sexta-feira, dezembro 28, 2012
Nascido para a pancadaria #3
Mais uma obra prima de Steven Spielberg. Mais uma interpretação escolástica de Daniel Day Lewis. Mais uma grande banda sonora de John Williams. Magnífico.
quarta-feira, dezembro 26, 2012
Nascido para a pancadaria.
Um estudo conduzido por David Carrier, da universidade do Utah, e publicado pelo The Journal Of Experimental Biology, sugere que a mão humana tem evoluído para se tornar um instrumento de violência mais eficaz. Ao contrário do que acontece com os símios, as mãos do homem fecham-se num punho letal, que maximiza a força no ponto de impacto. Na comparação com a estalada, solução muito utilizada pelos chimpanzés, os resultados do estudo mostraram que quando o polegar apoia os dedos, a rigidez dos nós dos dedos quadruplica e a força transmitida durante o soco duplica.
Estamos programados para a violência. Evoluímos no sentido do combate. Sobrevivemos pelo recurso à agressão. E o resto é conversa.
segunda-feira, dezembro 24, 2012
quinta-feira, dezembro 20, 2012
O que preocupa o Público?
No jornal Público - edição online - podemos hoje aprender como falar do Natal às "crianças ateias e de outras religiões". Este assunto preocupa o Público. Para o público é de pedagógica importância sabermos explicar muito bem às crianças ateias e de outras religiões o que é isto do Natal.
Mais: é pertinente sabermos muito bem como é que os pais dessas crianças lhes explicam o evento.
Seria bom, embora isto escape às prioridades ecuménicas do Público, que soubéssemos explicar o Natal às crianças cristãs, antes de nos dedicarmos a explicá-lo às outras crianças.
E seria óptimo que a jornalista Bárbara Wong, que assina esta didáctica peça, percebesse que um ateu pode ser, e no mundo ocidental geralmente é, concomitantemente um cristão. Para se ser cristão não é preciso acreditar em deus. É preciso acreditar num sistema de valores que se enquadram essencialmente no pensamento de três valentes: Platão, Cristo e Kant.
O Público preocupa-se com este género de coisas, que é para não se preocupar com as coisas que são realmente importantes. É muito mais fácil - e mais barato, claro - deixar essas coisas realmente importantes para outros malucos. Afinal, o Público não edita para mudar o mundo. O Público edita para não dar assim tanto prejuízo como isso.
Mais: é pertinente sabermos muito bem como é que os pais dessas crianças lhes explicam o evento.
Seria bom, embora isto escape às prioridades ecuménicas do Público, que soubéssemos explicar o Natal às crianças cristãs, antes de nos dedicarmos a explicá-lo às outras crianças.
E seria óptimo que a jornalista Bárbara Wong, que assina esta didáctica peça, percebesse que um ateu pode ser, e no mundo ocidental geralmente é, concomitantemente um cristão. Para se ser cristão não é preciso acreditar em deus. É preciso acreditar num sistema de valores que se enquadram essencialmente no pensamento de três valentes: Platão, Cristo e Kant.
O Público preocupa-se com este género de coisas, que é para não se preocupar com as coisas que são realmente importantes. É muito mais fácil - e mais barato, claro - deixar essas coisas realmente importantes para outros malucos. Afinal, o Público não edita para mudar o mundo. O Público edita para não dar assim tanto prejuízo como isso.
Disto é que já não há.
Um dos melhores jogos de futebol que vi na minha vida, senão mesmo o melhor. Algo que, certamente, não se vai repetir agora. Basta pensar que no onze inicial do Benfica estavam os seguintes cavalheiros: Schwarz, Kulkov, Vítor Paneira, João Pinto, Rui Costa e Isaías.
Uma partida vibrante e inesquecível, com grandes artistas em campo, só com um golo nos primeiros 45 minutos (embora com inúmeras oportunidades para os dois lados) e também só com sete golos na segunda parte.
Deuses, que saudades.
quarta-feira, dezembro 19, 2012
terça-feira, dezembro 18, 2012
Telejornal de hoje.
- Hoje comemora-se o Dia Internacional Contra a Violência sobre os Trabalhadores do Sexo. Os Trabalhadores do Sexo fazem parte de uma classe profissional muito antiga. Quiçá a mais antiga da história do trabalho. E é por isso que devem ter direitos, como os outros têm, os outros das classes profissionais muito antigas, mas não tão antigas como o labor de engatar. Os assassinos a soldo, que também exercem uma profissão muito antiga e que também são vítimas de violência, volta não volta, também devem ter direitos. E não se percebe porque raio é que os traficantes de opiáceos, operários de um ofício ancestral e extremamente violento, não têm também um dia internacional. Já quanto aos traficantes de anfetaminas, percebe-se que não sejam devidamente apoiados e homenageados, porque afinal, fazem parte de uma sindicância relativamente recente.
- Hoje os leilões das casas dos magistrados não correram lá muito bem. Principalmente em Gouveia. As casas dos magistrados em Gouveia estão muito degradadas e ninguém apareceu para licitar. A senhora do primeiro andar do prédio dos magistrados diz que ali no andar dos magistrados é capaz de não viver ninguém há coisa de cerca de dez anos, mais ou menos, se a memória não lhe falha - que ela não quer estar a mentir. Mas, 20 segundos depois, em off, a repórter diz que a mesma senhora tem a certeza absoluta que são dez anos certos. Os magistrados de Gouveia agora arrendam umas residências que ficam mais perto do tribunal e que foram recuperadas. A senhora do prédio dos magistrados, insuspeita líder de opinião em matéria de alojamento dos funcionários da justiça, diz que não devia ser assim. Diz que o Estado devia fazer obras no prédio dos magistrados, onde, por acaso, ela também vive. E que os magistrados deviam viver ali e não nas residências alugadas.
- Hoje o Presidente da República foi alvo de Media-Bulling. Isto porque, segundo o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, o Primeiro Ministro, quando disse ontem que certos aposentados recebem mais dinheiro do que aquele que descontaram, quis dar uma canelada no Presidente da República. Vai daí, hoje o Presidente levou logo com o seguinte pontapé na boca, diligentemente acertado por uma repórter super esperta: "Está de acordo que existem aposentados que recebem mais do que descontaram?".
- Hoje o Passos Coelho voltou a falar sobre o assunto, mas como estava rouco não se percebeu bem o que ele disse.
- Hoje o Mourinho estava tristonho, coitado. É muito difícil a vida do Mourinho, coitado. Mas o Presidente do Real Madrid foi um gajo porreiro com o Mourinho e até disse que ele era o melhor treinador do mundo e que sofria muitos atentados à dignidade, coitado.
- Hoje ficámos ainda mais certos de que os americanos são umas verdadeiras cavalgaduras. É um país de imbecis, pronto, está visto. Gente que se deixa matar assim, tem que ser saloia do Texas. A América é um país de texanos armados até aos dentes que gostam de matar crianças e, se não fosse o Obama, morriam ainda mais crianças e, se não fosse o Obama, ainda existiam mais texanos na América.
