeso.
Talvez por isso, desenvolve um discurso pacifista absolutamente delicioso, que evita as banalidades filosóficas humanitárias, assumindo a preferência pelos prazeres epicuristas decorrentes do lazer: a guerra é uma chatice que impede o homem de preguiçar deveras, comer bem e fornicar bastante.
Dois exemplos magníficos de David Mourão-Ferreira:


HINO AO FALO

"Ó compincha, do vinho bom amigo,
Ó conviva das noites de folia,
Sedutor de mulheres e rapazinhos!
Depois de cinco anos de serviço,
aqui estou a saudar-te. Que alegria!

Eis-me já de regresso ao domicílio.
às malvas atirei, mais às urtigas,
aquilo de que fiz meu compromisso,
A paz, bem vês, assinei-a sozinho.
E os que fazem a guerra, que se lixem!

Quanto a mim, ó compincha, o que prefiro
é encontrar no bosque uma mocinha
- ou antes: surpreendê-la no delito
de lenha rapinar aos meus domínios -
e prendê-la, despi-la, possuí-la! (...)"


ELOGIO DA PAZ

"Que alegria! Oh, que alegria
do capacete estar livre,
dos feijões e das cebolas!
Batalhar não é comigo.
Prefiro, ao canto do fogo,
de parola co'os amigos,
garrafas ir esvaziando,
(...)
não sem ir aproveitando
- se por sorte, distraída,
minha mulher 'stá no banho -,
pra me pôr na criadita!"

Mais vale tarde do que nunca.

No Expresso desta semana, nota-se bem que - finalmente e talvez tarde demais - os formadores da opinião pública começam a perceber a natureza da ameaça islâmica. Nos escritos de Inês Pedrosa, Cândida Pinto ou Henrique Monteiro (na semana passada) é bem vísivel o susto. Mas, como sempre, o inteligente de serviço é João Pereira Coutinho que coloca a questão do ponto de vista civilizacional. Eu, que - e desculpem-me a indelicadeza - ando há que tempos a dizer e a escrever que o problema árabe não é económico, nem social, mas sim e precisamente civilizacional, agradeço o tardio contributo do Expresso e dos seus esclarecidos articulistas para a Causa do Ocidente.

quinta-feira, novembro 10, 2005

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A Deriva do Continente.

Mais uma noite em que Paris ardeu.
a CNN transmite o velório de Platão
e, sem engano, também Adriano morreu
na trama de um programa de Televisão.

A França chora Descartes, decapitado
e Emile Zola acaba de perecer.
Jesus ficou na cruz, e eu sintonizado
fico de bico calado a ver: Paris a arder.

Mais uma noite em que Paris ardeu:
Kant caiu nas chamas da redenção,
Rousseau naufragou e Espinoza faleceu
na auto-estrada danada da informação.

Viúvas vão a carpir! Homero foi fuzilado
e deixado no fosso a apodrecer.
Enquanto Aristóteles é enterrado
fico quieto e calado a ver: Paris a arder.

Mais uma noite em que Paris ardeu:
chegam as notícias do fim de Napoleão
e do fausto funeral de Ptolomeu
em directo pelo recto da televisão.

Todas as noites Goethe é apedrejado
e outras será até que se deixe morrer.
Churchill foi julgado e condenado
e eu fico calado a ver: Paris a arder.

Mais uma noite em que Paris ardeu:
a Voltaire sobreveio-lhe um apagão,
Sócrates pegou no cálice e bebeu
a cicuta da puta da informação.

Alexandre o Grande foi executado
Nietzsche foi internado e Marx a saber
por vinte vezes foi sem dó supliciado.
Estou só e calado a ver: Paris a arder.

Mais uma noite em que Paris ardeu:
por ordens desta santa inquisição
Cromwell, Lutero e Montesquieu
são crucificados nos apanhados da televisão.

Esta noite será, um dia, fúnebre feriado,
Cícero e Suetonio deixaram de viver
e à hora em que Gibbon foi guilhotinado
Sei que fiquei calado a ver: Paris a arder.
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terça-feira, novembro 08, 2005

Coitadinhos dos bandidos.