- Hoje foi o dia santo em que o Ayatollah Ali Khamenei, Supremo Líder do Irão, subscreveu finalmente uma página no Facebook, de tal forma que pode agora "exprimir no ciberespaço as suas ideias e personalidade".
- Hoje a Polícia Judiciária apreendeu 307 aves exóticas, constituindo 17 arguidos, alegadamente culpados da negociata de milhões que é vender aves exóticas sem pagar impostos por isso.
A imbecilidade, a boçalidade, o xico-espertismo, a ignorância, a condescendência, a incompetência, o cinismo, o oportunismo, a irresponsabilidade, a banalidade, a pesporrência, a jactância, a mais profunda estupidez, a insuportável pretensão do jornalismo nacional - ou de 95% dos jornalismo nacional, que é dizer o mesmo - é, muito provavelmente, a grande patologia da Terceira República. Tanto mais, que é uma patologia não diagnosticada.
Em Portugal, estamos sempre a condenar os políticos, o que é um excelente método de gerar maus políticos. Mas mesmo quando são maus - e costumam ser maus, não são piores que nós, os que não "estão na política". São portugueses e comportam-se como os juízes portugueses se comportam. Comportam-se como os banqueiros portugueses se comportam. Comportam-se como os estivadores portugueses se comportam. Comportam-se como os advogados portugueses se comportam e como os mestres de obras portugueses se comportam e como os médicos portugueses se comportam e os pilotos da TAP se comportam e assim sucessivamente até ao vómito de toda a gente se portar bastante mal, embora sempre dentro do contexto da condição humana, que é uma tragédia de enganos.
Os jornalistas, por outro lado, são geralmente poupados ao juízo mais áspero. Vá-se lá saber porquê, na medida em que não há gente assim vil, neste país, que se lhes compare. Os jornalistas descem a um patamar ontológico tão baixinho, mas tão baixinho, que não chegam à cave mais escura da indignidade humana.
Devíamos gostar mais dos políticos e menos dos jornalistas. Devíamos criar, talvez, o Dia Internacional do Político Vítima da Violência Pidesca do Jornalista Ignorante. Devíamos proteger a espécie contra as ameaças do ecossistema e dos predadores que caçam com a arma branca de um microfone na mão.
Até porque, afinal, quem reporta os repórteres?
sexta-feira, dezembro 14, 2012
O meu dedo polegar para cima.
"If I die tomorrow,
Would you love me for the rest of my life?
(...) Wish love was like that."
BabyBird - A.K.A. Stephen Jones. Se esta fosse a página no Facebook que não tenho, diria: gosto disto. Assim sendo, explico só um bocadinho. Não sei porque raio é que gosto disto. Por exemplo; as letras são lamechas. Por exemplo; os acordes são clichés. Por exemplo; o Stephen só escreve músicas de amor.
Ok, tudo isto parece aborrecido, mas, caramba, faz-me lembrar o outro maluco dos Magnetic Fields (també Stephen, mas com i no Stephin Merritt). Há aqui qualquer coisa de génio, ainda assim. Ainda assim, há aqui qualquer coisa de único. Polegar para cima e acabou.
sexta-feira, dezembro 07, 2012
quinta-feira, dezembro 06, 2012
segunda-feira, dezembro 03, 2012
Anti-CSI.
Breaking Bad. Esta série é altamente aditiva. É um ópiáceo valente. É um fármaco sublime. É uma droga dura. É uma pedrada no charco da televisão por cabo. Literal e metaforicamente: Heisenberg Rocks!
domingo, dezembro 02, 2012
Os outros
Um gajo que tem agora 45 anos, um gajo que nasceu em 1967,
nasceu para sofrer o inferno do Século XXI - e isso é líquido.
Porém, um gajo que tem agora 45 anos, um gajo que nasceu em 1967
e que quer, na verdade, apenas viver em paz,
viver em paz com as suas pequenas e baratas rotinas de sempre,
viver pacificamente com os seus modestos gostos,
viver tranquilo com a sua parcimoniosa sensibilidade,
viver com a possibilidade prosaica - e a vontade suicida - de se foder a trabalhar;
um gajo assim nascido num século só para ser condenado no outro,
merece, pelo menos, o diabo de uma folga.
Pedir pelo diabo de uma folga, em 45 anos, é pedir muito?
Digamos, uma semana sem que ninguém se zangue comigo.
Um mês só sem desiludir alguém.
Digamos, um ano sem perder um amigo
ou 24 horas sem que alguém se lembre de arquitectar
um juízo moral sobre o Paulo Hasse Paixão.
Digamos, um dia sem culpa.
Digamos, três meses sem perder um cliente.
Um gajo que tem agora 45 anos, um gajo que nasceu em 1967,
nasceu para sofrer o inferno do Século XXI.
Isto é certo como é certo que os outros milhões da minha geração
sofrem, como eu sofro, o inferno do Século XXI.
E todos também são, como eu, abjectos na conversa social,
mesmo antes do primeiro Famous Grouse.
E todos também são parcimoniosos de sensibilidade e senhores das suas rotinas
e todos também se fodem a trabalhar e perdem clientes
e todos também têm gostos modestos.
A diferença está em mim.
Eu trato aqui, de mim. Os outros tratarão ali, de si.
Puta que pariu os outros, ali.
nasceu para sofrer o inferno do Século XXI - e isso é líquido.
Porém, um gajo que tem agora 45 anos, um gajo que nasceu em 1967
e que quer, na verdade, apenas viver em paz,
viver em paz com as suas pequenas e baratas rotinas de sempre,
viver pacificamente com os seus modestos gostos,
viver tranquilo com a sua parcimoniosa sensibilidade,
viver com a possibilidade prosaica - e a vontade suicida - de se foder a trabalhar;
um gajo assim nascido num século só para ser condenado no outro,
merece, pelo menos, o diabo de uma folga.
Pedir pelo diabo de uma folga, em 45 anos, é pedir muito?
Digamos, uma semana sem que ninguém se zangue comigo.
Um mês só sem desiludir alguém.
Digamos, um ano sem perder um amigo
ou 24 horas sem que alguém se lembre de arquitectar
um juízo moral sobre o Paulo Hasse Paixão.
Digamos, um dia sem culpa.
Digamos, três meses sem perder um cliente.
Um gajo que tem agora 45 anos, um gajo que nasceu em 1967,
nasceu para sofrer o inferno do Século XXI.
Isto é certo como é certo que os outros milhões da minha geração
sofrem, como eu sofro, o inferno do Século XXI.
E todos também são, como eu, abjectos na conversa social,
mesmo antes do primeiro Famous Grouse.
E todos também são parcimoniosos de sensibilidade e senhores das suas rotinas
e todos também se fodem a trabalhar e perdem clientes
e todos também têm gostos modestos.
A diferença está em mim.
Eu trato aqui, de mim. Os outros tratarão ali, de si.
Puta que pariu os outros, ali.
sábado, novembro 24, 2012
Meu deus, que malha.
Where to begin?