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Pobres rapazes (adolescentes ainda!) que destroem escolas e sedes municipais, fábricas e automóveis, piscinas comunitárias e hospitais públicos porque não têm emprego nem lhes mostram o devido respeito. Sim, coitadinhos deles a quem deram nacionalidade e saúde grátis, liberdade para praticar todo o tipo de disparates e grandes bairros onde podem passar droga à vontadinha. Ah, desafortunados infantes que largam fogo a carrinhas escolares e afinam a pontaria nos cús dos polícias porque o Estado não os trata como eles acham que merecem! Desgraçados mártires que, com meticulosa organização de guerrilha experimentada, vão destruíndo o que lhes aparece à frente porque não gostaram de ser tratados pelo nome próprio: Escumalha. Coitadinhos dos excluídos e enjeitados e incompreendidos da república bárbara e desumana que é a França, que mesmo assim os protege com falinhas mansas e medos eleitorais, que porém lhes perdoa as atrocidades por complexos de culpa e outros tiques marxistas do grande fardo do homem branco! Ah, infelizes filhos de uma sociedade injusta que os educa e os emprega e os deixa votar, que lhes garante o direito de serem brutos, que lhes permite a oratória do ódio nas mesquitas de Paris e o recrutamento para-militar nos Campos Elíseos, que lhes premeia a marginalidade e a intolerância com mais direitos e mais liberdades. Sim, rogo-vos, mostrem alguma comiseração por estes tristes inocentes, castigados por uma Europa que não lhes humilha as mulheres, nem lhes vampiriza a alma com a tirania de deus nem os conduz ao sacrifício divino de explodir dentro de um autocarro!
Por quem sois, tenham coração e deixem que os pobres infelizes vos destruam as ruas e as cidades, a propriedade e a lei, e - pelo caminho - esta ideia de uma civilização minimamente decente que andamos na Europa a tentar parir vai para quatro séculos. Vamos!, força com isso de abrir de uma vez por todas essas fronteiras (igalité oblige), de trazer definitivamente a cultura superior do povo árabe para a Europa e instalá-la convenientemente no lugar da República! Ofereçam a Alah o governo de França! Deixem que as rapariguinhas levem a sua burka e os seus mais bárbaros maneirismos para as escolas, para que os vossos filhos aprendam a viver como gloriosamente se vive na geografia do Islão. Façam o favor de permitir que estes gentis expoliados do capitalismo reduzam a cinzas os princípios básicos que fundamentam as vossas vidinhas de burgueses envergonhados e depois, cruzem os braços para assistar com complacência ao espectáculo do declínio do império da boa vontade.

quarta-feira, novembro 02, 2005

Fragilidades do século XXI

O recente grande terramoto no Paquistão fez mais de 70.000 vítimas mortais. Calcula-se que o de Lisboa tenha sido responsável pela morte de cerca de 10.000 pessoas. Como também foi óbvio no tsunami do Índico, à medida que a civilização humana evolui tecnológica e demograficamente sobre os séculos, fica mais frágil perante as catástrofes naturais.
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CÂNDIDO NO MELHOR DOS MUNDOS
(in Ocidental Praia - 2003)

A história de Cândido, segundo Voltaire, é uma excelente iniciação ao cepticismo. Inspirada nos disparates da filosofia de Leibniz, que infectou o pensamento racionalista com a ideia de que o homem vivia no melhor dos mundos graças á constante providência divina, esta breve odisseia demonstra-nos com satírica eloquência que o mundo do século XVIII seria tudo menos o melhor possível.
Para tal, o bravo iluminista herege coloca com alegria e espírito o seu infeliz herói na roda dos horrores terrenos. Cândido é um ingénuo e bem intencionado adolescente alemão, bastardo de nascimento mas mesmo assim educado nos princípios da Razão Suficiente, que por motivos de saias é escorraçado da casa nobre onde fora até então tolerado e afilhado. Será a partir daí cruelmente submetido à dura realidade dos factos: atirado à soldadesca búlgara recebe mil vergastadas, depositado por uma tempestade em Lisboa, desembarca em pleno terramoto de 1755, nos escombros do qual quase acaba por perecer, por mãos da Santa Inquisição. Recupera e parte para América do Sul para ganhar o soldo a matar franciscanos e finalmente encontra o El-Dorado, só para que lhe seja espoliado o seu lugar no paraíso. Entrementes, como bom cristão e esgrimista, vai enviando para o inferno um punhado de infelizes, entre os quais um bispo em Lisboa e um Padre no Paraguai. Assim sucessivamente, Cândido mergulha na efeverscência das guerras vorazes, das pestes em fúria, das fomes e das misérias, do caos e da loucura. Quando a sua viagem termina percebe enfim que Leibniz estava enganado. A não ser, claro, que estivesse certo. Mas nesse caso, e se este é verdadeiramente o resultado de uma preocupada e hiperactiva providência, que diabo, não poderia Deus fazer um melhor trabalho?


POEME SUR LE DESASTRE DE LISBONNE
OU EXAMEN DE CET AXIOME: "TOUT EST BIEN"
(Voltaire - 1756)

O malheureux mortels! ô terre déplorable!
O de tous les mortels assemblage effroyable!
D'inutiles douleurs éternel entretien!
Philosophes trompés qui criez: "Tout est bien"
Accourez, contemplez ces ruines affreuses
Ces débris, ces lambeaux, ces cendres malheureuses,
Ces femmes, ces enfants l'un sur l'autre entassés,
Sous ces marbres rompus ces membres dispersés;
Cent mille infortunés que la terre dévore,
Qui, sanglants, déchirés, et palpitants encore,
Enterrés sous leurs toits, terminent sans secours
Dans l'horreur des tourments leurs lamentables jours!
Aux cris demi-formés de leurs voix expirantes,
Au spectacle effrayant de leurs cendres fumantes,
Direz-vous: "C'est l'effet des éternelles lois
Qui d'un Dieu libre et bon nécessitent le choix"?
Direz-vous, en voyant cet amas de victimes:
"Dieu s'est vengé, leur mort est le prix de leurs crimes"?
Quel crime, quelle faute ont commis ces enfants
Sur le sein maternel écrasés et sanglants?
Lisbonne, qui n'est plus, eut-elle plus de vices
Que Londres, que Paris, plongés dans les délices?
(...)
Allez interroger les rivages du Tage;
Fouillez dans les débris de ce sanglant ravage;
Demandez aux mourants, dans ce séjour d'effroi
Si c'est l'orgueil qui crie "O ciel, secourez-moi!
O ciel, ayez pitié de l'humaine misère!"
 "Tout est bien, dites-vous, et tout est nécessaire."
Quoi! l'univers entier, sans ce gouffre infernal
Sans engloutir Lisbonne, eût-il été plus mal?
Etes-vous assurés que la cause éternelle
Qui fait tout, qui sait tout, qui créa tout pour elle,
Ne pouvait nous jeter dans ces tristes climats
Sans former des volcans allumés sous nos pas?
Borneriez-vous ainsi la suprême puissance?
Lui défendriez-vous d'exercer sa clémence?
L'éternel artisan n'a-t-il pas dans ses mains
Des moyens infinis tout prêts pour ses desseins?
Je désire humblement, sans offenser mon maître,
Que ce gouffre enflammé de soufre et de salpêtre
Eût allumé ses feux dans le fond des déserts.
Je respecte mon Dieu, mais j'aime l'univers.
(...)
Non, ne présentez plus à mon coeur agité
Ces immuables lois de la nécessité
Cette chaîne des corps, des esprits, et des mondes.
O rêves des savants! ô chimères profondes!
Dieu tient en main la chaîne, et n'est point enchaîné
Par son choix bienfaisant tout est déterminé:
Il est libre, il est juste, il n'est point implacable.
Pourquoi donc souffrons-nous sous un maître équitable?
Voilà le noeud fatal qu'il fallait délier.
Guérirez-vous nos maux en osant les nier?
Tous les peuples, tremblant sous une main divine
Du mal que vous niez ont cherché l'origine.
Si l'éternelle loi qui meut les éléments
Fait tomber les rochers sous les efforts des vents
Si les chênes touffus par la foudre s'embrasent,
Ils ne ressentent point des coups qui les écrasent:
Mais je vis, mais je sens, mais mon coeur opprimé
Demande des secours au Dieu qui l'a formé.
(...)
Tout semble bien pour lui, mais bientôt à son tour
Un aigle au bec tranchant dévore le vautour;
L'homme d'un plomb mortel atteint cette aigle altière:
Et l'homme aux champs de Mars couché sur la poussière,
Sanglant, percé de coups, sur un tas de mourants,
Sert d'aliment affreux aux oiseaux dévorants.
Ainsi du monde entier tous les membres gémissent;
Nés tous pour les tourments, l'un par l'autre ils périssent:
Et vous composerez dans ce chaos fatal
Des malheurs de chaque être un bonheur général!
Quel bonheur! ô mortel et faible et misérable.
Vous criez: "Tout est bien" d'une voix lamentable,
L'univers vous dément, et votre propre coeur
Cent fois de votre esprit a réfuté l'erreur.
(...)
Mais comment concevoir un Dieu, la bonté même,
Qui prodigua ses biens à ses enfants qu'il aime,
Et qui versa sur eux les maux à pleines mains?
Quel oeil peut pénétrer dans ses profonds desseins?
De l'Etre tout parfait le mal ne pouvait naître;
Il ne vient point d'autrui, puisque Dieu seul est maître:
Il existe pourtant. O tristes vérités!