This snake has left us with last years skin
Eyeless diamonds of a life that's been and done
Memory is blind!
Where did it end?
We fell together like an accident
Two lives colliding like continents
There be mountains between us and time!
Low slung and highly strung she said run with that
Low slung and highly strung she said run with that
Oh lie you can take me for a long ride
My heart is high like a returning tide
Highlight your body like a coast line
Hey miss
I always said I wouldn't reminiscence
Become too busy with regrets to create a kiss
Oh but I was unwise
Once I thought
I was the hero they were waiting for
And with my words I would change the law
And remake it as mine!
Low slung and highly strung she said run with that
Low slung and highly strung she said run with that
Oh lie you can take me for a long ride
My heart is high like the returning tide
Highlight your body like a coast line
When you were born, the golden apple
Tell them I'll answer instead!
You are my one my only Salome
Go and present my head
Go and present my head
Go and present my head
Oh lie you can take me for a long ride
My heart is high like a returning tide
Highlight your body like a coast line, coast line
Oh lie you can take me for a long ride
My heart is high like a returning tide
Highlight your body like a coast line, coast line
Chapel Club | Blind
quinta-feira, novembro 22, 2012
Gosto de escrever cartas de amor aos amigos.
Gosto de escrever cartas de amor aos meus amigos.
Não sei se sou entendido, porque, bem entendido,
Já ninguém escreve cartas de amor aos amigos.
Não sei se sou entendido, porque, bem entendido,
Já ninguém escreve cartas de amor aos amigos.
Gosto de escrever cartas de amor aos meus amigos.
Não sei, pelo que escrevo, porque gosto deste enlevo;
Mas as cartas que escrevo são ritos antigos.
Gosto de escrever cartas de amor aos meus amigos.
O Yahoo tem serviço postal e, até ao Natal,
Não escrevo cartas para salvar os mendigos.
Gosto de escrever cartas de amor aos meus amigos.
Não sei, pelo que escrevo, se à calúnia me atrevo
E as cartas não são cartas, são abrigos.
Gosto de escrever cartas de amor aos meus amigos.
Não sou entendido porque a minha vida tem sido
Como um Diário da República sem artigos.
Gosto de escrever cartas de amor aos meus amigos.
O que escrevo é do Homero que transcrevo
E as cartas não são cartas, são jazigos.
Gosto de escrever cartas de amor aos meus amigos.
Não sei se sou entendido, porque, bem entendido,
Já ninguém escreve cartas de amor aos amigos.
quarta-feira, novembro 21, 2012
domingo, novembro 18, 2012
2084
Na Gare de Lançamento de Alfragide
Não há mães que se despeçam dos filhos que partem para a guerra nas Colónias de Marte.
Há muito que cessaram as pessoas de morrer e,
por decreto unânime do Movimento de Intervenção para o Controlo Demográfico,
Há muito que cessaram as pessoas de nascer.
No Programa Universal dos Direitos dos Mamíferos Superiores está escrito:
"A gravidez é a suprema humilhação da mulher.
O mandato supremo da Revolução é libertar a condição feminina do seu jugo
Criador."
Na Gare de Lançamento de Alfragide
Há mais drones que soldados - A República Popular dos Estados Italo-Iberos
É constitucionalmente obrigada
A manter os seus soldados vivos,
Como no início do Século
Ainda existiam nações constitucionalmente obrigadas
À despesa.
Na Gare de Lançamento de Alfragide
Também lançam mineiros para Io e arquitectos para a Lua e engenheiros para Enceladus.
O Comité para a Gestão da República (CGR) pretende enviar para o espaço,
Nos quinze anos do seu mandato,
Vinte e cinco milhões de Cidadãos.
Mas a Autoridade Autónoma de Lisboa-Amadora gasta mais
Quarenta e cinco mil Castros por passageiro
Do que aquilo que foi previsto no Plano Quinquenal.
O CGR já destacou uma Comissão Liquidatária.
O Directório Para a Informação Independente informará sobre as Resoluções.
Na Gare de Lançamento de Alfragide
Foram instaladas as devidas estruturas comerciais,
De acordo com o Plano de Governação Para o Distrito Autónomo de Lisboa-Amadora
Aprovado on-live por 0.8% do Colégio Eleitoral Revolucionário e a saber:
Um Estação de Lotaria da Carne de Vaca.
Uma Estação de Degustação Virtual de Delícias do Mar.
Uma Loja do Cidadão Minoritário;
Uma Loja Tributária da Revolução
(Que incorpora o novo sistema de detecção remota de desertores fiscais
E rebeldes do Racionamento Sistemático);
Um Mercado Municipal Para a Livre Troca de Denúncias
(Que oferece 10 digidomésticos por dia);
Uma Unidade de Saúde Sigmund;
Um Lar de Acolhimento Para Mamíferos de Líbido Incontrolável;
Um Arsenal Alimentar Para a Cidadania;
O Centro de Jogos Para Cidadãos Sem Ocupação Profissional;
O Sindicato dos Jornalistas e da Mensagem Revolucionária;
O Complexo Abortador da Sub-Região Damaia-Sintra;
A Embaixada do Império Sino-Soviete (Renovado);
Três Notários da Solidariedade Pública;
A Vigésima Quarta Eco-Esquadra;
A Décima Segunda Unidade de Esterilização do Distrito Autónomo de Lisboa-Amadora
E a Quinta Adega Oficial das Farmácias,
Com estrutura anexa para fornecimento gratuito de Cloridrato de Fluoxetina (1200 mlgs.).
Na Gare de Lançamento de Alfragide
Há uma Universidade Para a Afirmação Trans-sexual;
Uma Escola Prática Para o Aperfeiçoamento das Técnicas Anti-Policiais;
Um Teatro Geral de Expressão Muçulmana,
Com Centro de Estudos Palestinianos Aplicados À Luta Contra os Valores Judaico-Cristãos
E um Politécnico Para a Re-educação e Erradicação do Enriquecimento Individual.
Está ainda prevista a edificação no local de:
Quatro Quiosques Quânticos de apoio a utentes com Perda Total de Identidade;
Dois monumentos virtuais que prestam homenagem ao Terrorista Desconhecido
E às Vítimas da Heroína;
Uma Delegação do Ministério para a Erradicação da Diferença entre Géneros,
Com bloco cirúrgico e gabinete de apoio psicológico.
Na Gare de Lançamento de AlfragideCom Centro de Estudos Palestinianos Aplicados À Luta Contra os Valores Judaico-Cristãos
E um Politécnico Para a Re-educação e Erradicação do Enriquecimento Individual.
Está ainda prevista a edificação no local de:
Quatro Quiosques Quânticos de apoio a utentes com Perda Total de Identidade;
Dois monumentos virtuais que prestam homenagem ao Terrorista Desconhecido
E às Vítimas da Heroína;
Uma Delegação do Ministério para a Erradicação da Diferença entre Géneros,
Com bloco cirúrgico e gabinete de apoio psicológico.