O mélange étonnant de contrariétés!
Un Dieu vint consoler notre race affligée;
Il visita la terre et ne l'a point changée!
Un sophiste arrogant nous dit qu'il ne l'a pu;
"Il le pouvait, dit l'autre, et ne l'a point voulu:
Il le voudra, sans doute"; et tandis qu'on raisonne,
Des foudres souterrains engloutissent Lisbonne,
Et de trente cités dispersent les débris,
Des bords sanglants du Tage à la mer de Cadix.
(...)
Quelque parti qu'on prenne, on doit frémir, sans doute
Il n'est rien qu'on connaisse, et rien qu'on ne redoute.
La nature est muette, on l'interroge en vain;
On a besoin d'un Dieu qui parle au genre humain.
Il n'appartient qu'à lui d'expliquer son ouvrage,
De consoler le faible, et d'éclairer le sage.
L'homme, au doute, à l'erreur, abandonné sans lui,
Cherche en vain des roseaux qui lui servent d'appui.
Leibnitz ne m'apprend point par quels noeuds invisibles,
Dans le mieux ordonné des univers possibles,
Un désordre éternel, un chaos de malheurs,
Mêle à nos vains plaisirs de réelles douleurs,
Ni pourquoi l'innocent, ainsi que le coupable
Subit également ce mal inévitable.
Je ne conçois pas plus comment tout serait bien:
Je suis comme un docteur, hélas! je ne sais rien.
Platon dit qu'autrefois l'homme avait eu des ailes,
Un corps impénétrable aux atteintes mortelles;
La douleur, le trépas, n'approchaient point de lui.
De cet état brillant qu'il diffère aujourd'hui!
Il rampe, il souffre, il meurt; tout ce qui naît expire;
De la destruction la nature est l'empire.
Un faible composé de nerfs et d'ossements
Ne peut être insensible au choc des éléments;
Ce mélange de sang, de liqueurs, et de poudre,
Puisqu'il fut assemblé, fut fait pour se dissoudre;
Et le sentiment prompt de ces nerfs délicats
Fut soumis aux douleurs, ministres du trépas:
C'est là ce que m'apprend la voix de la nature.
J'abandonne Platon, je rejette Epicure.
Bayle en sait plus qu'eux tous; je vais le consulter:
La balance à la main, Bayle enseigne à douter,
Assez sage, assez grand pour être sans système,
Il les a tous détruits, et se combat lui-même:
Semblable à cet aveugle en butte aux Philistins
Qui tomba sous les murs abattus par ses mains.
Que peut donc de l'esprit la plus vaste étendue?
Rien; le livre du sort se ferme à notre vue.
L'homme, étranger à soi, de l'homme est ignoré.
Que suis-je, où suis-je, où vais-je, et d'où suis-je tiré?
Atomes tourmentés sur cet amas de boue
Que la mort engloutit et dont le sort se joue,
Mais atomes pensants, atomes dont les yeux,
Guidés par la pensée, ont mesuré les cieux;
Au sein de l'infini nous élançons notre être,
Sans pouvoir un moment nous voir et nous connaître.
Ce monde, ce théâtre et d'orgueil et d'erreur,
Est plein d'infortunés qui parlent de bonheur.
Tout se plaint, tout gémit en cherchant le bien-être:
Nul ne voudrait mourir, nul ne voudrait renaître.
Quelquefois, dans nos jours consacrés aux douleurs,
Par la main du plaisir nous essuyons nos pleurs;
Mais le plaisir s'envole, et passe comme une ombre;
Nos chagrins, nos regrets, nos pertes, sont sans nombre.
Le passé n'est pour nous qu'un triste souvenir;
Le présent est affreux, s'il n'est point d'avenir,
Si la nuit du tombeau détruit l'être qui pense.
Un jour tout sera bien, voilà notre espérance;
Tout est bien aujourd'hui, voilà l'illusion.
Les sages me trompaient, et Dieu seul a raison.
Humble dans mes soupirs, soumis dans ma souffrance,
Je ne m'élève point contre la Providence.
Sur un ton moins lugubre on me vit autrefois
Chanter des doux plaisirs les séduisantes lois:
D'autres temps, d'autres moeurs: instruit par la vieillesse,
Des humains égarés partageant la faiblesse
Dans une épaisse nuit cherchant à m'éclairer,
Je ne sais que souffrir, et non pas murmurer.
Un calife autrefois, à son heure dernière,
Au Dieu qu'il adorait dit pour toute prière:
"Je t'apporte, ô seul roi, seul être illimité,
Tout ce que tu n'as pas dans ton immensité,
Les défauts, les regrets, les maux et l'ignorance."
Mais il pouvait encore ajouter l'espérance.