Cumpre-se com rigor a Lex Naturalis Reciclae do Ultimato Sueco
E as normas ambientais do Tratado Quioto/Vladivostok de 2032 (aumentado)
Foram aplicadas exemplarmente.
A concessão de superfície a organizações que comercializam
Produtos agrícolas e/ou pecuários
É estritamente proibida, de acordo com Acto Popular de 2065,
Ratificado pelo Parlamento Solidário da Revolução, em 2072.
Na Gare de Lançamento de Alfragide
Respeita-se o Concílio Ortográfico dos Idiomas Nativos da América do Sul
E o Protocolo de Obediência Às Práticas Culturais do Império Sino-Soviete (Renovado).
E o Protocolo de Obediência Às Práticas Culturais do Império Sino-Soviete (Renovado).
Estão em prática todas as recomendações
Do Conselho da Revolução Para a Discriminação Positiva.
Na Gare de Lançamento de Alfragide
Foi reservada uma área de 26 novos-metros de largura
Por 14 novos-metros de altura,
Onde a Neo-Realista Radical Maria Eisenstein, Prémio La Passionaria da Paz Igual,
Denuncia, em mural inspirado, os vícios do modelo familiar arcaico-reaccionário
E as virtudes da masturbação on-live.
E as virtudes da masturbação on-live.
Na Gare de Lançamento de Alfragide
Tudo foi realizado em nome do capitalismo público, do bem-estar social,
Do anarco-sindicalismo (revisto), da igualdade entre povos e cidadãos
e dos ideais revolucionários.
E é por isso que a Organização Sindical da Opinião Pública Instituída em Tempo Real,
Tanto como o Banco da Revolução, Desenvolvimento e Emprego
Já manifestaram, em sede de CGR, o seu repugno pela acção criminosa
Dos primeiros, últimos e únicos responsáveis pela falência técnica da Operação -
Agentes-não-gratos da classe média, traidores, corruptos e fornicadores da carne,
Que têm usurpado com malícia burguesa a direcção sustentável
Da Brigada Para a Governação Logística da Plataforma de Lançamento de Lisboa-Amadora.
O CGR já destacou uma Comissão Liquidatária.
O Directório Para o Desenvolvimento Igualitário das Regiões implementará as Directivas.
Na Gare de Lançamento de Alfragide
Os cães que estacionam as pulgas e a fome nas plataformas de embarque
Não são incomodados, ao abrigo da Lei Protectora de Animais e Homens de 2030.
E os gatos selvagens devoram os turistas que restam
Depois do Acto Popular Contra o Turismo Cósmico de 2051.
Na Gare de Lançamento de Alfragide
Os problemas de segurança pública foram resolvidos ao abrigo
Do Artigo Sexto do Código de Despenalização e Cidadania de 2082,
Que reduz, controla e tributa
O trânsito de utentes portadores de bens de valor acrescentado,
De forma a eliminar situações de conflito social.
Esta lei veio complementar o Acto Popular de 2074 e o Decreto Solidário de 2079
Que estipularam normas de traje em espaço público,
Com a finalidade de corrigir excessos na indumentária
Dos cidadãos de religião cristã e raça branca (latinos, eslavos e caucasianos).
Na Gare de Lançamento de Alfragide
Embarcam os renegados, os condenados, os impenitentes,
Os inadaptados e os inadaptáveis, os párias da Revolução.
Embarcam para o exílio-odisseia da condição individual.
Partem iguais para penitenciárias diferentes.
Partem do zero para os números de um destino inumerável,
Partem para nunca mais,
Os que vão para não voltar,
Os que vão finalmente morrer,
Os que vão enfim ter filhos
E prosperar
Para outro mundo.
Para a possibilidade de um mundo novo.
E não há mães, com lenços brancos e saudades
E não há impérios, com monstrengos e tempestades
E não há epopeias nem há restelos
E não há jovens nem velhos
E não há epopeias nem há restelos
E não há jovens nem velhos
E não há esperança nem fé.
Com o regresso da maré,
Projecta-se para fora de órbita o mal que aqui reside.
Com o regresso da maré,
Projecta-se para fora de órbita o mal que aqui reside.
E não há glória nem memória na Gare de Lançamento de Alfragide.
segunda-feira, novembro 12, 2012
Modernismo em absoluto.
"E quanto à mãe que embala ao colo um filho morto -
Todos nós embalamos ao colo um filho morto."
Fernando Pessoa | Episódios - A Múmia - II
Todos nós embalamos ao colo um filho morto."
Fernando Pessoa | Episódios - A Múmia - II
sexta-feira, novembro 09, 2012
Cidades como museus ao ar livre.
Não é difícil encontrarmos gente inteligente, culta e sensível que não consegue admitir sequer a hipótese de que existe arte na arte contemporânea. Arne Quinze, porém, trata de reduzir essa opinião à escala subatómica da insignificância. A Obra de Arne materializa-se num longo ensaio de prodígios gráficos, fragmentos surpreendentes de uma construção visual que é devidamente enquadrada na cenografia dos dias, que é devidamente submetida à encenação da vida. Que é moderna no sentido virtuoso da palavra. E que é um banquete para o olhar. Ponto.
sábado, outubro 27, 2012
Tom Hanks be bop slam poetry
Full House
House full of men
Daddy, Jesse, Joey, father, uncle, friend
Uncle Jesse whose hair is never messy
"Watch the hair, huh?"
Have mercy on Uncle Jesse
Three men raising three girls
Or are the girls raising them?
"Wake up San Francisco" Danny Tanner screams
Through the TV screen
His three girls watch by themselves
No women in this full house
This house full of men
DJ Tanner, "Oh my Lanta!"
Stephanie, "How rude!"
Little Michelle, "You got it, dude"
One day, DJ listens to the radio
DJ "Be the ninth caller" he says
And win two free tickets to a Beach Boys concert
The men listening downstairs leap for the phone
A groan
There's a voice on the line and it stammers
"Hello this is DJ Tanner"
"Just name the Beach Boys song, DJ, and the tickets are yours"
As the strains of "Help Me, Rhonda" blare
DJ stares
"Help me Gibbler?" she says
Turning to Kimmy Gibbler, the neighbor helpless in silence
She does her no favor
Pressure mounting, mounting, mounting, time ticking
"Help me, who?"
"RHONDA!" shout the men
The men of this, full house
And the men become boys, beach boys
As they go to the show where they sing
"Kokomo, Kokomo, that's where I want to go
To get away from it all"
From what?
From this male-dominated world, this testosterone-soaked full house
This house full of...men
As we sit on the bed, get patted on the head
Our sins we confess and we learn a life less-on
From the men
The men of this full house
This house full of men
Cut it out
sexta-feira, outubro 26, 2012
quinta-feira, outubro 18, 2012
Terceira Aguardente Escocesa
Amo os meus primos
Nesta noite em que nos rimos
Depois da terceira aguardente escocesa.
Amo-os de certeza.
Amo a minha família Paixão,
Somos iguais de genes e coração.
E depois da terceira aguardente escocesa,
Amo-os à portuguesa.
Antes da terceira aguardente escocesa,
Já eu o amava de certeza.