De rumores, relatos e ruínas.

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- Em vez de andarem a assassinar as espécies migratórias às centenas de milhar, com medos histéricos da Gripe das Aves (onde é que estão os ambientalistas?), as autoridades europeias deviam preocupar-se sim com o número anual de suícidios entre os respectivos súbditos, que já excede o mesmo cálculo de vítimas mortais em acidentes de automóvel e faz desta prática uma das principais causas de morte no velho continente.
Acho ainda espantoso que aqueles irresponsáveis (leia-se: jornalistas) que criaram e multiplicaram e inculcaram o pânico e a confusão na consciência social, venham agora fazer programas de esclarecimento, sugerindo que esse medo é desproporcionado. Os mesmos agentes da histeria (leia-se, os jornalistas) vêm agora gritar calma, como se não fosse nada com eles. Irra, que é demais.

- Parece que as SCUDs vão custar dez por cento do PIB daqui a uma dezena de anos. E ninguém vai parar à prisão por causa disto?

- Os juízes deste país já deveriam estar cansadinhos de provar a sua iniquidade. Mas não é que insistem? Dos livres arbítrios escandalosos no lodo do futebol, às decisões jurídicas mais inacreditáveis, da corrupção evidente ao compadrio camarada, da atracção compulsiva pela comunicação social à arrogância militante, vão reinando gordinhos, privilegiados e incompetentes sobre a justiça nacional. Não deixam, claro está, de aconselhar o sacrifício e a honorabilidade até que lhes toca a eles a vez de se sacrificarem e de serem honrados. Nesse momento, mostram-se tão reles como qualquer ratazana de esgoto. O generalizado direito à greve já é em si uma coisa abstrusa. Um juiz fazer greve é matéria fenomenológica do planeta dos macacos (que me desculpem os símios).

- De uma maneira geral, o assinalar dos 250 anos sobre a primeira grande catástrofe natural da era moderna, tem demonstrado que ainda há inteligência a oeste de Badajoz. De tudo o que li e vi de bom sobre o assunto - e não foi pouco - destaco o esplêndido ensaio "O Pequeno Livro do Grande Terramoto", do blogger Rui Tavares. Uma obra realmente imperdível. O blog de apoio ao livro também tem interesse.

- Cuidado com os rumores de uma independência Catalã. A desintegração do estado Espanhol que lhe será inevitável ameaçará e de que maneira a independência de Portugal.

- As Terças-Feiras são bons dias de televisão na RTP. Na 2: a viagem do notabilíssimo Michael Palin entre o Ganges e os Himalaias. Na 1, o tagarelar entretido e mais ou menos pertinente do Trio de Ataque.

- O que se passa com os salários dos jogadores do Vitória de Setúbal é vergonhoso. E a responsabilidade é mais de Liga do que do triste Chumbita. Porque das duas, uma: ou a Liga não obriga os clubes à apresentação de garantias bancárias - o que é caricato - ou, obrigando, não faz cumprir a lei - o que é ridículo.