Nesta noite em que nos rimos
Depois da terceira aguardente escocesa.
Amo-os de certeza.
Amo o meu pai sofrido
Como ele amava o irmão querido.
À terceira aguardente, sou eu que mando:
Bebo ao meu tio Fernando.
Amo a minha família Paixão,
Somos iguais de genes e coração.
E depois da terceira aguardente escocesa,
Amo-os à portuguesa.
Amo esta gente gémea minha
Que dá, que sente, confia e alinha
Na aguardente seguinte - fado nefando
De ter morrido o tio Fernando.
Amo o meu tio defunto
E o velório sem falta de assunto.Antes da terceira aguardente escocesa,
Já eu o amava de certeza.
Já amava o génio que ali vivia
(A veia, a verve, o que ele sabia!)
Antes da invenção da aguardente, quando
Era sobrinho do meu tio Fernando.
quarta-feira, outubro 10, 2012
A Pauta de Vivaldi
O vento barroco inventa a paisagem.
Deus abre a partitura, agita a batuta e iniciam-se as gaivotas
em coro de trompetes.
As traineiras que chegam à doca,
arrastadas pela maré e pela combustão percurssiva do diesel,
não desafinam.
A montanha que se debruça ondulante
traz até à enseada a escala cromática de 36 violinos madrigais,
despertadores alegres do sono do mundo.
O Atlântico acorda em sereníssima majestade,
contribuindo com atonalidade eterna para a virtude sinfónica.
Enquanto o disco solar encontra o seu timbre de verão tardio,
duas ou três nuvens equívocas trauteiam a frase violoncelista da esfera celeste,
vibrando, melódicas, em azuis de Si Maior.
Consigo até ouvir as rosas em decaimento bemol,
por entre o zumbido concertado das abelhas e o murmúrio da terra,
que repete incansavelmente o seu refrão primordial.
O horizonte ergue-se enfim em uníssono orquestral para me saudar,
e eu - plateia de plebeus - levanto-me para a ovação redentora.
Na pauta de Vivaldi está a última palavra de Deus.
sábado, outubro 06, 2012
O contrário de um país.
Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
define com perfil e ser
este fulgor baço da terra
que é Portugal a entristecer
– brilho sem luz e sem arder,
como o que o fogo-fátuo encerra.
Ninguém sabe que coisa quere.
Ninguém conhece que alma tem,
nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ância distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és nevoeiro...
É a Hora!
Fernando Pessoa | Mensagem | Nevoeiro
Começo pelo fim e digo ao contrário: mais lixem me não que, deuses os mim de rir se de parem que!
Porque eu começo já a ficar deveras exaurido e por demais fartinho desta comédia tragédia, de que este eterno 5 de Outubro de 2012 não podia ter sido melhor logotipo. Este eterno 5 de Outubro de 2012 não podia ter sido mais transparente sobre o esqueleto do regime. Este eterno 5 de Outubro de 2012 vai ser recordado como o dia do Raio X. Nunca se tirou, como hoje, um negativo tão eloquente ao regime que nos escraviza a dignidade: a cenografia pomposa e de acesso reservado a uma elite envergonhada, perplexa, incapaz; a senhora que fura pelos gorilas e que vem do meio do "povo" (e que é o "povo"!), implorando e acusando e conseguindo, na sua profissional competência de amadora, encenar em dois minutos um drama que Mário Soares (mesmo a levar todas as noites com pedras na cabeça em directo para o telejornal) não saberia realizar em cinquenta anos; a rapariga, muito solene e com nervos, disparando as atonias de Lopes-Graça e as atonias de Lopes- Graça soarem precisamente a uma rajada de metralhadora, sobre a audiência gelada; a bandeira colocada ao contrário, e ainda assim hasteada por Sua Excelência o Presidente da República, que finge, sorridente, não se dar pelo desastre ou que ignora, sorridente, a iconografia da nação; Sua Excelência o Presidente da Câmara de Lisboa a fazer campanha para Primeiro Ministro; os ministros a fugirem da idiotia da imprensa; a imprensa exultante de tanta miséria. Está tudo no boneco. Toda a decadência, toda a presunção, toda a miséria material, toda a falência intelectual, toda a ausência de ideias e de valor, todo o menos que zero da República, exposto, nú, crú, pornográfico, em alta definição e super slow motion.
Correu mesmo muito mal à organização, este dia eterno, mas na verdade é justo que assim seja porque não existe qualquer coisa de parecido com uma República digna de ser celebrada. Nas suas três tristes trevas, não se encontra luz nenhuma. A Primeira República foi o que foi: um concubinato infame de assassinos, ladrões, caciques, oportunistas, diletantes, destituídos, irresponsáveis, lunáticos e outros bem falantes. A Segunda República foi o que foi: uma orgia de um homem só, um império em Santa Comba Dão, uma deprimente, avarenta e envergonhada coisinha regimental, estado novo com reumático, nacionalista de sacristia, que, se durou só meio século, foi porque o homenzinho lá fez o favor de cair do banco abaixo e porque toda a gente com juízo tinha medo da Terceira República, que é o que é: um outro e um mesmo concubinato infame de assassinos, ladrões, caciques, oportunistas, diletantes, destituídos, irresponsáveis, lunáticos e outros bem falantes.
O problema é que - antes das três trevas da República - o que tivemos foram mais escuridão, as trevas das quatro desgraçadas dinastias que desafortunadamente completaram a monarquia. Sim, porque até Filipe II - provavelmente o mais poderoso rei da história da humanidade - foi aqui, reduzido a Filipe I, um medíocre governante.
Portugal resiste com rara risiliência a uma remota possibilidade de sucesso dos regimes, das constituições, dos estadistas, dos governos e dos programas políticos. E assim, é tão ridículo ser-se republicano como monárquico. É tão ridículo ser-se fascista, como social-democrata. É tão ridículo ser-se miguelista como liberal. É tão ridículo ser-se revolucionário como conservador. Escolha-se o clube ideológico que se escolher, é-se ridículo. Ser português é ser ridículo. A ridicularia está na raíz da nossa identidade. Se não nos achássemos todos ridículos em Portugal, D. João II teria tido mais dificuldades em recrutar marinheiros para dobrar o cabo, na justa medida em que o português acredita infantilmente que, saindo de Portugal, se torna menos ridículo. E também não é por acaso que se diz que somos um país de poetas. Os poetas, mais que fingidores, têm forçosamente que ser ridículos como uma carta de amor.
O actual governo constitucional, como os outros todos que o procederam, não foge à regra esmagadora da estupidez e da ignomínia históricas e multiplica-se em incompetências, numa sequência explosiva de dislates e disparates, numa roda viva de cobardias e equívocos, numa procissão de hesitações e mãos-na-cabeça, num festival de pânico, numa exibição constrangedora da mais absoluta impreparação, da mais escandalosa incapacidade que podemos conceber num dado momento (a não ser, claro, que recordemos outro qualquer momento do género, interpretado por outro qualquer governo constitucional).
Afinal, Portugal é o contrário do que deve ser um país e o engenheiro que arranjou maneira da bandeira ser içada de pernas para o ar sabia bem o que estava a fazer e fez ele muito bem. Palmas para o engenheiro! O engenheiro que arranjou esta maneira gráfica e genial de dizer que Portugal é o contrário do que deve ser um país, de dizer que Portugal é um território ocupado pelo inimigo, é o herói do Dia do Raio X!
Devo confessar porém que tudo isto começa a cansar-me até à flor da inconsciência e este dia eterno de 5 de Outubro de 2012 foi ensandecedor por demais.
E acabo no princípio, mas ao contrário: deuses os lixam me porque?
quarta-feira, setembro 26, 2012
Marcha Fúnebre
I
Não sou nenhum génio e não engano ninguém:
Nem vou morrer cedo nem nunca fui amado pelos deuses.
Não, nem, nunca, nenhum: sou eu.
Não, nem, nunca, ninguém: e é tudo.
II
Toda a gente é pequenina e eu também sou minúsculo como gente grande.
Talvez por causa disso de se ser canina dentro de um inferno do tamanho do universo,
A minha mãe sempre me avisou a navegação,
A minha mãe sempre me disse da vida ser infiel puta.
E eu acreditei nela e foi desse acreditar que fiz o meu destino triste,
Foi disso que fiz a minha desgraça de pobre diabo,
A minha absoluta desgraça de pobre diabo que afinal nada tem que ver com a puta da vida;
Que é exterior a esse facto igualmente absoluto, objectivo e lamentável
Que a minha mãe tinha gosto de me ensinar.
Porque se a vida é assim comercial, é assim comercial para todos
E se assim é infiel, assim infiel é para todos
E se eu sou mais infeliz e desgraçado que a maioria,
É porque transcendi a miséria que é comum;
Fui mais fundo, enlouqueci mais, errei excessivamente,
Fui vil para além da vilania que é suposta nos homens.
Porque se toda a gente é pequena e eu, que também sou diminuto,
Quântico no pântano incontável da macro-física,
Sigo ainda assim para além das estrelas,
Sigo ainda assim para além da noite e dos pesadelos;
É porque vou a caminho de um fim imenso, com fome.
É porque a morte é o meu prometido momento de grandeza.
III
A minha vida é um velório de 45 anos.
As pessoas entram, prestam os seus respeitos e saem aliviadas,
Como quem retira a máscara incómoda que o baile entediante exigia de regra.
No entretanto, fazem o possível para encontrar algo de agradável e apropriado
Para dizer do cadáver - tarefa ingrata;
Fazem o possível - e o impossível - para escaparem incólumes
Ao breve confronto com a morte.
IV
Há muito que já não devia andar por aqui,
Bípede periclitante sobre a instável curvatura da Terra.
Há muito que já devia ter sido raptado por extra-terrestres, morrido num acidente de viação;
Há muito que já devia ter sido assassinado por um psicopata, desaparecido em combate;
Que já devia ter sido carbonizado numa manifestação, ceifado pela cirrose,
Interrompido pelo cancro, terminado pelas drogas, enforcado no sótão,
Suicidado da ponte abaixo ou por baixo da locomotiva ou a tiro de pistola.
Mas eu, que não guardo no genoma nada que possa interessar aos astronautas do mistério;
Eu, que respeito os limites de velocidade e já poucas vezes levo a bebedeira ao volante;
Eu, que vivo num país com escassez de psicopatas e medo das guerras;
Eu, que não sei como dar o nó à forca, nem nunca vivi numa casa com sótão;
Eu, que não tenho tomates para me jogar da ponte abaixo ou para baixo do comboio,
Nem causa que justifique a imolação em praça pública;
Sim, eu, que não tenho imaginação para suicídios criativos
E que vivo num país de burocratas, onde possuir uma arma é complicado e oneroso;
Eu, que nem bebo assim tanto para poder morrer com pressa,
Que nem chego a fumar 3 maços por dia,
Que não chuto cavalo nem dependo da cocaína;
Eu, que sou tão modesto de vícios como de virtudes, que sou de moderados excessos,
Que não sei oferecer-me em sacrifício, que não tenho fé que chegue para ser mártir;
Eu, que tanto desejo a morte, vou devagar apodrecendo.
Eu, que tanto desejo a paz última, vou em primeira velocidade,
Vou sem saber do ponto de embraiagem, aos solavancos, aos sobressaltos,
Percorrendo lentamente a inviável estrada da existência.
V
A minha vida é um velório de 45 anos e por mais anos ainda velório será,
Até porque, mais que provavelmente, vou precisar de pedir dinheiro emprestado
Para pagar a conta do funeral.
Não sou nenhum génio e não engano ninguém:
Nem vou morrer cedo nem nunca fui amado pelos deuses.
Não, nem, nunca, nenhum: sou eu.
Não, nem, nunca, ninguém: e é tudo.
II
Toda a gente é pequenina e eu também sou minúsculo como gente grande.
Talvez por causa disso de se ser canina dentro de um inferno do tamanho do universo,
A minha mãe sempre me avisou a navegação,
A minha mãe sempre me disse da vida ser infiel puta.
E eu acreditei nela e foi desse acreditar que fiz o meu destino triste,
Foi disso que fiz a minha desgraça de pobre diabo,
A minha absoluta desgraça de pobre diabo que afinal nada tem que ver com a puta da vida;
Que é exterior a esse facto igualmente absoluto, objectivo e lamentável
Que a minha mãe tinha gosto de me ensinar.
Porque se a vida é assim comercial, é assim comercial para todos
E se assim é infiel, assim infiel é para todos
E se eu sou mais infeliz e desgraçado que a maioria,
É porque transcendi a miséria que é comum;
Fui mais fundo, enlouqueci mais, errei excessivamente,
Fui vil para além da vilania que é suposta nos homens.
Porque se toda a gente é pequena e eu, que também sou diminuto,
Quântico no pântano incontável da macro-física,
Sigo ainda assim para além das estrelas,
Sigo ainda assim para além da noite e dos pesadelos;
É porque vou a caminho de um fim imenso, com fome.
É porque a morte é o meu prometido momento de grandeza.
III
A minha vida é um velório de 45 anos.
As pessoas entram, prestam os seus respeitos e saem aliviadas,
Como quem retira a máscara incómoda que o baile entediante exigia de regra.
No entretanto, fazem o possível para encontrar algo de agradável e apropriado
Para dizer do cadáver - tarefa ingrata;
Fazem o possível - e o impossível - para escaparem incólumes
Ao breve confronto com a morte.
IV
Há muito que já não devia andar por aqui,
Bípede periclitante sobre a instável curvatura da Terra.
Há muito que já devia ter sido raptado por extra-terrestres, morrido num acidente de viação;
Há muito que já devia ter sido assassinado por um psicopata, desaparecido em combate;
Que já devia ter sido carbonizado numa manifestação, ceifado pela cirrose,
Interrompido pelo cancro, terminado pelas drogas, enforcado no sótão,
Suicidado da ponte abaixo ou por baixo da locomotiva ou a tiro de pistola.
Mas eu, que não guardo no genoma nada que possa interessar aos astronautas do mistério;
Eu, que respeito os limites de velocidade e já poucas vezes levo a bebedeira ao volante;
Eu, que vivo num país com escassez de psicopatas e medo das guerras;
Eu, que não sei como dar o nó à forca, nem nunca vivi numa casa com sótão;
Eu, que não tenho tomates para me jogar da ponte abaixo ou para baixo do comboio,
Nem causa que justifique a imolação em praça pública;
Sim, eu, que não tenho imaginação para suicídios criativos
E que vivo num país de burocratas, onde possuir uma arma é complicado e oneroso;
Eu, que nem bebo assim tanto para poder morrer com pressa,
Que nem chego a fumar 3 maços por dia,
Que não chuto cavalo nem dependo da cocaína;
Eu, que sou tão modesto de vícios como de virtudes, que sou de moderados excessos,
Que não sei oferecer-me em sacrifício, que não tenho fé que chegue para ser mártir;
Eu, que tanto desejo a morte, vou devagar apodrecendo.
Eu, que tanto desejo a paz última, vou em primeira velocidade,
Vou sem saber do ponto de embraiagem, aos solavancos, aos sobressaltos,
Percorrendo lentamente a inviável estrada da existência.
V
A minha vida é um velório de 45 anos e por mais anos ainda velório será,
Até porque, mais que provavelmente, vou precisar de pedir dinheiro emprestado
Para pagar a conta do funeral.
Equinócio da Lua
Os deuses decretam o Outono
E publicam em opúsculo:
Que se dê o Atlântico ao abandono,
Que a orla se esconda em crepúsculo.
Atrás da montanha, o sol ainda arde
Em equinócio-capicua.
O Verão desfalece com a fuga da tarde,
A noite começa com o cair da lua.
Os deuses obrigam ao Outono
E publicam no firmamento:
Que o Atlântico cederá ao sono,
Que a orla calará o movimento.
O espectáculo é dramático, faz alarde
De astrofísica-falcatrua:
O Verão cessa com o fugir da tarde,
A noite avança com a morte da lua.
quinta-feira, setembro 20, 2012
Sobre a difícil arte do regresso.
Tenho os ouvidos embrulhados por 5 novos discos de retorno. É muito difícil fazer melhor que os respectivos 5 discos anteriores, mas eles bem que tentam. Mas eles bem que lutam contra a maldição do brilhantismo efémero. E eu respeito isso.
Metric - Synthetica
The Killers - Battle Born
The Vaccines - Come of Age
Two Door Cinema Club - Beacon
Fanfarlo - Rooms Filled With Light
Metric - Synthetica
The Killers - Battle Born
The Vaccines - Come of Age
Two Door Cinema Club - Beacon
Fanfarlo - Rooms Filled With Light
sexta-feira, setembro 14, 2012
Algumas achas para a fogueira.
Maomé era homossexual. Tenho o direito de dizer isto.
Eu acho, posso achar; eu digo, posso dizer o seguinte:
Maomé, o profeta, levava no cú.
É minha esta liberdade. E quero que os islamitas-facínoras, espécie sub-sapiens dos esgotos da ontologia, filhos enjeitados do sudão que é o mundo muçulmano todo, vão fazer exactamente como o seu desgraçado profeta gostava imenso de fazer e que era: levar na bilha. Pegar por trás. Enrabar e ser enrabado.
Podem queimar bandeiras e incendiar embaixadas à vontade. Preferia morrer a ser calado por vós, gentinha miserável, produto infecto, gonorreico, dos intestinos de Deus.
Eu acho, posso achar; eu digo, posso dizer o seguinte:
Maomé, o profeta, levava no cú.
É minha esta liberdade. E quero que os islamitas-facínoras, espécie sub-sapiens dos esgotos da ontologia, filhos enjeitados do sudão que é o mundo muçulmano todo, vão fazer exactamente como o seu desgraçado profeta gostava imenso de fazer e que era: levar na bilha. Pegar por trás. Enrabar e ser enrabado.
Podem queimar bandeiras e incendiar embaixadas à vontade. Preferia morrer a ser calado por vós, gentinha miserável, produto infecto, gonorreico, dos intestinos de Deus.
Recordações escondidas na poeira bolorenta de um esquecido e velho baú, no sotão do meu bisavô.
POR ARTUR PAIXÃO
Pergaminho amarelado, de cantos que a rataria teria mordiscado, entre outros
manuscritos embrulhados num laço cor-de-rosa desmaiado, conspurcados pela traça e humidade de muitos Invernos.
Permita-me, condessa, usar formalismos menos de acordo com a justeza da
vossa nobre condição, omitindo títulos que possuis muito honrosa e justamente.
Cinquenta anos após o meu afortunado encontro com vossa senhoria nos jardins do Palácio Real,
sob a bendita sombra dos plátanos, muito mudou nas gentes e nos costumes,
envolvidos agora na incivilidade de novas ideias e hediondas maneiras,
abjectas. Sou hoje um lamentável produto da chamada evolução, já sem as
delicadas cortesias com que vos secava as lágrimas que haveis vertido por entre
o perfume vosso e do roseiral e que vos podiam ter valido o cepo.
Não poderias amar-me, bem sei, cruelmente arrastado dos vossos gentis
braços pela minha condição de moço de estrebaria, e vós entregue ao vosso conde,
afraldado em berço de ouro, peça da corte e do Rei, tolhida pelos garrotes da
política e de outras conveniências.
Ficou, porém, o nosso amor por mercê de Deus selado na morna
doçura do palheiro e essa foi a única benção que me foi dada em vida. Recordo-vos agora, assalariado municipal, aboletado numa mísera
arrecadação de Paris, escanzelado, famélico, subsistindo da memória desses
dias em que jazia mimado entre o peito da minha adorável condensa.
Recordais-me?
É assim que me dobro a vossos pés, idolatrando-os, ousando suplicar-vos
que me remeteis, sem descontentamento, antes como um gasto reflexo dessa paixão
maior, alguns francos, de preferência, se possível, em cheque de dólares, que
me permita sonhar com um brioche de antes de ontem e uma garrafita de absinto,
que me reforce a recordação dos vossos braços e evoque o quente conforto dos
vossos seios.
Apaixonadamente;
Pierre du Latan
quarta-feira, setembro 12, 2012
Humilde Ode Triunfal
"E. ainda há quem faça propaganda disto:
a pátria onde Camões morreu de fome e onde todos enchem a barriga de Camões!"
Cena do Ódio | José de Almada Negreiros
Na minha humilde opinião, o Pessoa foi feliz.
Quero dizer: foi infeliz - miseravelmente infeliz - de moeda,
Porque mesmo no bolso onde trazia mais dinheiro,
O dinheiro que trazia era mísero.
Mas foi feliz - imensamente feliz - de talento,
Porque mesmo no poema que levava menos génio,
O génio que levava era imenso.
Na minha humilde opinião, o Pessoa foi feliz.
Quero dizer: foi infeliz - desgraçadamente infeliz - quando enfim
Lhe recusaram - ironia de Borges - o desgraçado emprego
Na minha modesta ideia, o Pessoa foi feliz.
Ninguém consegue ser deprimido
Na minha humilde opinião, o Pessoa foi infeliz.
Quero dizer: foi infeliz - desgraçadamente infeliz - quando cedo
a pátria onde Camões morreu de fome e onde todos enchem a barriga de Camões!"
Cena do Ódio | José de Almada Negreiros
Na minha humilde opinião, o Pessoa foi feliz.
Quero dizer: foi infeliz - miseravelmente infeliz - de moeda,
Porque mesmo no bolso onde trazia mais dinheiro,
O dinheiro que trazia era mísero.
Mas foi feliz - imensamente feliz - de talento,
Porque mesmo no poema que levava menos génio,
O génio que levava era imenso.
No meu pobre juízo, o Pessoa foi feliz.
Foi feliz sem sexo - o que não é dizer pouco,
Foi feliz sem prémios - o que é muito para cima
Dos cinco contos de reis que o António Ferro lhe arranjou de batota,
Porque A Mensagem, sendo poema suficiente para explicar Portugal,
Seria insuficiente para compreender as cem páginas de poesia
Exigidas no regulamento.
Na minha humilde opinião, o Pessoa foi feliz.
Quero dizer: foi infeliz - desgraçadamente infeliz - quando enfim
Lhe recusaram - ironia de Borges - o desgraçado emprego
Na biblioteca de Cascais.
Mas foi feliz, feliz como nenhum outro poeta, porque afinal
Não há na história e não há na literatura outro poeta assim sábio,
E ele sabia disso.
Na minha modesta ideia, o Pessoa foi feliz.
Ninguém consegue ser deprimido
após a consecução da Ode Triunfal.
E se alguém for capaz de inventar,
No tempo que se estende por uma só puta de vida,
Esta quantidade imaterial de personagens imortais,
Eu retiro o que agora escrevo e logo direi:
Na minha humilde opinião, o Pessoa foi infeliz.
Quero dizer: foi infeliz - desgraçadamente infeliz - quando cedo
Lhe recusaram - por ser português - o desgraçado ingresso
Na universidade de Oxford.
E mais infeliz ainda, infeliz como nenhum outro português, porque também
Deu para ser eterno em Inglês
Sem que ninguém desse por isso.
quarta-feira, setembro 05, 2012
Obama Toon Factory - Especial Eastwood
"I just want to say something to you, ladys and gentlemen, that I think is very important: you, we... we onwn this country. We own it. And i'ts you owning it and not the politicians ouwning it. Politicians are employees of ours. They just gonna come aroud and beg for votes every few years. (...) And when somebody just not do the job, we got to let him go."
Clint Eastwood
terça-feira, setembro 04, 2012
Derby.
Estou mesmo a ver:
De um lado da mesa está o Proust,
Hirto e cordato e muito bem protegido contra os rigores da sua hipocondria,
Por um casaco de peles de aristocrata
Que lhe custou 15 mil francos do dinheiro do pai.
Do outro lado está o Joyce,
No conforto burguês de não estar minimamente vestido para aquilo.
Aquilo é um jantar que podia muito bem ser contado numa frase de seiscentas
E setenta e duas palavras, maravilhosamente prosadas, do Tempo Perdido.
Aquilo é um jantar que não cabia entre os dias 15 e 16 de junho de 1904,
Na verdade de Leopold Bloom.
O Proust pergunta-lhe se conhece o Visconde Disto e o Marquês Daquilo:
O Joyce dá-se, pela negativa, ao monossílabo.
É o jantar do não, não, não e não, não conheço esses.
Ainda assim - para escândalo das musas
E indignação dos eruditos - é o sacana do irlandês,
É o impertinente filho de comerciantes,
É o mal criado da literatura que se enfia na puerilidade do taxi fidalgo,
Quando, no fim da equívoca soirée, o aborrecimento cede à curiosidade.
O Proust convida os amigos para a célebre ceia em sua casa,
Mas apela gentilmente ao taxista que prolongue a corrida
E leve o Joyce de volta até ao inferno de que é originário.
(O inferno é um sítio onde é impossível conhecer
O Visconde Disto e o Marquês Daquilo).
Estou mesmo a ver:
O Joyce dormiu mal essa noite.
E o Proust, sempre tão atencioso com os outros,
Sempre tão sensível, sempre tão interessado na vida dos outros,
Sempre tão preocupado em respeitar e alimentar
A zona de conforto dos outros;
Muito simplesmente, por uma vez,
Deve ter cagado no assunto.
Afinal, o Joyce até podia ser um modernista do escafandro;
Um imortal.
Mas por Deus, que fazer, que dizer, que conversar com alguém
Que não conhece o Visconde Disto?
Que nunca privou com o Marquês Daquilo?
Estou mesmo a ver:
O Proust dormiu bem essa noite.
De um lado da mesa está o Proust,
Hirto e cordato e muito bem protegido contra os rigores da sua hipocondria,
Por um casaco de peles de aristocrata
Que lhe custou 15 mil francos do dinheiro do pai.
Do outro lado está o Joyce,
No conforto burguês de não estar minimamente vestido para aquilo.
Aquilo é um jantar que podia muito bem ser contado numa frase de seiscentas
E setenta e duas palavras, maravilhosamente prosadas, do Tempo Perdido.
Aquilo é um jantar que não cabia entre os dias 15 e 16 de junho de 1904,
Na verdade de Leopold Bloom.
O Proust pergunta-lhe se conhece o Visconde Disto e o Marquês Daquilo:
O Joyce dá-se, pela negativa, ao monossílabo.
É o jantar do não, não, não e não, não conheço esses.
Ainda assim - para escândalo das musas
E indignação dos eruditos - é o sacana do irlandês,
É o impertinente filho de comerciantes,
É o mal criado da literatura que se enfia na puerilidade do taxi fidalgo,
Quando, no fim da equívoca soirée, o aborrecimento cede à curiosidade.
O Proust convida os amigos para a célebre ceia em sua casa,
Mas apela gentilmente ao taxista que prolongue a corrida
E leve o Joyce de volta até ao inferno de que é originário.
(O inferno é um sítio onde é impossível conhecer
O Visconde Disto e o Marquês Daquilo).
Estou mesmo a ver:
O Joyce dormiu mal essa noite.
E o Proust, sempre tão atencioso com os outros,
Sempre tão sensível, sempre tão interessado na vida dos outros,
Sempre tão preocupado em respeitar e alimentar
A zona de conforto dos outros;
Muito simplesmente, por uma vez,
Deve ter cagado no assunto.
Afinal, o Joyce até podia ser um modernista do escafandro;
Um imortal.
Mas por Deus, que fazer, que dizer, que conversar com alguém
Que não conhece o Visconde Disto?
Que nunca privou com o Marquês Daquilo?
Estou mesmo a ver:
O Proust dormiu bem essa noite.
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